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29 November 2010
O
Sol já havia nascido. Iluminava perfeitamente o dormitório do casal Gillings. Era
luxuoso. Praticamente de uma mansão. Podíamos vê-los deitados adormecidos na
cama. Lorraine e Simon Gillings. Uma esposa e mãe de família perfeita. Um
marido e pai de família perfeito. Defeitos? Poucos realmente acreditavam que
eles poderiam ter. A cortina era de persiana. Branca como neve. O quarto era
espaçoso. Havia uma cômoda ao lado de onde Simon estava dormindo. Uma jarra
d’água ali no caso de qualquer um deles pudesse sentir sede junto da foto com
quem parecia serem seus filhos. A câmera afastou-se. Começara a ter uma visão
mais panorâmica do ambiente em que estávamos. Havia de frente a cama uma porta
de madeira fechada, provavelmente para onde daria entrada para a suíte do
casal. Parecia uma madeira cara. Ricos e felizes? Muitos acreditavam que esta
junção não poderia ser verdadeira. Mas sim... Era uma família rica e feliz.
Logo,
ouviu-se o som de um leve ruído. Um despertador. Duraram poucos segundos após a
mão de Lorraine deslizar sob o botão para desliga-lo. O relógio marcava cinco e
quarenta e cinco da manhã. Como uma rotina. Como se realmente fosse o horário
adequado para acordar. Com os pés, Lorraine, ainda de olhos fechados, afastou o
leve cobertor de algodão de suas pernas, mas sem fazer muito barulho ou sem se
mexer muito para não acordar Simon. Ela, então, sentou-se. Girou a sua cabeça
levemente e cuidadosamente para estralá-lo. Talvez isto fosse um aviso de que
estivesse na hora de trocar o colchão da cama. Espreguiçou-se agora levantando
seus ambos os braços. Pudemos notar que vestia uma camisola de seda. Sem abrir
os olhos ainda, provavelmente porque estava com sono, levantou-se. Passou pela
beirada da cama, e ficara ali parada, até que sua mão deslizou sob o cobertor e
o afastou, puxando delicadamente o pé de Simon, como se fosse também um aviso
para que este despertasse, visando que começara a se mexer lentamente.
Seguira
em direção àquela porta de madeira já mencionada. Eram duas. Grande. Com uma
alça de puxar para o lado. E fora justamente o que Lorraine fizera, fechando-a
de volta para isolar-se no banheiro novamente. O silêncio agora dominava mais
ainda. Nada poderia ser ouvido. A não ser o fato de que Lorraine encontrava-se
em sua suíte. Em seu banheiro. Um grande espelho fora visto. Os olhos de
Lorraina enfim abriram-se. Mostraram-se lindos e brilhantes. Eram azuis. Ela
fitara a si mesma no espelho. Seus cabelos curtos e loiros. Podia-se ver que a
pia era de mármore. Havia um depósito para a escova de dente e sabonete líquido
bem ali. Ligara a torneira e enchera a mão de água e jogara delicadamente em
seu rosto, continuando a se fitar. Estava séria. Mas ainda assim... Parecia
encantada. Parecia bem. E acima de tudo... Parecia feliz com os hábitos que
desenvolvera:
Lorraine – Bom dia, Lorraine... – começara o
seu monólogo, com uma voz leve, doce e suave. – Você é uma mulher linda. – suas
mãos encostavam-se à pele de seu rosto delicadamente, enquanto ela fazia
diversos ângulos para o seu próprio reflexo. – Você é uma mulher jovem. Uma
mulher adulta. Guerreira e batalhadora... – elogiava a si mesma. – Você possui
um ótimo emprego. Uma ótima renda. Uma ótima casa... – ela continuava a se
tocar. – Você possui um marido perfeito. Bom. Honesto... – ela dera um sorriso,
e pudemos ver seus lindos dentes brancos. – Duas filhas lindas. Um filho
maravilhoso. Uma nora que logo me presenteará com um pequeno netinho... –
parecia sonhadora com esta possibilidade. – Bom dia, Lorraine... – repetira do
mesmo jeito em que havia começado aquela profunda reflexão. – Hoje será um dia
perfeito. Hoje será apenas mais um lindo dia...
E
acabara aquele momento em que se encontrava só consigo mesma. Molhara as mãos
novamente e enxaguara o seu rosto. Pegara a sua escova de dente junto da
própria pasta e colocara um delicado grão nela, levando-a até a boca. A porta
de trás logo abriu-se e Simon revelara a sua presença. Tinha cabelos grisalhos
e uma aparência que podia se dizer que ele mesmo se impunha. Parecia um homem
de negócios. Um homem importante. Bom
dia, querida... Fora o que havia dito ele, num belo sorriso, dirigindo-se
para o closet mais à direita, e Lorraine apenas respondera com um aceno, ainda
ocupada com escovando seus dentes. Não demorara muito para finalizar o que
fazia ali, enxaguando a escova e a colocando de volta no lugar. Secara seu
rosto com uma toalha bem ao lado, junto das suas mãos. Percebera que Simon
estava no closet e aproximara-se dele.
Era
grande. Simon já estava vestido. Afinal... Era homem. Uma camisa social branca
e uma calça social preta. Nada muito mais do que básico, mas também necessário.
O closet era composto por sua maioria de roupas femininas. Pertencentes à
Lorraine, obviamente. Sobretudos e vestidos eram as vestimentas mais comuns
ali. Gostava-se de se sentir elegante. Afinal... Já pudemos notar o quão
vaidosa Lorraine poderia ser. Sapatos, saltos e botas também eram passíveis de
serem vistas. Eram vários e vários armários brancos para combinar com a
decoração daquele dormitório por completo. Lorraine notara a dificuldade de
Simon que estava com duas gravatas em frente a um espelho pamplona, apenas não
sabendo escolher qual poderia ser melhor para a ocasião:
Simon – E então? – ele mostrara à
Lorraine as duas gravatas, cada uma em sua mão, podendo-se notar que uma era
azulada e a outra tinha a cor de vinho.
Lorraine – Você realmente nunca parece se
decidir, não é? – ambos deram uma leve risada. – Deixe-me lhe ajudar... – ela
se ofereceu, aproximando-se dele e observando a gravata de mais perto. – Hum...
– pareceu pensativa. – Esta. – pegara a gravata de cor vinho.
Simon – Você tem certeza? – Lorraine
apenas assentira, sorrindo em seguida. – E quanto à azul?
Lorraine – Ela é mais bonita. Precisa de uma
ocasião mais especial... – ambos trocaram sorrisos.
Simon – Você quer dizer hoje à noite... –
Lorraine voltara a sorrir.
Lorraine – É... – ela concordou. – Eu quis
dizer hoje à noite. – deixara no ar o evento que iria acontecer esta noite. –
Permita-me... – ajustara a gravata em volta do pescoço dele, dando o nó
adequado e o deixando totalmente preparado.
Simon – Eu não sei o que seria da minha
vida se não fosse você... – Lorraine rira.
Lorraine – Foi apenas uma gravata,
querido... – Simon também rira após isto e eles estão deram um selinho rápido.
Simon – Hoje será um belo dia? –
perguntara para Lorraine que assentira positivamente, sempre sorridente, alegre
e positiva.
Lorraine – Hoje será um belo dia... –
concordou.
Lorraine
afastou-se dele, saindo dali. Simon a observara. Era impressionante o ritual
que a família fazia desde cedo. Era como se fosse um cronograma. Era realmente
um hábito. Uma rotina. Eles faziam isso sempre. Desde o momento em que Lorraine
acordasse às quase seis da manhã. Desde o momento em que ela puxava o pé do
marido. Desde o momento em que ela falava consigo mesma no espelho, escovasse
os dentes ou até mesmo ajudava Simon a escolher uma gravata. E era
imprescindível que uma frase não pudesse faltar. Eram supersticiosos. Caso
esquecessem... Provavelmente seria um dia nublado. O céu não ficaria azulado. O
Sol se esconderia. Nada mais e nada menos do que: “hoje será um belo dia...”. E
teria alguém que duvidasse? Aparentemente... Não.
...
A
câmera logo voltara a acompanhar Lorraine. Estava em seu quarto. Esticara a
cortina, deixando a luz entrar. Dobrara o cobertor e seus olhos foram em
direção ao despertador. Marcava o relógio cinco e cinquenta e nove. Estava na
hora de mais uma de suas ações rotineiras. Andara calmamente até a porta da
saída do quarto, que também era de madeira, abrindo-a e saindo de lá. Vimos um
extenso corredor. Podíamos contar cerca de quatro portas. Antes que pudesse
tomar alguma ação, uma destas portas se abrira e Lorraine notara uma densa
camada de fumaça. Era o banheiro. Era a filha do meio deles. Danielle. Estava
enrolada numa toalha, provavelmente de banho já tomado, com os cabelos loiros
molhados. Tinha uma beleza importante e exótica. Seus olhos eram azulados. A maçã
de seu rosto muito bem destacada. Era uma aparência frágil, mas ainda assim,
exuberante. Estava indo em direção ao seu quarto, mas parando diante de
Lorraine, a cumprimentando:
Danielle – Bom dia mãe... – disse
sorridente.
Lorraine – Bom dia, meu amor. – dera um
beijo na testa dela e Danielle voltara a seguir o seu caminho.
Danielle
fora para a direita. Lorraine seguira o caminho oposto, ou seja, seguira para a
esquerda. Não demorara muito para que esta atingisse o que estava em sua mente.
Mais um momento de seus hábitos. Abrira a porta do destino final e deparou-se
com o quarto. Havia uma garota deitada na cama com os cabelos loiros e
alongados. Era a filha mais nova, Tiffany. A decoração do quarto mostrava quem
realmente poderia ser ela. Vários pôsteres da banda Nirvana, além de uma mesa
de estudo em que estava o seu notebook. Era um quarto bagunçado. Era algo bem
adolescente e “teen”. Nada muito além disso. Lorraine dera um leve sorriso ao
ver a filha. Mostrava como realmente ela era apegada à sua família
Dera
alguns passos e sentara-se bem na borda da cama, próximo do travesseiro de
Tiffany, que estava de costas para ela. Podíamos ouvir um ruído. Como se fosse
abafado. Era música. Não era passível de se reconhecer de qual se tratava, mas
logo a causa daquele som fora descoberta quando Lorraine retirara o fone de
ouvido do ouvido de Tiffany cuidadosamente, aproximando-se do ouvido dela e
sussurrando algo que não foi possível de se escutar. Tiffany parecia ter se
acordado ao se mexer. Objetivo concluído, aparentemente. Lorraine recolocara o
fone de ouvido na orelha dela e levantou-se novamente, saindo do quarto, mas
deixando a porta aberta.
Direcionara
a si mesmo de volta para o seu quarto, fechando a porta logo em seguida. Simon
já não estava mais ali, indicando que este já poderia ter descido para a
cozinha. Olhara para o relógio pela terceira vez. Era seis e seis da manhã.
Definitivamente agora era o momento dela. Arqueou a sobrancelha, no entanto.
Era perfeccionista. Talvez tivesse desperdiçado um minuto que já poderia ser
precioso. Sendo assim, não teria muito tempo a perder. Retirara a sua camisola
desfazendo a fita que formava um nó. Ficara de calcinha e sutiã. Mostrava como
realmente ainda estava em forma. Com a camisola nas mãos, fora de volta para a
sua suíte. Pendurara-a num gancho preciso para isto. Provavelmente voltaria a
ser utilizado, uma vez que somente era usado quando fosse dormir. Não havia a
necessidade de fazer diversas trocas. Voltara a se fitar no espelho, fazendo
novamente mais ângulos para verificar a sua aparência. Vaidade era um ponto
extremamente importante para Lorraine. Ela suspirou. Não tinha mais nenhum
segundo disponível para continuar a se observar.
Abrira
uma das gavetas da pia e retirara um creme. Sentara-se em uma cadeira ali
disposta justamente para este momento. Abrira a tampa do creme e colocara uma
quantidade em suas mãos, passando delicadamente em sua pele, principalmente no
braço, fazendo movimentos suaves, esfregando-o totalmente. Repetira a mesma
quantidade, desta vez, para as pernas. Fechara o creme e guardara de volta na
gaveta. Estava pronta agora para escolher o que vestiria para este dia. Fora em
direção ao seu closet. Como mencionado anteriormente, opções era o que não
faltava ali. Casacos. Sobretudos. Vestidos. Camisas sociais. Era
definitivamente um paraíso para qualquer mulher.
Fora
passando de armário em armário. Era um armário “aberto”. Não tinha porta.
Definitivamente algo muito acima do nível, o que mostrava cada vez mais a
condição financeira desta família. Lorraine apenas observava. Passava as mãos.
Em alguns momentos, pegava algumas vestimentas que vinham junto de seus
respectivos cabides, e era possível ouvir o barulho que fazia quanto estes eram
retirados dos lugares em que estavam anteriormente. Lorraine repetira esta ação
duas vezes. Três vezes. Quatro vezes. Nada parecia lhe agradar como roupa do
dia de hoje. Preferiu optar por algo simples então. Retirara uma camisa social
branca. Os botões eram pretos. Parecia perfeito para ela. Não chamava atenção.
Também retirara uma calça social. Azul-marinho. Sem renda nenhuma. O salto que
usaria era preto. Não muito alto também, mas estrondoso o suficiente para ser
ouvido da esquina. Era assim que gostava de ser. Era assim que gostava de ser
tratada. Era assim que Lorraine era. Uma mulher vaidosa. Com uma família
aparentemente perfeita. Com uma vida perfeita. E nada há de estragar aquilo que
Lorraine considera como prioridade. Os hábitos dela cada vez se mostravam. Sua
personalidade cada vez mais era mostrada. E novamente... Era assim que Lorraine
se portava.
...
Lorraine
já estava pronta. Os cabelos platinados. Nem precisavam ser penteados. Eram
naturais e lisos. A roupa escolhida lhe caía perfeitamente bem. A maquiagem já
passada. Nada muito gritante, apenas o básico. O batom era avermelhado, mas não
tão estonteante. Não se importava se fosse, afinal. Muitos dizem ser a cor da
luxúria. Mas Lorraine aparentemente não poderia se importar menos com opiniões
machistas. Olhava-se no mesmo espelho em que Simon estava quando persistia em
sua dúvida com a gravata. Estava linda. E aquilo já era o suficiente.
Com
o salto já vestido também, dirigiu-se para fora da suíte. O som em que pisava
no carpete de seu dormitório era absolutamente impactante. Lorraine era uma
mulher impactante. Olhara para o relógio. Quatro vezes até então. Marcava seis
e vinte e cinco. Sorrira satisfeita. Mais uma vez... Uma mulher sem atrasos e
totalmente pontual. Abrira a porta de seu quarto. Tratou-se de verificar se
suas filhas ainda estavam em seus respectivos dormitório. Começara com Tiffany.
A porta já estava aberta, então não era preciso ela bater antes de entrar.
Tiffany, no entanto, já havia levantado, o que era um excelente sinal. Ela
assentiu satisfeita. Fora em direção agora à Danielle. Esta, porém, já estava
com a porta fechada. Deu duas batidas para verificar. E então ouviu um grito: Um momento. Lorraine apenas aguardara.
Levou alguns segundos até que ouvisse o som da porta sendo destrancada e aberta
por Danielle, que permanecia com os cabelos molhados, mas agora apropriadamente
vestida, com calças jeans, uma camisa “Keep Calm and Shipp Kynda” de uma série
de televisão famosa por lá e all-stars preto. As duas trocaram leves sorrisos.
Lorraine adentrou no quarto, não se preocupando em deixar a porta aberta.
Observara ao redor. Diferente de Tiffany, era um quarto mais simples. Não
possuía pôsteres, apenas vários livros e CDs empilhados de uma maneira mais
organizada. Tinha uma janela que mostrava a vista da vizinhança. Era aconchegante.
Inclusive, o quarto em si, era bastante organizado. O que talvez indicasse a
tranquilidade de Danielle.
Lorraine
não conseguira notar de perceber que Danielle estava ocupada. Abria a porta de
seu guarda-roupa e retirara algumas mudas de roupas bem dobradas. Em cima de
sua cama, tinha uma mala de viagem. Lorraine aparentemente demonstrou-se um
pouco chateada. Preocupada, também. E não se esquivou de perguntar o que
realmente gostaria de saber, então:
Lorraine – Você realmente vai para esta
excursão? – perguntou ela, acanhada.
Danielle – Ah, mãe... – notara o tom de
entristecido da voz que Lorraine aparentemente fazia questão de mostrar,
parando de arrumar as suas malas. – Você sabe que está marcada faz tempo... –
Lorraine apenas desviou o olhar. – É a minha última oportunidade de ficar perto
dos meus amigos... – tentava convencê-la. – É a minha formatura, mãe.
Lorraine – Bem... – ela aproximara-se da
janela, dando uma boa olhada pela vizinhança. – Você irá para a faculdade, não?
– Daniele sorriu. – Lá também tem formatura. – ela olhara para Danielle agora
que rira.
Danielle – É, mas... Como eu disse, é a
minha última oportunidade. – Lorraine sentou-se na beirada da cama, próxima à
mala, apenas escutando o que Dani tinha a dizer. – Eu estudo com eles desde, o
quê... – ficara pensativa. – Quatro anos? – Lorraine rira, pois achava esta
situação até mesmo agradável, provando de que ali poderiam ter nascido diversas
amizades verdadeiras. – Além disso, não é culpa minha de que o Thomas resolveu
marcar o casamento dele hoje, que é uma Segunda-feira. – rolou os olhos. – Não
vou ser a única a não ir. Pessoas trabalham de Segunda-feira. – afirmou,
convicta disto.
Lorraine – As pessoas já vão ter saído do
serviço, querida. O casamento é só às dez. – disse. – E além disso, você não é
qualquer uma que irá faltar ao casamento. Ele é o seu irmão. – Danielle
suspirou.
Danielle – Eu sei. E eu me sinto um pouco
culpada por isto... – disse, sincera. – Mas nós já conversamos. E ele disse que
totalmente me entende.
Lorraine – Pelo jeito, não vou conseguir te
convencer, não é? – Danielle apenas riu. – Bem. Está bem! – ela levantou-se,
mostrando mais animada. – Você quer ajuda para terminar de arrumar as suas
malas?
Danielle – Não. Não precisa. Eu já acabei...
– Lorraine assentira.
Lorraine – Sempre tão independente, não é
mesmo? – Danielle sorrira. – Você conseguiu o meu apoio, então. – Danielle
sorriu novamente, animada. – Mas, com uma condição...
Danielle – E qual seria?
Lorraine – Você levar o seu celular. E um
casaco! – Danielle riu. – É claro, ué. – deu de ombros. – Você está indo para
um acampamento. No meio do nada. Tenho certeza de que vai cair a temperatura
por lá!
Danielle – Mãe, você já olhou para a janela?
Está super ensolarado. – riu.
Lorraine – Escute o que eu digo, filha. Eu
sou praticamente uma mãe-natureza. – Danielle agora gargalhara. – E quanto ao
celular, deixe-o com som. Sem este negócio de opção de “vibrar”. Quero que me
escute quando eu ligar para você! – ordenara e Danielle gesticulara com as
mãos, entrando na brincadeira.
Danielle – Como quiser, madame... –
brincara.
Lorraine – Estou falando sério, Dani. –
Danielle apenas sorriu.
Danielle – Mas se você ficar me ligando a
cada cinco minutos vou deixar no vibratório... – Lorraine fechara a cara neste
momento e Dani riu. – Estou brincando. – Lorraine suspirou, levantando-se e
aproximando-se dela.
Lorraine – Que horas você vai?
Danielle – Daqui umas duas horas...
Lorraine – Ah... Então eu não estarei aqui
para vê-la ir... – lamuriou. – Quem irá te levar?
Danielle – O pai da Marcella. – Lorraine
assentiu.
Lorraine – Para aonde?
Danielle – Para a escola. Combinamos de que
o ônibus nos pegue lá. – Lorraine suspirou.
Lorraine – E quando você volta mesmo? –
Danielle riu agora. – O quê? – ela rolou os olhos.
Daniele – Mães são muito engraçadas... –
comentou.
Lorraine – Responda a pergunta. – disse,
impaciente.
Danielle – Sexta-feira, mãe. Sexta-feira...
– Lorraine suspirou novamente.
Lorraine – Está bem, está bem... – parecia
não ter mais pergunta. – Você me entendeu quanto ao casaco e o celular, não é?
– Dani assentiu. – Se não conseguir falar comigo, tente mensagem. WhatsApp.
Skype. Satélite. Não sei, dá um jeito! – Danielle rira novamente.
Danielle – Ok...
Lorraine – Agora abrace a sua mãe! – ordenou
novamente, agora aos risos.
E
então abraçaram-se. Não era uma despedida. Mas ainda assim, Lorraine não
parecia confiante em deixa-la ir para a excursão. Formatura? Bem... Até que ela
tentara convencê-la. E o fato de que Danielle iria perder o casamento de
Thomas, o seu irmão, somente tornava a situação ainda mais complicada. Mas
Lorraine não sabia dizer não para ela. Dani parecia ser responsável. Com boas
notas. Com um bom futuro pela frente. E ela teria que deixá-la aproveitar o que
lhe falta de sua adolescência antes que as responsabilidades de adultos a
alcançasse. Era inevitável. E Lorraine apenas demonstrava o quão “tigresa” ela
poderia ser. Uma mãe. O conselho sobre o casaco. O conselho sobre o celular.
Ela apenas a amava. Incondicionalmente.
...
A
câmera mostrava agora a escadaria principal em espiral que dava acesso ao
principal cômodo da residência dos Gillings. Um lustre de cristal dava boa
vindas àqueles que fossem convidados para entrar. Ruídos de conversas paralelas
foram ouvidos em outra direção, provavelmente na cozinha. Tudo ali era feito da
melhor madeira possível. Talvez um gosto pessoal deles. Logo, o som de passos
descendo degraus fora ouvido. Era Lorraine, e logo atrás, Danielle. Lorraine
carregava no seu colo uma pequena mala branca com detalhes dourado, portanto,
tinha cuidados em descer dali. Danielle também carregava. Porém, a sua mala era
maior. Talvez por aguentar carregar uma força física maior ou talvez apenas por
Lorraine já estava apropriadamente vestida para ir ao serviço.
Assim
que chegaram ao solo depois de um minuto, Danielle colocou a mala maior próximo
da porta de entrada, e Lorraine colocara a mala de mão em cima desta. Elas se
entreolharam. Estava decidido. Danielle realmente iria. O olhar de cumplicidade
delas era o principal, acima de tudo. E então, dirigiram-se para outro local.
Passaram pela sala, e pudemos notar seus detalhes. Era extremamente grande.
Dois sofás beges ambos com três lugares. Uma estante que estava encostada à
parede com uma televisão de cinquenta e uma polegadas. A mais recente da
geração em que se encontravam. O tapete que repousava sob o piso era aveludado.
Pudemos notar uma pequena cama com a aparência de uma almofada no chão. Logo,
ouvimos Danielle agachar-se próximo dela, e não demorou muito para que o seu
respectivo dono surgisse. Era uma cachorra. Lulu da Pomerania era a sua raça.
Danielle acariciou a cabeça dela, sorridente. Enquanto Lorraine, por sua vez,
apenas seguira o seu caminho. O som da conversa que até então estava abafado
começara a aumentar, já que a câmera acompanhava os passos de Lorraine.
Danielle logo viera mais atrás, enquanto a pequena cachorra, que se chamava
Vilma a acompanhava.
Logo,
chegaram na cozinha. Também grande. Tinha os azulejos decorando as paredes. Uma
geladeira. Fogão. Nada mais e nada menos do que o básico. Uma mesa redonda
média para que pudessem ter uma adequada refeição. Estavam todos reunidos ali. Com
uma mesa recheada para o café da manhã. Jarra de suco. Pão. Manteiga. Panqueca.
Ovos fritos. Café. E até mesmo Bacon. Tudo do bom e do melhor. Simon e Tiffany
estavam ali. Esta, agora, podíamos notar mais os seus traços. Com os cabelos
maiores que o de Danielle, porém, não tão loiros. Tinham mechas escuras. Seus
lábios eram mais carnudos e seus olhos também eram maiores. Abria a porta da
janela neste segundo para pegar uma jarra de suco, então, vimos que vestia
shorts jeans com uma blusa xadrez amarrada na cintura, enquanto a sua camisa
estava escrita: “Smells Like Teen Spirit”. Realmente era fã de Nirvana. Logo,
voltou-se a acomodar-se onde estava sentada anteriormente. Não demorara muito
para que chegasse mais alguém. Era a empregada. Bethany seu nome. Mulata e
linda. Vestia a clássica roupa de empregada. Sorridente, cumprimentou Danielle
com um beijo na testa e Lorraine com um beijo no rosto. Pareciam bastantes
próximas uma da outra, ou seja, com um íntimo contato. Não demorara muito
também para que Lorraine e Danielle se acomodassem para tomar o café da manhã.
Lorraine olhara para o relógio. Eram seis e quarenta e um da manhã.
Definitivamente ela tinha um tempo para ficar tranquila:
Lorraine – Bom dia família... – já
acomodada, pegara um prato de porcelana pequeno para servir-se da panqueca que
era recheada.
Danielle – Bom dia pai, bom dia Tiff... –
também repetira com educação.
Simon – Bom dia filha. – ele, que
provavelmente já havia terminado de se servir, somente bebia uma xícara de
cappuccino, pegara um jornal em cima da mesa e o abrira bem ali.
Tiffany – Bom dia. – respondera, sem olhar
diretamente para a sua mãe e a sua irmã, com um dos fones de ouvido na orelha,
com os olhos atentos para o celular.
Lorraine – Vocês têm mesmo que ler jornal e
usar o celular na mesa? – continuava a se servir, e podíamos ver de fundo
Bethany passando de um lado para o outro, aparentemente atarefada, enquanto
Danielle se servia do suco de laranja que tinha ali em cima da mesa. – Vocês
sabem que a hora da refeição é uma hora especial.
Simon – Você está um pouco atrasada hoje,
querida... – ele não pareceu se importar com a bronca da esposa.
Tiffany – Tanto faz. – deu de ombros, ainda
não olhando para elas.
Lorraine – Não, amor. Eu não estou. – ela
sorriu. – Eu estava conversando com a Dani lá em cima... – ela cortou a
panqueca e colocou um pedaço em sua boca. – Deus, Bethany! Você cada dia mais
se supera! – achou totalmente delicioso o que havia provado. – Experimente,
Dani. Está muito bom! – havia desviado do assunto.
Danielle – É mesmo? – ela pegara um pedaço
da panqueca de Lorraine e provara. – Realmente, Bethany... – ela sorrira, e
Bethany passara por ela e ambas deram um toque no ar.
Bethany – Parece que o jogo virou, não é
mesmo? – ela, Dani e Lorraine riram. – Quando você me contratou dona Gillings,
eu não tinha os melhores dotes culinários. Acho que posso me candidatar para o
MasterChef americano! – elas voltaram a rir, e Bethany logo deixou o cômodo
novamente.
Danielle – Está muito gostoso. Vou desistir
do pão... – ela serviu-se da última panqueca restante, enquanto Vilma estava
deitada próxima a ela.
Lorraine – Sim... – concordou. – Ah, como eu
estava dizendo... – ela bebeu um gole de seu suco natural. – Eu estava
conversando com a Dani e ela decidiu que irá mesmo ao acampamento com os
amigos. Inicialmente, eu não concordei, mas ela me convenceu de que seria uma
boa ideia, e de que Thomas também não iria se importar, e... – ela, então,
notara que Simon estava lendo o jornal, a ignorando. – Simon? – ele, então,
distraído, a olhara.
Simon – Perdão... – ele desculpou-se. – É
que eu estava lendo esta matéria aqui. Você sabia que aquela farmacêutica, ou
cientista, não sei a profissão dela... – ele ainda olhava para o jornal, ao
mesmo tempo que trocava olhares com Lorraine ao mesmo tempo. – Sumiu após a
morte da sua filha para aquela síndrome terrível? – ele então ficou pensativo.
– Qual era o nome dela mesmo...
Danielle – Athena? – supôs. – Eu vi essa
reportagem em algum lugar. – comera a sua panqueca logo em seguida.
Simon – É! – concordou. – Athena... – ele
suspirou. – Deve ter sido difícil ficar numa situação como esta... – tentava se
colocar no lugar da mulher.
Lorraine – Você está mudando o assunto,
querido... – ele sorriu, fechando o jornal novamente. – E quanto a você,
Tiffany? Eu já não pedi para guardar o celular? – ela ficara séria, olhando
para a filha, que estava tão entretida, que não havia a escutado. – Tiffany! –
falara num tom de voz mais alto, que ela enfim pôde ouvi-la, fitando a sua mãe
que estava a encarando.
Tiffany – Argh! Mas que droga! – ela
colocou o celular em cima da mesa, fechando a cara e cruzando os braços.
Simon – Como eu disse, você está
atrasada. Eu e Tiffany já terminamos o café da manhã. É por isso que eu estava
lendo o jornal e ela estava no celular. – defendera a filha. – É uma tradição
que todos saiamos juntos da mesa.
Lorraine – Eu sei. Mas, como eu estava
dizendo, eu estava conversando com a Dani sobre a excursão. E ela decidiu que
iria. – cortava a sua panqueca.
Simon – Você tem certeza de que irá
perder o casamento do seu irmão, filha?
Danielle – Ele entende. – foi simples na
resposta.
Simon – Está bem então. Cuidado, hein? –
Dani apenas sorriu positivamente para ela.
Tiffany – Por que ela tem a opção de
escolher entre ir ou não neste negócio chato enquanto eu sou obrigada? –
questionou ríspida.
Lorraine – Talvez porque ela tenha ótimas notas
e um ótimo currículo escolar enquanto a senhorita está de recuperação em três
matérias? – respondera com outra pergunta, e Tiffany bufou.
Tiffany – Não é justo! – não aceitava.
Lorraine – Não é uma hora apropriada para
discutirmos isto, Tiffany. – terminava de comer a sua panqueca com o último
pedaço.
Tiffany – Bem, você nunca tem uma hora
apropriada para discutir nada comigo. Já com o Thomas ou com a Dani... – ela,
então, levantou-se da mesa, causando um grande “climão”, fazendo com que Dani
sequer olhasse para a sua irmã, enquanto Simon preferiu não ter atitude alguma.
Lorraine – Tiffany Gillings! Não ouse
levantar da mesa e sair! – bradou, rangindo os dentes agora.
Tiffany – Assista-me... – e então fizera,
pegando o seu celular e saindo da cozinha, enquanto Lorraine levantou-se
indignada para ir atrás dela, mas sendo impedida por Simon que fizera o mesmo.
Simon – Lorraine... – disse, calmo.
Lorraine – Ela não pode fazer isto, Simon! –
argumentou.
Simon – Você mesma disse que não é uma
hora apropriada para discutirmos isto. Além disso... Faltam cinco minutos para
dar o nosso horário. – Lorraine bufou, não se sentindo totalmente convencida,
olhando para o relógio pendurado na parede da cozinha, totalizando a quinta vez
em que se preocupava com o tempo.
Lorraine – Está bem... – concordou, embora
aquela não fosse a sua escolha de alguma maneira. – Você acabou, Dani? –
referia-se ao café da manhã.
Danielle – Sim... – levantou-se também.
Lorraine – Bethany, querida! – chamara a
empregada, que logo aparecera. – Nós já terminamos. Estava delicioso. – sorrira
ela agora, mantendo a tranquilidade. – Você não se importaria de tirar a mesa
hoje, não é? Eu a ajudaria, mas estou em cima do horário.
Bethany – De maneira alguma, dona Gillings.
Lorraine – É Lorraine, Bethany. Você já está
aqui há tantos anos... – Bethany sorrira.
Bethany – Está bem, Lorraine. – Lorraine
agora sorrira.
Lorraine – Muito bem! – ela então logo saíra
da cozinha também.
Simon – Você não ficou chateada com as
coisas que ela disse, não é? – ele acompanhava Dani para fora da cozinha
também, abraçando a filha por trás.
Danielle – Claro que não. – ela sorriu. –
Deixei de me importar com as grosserias da Tiffany há muito tempo. Aconselho
você e a mamãe a fazerem o mesmo. – Simon riu.
A
câmera os acompanhara. Lorraine estava mais na frente. Simon desvencilhou-se
para pegar a sua maleta preta e o paletó em cima do sofá já mencionado. Vilma
vinha logo atrás. Lorraine fora para próximo de onde as malas de Dani estavam e
pegou a sua bolsa Louis Vuitton que estava pendurada. Parecia sentir falta de
algo a mais. E fora o momento em que Bethany surgira:
Bethany – As chaves! – gritara, jogando uma
para Lorraine e outra para Simon, que pegaram em cheio com um reflexo apurado
as chaves, fitando-as logo em seguida, e jogando novamente um para o outro,
trocando as respectivas chaves. – Droga! Eu nunca acerto! – reclamou, e
Lorraine rira, enquanto Bethany retornara para a cozinha.
Lorraine
com a bolsa em mãos, abrira a porta. Vamos
Tiffany! Gritara ela, enquanto Tiffany foi vista descendo as escadas
rapidamente com a mochila nas costas. E fora o momento em que Lorraine olhara para
frente de sua residência, deparando-se com um Azera prateado. Um carro. Do ano
mais recente, ou seja, de dois mil e dez. Dele, descera um rapaz. Musculoso e
bonito. Usava uma camiseta com gola V listrada e calças jeans. Seu cabelo era
loiro escuro. Tinha óculos escuros e uma verdadeira classe. Era Thomas.
Lorraine logo sorrira de orelha a orelha ao ver o filho. Este, também estava
acompanhado. Do banco do passageiro, descera mais um homem. Os cabelos eram
escuros. Pretos. Tinha um estilo mais sério, com uma camisa polo que tinha como
as cores básicas o branco e o azul-marinho, vestindo também calças jeans, além
dos seus óculos escuros. Era amigo dele. Simon logo pôde ver o filho. Não
demorou muito para que as irmãs também vissem. Todos saíram da residência.
Lorraine fora a primeira a abraçar o rapaz bem apertado:
Lorraine – Que surpresa boa! – ela
desvencilhara-se dele dizendo isto em seguida. – Não esperava vê-lo assim tão
cedo... – sorrira. – Mike! – abraçara o amigo dele também.
Danielle – Thommy! – ela correu para
abraça-lo.
Thomas – Ei, Dani. – ele dera um sorriso
maroto, enquanto Simon o abraçara também. – Oi pai! – e em seguida, ele fora
também até a Tiffany, embora esta não parecesse tão receptiva assim, enquanto
os outros também cumprimentaram Mike, que aparentemente, já parecia “da
família”.
Lorraine – Hannah não veio com você? –
perguntou, procurando-a.
Thomas – Ela decidiu que iria passar o dia
relaxando. Como o salão de beleza dela é só meio-dia, a avó dela a levou para
comprar algumas roupinhas para a Luna.
Lorraine – Que legal! – comentara. – E
provavelmente você também veio relaxar, não é?
Thomas – É. – ele riu. – Digamos que eu
esteja um pouco ansioso... – Mike então forçara uma tosse, e todos olharam para
ele rindo, exceto por Tiffany que permanecia com o fone de ouvido, não dando
muita importância para aquela conversa. – O quê? – disse ele sempre com aquele
sorriso galanteador.
Mike – Um pouco? – ele rolou os olhos. –
Você está sendo modesto, meu caro... – Lorraine sorriu.
Lorraine – Pare de atacar o meu menino! –
ela deu um leve tapa em Mike, voltando a abraçar Thomas. – Você sabe que aqui
sempre será a sua casa, não é? – Thomas assentiu, sorrindo.
Simon – A sua mãe tem razão, filho. Esta
sempre será a sua casa...
Thomas – Obrigado, pessoal... – agradeceu.
Lorraine – Meu Deus! – ela olhara para o
relógio de pulso dela, checando que era sete e seis da manhã. – Eu estou
atrasadíssima... Vamos, Tiffany. – apressou a sua filha, apertando o botão,
abrindo o portão da garagem. – Filha... – ela fitara Dani. – Que a sua excursão
e a sua última confraternização com seus amigos seja muito divertida e que Deus
a acompanhe no trajeto! – ela dera um abraço rápido em Dani, e logo Simon
fizera o mesmo. – Não esquece de me ligar quando chegar lá! – advertiu.
Danielle – Obrigada...
Lorraine – Thommy e Mike, é a minha casa e é
a casa de vocês, hein? – ela abraçara pela última vez o seu filho e também
Mike. – Mas não abusem! Bethany está aí para me contar se vocês fizerem algo de
errado quando eu voltar! – dera uma bronca. – Até mais...
Simon
repetira as mesmas ações de Lorraine. Tiffany viera logo atrás. Logo o alarme
do carro de Lorraine fora desativado. Simon aproximou-se de seu carro também.
Despediram-se com um aceno e com um “tenha um bom dia”. Nada mais do que o
comum para até então. Tiffany logo adentrara no carro de sua mãe. O de Simon
era um C5 preto, enquanto o de Lorraine era um Edge acinzentado. Todos da marca
de dois mil e dez. Lorraine saíra da garagem primeiramente. Logo Simon. Cada um
seguira para um caminho diferente. Lorraine buzinara ao ver Dani, Thomas e Mike
adentrando ainda na residência Gillings.
E
este era somente uma observação básica do que de fato se tratava a rotina
daquela família. Lorraine fora para o seu serviço. Provavelmente deixaria
Tiffany na escola. Simon também fora para o seu serviço. Lorraine mostrara ser
uma mulher de família. Quase uma líder. Com uma rotina impecável e inquebrável
com uma personalidade única. Simon, por outro lado, era mais sério. Reservado.
Mas não poderia ter dúvidas do quanto amava a sua família. Danielle era alguém
responsável. Embora tivesse quase dezoito anos, não se deixava levar para a sua
idade. Tinha planos. Tinha metas. Tiffany, por outro lado, já era alguém mais
“problemática”. Adolescente. Rebelde, até mesmo poderia se dizer assim. E
Thomas, embora não tivesse sido mostrado com muito mais foco como o restante da
família, iria se casar no dia de hoje. Às dez da noite. E com uma noiva
grávida. Definitivamente... Uma grande família. Mas será que realmente
mostravam toda esta perfeição? Afinal... Sempre há quebradiças. Falhas. E
defeitos em qualquer relação. E Tiffany já mostrara como nada poderia atingir o
ideal. Restava somente aguardar. A imagem fora escurecendo pouco a pouco. Este
era apenas o início do spinoff de Voyagers Purgatory. Era o início de uma
provável revolução. Era o início de Somber Crusade.
Virginia, EUA (Richmond Town) – Lorraine’s Car,
Streets View
07:11
AM
O silêncio estava predominando entre mãe e filha. E
não era para menos. Fazia poucos minutos desde aquele “climão” que havia se
instalado após uma pequena discussão, esta que teria se estendido se não fosse
Simon impedindo. Afinal, para eles, o tempo era algo precioso. Lorraine era
quem estava no volante. Com o cinto segurança lhe protegendo. Parecia concentrada,
mas às vezes, olhava no espelho que tinha no interior do veículo que dava
acesso a parte traseira para visualizar a sua filha. Via Tiffany ali. Estava
sentada no banco atrás daquele do passageiro. Do seu lado estava a sua mochila.
Tiffany parecia com a expressão facial de alguém que estava realmente chateada.
E não era para menos. Ela em si parecia ser uma pessoa complicada e cheia de
problemas. Com o clássico fone de ouvido na orelha e fitando a janela para
visualizar o que tinha do lado exterior, não parecia muito acessível em ter
alguma conversa com a sua mãe.
E então, fora o momento em que Lorraine parara no
sinal. Ela suspirou. Ficou pensativa. Olhou novamente no espelho, fitando
Tiffany. Olhou agora para o rádio, e inquieta, começara a mexer nele. Ligara.
Colocara num volume não muito alto, mas também não muito baixo. Era agradável.
Tentava identificar alguma música que pudesse as relacionar neste momento. E
como aparentemente era um farol que iria demorar a enfim atingir o “verde”, via
neste pequeno minuto uma chance de se reaproximar com Tiffany:
Lorraine – Não tem nenhuma música boa... –
continuava a mexer no rádio. – Pergunto-me qual é o problema das músicas de
hoje em dia. Quem é que compra música desta banda vencedora de reality show? –
murmurou. – Eles não têm talento. – afirmou, convicta disso. – Você tem alguma
preferência, Tiff? – conversou agora com a filha, pedindo a opinião dela, mas
aparentemente ela não estava nem lhe ouvindo. – Tiffany? – a chamou novamente,
e desta vez Tiffany olhara para ela, já que a sua posição facilitava isso. –
Tira o fone, por favor... – pedira educadamente e Tiffany fizera isto.
Tiffany – O quê?
Lorraine – Você tem preferência por alguma
música?
Tiffany – Tanto faz. Já estou escutando
música... – deu de ombros, voltando a colocar o fone de ouvido.
Lorraine – Hum... Está bem. – ela arrumara a
estação do rádio novamente. – Vou deixar esta. – era uma música de Britney
Spears, era Overprotected. – É antiga, mas todos amam as músicas da Britney. –
deu um leve sorriso agora. – Você não concorda? – Tiffany não a respondera, e o
sinal enfim abrira e Lorraine conseguira seguir com o seu caminho, dirigindo
enquanto tentava aproximar-se de sua filha. – Tiffany?
Tiffany – O que foi?! – agora ela parecia
um pouco mais ríspida e grossa ao tirar o seu fone de ouvido pela segunda vez.
Lorraine – Podemos conversar? Gostaria que
você pudesse prestar atenção em mim... – dizia, ainda tentando manter-se calma.
Tiffany – Você disse que não era uma hora
apropriada para conversarmos.
Lorraine – Bem... No café da manhã em
família não é realmente uma hora apropriada para discutimos questões
familiares. – tentou se defender, corrigindo-a, ainda dirigindo, enquanto seu
carro fora para a direita, e Tiffany resolvera continuar a fitar a janela.
Tiffany – Tanto faz. Você já respondeu a
minha pergunta. É óbvio que você tem uma clara preferência pelo Thomas e pela
Danielle. – completou.
Lorraine – Isto não é verdade! – afirmou,
desmentindo-a. – Eu amo os meus filhos da mesma maneira.
Tiffany – Ah, é? – ela riu agora. – Não
parece.
Lorraine – Tiffany...
Lorraine – Tiffany...
Tiffany – Então me diz por que Danielle
teve a oportunidade de escolher em ir ou não para este casamento estúpido? –
ela agora olhara para a sua mãe, gesticulando com as mãos enquanto falava. – Ah
é! Porque é a filhinha perfeita... – rolou os olhos. – E quanto a Thomas? Foram
inúmeras as vezes em que você o livrou quando ele ainda era solteiro e chegava
bêbado em casa. – Lorraine apenas a escutava, séria e dirigindo. – E eu? Bem...
Vivo de castigo somente porque eu estou indo de contra a esta sociedade
hipócrita que acredita que as pessoas têm que viver presas em um padrão. –
bufou. – Você realmente ama os seus filhos da mesma maneira. – disse, com um
tom de ironia.
Lorraine – Se você se empenhasse, também
ganharia os seus bônus. – defendeu os motivos de Danielle e Thomas serem
privilegiados em alguns momentos. – Mas aqui estamos nós, não é mesmo? Danielle
está indo para a viagem de formatura. Thomas está se casando. E você está indo
para a escola para a recuperação quando deveria estar em casa de férias. –
Tiffany rolou os olhos neste momento. – Você pode não entender as minhas ações
hoje, mas no futuro irá agradecer a educação que estou lhe dando. E quando você
for mãe, irá entender completamente o que eu faço por você. – argumentou
perfeitamente, mas Tiffany não parecia satisfeita, e fora o momento em que
Lorraine parecia estar diminuindo a velocidade para estacionar o seu carro em
alguma vaga livre, fazendo isto logo em seguida, desligando o veículo por
completo após realizar o seu movimento, e virando-se para trás, embora o seu
cinto de segurança impedisse seu total movimento. – Eu apenas quero entender o
que realmente está acontecendo com você, minha filha... – foi possível ver
Tiffany ter seus olhos marejados neste momento, enquanto Lorraine comunicava-se
agora com uma voz mais dócil e suave. – Não é sobre Dani. Não é sobre Thommy. E
tampouco é sobre o casamento ou a sua recuperação na escola... – Tiffany,
então, limpara as suas lágrimas e olhara para a sua mãe mais uma vez.
Tiffany – Eu apenas estou cansada de vocês
fingindo que tudo está bem e tudo ficará bem. – Lorraine a escutava. – Que nós
somos uma família perfeita. Que nós não possuímos defeitos. Que nós somos
felizes... – Lorraine nada dissera, apenas desviara o olhar neste momento. –
Quando na realidade, nós somos imperfeitos. E que somos quebrados. E acredite
ou não... Mas a única pessoa que tem menos falhas de nós todos sou eu. – ela
pegara a sua mochila neste momento, colocando a mão na porta do carro para
abri-la. – E você sabe disso...
E então, Tiffany abrira a porta do veículo e saíra.
Lorraine ficara ali, observando ela adentrar pelo portão da escola sem nem
olhar para trás. Uma família imperfeita? Não era o que parecia. Definitivamente
tudo aquilo havia pegado Lorraine de surpresa. Ela não esperava tal declaração.
Tal desabafo. Ela não esperava nada disto. Porém, como ela mesma já havia
disto... Não era uma hora apropriada para discutirem isto. Nem perto disso. Ao
ver que Tiffany provavelmente já estava dentro do colégio, ligara o seu carro e
partira dali. Mas totalmente pensativa com cada palavra que Tiffany havia dito.
Virginia, EUA (Richmond Town) – Gillings’ Home,
Various Scenes (Inside The House / Swimming Pool Area / Outside The House)
07:30
AM
Danielle
estava do lado de dentro. Olhava-se no espelho que estava na sala e tentava
achar uma maneira de deixar o seu cabelo de uma maneira mais confortável. Era
possível visualizar Vilma, que estava deitada em sua cama, como de costume.
Danielle parecia indecisa. Fazia diversos e diversos estilos, porém nenhum
parecia agradá-lo. Podia-se ouvir som de conversa vindo mais abafado de outra
direção. Pareciam homens conversando. Provavelmente era Thomas e Mike. Nada que
ela teria que se preocupar.
Distraiu-se
quando ouviu o seu celular apitar. Era um iPhone branco com uma capa
extremamente fofo. Era de raposas e morangos. Talvez a sua combinação perfeita.
Parecia ser extremamente apegada a séries. Reparava-se ainda na mesma camiseta
que vestia e nas coleções de DVDs próximos a ela. Podíamos notar que tinha ali
desde The Suitor, Red Rails até The Coma. Danielle destravou a senha do seu
celular. A câmera acompanhava seus movimentos. Sorriu ao ler a mensagem que
havia chegado para ela. Era uma foto. Vinha do famoso WhatsApp, aplicativo
conhecido para conversas pelo celular. Danielle sorria para aquela foto.
Chegava até a rir. Na mensagem estava escrito: “Estamos chegando, Dani!”. E a
foto tratava-se da selfie de uma garota morena com cabelos crespos sorrindo
fazendo um sinal de “joia” junto de um homem robusto que estava com óculos
escuros, provavelmente seu pai ou até mesmo o seu tio. Era Marcella. Marcella
Butler. Passos foram ouvidos e logo Bethany fora vista se aproximando, e
comentou logo que a vira fitando o celular:
Bethany – Rindo para a tecnologia, Dani? –
comentara, aproximando-se dela e ficando por trás delas, ambas tendo seu
reflexo visto pelo espelho.
Danielle – É. Marcella sabe me alegrar. –
riu novamente. – Acho que é algo de família...
Bethany – Ah é, com certeza. – concordou,
rindo também. – Aquela prima dela é bem expressiva, para não dizer outra
coisa... – Danielle gargalhou desta vez.
Danielle – Siobhan?
– Bethany assentiu. – É... Expressiva...
– voltou a rir. – Experimente ficar um dia perto dela para você ver. Você meio
que acaba adquirindo o humor dela por osmose do ar mesmo sem querer... –
Bethany riu.
Bethany – Eu acredito. – sorriu. – Mas,
então. O que você fazia aqui parada?
Danielle – Estava procurando por algo que
fizesse o meu cabelo ficar mais apresentável... – ela guardou o celular no
bolso.
Bethany – Hum... Deixe-me lhe ajudar... –
ela, então, pegara o cabelo de Dani e tentara fazer um coque, ou até mesmo
tentara deixa-lo preso, mas aparentemente não combinava muito com ela. – Eu
poderia fazer tranças... O que acha?
Danielle – Mesmo?! – ela se empolgou. –
Ah... Mas estou com preguiça daqueles que vão problematizar as minhas
tranças... – ela rolou os olhos.
Bethany – Deixe para lá. Eu sou negra e
acho que você ficará linda. – ela sorriu e Danielle retribuiu a gentileza.
Danielle – Está bem, então! Você é demais! –
ela sorriu novamente, e Bethany começara a enrolar os cabelos platinados de
Dani em tranças perfeitas, aparentando ter bastante habilidade.
Bethany – Você já colocou a sua blusa
dentro da mala?
Danielle – Ah... Você ouviu a conversa... –
ela riu, referindo-se ao momento em que Lorraine pedira para ela ir agasalhada
ao acampamento.
Bethany – Não precisei. Eu faria o mesmo.
Não só faria como faço. – corrigiu a si mesmo.
Danielle – Mães... – ela riu. – Mas sim, já
coloquei a blusa. E ela está me mandando mensagem quase o tempo inteiro...
Bethany – Bem, você não pode culpa-la. Você
sabe que ela é bem próxima e apegada a vocês... Thomas era um garotinho
aprisionado no quarto até ontem e hoje irá se casar. – Dani riu.
Danielle – É... Você tem razão. – concordou.
– Ela sempre foi bastante protetora. – ela ficou pensativa. – Talvez esse seja
o problema com a Tiffany. – refletiu. – Quero dizer... – ela suspirou. – Eu
nunca me importei. Sempre fui caseira, então, quando me proibiam de sair de
casa, realmente achava que estava tudo bem. Thommy sempre foi bastante
responsável. Talvez Tiffany sinta-se sufocada. – Bethany a escutava somente. –
Não sei. Somente uma hipótese...
Bethany – Eu não sei também. Não tenho
muito que a dizer a respeito desta situação... – também ficara pensativa. –
Trabalho aqui há muitos anos. Talvez seja apenas a adolescência que é uma etapa
muito difícil.
Danielle – É... Pode ser. – ela deu uma leve
risada. – Eu apenas queria poder entendê-la. Nós costumávamos ser muito
próximas há alguns anos... E de repente, ela apenas mudou.
Bethany – Pessoas mudam, Dani. É normal. –
comentou. – Talvez ela tenha mudado naturalmente ou algo tenha a forçado a
mudar. Nós talvez nunca saberemos.
Danielle – O que você quer dizer? – Bethany
continuava a fazer as tranças de Dani.
Bethany – Eu não sei... Talvez ela tenha
descoberto segredos... – Dani arqueou a sobrancelha. – Você realmente acredita
que a relação de seus pais é tão tranquila assim? – Dani ficara pensativa. – De
que Thomas realmente não possui problemas em casa? – citara. – De que você é
totalmente sorridente todos os dias do ano? – Dani apenas desviara o olhar, ficando
mais acanhada. – Ou de que eu realmente sou bondosa completamente? – ela,
então, finalizara as tranças de Dani. – Pessoas possuem segredos e lados
obscuros, Dani. E cedo ou tarde... Eles sempre vêm à tona.
Bethany então se afastou. Fazia sentido o que ela
tinha dito? Fazia sim. Tanto era que Dani ficara ali diante do espelho,
totalmente pensativa. Demorou alguns segundos até perceber que seu penteado
havia sido concluído. Ficara de perfil para visualizá-lo de maneira apropriada.
Dera um leve sorriso de canto, mas nada tão expressivo como costumava a dar.
Segredos. Lados obscuros. Cedo ou tarde, eles realmente vêm à tona. E Bethany
tinha razão.
–
O rádio foi colocado. A piscina estava sendo
celebrada. Sun Goes Down de David Guetta era a música preferida para este
momento. Estávamos agora na área de lazer da grande casa da família Gillings.
Era um paraíso, podemos dizer assim. Repleto e rodeado pelo jardim. Esverdeado.
Bonito. Com as flores mais bonitas e também exóticas ali. O dia ensolarado
facilitava para isto. O Sol não queria esconder-se de maneira alguma. Víamos a
piscina azulada e grande que tinha até uma pequena queda d’água. Rodeava uma
“pequena ilha” onde tinha um coqueiro e grama. Talvez para fazer sombra para
quem quisesse entrar ali. Tinha até outras pequenas piscinas para crianças
espalhadas pelo local. Era algo realmente chique e até mesmo caro. O padrão de
vida para esta família era realmente alto. Víamos três espreguiçadeiras brancas
por ali que estavam sob o piso que era “listrado” e de madeira. Estas,
inclusive, tinham as camisetas dos rapazes que estavam ali. Era Thomas e também
Mike. O último, já dentro da piscina. Com seus óculos escuros padrão, apoiando
o braço na borda da piscina enquanto desfrutava alguns petiscos que tinha ali pedaços
em cubo de queijo com palitos e até salame, além de degustar a cerveja de
garrafa que segurava com uma de suas mãos. Balançava a cabeça ao som do ritmo
da música que ecoava por ali. Era o dia do casamento. O último dia de solteiro
de Thomas. Mesmo ainda sendo de manhã, não havia motivo para não comemorar ou
até mesmo lamuriar a perda de um “amigo” para a vida de casado.
Thomas também estava sem camisa. Mas do lado de
fora. Com um shorts básico, exibia seu musculoso peitoral. Também com óculos de
Sol e calçava o chinelo para não queimar os pés. Parecia estar conversando com
alguém. Estava com o celular dele na orelha, o que indicava que realmente fazia
tal ação. A câmera aproximou-se dele para que então pudéssemos ouvir a
conversa. Thomas até mesmo fora até rádio para diminuir o volume e conseguir
escutar melhor a tal ligação:
Thomas – Está tudo bem, amor. Eu já
conversei com ele. Ele irá lhe buscar. – garantiu com o seu tom de voz máscula,
e pela maneira como ele falava, poderia se tratar de sua noiva. – Sim. Mike
está aqui. Garantindo que eu me comporte e não fique bêbado. – ele olhou para
Mike rindo ao vê-lo dar um grande gole na cerveja, acenando totalmente
sorridente para Thommy. – Talvez tenhamos que inverter os papéis e eu garanta
que ele não fique bêbado até de noite... – ele riu. – É sim. Ele está mandando
um beijo para você... – ele sorriu galanteador. – Mande um beijo para a sua avó
também. Anastacia é uma querida. – dizia ele simpático somo sempre. – Está bem.
Divirta-se... Lembre-se de que fizemos um acordo de sem ligações até de noite,
hein? – ele brincou e em seguida rira com o provável comentário que sua noiva
tenha feito. – Está bem. – concordou novamente. – Até logo... – ele sorriu. –
Te amo, meu amor. – despediu-se por fim.
Sorridente. Sonhador. Apaixonado... Poderiam ser as
características básicas para descrever alguém como o Thomas. Fora até o rádio
novamente e aumentou o volume da mesma maneira que estava novamente. Quando
virara para seguir até a piscina vira que Mike estava com um sorriso estampado
no rosto. Talvez até de deboche. Ele gostava de brincar com Thomas a respeito
desta futura vida de casado e não faria questão de esconder sobre isso:
Thomas – O quê? – ele parecia ter ficado
envergonhado, desviando o olhar, e sentando-se na borda para molhar as pernas,
não tendo a preferência de adentrar na piscina.
Mike – Te amo, meu amor... – ele fez uma
voz melosa. – Deus, você é tão meloso. – ele riu agora neste momento.
Thomas – Ah é? – ele entrou na brincadeira
também. – Espere até você encontrar o amor da sua vida. Quando isto acontecer,
tenha certeza de que serei o primeiro na fila para zoar você. – Mike riu
novamente.
Mike – Você está errado. Eu já encontrei
o amor da minha vida... – ele então levantou a garrafa de cerveja e ambos riram.
– Cara... Eu sinto pena de você. – ele lamentou e Thomas arqueou a sobrancelha.
Thomas – Por quê?
Mike – Você está preso para sempre... –
Thomas rira levemente da fala dele. – Você nunca mais irá para uma balada. Ou
beberá uma cerveja. Ou sairá com os seus parceiros sem permissão! – ele
exclamou. – Eu realmente sinto pena de você...
Thomas – Não se preocupe. Hannah e eu
temos um acordo quanto a isso... – disse. – Ela pode sair com as amigas dela
quando quiser e eu também posso sair com os meus. – Mike sorriu neste momento.
Mike – Eu já disse que eu amo a sua
noiva? – ambos riram.
Thomas – Mas claro que há exceções...
Mike – Droga... – murmurou.
Thomas – Nós não podemos ficar tão
bêbados.
Mike – Mas podem beber? – Thomas sorriu.
Thomas – Sim... Podemos. – assentiu e Mike
pareceu ter gostado disto.
Mike – Por mim é o suficiente. – ele
dera outro gole em sua cerveja.
Danielle – Thommy! Thommy! – chamara Thomas,
e a voz parecia vir de longe, porém, conforme ela chamava mais, podíamos sentir
que ela vinha se aproximando.
Thomas – Ei, Dani! – sorriu ao vê-la se
aproximar e andar até a eles. – Junte-se a nós...
Danielle – Bem, eu gostaria... – ela
lamentou. – Marcella já chegou.
Thomas – Ah... – ele lamentou também,
levantando-se logo em seguida. – Você já vai então?
Danielle – Vou sim... – assentiu.
Thomas – Já avisou a mãe? – ela assentiu
positivamente. – Ok então... – ele a puxou para um abraço. – Cuide-se, hein? –
dera um beijo no rosto dela, e ela fizera o mesmo no rosto dele. – Tem certeza
de que não quer ver o seu irmão casando? Dá tempo ainda... – brincou e Dani
sorriu.
Danielle – Você me envia fotos... Vai
parecer que eu estava lá! – garantiu.
Thomas – Certo... – sorriu novamente. –
Divirta-se...
Danielle – Você também, senhor casado... –
brincou, recuando e afastando para voltar para dentro de casa. – Tchau Mike! –
despediu-se apenas acenando já que ele permaneceu dentro da piscina apenas
observando a conversa e curtindo a sua cerveja.
Ambos observaram Dani ir embora. Thomas dera um leve
sorriso. Ele então voltara a se sentar na borda da piscina e notara que Mike
continuava com um olhar para lá. Ele franziu o cenho. Aquilo aparentemente
estava errado. E fora o momento então em que ele dera um tapa no braço dele,
mas não tão forte, o suficientemente para que ele “acordasse para a vida”:
Mike – Ai! – reclamou. – Por que isso do nada? – ele alisou o seu braço.
Mike – Ai! – reclamou. – Por que isso do nada? – ele alisou o seu braço.
Thomas – Não seja cínico. – ele bufou. –
Eu conheço esse olhar...
Mike – Que olhar? – fez-se de
desentendido.
Thomas – Esse olhar. De safado. – Mike riu.
Mike – Oi?
Thomas – Você estava olhando para a bunda
da minha irmã! – Mike riu novamente.
Mike – Por favor, né... – ele desviou o
olhar.
Thomas – Mike... – ficara sério.
Mike – O que eu posso fazer? Ela é quase
uma mulher. Eu sou um homem. E ela está ficando cada vez mais bonita e... –
Thomas deu outro tapa em Mike, que riu após
Thomas – Não ouse falar gostosa!
Mike – Em minha defesa é você que está
falando... – gesticulou.
Thomas – Humph. – bufou enciumado, mas de
uma maneira até brincalhona. – Você sabe que isto nunca poderia acontecer, não
é? – Mike nada dissera, apenas bebera sua cerveja. – Você tem um péssimo
histórico com mulheres.
Mike – Que mentira! – exclamou,
perplexo. – Minhas ex-namoradas me amam. Até me ligam às vezes.
Thomas – Ligam para dizer o quão canalha e
idiota você foi com elas no passado. – Mike deu um sorriso amarelo.
Mike – Bem, a vida não é perfeita... –
Thomas riu.
Thomas – Além disso, deveria ser uma regra
amigos não se relacionarem com irmãs.
Mike – Sério? – ele franziu o cenho. –
Nunca pensei nisso...
Thomas – Claro, a sua irmã só tem cinco
anos... – ele rolou os olhos e Mike agora percebeu o quanto de sentido aquilo
realmente fazia. – E imagina se a minha mãe ficasse sabendo? – Mike riu neste
momento. – Você sabe que não estaria vivo para contar o resto da vida, não é? –
ambos riram. – Eu me lembro de quando a Dani deu o seu primeiro beijo... – ele
sorriu lembrando-se daquela época. – Faz dois anos. Ela tinha quinze... –
pôde-se notar que ela tem dezessete anos atualmente. – E ela somente contou
para mim. – lembrou-se. – A minha mãe não ficou sabendo no início. Mas quando
ela descobriu... – ele riu. – Até eu que não tinha culpa de nada, exceto por
saber daquilo, acabei apanhando. Ela ligou até para a mãe do garoto. – Mike riu
também.
Mike – Ela nunca se importou com os seus
casos? – referia-se a namoros antigos.
Thomas – Não... Acho que o fato de eu ser
homem ajudou um pouco. – Mike assentiu, parecendo concordar. – Com as minhas
irmãs é sempre diferente nesta situação. – refletiu.
Mike – E aqui está você. Na sua última
noite de solteiro... – Thomas sorriu agora.
Thomas – É... – ele ficou pensativo então.
– Eu passei por muita coisa até chegar aqui... – Mike apenas o escutava. – E eu
finalmente estou me casando. – disse. – Com uma filha para nascer... – Mike
sorriu agora. – Pequena Luna... – encantou-se. – É real, Mike. Eu estou me
casando! – gritou ele, abrindo os braços.
Mike o puxou para a piscina. A amizade deles sem
dúvidas parecia algo especial. Não se tinha dúvidas sobre isso. E realmente o
casamento estava acontecendo. Mostrou-se um pouco da personalidade de Thomas.
Parecia ser alguém tranquilo. Mas será que realmente ele era tudo isto que
aparentava ser? Bethany afirmou que pessoas possuíam segredos. Era natural. E Thommy
pode não escapar disso.
–
O som do porta mala do carro sendo batido foi
ouvido. Estavam do lado de fora agora. Danielle foi vista ali aparentemente
após ter guardado as duas malas de viagem. Marcella estava dentro do carro que
não possuía teto, sentada no banco de passageiro, com as pernas pro alto, não
parecendo se importar com o que acontecia ao seu redor. Era um VW Eos preto a
marca dele. Mascava um chiclete ao mesmo tempo em que tagarelava sobre algumas
coisas aleatórias sozinha. Tirava algumas fotos também. Eram selfies, como de
costume. Parecia ser alguém sempre muito bem humorada. Um homem estava próximo
a ela. Era grande, alto e musculoso. Sério. Agora sem os óculos de sol daquela
foto enviada por Marcella mais cedo. Com uma camiseta verde-musgo bem ajustada
no corpo e calças jeans, além do seu sapato normal. O seu nome era Duke. Duke
Butler. Parecia ter ajudado Dani a guardar as suas malas. Estavam prontos para
dar a partida e irem para o colégio onde pegariam o ônibus para excursão.
Definitivamente tudo estava pronto:
Danielle – O quê aconteceu com o Senhor
Vladmir? – perguntou sobre o pai de Marcella, conversando com Duke.
Duke – Ele teve que sair para ir ao
trabalho. Estava de folga. E como eu estou hospedado na casa dele, me ofereci
para levar vocês... – Dani então sorriu.
Danielle – Ah é! Não tive oportunidade ainda
de lhe dar um abraço... – ela então assim o fez. – Você então é o pai de
Siobhan? – perguntou ao se desvencilhar dele e Duke assentiu.
Duke – Siobhan é bastante famosa, não é?
– Dani apenas sorriu.
Danielle – Você não faz ideia... – brincou.
– E por onde anda ela?
Duke – Ah... Não sei. – Dani franziu o
cenho. – Mesmo. Não estou brincando... – ambos riram. – Deve estar por aí. Ao
redor do mundo... – disse. – Eu diria que talvez Las Vegas. Ela gosta de
pôquer. – brincou e eles riram. – Mas também há a possibilidade de estar em
outros países. Lituânia, Sri Lanka, Bangladesh ou até mesmo Liechtenstein. –
citara os países.
Danielle – Ela realmente conhece todos esses
países? – espantou-se.
Duke – Talvez. – deixou no ar e Dani
sorriu.
Danielle – Vocês não moram juntos?
Duke – Nós temos, digamos assim... Uma
relação peculiar. – definiu então, e Dani riu.
Danielle – Entendi... – ela, então, pegara o
seu celular e olhou para a hora dele. – Meu Deus! Estamos atrasadas! –
espantou-se. – Vamos!
Dani se direcionou para o carro. O som da conversa
foi diminuindo pouco a pouco. Parecia estar brigando com Marcella, talvez
porque ela tenha preferido ficar ali sentada ao invés de ajuda-los com as malas.
Siobhan. Duke. Cada vez mais a família Butler era mostrada. Era importante
mostrar que eles tinham vínculo. E que aparentemente Marcella e Dani pareciam
próximas uma da outra. A excursão iria acontecer. E Dani planejava divertir-se
muito com os seus amigos de infância.
Virginia, EUA (Richmond Town) – Polydel High School
07:45
AM
Tiffany aguardava dar o horário na cantina da escola.
Como já era período de provas de recuperação, esta não estava aberta. Mais a
sua frente, via um pátio bem aberto. Onde estava já era um pouco mais apertado.
Todas as mesas e cadeiras estavam empilhadas. Mais atrás de onde ela estava,
via-se um refrigerador para bebidas como água e também refrigerantes, além da
bancada onde provavelmente se vendia os salgados e doces. Conseguira retirar
uma para se acomodar sem grandes dificuldades. Ela conseguia ouvir o som de
algo. Como se fossem gritos e até música. Supôs que poderia ser um ensaio. Mas
não quis dar muita atenção a isso. Estava com o celular em mãos, apenas jogando
um jogo aleatório já que provavelmente a internet não funcionava até dar oito
horas e ela poder fazer a prova e ir embora. Queria férias. Queria sossego. E
queria descanso.
Fora o momento então em que percebera que todo o
barulho cessara. A música. O som de comemoração. E agora surgira apenas o de
conversa. Como se tivesse um grupo se aproximando de onde ela estava acomodada.
Era um grupo de garotas. Eram quatro aparentemente. Todas com saias e top
azulado com detalhes amarelados. Provavelmente era a cor principal do colégio.
Tiffany olhara aquilo, mas preferira ignorar. Por outro lado, seja lá quem
fosse aquelas garotas, a principal delas preferiu provocar. Tinha o cabelo
preso, porque provavelmente estava ensaiando para algo que envolvesse líderes
de torcida. Ela era ruiva. Tinha franja também. Com uma cor bem branca e um
corpo até mesmo definido para a idade dela. Sorrira debochadamente para
Tiffany, dizendo para as outras garotas próximas às elas:
Sandy – Vejam só, garotas... Se não é a
coitada da Gillings. – elas riram, demonstrando ser alguém bem baixo nível, mas
Tiffany preferira ignorar, continuando a olhar para o seu celular. – Pensei que
sequer tinham dado a chance de você vir para a recuperação, todo mundo aqui
sabe que você não vai passar mesmo. – e então elas comentavam “boa Sandy”,
“acaba com ela Sandy”, “isso aí Sandy”, deixando o ego dela bem alto, revelando
também seu nome, enquanto Tiffany ainda manteve-se calada. – Qual é Gillings? O
gato comeu a sua língua? – rira novamente.
Tiffany – Uau, Sandy... Cada vez mais você
me prova que o seu lugar é fazendo teste para Mean Girls três. – ela sequer a
fitava, parecendo deixar Sandy um pouco irritada. – A quem você está querendo
enganar? – ela olhara para Sandy agora, sorrindo. – Todo mundo aqui sabe que você
é uma pobre coitada. – as amigas de Sandy se entreolharam com o fora que Sandy
havia acabado de passar.
Sandy – Eu tenho dó de você, Gillings...
– afirmou, fazendo até mesmo “biquinho”, tratando-a com sarcasmo. – Perdeu o
posto de líder da torcida pra mim, vai repetir o ano e a mamãe não gosta de
você. Está difícil ser Tiffany ultimamente, você não concorda? – Tiffany
pareceu ter se incomodado ao ver sua mãe sendo citada numa discussão até mesmo
patética. – Pobre Lorraine... – lamuriou, enquanto suas amigas continuavam a
dar risadas forçadas, cochichando entre si. – Tão fracassada quanto a filha. –
concluiu. – Há somente uma maneira de que Lorraine seja famosa nos dias de
hoje... – Sandy sorrira então. – Talvez ela tenha fodido com vários homens para
chegar até o topo...
E fora o momento em que Tiffany não se segurou e se
levantou avançando contra Sandy. Não tivera escolha. Puxara o cabelo dela e
rangia os dentes. Era uma briga de adolescente, mas que havia sido provocada
pela mesma. Demorou alguns minutos até que alguém viesse intervir. As garotas
amigas de Sandy sequer se aproximaram. Eram tão patéticas que começaram somente
a torcer. Talvez apenas tivessem medo de também apanharem. Um garoto logo
surgira. Entrou no meio delas. Acabou até sendo agredido também. Puxara Tiffany
para longe por parecer ser a mais agressiva e violenta. Falava palavrões. A
xingava. Realmente Sandy havia conseguido tirá-la do sério. Sandy apenas sorria
debochadamente. O garoto, então, dissera:
??? – Saia daqui, Sandy! – pedira, e
Sandy apenas acenara provocando ainda mais uma avançada de Tiffany, que precisou
ser contida pelo rapaz. – Acalme-se, Tiff... – pedira, enquanto Sandy e as
garotas se afastavam cada vez mais.
Tiffany – Droga, Lucca! Saia do meu
caminho! – pedira para ele, que resistia ali mesmo, impedindo com que ela se
movesse, e quando vira que elas realmente já tinham ido embora, ele a soltou. –
O que você está fazendo? – perguntou inconformada, gesticulando com as mãos. –
Você viu como ela falou da minha mãe?
Lucca – Não. Eu estava próximo da sala de
aula estudando... – ele comentou, calmo.
Tiffany – Ela tem sorte que você chegou
aqui! Ia arrastar a cara dela no asfalto! – bufou, impaciente, voltando a se
sentar e Lucca apenas riu, e quando a câmera afastou, pudemos ver que era um
rapaz não muito alto, com o cabelo escuro, curto e baixo, de olhos azuis,
sardas e com a pele branca, considerado como um padrão de beleza até, vestindo
uma camisa xadrez azulada e a básica calças jeans. – Estúpida... – rolou os
olhos.
Lucca – Ela parece ter dito algo bem
pesado sobre Lorraine para você ter agido assim... – Tiffany o fitara,
franzindo o cenho.
Tiffany – Não finja que você me conhece. –
ela se levantou, então, pegando a sua mochila e colocando o celular no bolso de
seu shorts, mas Lucca impedira com que ela fosse pegando no braço dela.
Lucca – Você poderia pelo menos me
agradecer! – afirmou. – Você tem sorte de que não foi o diretor que veio
intervir na briga.
Tiffany – Ah é? – ela sorriu. – Bem,
obrigada Lucca. Obrigada por salvar as minhas unhas de quebrarem na cara
daquela coisa. – ironizou, então. – Agora, com licença? – ela olhara para as
mãos dele ainda segurando o braço dela, e fora o momento em que ele se
desvencilhou dela, deixando-a ir embora.
Tiffany assim fizera. Lucca somente o observou ir
para outra direção. Eles tinham uma história, provavelmente. Um passado, talvez
também. De qualquer forma tudo isso somente provava como a personalidade de
Tiffany era difícil. Sandy parecia ser somente uma qualquer da escola. O ponto
a ser provado era de que mesmo com as brigas com Lorraine, Tiffany a defenderia
com unhas e dentes. Ela era a única que poderia discutir com a mãe? Não era bem
assim. Apesar das diferenças, Tiffany a amava. Tal como o restante de sua
família. Morreria por eles, se necessário. Tudo o que ela queria era somente
ser entendida.
...
O horário agora já havia dado. Estávamos em uma sala
de aula. A lousa verde. As paredes pintadas com tinta branca. Era um local novo
e um espaço até mesmo agradável. Tinha vários ventiladores. Cada um em cada
canto da sala. As diversas carteiras. A professora em sua mesa lendo um livro,,
mas que às vezes olhava a sala para ver o que estava acontecendo. Não tinha
muitos alunos. Somente quatro. A professora usava óculos de grau e cabelos
ruivos. Era jovem. Não deveria ter mais de trinta e cinco anos. Tiffany logo
fora vista. Com um lápis com o corpo amarelado em mãos, e no final com uma borracha
avermelhada. Parecia pensativa. Olhava para aquele pedaço de papel com várias
alternativas e contas matemáticas e era como se sequer conseguisse se
concentrar. Talvez toda aquela discussão com Sandy servisse para tirar
totalmente o seu foco. E o fato de que agora Lucca havia entrado na sala
somente havia complicado ainda mais a situação. Tiffany evitara contato visual.
Lucca fora pegar a sua prova e se sentara bem atrás dela. Realmente... Tudo
somente tinha a piorar.
Tiffany suspirou. Pensara em trocar. Mas talvez
fosse chamar atenção demais ou até mesmo dar o gosto para Lucca de que ela
realmente se importava. Era melhor deixar para lá. Voltara a olhar para a sua
prova. Tinha ainda cerca de quarenta minutos para o término. Tudo o que ela
tinha que fazer agora era colocar o seu conhecimento a prova.
...
Mais alguns minutos se passaram. Faltavam dez agora.
Tiffany parecia mais desesperada. Vimos que em sua prova estava cheia de
contas, mas era como se nunca conseguisse chegar em um resultado que estava
próximo da alternativa. Pensava até mesmo em optar por uma em que o resultado
fosse próximo. Fazia isso nas provas comuns. Talvez fosse essa técnica em
primeiro lugar que deve ter a deixado nesta situação agora. Ela pegava a prova.
Tinha duas páginas. Começara a observá-la no intuito de ver quantas questões
corretas ela já havia conseguido. Precisava acertar pelo menos seis das dez
questões ali presentes. Só tinha certeza de três. Ela bufou. Quem é que
realmente precisava de equações para seguir na vida? Era um de seus
pensamentos.
O tempo passava. Os segundos eram essenciais.
Tentava voltar a se concentrar. E fora o momento em que percebera alguém a
chutando. Somente poderia ser Lucca. Ela olhara para a professora neste
momento, como se quisesse a contar algo. Mas a professora parecia extremamente
distraída. E fora o momento então em que vimos Lucca por trás agachando-se e
tentando fazer algo. Tiffany sentira isso em sua cadeira. Com as mãos, ela
tentara distinguir o que poderia ser. Era um pequeno pedaço de papel amassado.
Ela então o pegara, e sem coloca-lo diretamente na mesa, o abrira. E ali
estavam respostas de seis questões. Lucca logo passara por ela, com a prova já
finalizada, para entregar para a professora. Dera uma leve piscadela para ela
ao sair da sala. Tiffany voltara a olhar para o papel. Ela ficara pensativa.
Aceitaria a ajuda? O lado positivo era de que três das questões que ele havia
passado a resposta eram questões de que ela não havia conseguido chegar a um
resultado específico. Parecia sem escolha. Não poderia simplesmente optar em
jogar o seu ano letivo fora somente por birra. Assinalara as questões. Chutara
as outras restantes em resultados próximos e assinalara o gabarito com uma
caneta azul. Olhara para o papel novamente. O virara. E atrás estava escrito um
pedido de desculpas. “Eu deveria ter
deixado você bater mais na Sandy... Ela meio que jogou suco em mim quando disse
que ela tinha idade mental de quatro anos.” Tiffany sorriu. Era o que ela
precisava ouvir.
Guardara seu material em seu estojo e levantou-se de
sua carteira e pegara a prova e fora até a professora para entrega-la, junto de
sua mochila. Parecia confiante, pelo menos. Logo saíra da sala de aula. E antes
que pudesse virar o corredor para ir embora, pareceu ser surpreendida por Lucca
que estava encostado na parede, aparentemente a aguardando:
Lucca – E então? – perguntara, e Tiffany
o fitara, dando uma leve risada ao ver a camiseta dele amarelada. – Suco de
maracujá. – ele disse. – Eu acho que ela estava querendo me acalmar... –
brincou e Tiffany riu novamente.
Tiffany – Eu disse que ela não valia nada.
– cruzou os braços, então.
Lucca – Vejo então que conseguiu o meu
recado... – Tiffany assentiu.
Tiffany – E o que você está querendo
provar? – permanecia ainda teimosa e resistente em relação a ele.
Lucca – Nada. – deu de ombros. – Estava
apenas querendo a ajudar.
Tiffany – Bem... – ela desviou o olhar. –
Eu já sabia as respostas das questões que você me mandou. – ela mentiu, e Lucca
então sorriu. – O quê?
Lucca – Você não sabe mentir... – Tiffany
tornara a sorrir. – Você realmente esqueceu o quanto eu a conheço, não é? –
Tiffany nada dissera. – Pelo menos marcou as respostas que eu te dei? – ela
assentiu. – Ótimo. Tenho certeza daquelas, pelo menos... – ele deu um leve sorriso
de canto. – Não que eu esteja esperando você me agradecer, mas né... Seria bom.
– ele sorriu novamente e ela retribuiu.
Tiffany – Obrigada. – agradeceu. – Bem... –
ela, então, parecia estar pronta para ir embora. – Eu tenho que ir. – ela
tentara seguir o seu caminho, mas Lucca pôs-se na frente dela.
Lucca – Por que não vamos dar uma volta?
– pedira. – Eu estou com o meu carro aqui perto... – Tiffany o fitara,
sorrindo.
Tiffany – Você está dirigindo? – ele
assentiu, também sorrindo. – Lucca... – ela suspirou. – Eu não sei...
Lucca – Vamos lá... – insistiu. – Mais
uma chance... – ele pedira, com direito até a um biquinho e Tiffany riu.
Tiffany – Eu... Eu não posso... – disse, e
Lucca somente a escutara. – Eu disse a minha mãe de que voltaria em casa após a
prova. Tenho que pegar taxi ainda...
Lucca – Eu te levo em casa...
Tiffany – Ela não gosta de você. – Lucca
riu.
Lucca – Você a contou? – Tiffany riu
também.
Tiffany – Qual é? – ela sorriu tímida
agora. – Qual é a filha que não conta para a mãe sobre a sua primeira desilusão
amorosa? – Lucca parecia concordar.
Lucca – Você pode avisar a sua irmã... –
sugeriu.
Tiffany – Dani provavelmente já está dentro
do ônibus. – Lucca bufou então.
Lucca – Ah, sei lá então... O seu irmão?
– Tiffany ficara pensativa.
Tiffany – É... Ele está me devendo um
favor... – Lucca sorrira para ela, então.
Lucca – Vamos... – pedira novamente. –
Podemos ir ao shopping. Ficar lá de manhã. Almoçar. Assistir um filme... –
Tiffany sorriu pois a ideia lhe parecia agradável. – Prometo que não vou
sequestra-la e que estará de volta na sua casa antes de escurecer. – ambos
sorriram. – E então?
Tiffany – Você promete que é só um passeio
entre amigos? – Lucca sorriu então.
Lucca – Sim. Eu prometo. – garantiu.
Tiffany – Está bem, então... – ela aceitou.
– Acho que realmente terei que cobrar o meu favor... – eles sorriram.
A câmera afastou-se. Tiffany pegara seu celular.
Eles andaram juntos até que então pudessem sair da escola. Lucca parecia ser
alguém bom. Aparentemente. A câmera os acompanhou. A imagem da cidade logo fora
vista. Tiffany precisava de um tempo para que pudesse refletir. Era o básico e
até mesmo o necessário. Não demorara muito para que Lucca e Tiffany chegassem
até o carro dele. Era grande. O que indicava que ele poderia ser de alguém da
mesma classe social que Tiffany. Restava somente aguardar o que daria tudo
isso.
Virginia,
EUA (Richmond Town) – Hello Baby Shop, Virginia City Mall / Mall Scenes
07:45
AM
Era um belo dia. Um belíssimo dia. Estávamos no
shopping. Para maior especificidade, estávamos numa loja de roupas para bebê.
Era bastante amplo. E bastante movimentada, podemos dizer assim também. Um
paraíso para grávidas, podemos dizer assim. Tinha vários armários encostados na
parede. Roupas de bebê para meninos e também para meninas. Algumas até se
empolgavam. Acariciavam a barriga. Faziam voz fofa. Nada mais e nada menos do
que mulheres que iriam ser mãe. Quem poderia culpa-las? A sensação de ter
“algo” crescendo em sua barriga... A sensação de ter alguém crescendo em sua
barriga... A sensação de ter uma vida crescendo em sua barriga. Era realmente
mágico.
Podíamos notar também a decoração infantil. Tinha
ursos. Bonecas. E até mesmo uma árvore na parede, que camuflava um buraco. Lá
dentro, tinha várias crianças. De dois a quatro anos. Um espaço para poderem
brincar, pois lá tinha diversos brinquedos para isso. Desta forma, as mães
poderiam ficar tranquilas enquanto faziam suas compras. Os maridos, no entanto,
a grande maioria, pelo menos, sentia como se fosse algo massivo. Mas alguns até
mesmo davam palpites. Ajudavam a escolher as miniaturas de roupas. Era algo até
mesmo engraçado. Tinha bodies, tinha macacões, vestidos para as meninas e até
calças jeans. Quem poderia dizer que bebês desde cedo poderiam ser tão estilosos?
Pois é. Até mesmo laços. E sapatos. E sandálias. Bem... Um verdadeiro paraíso,
assim poderíamos dizer.
As atendedoras eram educadas e acessíveis. Faziam o
possível para ajudar as mães que até pareciam confusas. A maioria era de
primeira viagem, ou seja... Tudo ali era novo para elas. A câmera focara em uma
mulher grávida. De seis meses. Tinha um cabelo longo. Loiro. Mas com mechas
castanhas, principalmente na raiz do cabelo. Era lindíssima. Branca como
porcelana. Maçã do rosto bem definida. Olhos maravilhosos. Vestia um vestido
simples de grávida. Calçava uma sapatilha. Até mesmo tinha um laço preso em seu
cabelo. Era alguém vintage. O seu nome era Hannah. Hannah Rankin. A noiva de
Thomas Gilling. De quem estava grávida, como já podíamos notar. De seis meses,
aproximadamente. Da pequena Luna. Ela possuía muito bom gosto, digamos assim.
Também escolhia grandes laços para a filha. Vestidos. Realmente fazia compras.
Iria se casar hoje. Teria que se desestressar ou pelo menos abafar a ansiedade.
Hannah estava acompanhada de uma mulher mais idosa. Cabelos brancos. Deveria
ter cerca de oitenta anos. Mas ainda assim com bastante energia para dar. Como
Thomas e ela não podem se encontrar no dia de hoje por questões de superstição,
havia pedido a companhia dela. Era a sua avó. Anastacia Rankin. Uma mulher
agradável e muito simpática. Dava palpites em algumas roupas, ajudando-a a
escolher as principais. Logo, Hannah, pegara um vestido em mãos. Caberia em sua
filha quando tivesse pelo menos oito meses. Mas já era bom ter roupas
estocadas, assim, não poderia se preocupar no futuro. Hannah, então, empolgada,
disse:
Hannah – Olha só que lindo, vó! – parecia
o vestido da cinderela, com brilhos e rendas.
Anastacia – Eu já imagino como vai ser! – os
olhos dela brilhavam. – Uma princesinha... – Hannah sorria junto de sua avó. –
Se for gordinha igual quando você era criança... Meu Deus! – exclamou, dando
uma risada. – A gordura... As dobrinhas nas pernas! – deliciava-se só de
imaginar, passando a sua mão na barriga de Hannah. – Ela será linda! –
exclamou.
Hannah – Sim. Independente com quem ela
for se parecer... – Hannah sorriu. – Não é por nada não, mas... Eu e Thomas
fazemos um lindo casal. – brincou e Anastacia riu, parecendo concordar. – E já
vi que teremos uma bisavó bem coruja aqui. – Anastacia sorriu, envergonhada. –
Não é legal? – ela ficara pensativa. – Quero dizer... Eu não tive a
oportunidade de conhecer a minha bisavó, mas a Luna terá... – Anastacia sorriu
novamente. – É algo muito raro nos dias hoje. Devido à violência...
Anastacia – É... – ela concordou. – Você tem
razão. Hoje em dia, já é difícil até mesmo para as crianças conhecerem seus
avôs. – Hannah a escutava, enquanto ainda mexia em algumas roupas ali,
parecendo indecisa. – O que é estranho, pois, conforme a medicina avança,
deveria dar uma maior expectativa de vida para nós, não é? – Hannah assentiu.
Hannah – Sim... – ela assentiu. – Mas o
importante é que ela poderá lhe conhecer! – Hannah sorriu. – Acho... Acho que
vou levar esse... – ainda estava com o mini vestido da Cinderela em mãos. – O
que você acha? – perguntou a opinião dela.
Anastacia – É lindo... – observou.
Hannah – Mas, sei lá... – não parecia
estar confiante. – Você acha que é uma boa ideia?
Anastacia – O que é uma roupa a mais ou uma
roupa a menos, querida? – Hannah olhara para ela agora, assustada.
Hannah – Você acha que eu exagerei? –
Anastacia riu. – Droga. – ela murmurou. – Thomas vai me matar... –
provavelmente referia-se às possíveis compras que já havia feito até então.
Anastacia – Não... Não... – negara. – É
lindo. Leve. – Hannah sorriu.
Hannah – Está dizendo isso só para que eu
me sinta melhor... – rolou os olhos, pegando o vestido, agora parecendo decida.
Anastacia – Não! Luna ficará linda... –
Hannah sorriu.
E então elas seguiram para a fila dali. Como a
grande maioria já eram mulheres grávidas, não era como se pudesse ter fila
preferencial. De qualquer forma, teriam que esperar. Não parecia que iria
demorar muito, pois tinha já muitas atendentes para ter o pagamento realizado.
Quando a câmera se afastou, pudemos notar o “exagero” que Anastacia havia
brincado. Ela segurava pelo menos quatro sacolas de compras, enquanto Hannah
segurava mais três. Pelo menos, a fartura de dinheiro permitiria que Luna
vivesse uma boa vida. Muito bela, inclusive. E todos tínhamos certeza também de
que ela seria uma linda bebê, afinal... Thomas e Hannah realmente eram muito
bonitos. Sairia dali uma boa combinação.
...
O som de conversa parecia ter aumentado. Um espaço
amplo. Bem grande. Era a praça de alimentação do Virginia City Mall. Um dos
principais shoppings do Estado. Um dos mais bonitos, inclusive. Podíamos notar
que o céu era pintado com a galáxia, aparecendo os mais diversos planetas do
Sistema Solar. Parecido com uma das séries mais atuais deste universo. O som de
conversa era abafado. Várias pessoas falavam ao mesmo tempo, mas ainda assim,
eram civilizados. Não parecia uma feira ou algo do tipo. Apenas conversavam e
jogavam o papo fora. A maioria tomava café da manhã, pois ainda era muito cedo
para almoçarem.
Pudemos ver Hannah e Anastacia carregando suas
compras nas mãos. Mais uma sacola adicionada com o logotipo da Hello Baby Shop.
Esta, nas mãos de Hannah. Procuravam por uma mesa vaga para se sentar. Não
demoraram muito. Ali não estava muito lotado. Ainda era muito cedo. Logo se
acomodaram ali. Decidiriam o que iriam comer, pois ainda não haviam tomado o
café da manhã. Tinha algumas escolhas a serem feitas, já que não era todos os
restaurantes que havia abrido ainda, o que indicava a normalidade. Como ambas
sentaram em duas mesas que estavam unidas, sobravam duas cadeiras ao lado.
Colocaram as sacolas ali, porque queriam se sentir tranquilas. O assunto então
parecia fluir muito bem:
Hannah – Uff... Já estamos aqui não faz
uma hora e já cansei! – ela riu.
Anastacia – Andamos bastante, mesmo... –
comentou. – O que você vai querer? – Hannah semicerrou os olhos, pensativa.
Hannah – Não sei. Pensei em sorvete. Não
estou com fome...
Anastacia – É. Eu também não. – concordou. –
Também quero. Eu vou lá na fila. Fique sentada aqui... – ela se levantara. –
Você quer sorvete de quê?
Hannah – Baunilha. – respondera com um
sorriso e Anastacia retribuíra.
Anastacia – Está bem. Já volto...
E dirigira-se logo para a sorveteria que ficava
praticamente bem à frente delas. Hannah observou. Só tinha uma mulher na frente
de Anastacia, então não demoraria muito. Enquanto isso, desviou o olhar e
passara a fitar as sacolas que já havia comprado durante o tempo que estava lá.
Ficava pensativa. Faltava tão pouco para tê-la em seus braços que ainda parecia
ser surreal. E não somente isso... Logo oficializaria mais ainda a sua relação
com Thomas. Iria se casar. Iria vestir um vestido branco. Veria sua família, a
família deles, seus amigos, seus amigos em comum, todos lá. Festejando.
Comemorando. Fazendo daquilo um grande evento. Ela realmente tinha tudo para
comemorar. Hoje tinha tudo para ser um grande dia. E ela sabia disso. Logo,
após se distrair por um momento, notara que Anastacia já retornava. Com uma
casquinha em cada mão. Não era McDonalds no qual ela havia pedido, somente para
deixar claro. Mas ainda assim parecia ser um sorvete saboroso. Anastacia
entregou o de Hannah em suas mãos, que agradecera com um sorriso, e logo voltou
a se acomodar onde estava previamente sentada. O som de conversa ao fundo
continuava. Era uma praça de alimentação. Era normal. Novamente, o assunto
continuava a fluir:
Hannah – Nossa... – ela parecia refletir
sobre algo, enquanto Anastacia lambia o seu sorvete, mas Hannah também não
deixava de fazer o mesmo. – É estranho imaginar que já chegou, não é? – ela
sorriu. – Quero dizer... – ela fizera uma pausa para lamber o seu sorvete. –
Parece que foi ontem que eu estava fazendo os preparativos. Ou parece que foi
ontem que ele havia me pedido em casamento! – ela riu agora.
Anastacia – Ah, querida... Parece que foi
ontem que você apresentou o seu namorado em um almoço de Domingo. – Hannah
tornou a rir e Anastacia a acompanhou.
Hannah – É... – ela concordou. – O tempo
passa muito rápido. – ela ficara séria, como se algo tivesse voltado a sua
memória. – Quem diria que eu acharia um homem perfeito para a minha vida? –
sorriu ao se lembrar de Thomas. – Eu nunca tive muita sorte em
relacionamentos... – ela rolou os olhos.
Anastacia – Thomas também é muito sortudo em
tê-la na vida dele, Hannah...
Hannah – É... – ela sorriu. – Mas, até
aonde eu sei... Ele não era um homem para casar não, viu? – Anastacia parecia
surpresa. – Ele já foi baladeiro... – Anastacia riu agora.
Anastacia – Difícil imaginar essa situação,
pois Thomas é bastante responsável. – Hannah sorriu.
Hannah – Sim... – ela concordou. – Mas
então... Vamos? – ela se levantara, pegando as sacolas com sua mão livre, pois
a outra estava ocupada com o sorvete, e Anastacia fizera o mesmo.
Anastacia – Você vai ainda comprar mais?! –
ficou surpresa.
Hannah – Vou! – riu. – Luna precisa de
mais roupinhas... – sorriu. – E ainda tem uma hora extra. Minha sessão do SPA é
só às nove. – afirmou.
Anastacia – Coitado do Thomas. Será que ele
tem ideia do quão caro vai vir a conta final do mês dele? – Hannah gargalhou
agora.
Hannah – Vó!
Anastacia – O quê? – ela bufou. – Sou
sincera, querida. Sou sincera...
Hannah e Anastacia logo seguiram o seu caminho. O
som da conversa delas fora diminuindo. Nada mais e nada menos do que apenas uma
cena casual. De vó e de neta. De vó que ajudava a neta a escolher os presentes.
A escolher as roupas. As risadas que elas davam. Pareciam além de ter uma
relação familiar, serem muito amigas. O que era absolutamente normal, pois avó era
uma das melhores coisas do mundo. Pelo menos... Hannah imaginava assim. De
noite era o seu casamento. E tudo o que Anastacia estava fazendo era ajuda-la a
se distrair. E nada mais e nada menos do que isso. Hannah precisava. E esta era
apenas mais uma cena introdutória. Que mostrava mais um pouco da vida da
família Gillings. E Hannah realmente estava há poucas horas de se tornar uma
Gillings oficial da família. E isso poderia ser extremamente interessante.
Virginia,
EUA (Richmond Town) – Gillings Construction Company
07:45
AM
O elevador se abriu. A presença de Simon fora visto.
Aparentemente atrasado para um importante evento. Ele era um homem de negócios.
Aparentava. Tinha um semblante sério e ao mesmo tempo respeitoso. Algo que
Lorraine também dividia em sua universidade. Algo chamado prestígio. Toda a
família Gillings pelo menos. Era uma empresa de construção. Simon era um
doutorando em Engenharia. Uma das empresas nacionais mais renomeadas do país. E
não era para menos. Todo o local parecia ser extremamente muito bom. A
mencionar a parede espelhada que dava a vista de mais prédios. Parecia estar no
centro da cidade de Richmond. Prédios altos. Com vários andares. E muito
bonitos, inclusive. Podíamos observar a decoração do local. Havia um sofá bege
claro. Um tapete marroquino. O lustre de cristal. Provavelmente a decoração
feita por Lorraine. E não era para menos. Tudo ali tinha que ser extremamente
agradável.
Ele tentara ajeitar seu terno. Provavelmente havia
se bagunçado na correria. Atraso provavelmente era algo que a família em si não
gostava. Para ajuda-lo, então, da bancada de madeira, surgira uma mulher.
Loira. Com uma maçã do rosto que parecia ser desenhada por Deus. Uma tiara na
cabeça. Uma saia preta. Camisa social. E um salto alto. Provavelmente, era a
secretária dele. Segurara a maleta dele e o ajudara a se organizar. Podia ser
visto de fundo mais homens muito bem vestidos de terno andando de um lado para
o outro. Uns conversavam no celular. Outros apressados. Cumprimentavam acenando
para Simon em alguns momentos. Simon era o diretor. Era bastante respeitado
pelos seus colegas de serviço. A secretária ajustara a gravata mais uma vez.
Passara a mão no terno para tirar a impressão de que estava amassado. Simon,
então, perguntara para ela:
Simon – E então, Klaire? – revelara o
nome dela, que entregou para ele a sua maleta novamente, abrindo os braços. –
Como eu estou?
Klaire – Está ótimo, senhor. – disse
bastante formalmente e Simon retribuiu com o sorriso.
Simon – Eles já estão aí, certo?
Klaire – Sim. – Simon então bufou.
Simon – Diga-me pelo menos que Gregor
está lá com eles... – Klaire negara balançando a cabeça negativamente.
Klaire – Você o dispensou porque ele estará no casamento de Thomas. – Simon parecia ter se lembrado disso.
Simon – Puxa... É verdade. – ele
assentiu. – Quem estava lá com eles, então?
Klaire – Eu. Achei que não teria
problema... – Simon sorrira para ela e dera um beijo no rosto dela e Klaire
tornara a sorrir.
Simon – Você é uma anja que entrara na
minha vida! – ele, então, seguira seus passos, enquanto Klaire vinha mais atrás
dele, enquanto conversavam pelo caminho. – E como eles são? – pareciam
apressados, cruzando alguns corredores para chegarem até a sala de reunião,
podendo ver o quão chique era realmente aquele lugar, que era totalmente
espelhado.
Klaire – Sérios. – resumiu-se a isso. –
Inclusive, tem uma mulher asiática que realmente me assustou. – ela franziu o
cenho. – Ela me encarava. Sequer sorriu para mim... Ou disse algo. –
lembrou-se. – Era como se quisesse devorar a minha alma ou sei lá... Só sei que
realmente foi assustador e estranho. – Simon riu da descrição dela.
Simon – Eles disseram de onde eram?
Klaire – Comentaram algo sobre Vanguardian
Society. – lembrou-se. – Disseram que era de um laboratório. Mas não
especificaram qual. – Simon assentiu.
Simon – A líder deles está aqui? – eles
então chegaram na porta da sala de reunião, parando ali bem na frente, enquanto
Klaire voltara a ajustar a gravada dele e até mesmo a gola da camiseta por
debaixo do palet´.
Klaire – Não. Disseram que ela não pôde
vir. Problemas pessoais... – Simon assentiu positivamente.
Simon – Como eu estou? Não seja uma
mentirosa... É um negócio muito grande! – Klaire sorrira ao ouvir a mesma
pergunta novamente.
Klaire – Está ótimo, senhor. – repetira e
Simon sorrira, abrindo a porta logo em seguida, enquanto Klaire o seguira.
E lá estavam eles na sala de reunião. Havia uma
grande mesa e algumas cadeiras. Podiam-se contar sete pessoas. Seis eram homens.
Com terno. Bem vestidos. A maioria parecia ter a mesma aparência. Cabelos
escuros. Semblante sério. Exceto por um que parecia brincar com o seu isqueiro
sem se preocupar com o restante. Era careca. Mal prestava atenção no que
acontecia ao seu redor. A outra que concluía era a tal mulher asiática
mencionada. Sentava na ponta da mesa. Na cadeira. Vestia trajes pretos. Era
bastante social. Simon, então, sorridente e com bastante simpatia, tratava de
cumprimentar um por um. Eram educados. Até mesmo aceitavam. Klaire que estava
atrás dele, entregava alguns papéis. Pôde-se observar também uma maquete muito
bem construída em cima da mesa. Talvez o projeto que Simon estaria a
apresentar:
Simon – Bom dia... Bom dia... – ele
cumprimentara um por um, até mesmo o homem careca que retribuíra a gentileza,
fitando as xícaras de café vazias, o que indicava que haviam sido bem tratados
por Klaire. – Bom dia... – ele por fim esticara a mão para a mulher asiática
que a olhara dos pés a cabeça, com bastante despeito, fazendo com que Simon até
mesmo se intimidasse.
??? – Você está atrasado, senhor
Gillings. – disse séria, enquanto Simon recuara a sua mão.
Simon – Você deve ser...
Venus – Venus. – respondera, enquanto
Klaire a entregara o papel agora.
Simon – É... Claro. Venus. – ele
assentira, positivamente, recuando e indo para a sua cadeira, até mesmo
bastante nervoso com aquela possibilidade, enquanto Klaire o acompanhou,
ficando próxima da porta.
Venus – Então... – ela dera uma olhada
rápida no seu papel, como os outros homens que o acompanharam fizeram. – Espero
que o senhor seja válido de nosso tempo. Não costumo desperdiça-lo. Achei que
poderia ser interessante, afinal... O seu nome representa uma marca mundo
afora. – Simon sorrira com o elogio vindo dela, embora ela não parecesse nada
agradável.
Simon – Prometo que não irei
desapontá-la... – ele afirmou. – Bem, como vocês podem ver em seus papéis, este
é o orçamento que posso oferecer para vocês. Como pré-requisitaram uma maquete
do projeto que me mandaram, pedi com antecedência que ele fosse colocado sob a
mesa antes da chegada de vocês. – Venus nada dizia, apenas o escutava. –
Trata-se de um depósito com uma proteção bastante evidente. Muros altos. Porões
bem desenvolvidos. Além de que as janelas seriam feitas com grades para
impossibilitar a saída e até mesmo a chegada de qualquer indivíduo na
providência de Williamsburg. – Venus dera uma rápida olhada na maquete,
enquanto os outros homens apenas fizeram o mesmo, enquanto aquele som de
isqueiro do rapaz careca era ouvido o tempo inteiro, parecendo até mesmo
mal-educado.
Venus – E o que faz você ter certeza de
que o depósito possui uma proteção bastante evidente? – Klaire olhara para
Simon neste momento.
Simon – Nós trabalhamos com materiais de
primeira qualidade. – garantiu e Venus nada dissera. – Mencionei de que são os
mesmos materiais que as grandes bases da época da segunda guerra mundial era
feita para sobreviver a ataques nucleares? – Venus continuava sem reação, o que
aparentemente preocupava Simon.
Venus – Entendo. – ela, então,
levantara-se rapidamente e Simon e Klaire se entreolharam, sem entender nada,
especialmente quando os outros acompanharam Venus se levantar, exceto pelo
homem careca, que demorara alguns segundos até perceber isto. – Envie os
materiais para o endereços que deixamos com a sua secretária. – Simon estava
com um grande “ponto de interrogação” na cabeça. – Nós temos os nossos próprios
engenheiros. Somente teríamos ter garantia de que nosso projeto pudesse ser
válido. – ela, então, afastou-se de onde estava sentada, com os homens a
seguindo, indo em direção a porta.
Simon – E-Espera... – ele pedira e Venus
virou-se para ele, o fitando profundamente, chegando até mesmo a ser estranho,
como a própria Klaire havia mencionado.
Venus – Mais alguma coisa, senhor
Gillings? – era bastante formal.
Simon – É só isso? – ele franziu o cenho.
Venus – Nós entraremos em contato. O
depósito do seu serviço será realizado até o fim da tarde. E não se atrase para
o envio dos materiais. – cerrara os olhos. – A minha chefe não suporta atrasos.
– frisou e Simon nada respondera.
Misteriosa? Sim. Venus logo deixara o local. O rapaz
careca fora o último. Dera uma leve piscadela para Simon. Era divertido, até.
Preferiu-se manter quieto o tempo inteiro da reunião. O negócio havia sido
fechado. Embora não seria a equipe de Simon que realizaria o trabalho. Muito
pelo contrário, ele apenas enviaria os materiais. Era estranho. Afinal... O
projeto parecia como resquícios para um presídio. Mas não aonde o laboratório
jogasse assassinos por lá. Muito pelo contrário. Era como se quisessem se
proteger. Uma proteção de algo. Uma proteção de alguém. Klaire fora atrás
deles. Para lhes mostrarem a saída, como cortesia de respeito. Simon apenas
achara tudo aquilo suspeito. Muito suspeito. E ele tinha suas razões para
permanecer com tais dúvidas.
Virginia, EUA (Richmond Town) – Virginia University
Various Scenes (Parking Lot / Department Of Biosciences and Oral Diagnosis /
Auditorium Classroom)
07:50
AM
Demorou
mas ela conseguira chegar a tempo. Talvez porque a universidade fosse bastante
longe. Lorraine não gostava de se apressar. Fazia as coisas com calma e
tranquilidade. Talvez este também fosse um dos motivos pelo qual prefere prezar
pela pontualidade. Estacionou o seu veículo no estacionamento ao ar livre e
dele desceu. Com a sua bolsa Louis Vuitton já bem colocada em seu ombro.
Trancou o alarme. Parecia dispersa. Talvez as coisas que Tiffany havia lhe dito
tinha ficado em sua mente. Quem poderia culpa-la? Afinal... A sua filha parecia
perdida. E isto a preocupava. Era complicado lidar com ela. Ainda mais com tudo
que vem lhe acontecendo recentemente. Não queria que transparecesse que se
importasse mais com Thomas ou até com Dani. Na realidade... Ela apenas tentava
fazer tudo parecer ainda mais justo. E era apenas complicado.
Tentava
distrair a sua mente então. Afinal, em poucos minutos, tinha aula. O ambiente
em que estava não era muito diferente de um estacionamento. O caminho tinha
pedras. Tinha veículos estacionados. Alguns carros saindo, outros entrando,
além de seus respectivos donos. Como Lorraine era uma mulher prestigiada e
conhecida, tratava de acenara para alguns. Dava bom dia. Apenas o básico de um
nível de educação. Nada muito além disso.
...
A
cena rapidamente trocara de frame. Lorraine ainda estava em um ambiente ao ar
livre. Tudo era extremamente grande nesta universidade. Tinha bosques, árvores
e até mesmo praças. Era um ambiente bem arborizado. Bonito, até mesmo. Os
prédios eram alaranjados e levavam grandes bandeiras com o logotipo da
faculdade. Tinham diversos e diversos campus. Lorraine tinha sorte de que o de
Odontologia era um dos primeiros, então tinha como ela ir a pé mesmo. Como de
costume, cumprimentava alguns alunos. Pôde-se observa uma placa com algumas
anotações de orientações para alunos novos, o que não era o caso, já que era
fim de período e de ano também.
Logo,
seguira uma direção específica. Adentrara em um prédio, mas não deveria ter
mais que três andares. A luz começou a ser deixada para trás. Não demorou muito
para que após cruzasse alguns corredores chegasse ao seu departamento
especializado. Era o Departamento de Biociências e Diagnóstico Oral. As paredes
tinham um tom leve de azul. Era vazio, mas algumas vezes era possível ver
outros professores andando por ali vestidos com seus respectivos jalecos.
Lorraine os cumprimentavam também. Definitivamente, ela havia feito uma fama
ali. Não era atoa que a sua classe social era bastante alta.
Não
demorou muito para que chegasse a sua sala. Empurrara a porta de vidro e a
deixara se encostar sozinha. Andou mais alguns passos e abriu a porta agora
branca para dar acesso ao seu escritório. Tinha uma mesa de madeira ali junto
com seu notebook e mais alguns livros. Nada de muito especial. Seu jaleco
estava pendurado ali. Colocou-o logo em seguida. Podemos notar o que estava
escrito nele: Prof. Dra. Lorraine
Gillings. Realmente, algo de muito renome. Encostou a porta logo em
seguida. Olhara para o relógio pendurado na parede. Tinha alguns minutos ainda.
Parecia precisar de privacidade. Ainda com a sua bolsa em mãos, acomodara-se na
cadeira próximo a sua mesa onde tinha suas coisas principais. Colocou a bolsa
em cima da mesa e começara a vasculha-la. Parecia procurar por algo. Não demorou
muito para que achasse. Eram três potes de comprimidos. Tirou um de cada, e em
seguida com a jarra d’água bem ao seu lado, tomara-os. Não parecia ser algo
para dor, pois eram potes pequenos com coisas escritas neles. Pareciam
medicamentos prescritos por médicos. A necessidade? Ninguém sabia ao certo. Mas
parecia extremamente importante, visando a maneira que se comportou. Parecia
ansiosa. Assustou-se rapidamente quando a porta abriu sem aviso prévio nenhum e
a presença de um homem com jaleco se revelara. Lorraine tratou de esconder os
remédios imediatamente, impossibilitando que ele percebesse. Mas ainda assim...
Parecia suspeito. No jaleco dele estava escrito o seu nome: James Walker. Era um homem careca que
estava com óculos de grau. Parecia ter cerca de cinquenta anos. Ele, que logo,
tratou-se de se desculpar:
James – Lorraine! Perdão... Eu não sabia
que você tinha chegado ainda, se não teria batido... – ele desculpou-se.
Lorraine – Não... Não tem problema, querido.
– parecia ainda um pouco afobada. – Aconteceu algo? – arqueou a sobrancelha.
James – Bem, na realidade, não... Apenas
vim deixar as notas dos alunos aqui para você dar uma olhada depois... – ele
então entregou uma prancheta para ela, com dois papéis preso, os olhando
rapidamente e sorrindo para ele em seguida, mostrando que James parecia ser
alguém da equipe de Lorraine, talvez até mesmo um técnico.
Lorraine – Obrigada. Sempre um excelente
profissional...
James – A senhora ainda tem tempo? –
Lorraine voltara a olhar para o relógio.
Lorraine – Alguns minutos... Por quê?
James – Eu estava fixando algumas lâminas
e gostaria de saber se estão boas... – Lorraine sorriu.
Lorraine – Tudo bem. Vamos lá. – James
sorrira para ela também.
James
fora o primeiro a sair de sua sala. Lorraine levou alguns segundos. Ainda
estava na adrenalina. Parecia se importar com o fato de alguém saber que ela
usava alguns remédios que ainda não pareciam ter funções reveladas ou
específicas. Pegou a sua bolsa e logo que deixara a sala a fechara. Acompanhou
James por mais alguns passos, adentrando em outra sala mais para a direita.
Logo, vimos uma maior que o “escritório” de Lorraine. As paredes brancas.
Várias bancadas com pias de mármore. Tinha até torneiras. Alguns armários fixos
na parede. E sem mencionar os microscópios. De última geração. James dera
passagem para que Lorraine aproximasse do microscópio. Esta então fizera isto.
Agachara-se um pouco para poder observar pela ocular, girando-as adequadamente.
Sua mão foi até o macrômetro, que era um botão do lado direito e também
esquerdo da parte inferior do microscópio que servia para aproximar a lâmina
das lentes. Fechara um dos olhos para que pudesse prestar atenção. Agora o seu
dedo deslizou pelo menor botão que era o do micrômetro para garantir maior
nitidez. Foi até o Charriot que era um “gancho” próximo aos botões mencionados
para direcionar a lâmina e ter um melhor acesso. Trocou as lentes para ampliar
o aumento. James, então, dissera:
James – É uma lâmina da tonsila lingual.
– mencionou. – Está boa?
Lorraine – Está ótima! – exclamou. – Estou
conseguindo ver com perfeição as células do epitélio. A cripta está visível
também. Sem mencionar os folículos linfoides. – ela, então, afastou-se do
microscópio. – Ótimo trabalho, James.
James – Obrigado. – ele agradeceu com um
sorriso. – Aquela nossa antiga lâmina não estava muito boa...
Lorraine – É. Verdade... – ela concordou. –
Tem o suficiente para colocar nas caixas?
James – Acredito que somente ano que vem
serei capaz de substitui-las. São muitas lâminas que precisam ser feitas. –
Lorraine parecia concordar.
Lorraine – É. Você tem razão. – assentiu. –
Mas está ótima. De verdade. – disse, sempre simpática. – Está bem roxa. O que a
difere da antiga, que já estava degastada. – comentara.
James – Dez anos a usando, se eu não me
engano.
Lorraine – É mesmo?
James – Sim.
Lorraine – Impressionante... – ficou
surpresa. – Bem, de qualquer forma. Está ótimo. – ela sorriu.
James – Ah, verdade! – ele pareceu ter
lembrado-se de um assunto. – Thomas está casando hoje, não é?
Lorraine – Você lembrou! – ela pareceu feliz
de ele ter se lembrado do evento. – Mas também... Eu devo estar falando sobre
isto desde o dia em que ele a pediu em casamento. – ambos deram uma leve risada
após o comentário de Lorraine. – Mas sim... Hoje é o grande dia.
James – Eu realmente estou feliz por
vocês. – Lorraine sorriu. – Por ele. Pela filhinha que está por vir... –
Lorraine continuava sorrindo ao ouvi-lo. – Tudo ocorrerá bem. Será um grande
evento.
Lorraine – Eu agradeço o seu carinho. Muito.
– ela então o abraçara. – Mas sim... Eu também estou muito feliz. É
inacreditável que o meu pequeno garotinho já vai se tornar um pai de família...
– ela ficou com os olhos praticamente brilhando. – E ainda me presenteou com
uma ótima nora que é a Hannah e também com uma netinha que está para vir... –
parecia muito feliz com o rumo que a vida de seu filho estava tomando. – Eu
agradeço a Deus. Todos os dias. – James sorrira novamente, enquanto Lorraine
agora parecia ter se lembrado de algo. – Nossa! Estava quase esquecendo dos
meus alunos... – ela riu. – Bem. Novamente, James, agradeço pelo carinho. E
continue com o seu ótimo trabalho. – o elogiou mais uma vez.
James – Obrigado... – Lorraine passou a
mão no ombro dele, demonstrando cumplicidade. – Boa aula.
Lorraine – Bom trabalho para você também!
Lorraine
enfim o deixara sozinho. Era importante vê-la em uma rotina casual. Era
importante vê-la interagindo com os seus colegas profissionais. E até mesmo
como se portava no trabalho. Mas a partir do momento em que se afastara de
James, o seu semblante mudara totalmente. Ficara séria. Como se algo ainda
estivesse a incomodando. Seria Tiffany? Seria os remédios? Lorraine parecia
seria ser alguém extremamente imprevisível. E esta, então, seguira para a sala
de aula.
...
O
frame mudara novamente. Estávamos agora em um grande auditório. Várias
poltronas. Estas ocupadas já pelos alunos que conversavam. O barulho era
grande. Tinha um painel para que fosse dada a aula. Parecia praticamente uma
sala de cinema. Este era o nível da universidade. Tudo ali era novo e inédito.
Era agradável estar naquele ambiente. O ar condicionado já ligado. Embora
estivesse calor, ali na sala já estava em uma temperatura mais fria. Para
alguns, era bom permanecer de casaco. Sentiam-se confortáveis. Outros já
preferiam ocupar as poltronas em que tinham todo aquele ar gelado
exclusivamente para eles. Preferências individuais. Outro detalhe que pôde ser
observado é que ninguém tinha caderno. Era tudo por notebook. O que demonstrava
que era realmente outro nível.
No
momento em que visualizaram Lorraine adentrando pela porta mais abaixo pela
direita junto com a sua bolsa, o silêncio começou a surgir. A maioria já foi
adequando-se nas poltronas. Mostravam respeito por ela, embora fosse simpática
e tranquila. Outros alunos apenas começavam a surgir e a chegar à aula.
Lorraine subiu em cima do palanque onde tinha uma mesa para que colocasse as
suas coisas e um computador para que conectasse o seu pen-drive para a aula
começar. Demorou alguns minutos para que se organizasse completamente. Como o
computador já estava ligado e conectado, apenas facilitara. Abrira o slide. O
silêncio agora predominou completamente. Lorraine pegara um microfone em mãos.
Era o ideal para quem sentasse no fundo. Era a única maneira de ouvi-la sem
problemas. Com uma ponteira em mãos, ela testara se a luz verde estava
funcionando. Pareceu satisfeita quando isto acontecera. E então... Estava
pronta para começar a aula de Histologia, que era a sua disciplina:
Lorraine – Apague a luz para mim, querida? –
pedira educadamente para a garota que estava próxima do interruptor, que
levantara em seguida e fizera o que ela lhe havia pedido. – Obrigada. – sorriu.
– Prometam-me que não vão dormir, hein? – brincou, e logo ela dera início a
aula, mostrando o tema da aula que era sobre periodonto, com várias imagens da
cavidade oral, principalmente da gengiva, demonstrada no slide que era visível
naquele grande painel, enquanto alguns alunos eram mostrados prestando atenção
e outros até mesmo digitando em seus notebook. – Bom dia a todos! – dissera o
básico e eles responderam, mas não com muita empolgação. – Mas que bom dia sem
graça... Vamos lá, de novo! Bom dia! – eles responderam agora mais alto. –
Muito bom! – ela riu. – Bem, como vocês podem ver, a nossa aula será sobre o
periodonto. A nossa última aula do semestre. – ninguém falou nada. – Poxa... Eu
pensei que vocês gostassem de mim. – os alunos riram e Lorraine divertiu-se. –
Como semana passada nós vimos histologicamente sobre a gengiva que faz parte do
ligamento periodontal de proteção. Hoje, nós falaremos do periodonto de
inserção ou também de sustentação... – ela apertara a ponteira e viera o slide
seguinte que apresentava alguns tópicos didáticos. – Este compreende o cemento,
o ligamento periodontal e o osso alveolar. Falaremos separadamente de cada um
deles. – o slide inclusive falava sobre o cemento. – Começaremos então a
discutir sobre o cemento. – ela passava a luz verde na palavra cemento escrita
no slide, enquanto andava sobre o palanque, para não ficar totalmente imóvel
ali, ainda comunicando-se com o microfone em mãos, que tinha um fio longo,
permitindo a sua passagem. – O cemento, como vocês podem ver nesta imagem
histológica, é um tecido conjuntivo mineralizado que irá recobrir a nossa dentina
radicular. – ela passava a luz verde nas imagens que tinha colocado na aula. –
Tem como principal função a inserção das fibras do ligamento periodontal na
raiz do dente. Embora, muitas vezes seja considerada como parte do dente, o
cemento não é uma estrutura dentária. – podíamos ouvir o som de teclas de
teclado sendo digitados, uma vez em que tentavam anotar tudo o que Lorraine
falava. – O desenvolvimento do cemento é a partir do folículo dentário... – ela
passara o slide novamente. – Uma estrutura que volto a lembrar que não faz
parte do germe dentário propriamente dito. – ela continuava a andar de um lado
para o outro, notando enquanto observava o auditório que um rapaz levantara
para sair da aula, mas preferiu não dizer absolutamente nada, uma vez que as
pessoas sabiam realmente o que queriam de suas vidas. – Porém, por ser
depositado sobre a raíz, uma vez mineralizado, adere firmemente. Desse modo,
quando um dente é extraído, o cemento permanece recobrindo a superfície externa
da raíz, dando a impressão de pertencer ao dente...
O
som da voz dela começara a diminuir. A cena começara a escurecer. E a aula
continuava a ser dada. Era nítido o quanto Lorraine realmente gostava da
profissão em que estava. Era estável. Era uma situação estável. Embora professor
pudesse ser algo desvalorizado, Lorraine provava cada vez mais o seu talento
para administrar uma aula e ter o sucesso de fazer com que os alunos realmente
entendessem a sua matéria.
...
Provavelmente
uma hora havia se passado então. Lorraine aproximou-se de sua mesa. Não havia
dispensado os alunos totalmente. Pegara sua garrafa d’água e dera um gole. Uma
boa parte da aula já havia sido dada. Provavelmente havia cansado e beber
líquido poderia fazer com que a sua voz se mantivesse ativa para o restante do
tempo. Ela suspirou então. Voltara para o centro do palanque, com o microfone
ainda em mãos. Percebera que o rapaz que havia saído do auditório retornara
somente agora, sentando-se de volta em seu lugar. Não parecia muito interessado
em prestar atenção no restante em que Lorraine ainda tinha a falar, somente
ficara com o seu celular em mãos. Lorraine franziu o cenho. Não era o momento
apropriado para chamar a sua atenção. Dissera, então:
Lorraine – Acende a luz para mim, por
favor... – a mesma garota que havia apagado levantara-se agora para acender a
luz no interruptor. – Obrigada. – agradeceu sorridente. – Ufa! – ela rira. –
Acho que eu acabei falando bastante, não é mesmo? – refletira. – Bem... Esta
foi somente a primeira parte da aula. Conseguimos concluir cemento e ligamento
periodontal, certo? – ela assentira. – Darei vinte minutos de intervalo para
vocês, e então vocês retornam para terminarmos com processo alveolar, e estarão
liberados. Voltarão somente semana que vem para a prova final, e então...
Férias! – exclamou empolgada como sempre. – Obrigada. Estão liberados. – os
dispensara então.
Os
alunos começaram a conversar entre si. Alguns saíam com notebook, outros
preferiam deixa-los ali. Quem estava com blusa de frio já tirava também, pois o
clima fora da sala de aula já era mais quente. Lorraine aproximara-se novamente
da mesa e colocara o microfone ali. Retirara o pen-drive e guardara na sua
bolsa. Provavelmente também iria dar uma saída para tomar um ar fresco. Olhara
para o auditório novamente e ainda reparara que o mesmo rapaz que havia
abandonado a sua aula estava ali sentado. Franziu o cenho. A maioria já tinha
esvaziado e ido aproveitar seus respectivos vinte minutos. Havia alguns que
tinham a preferência de ficar por ali. Lorraine, então, não conseguira se
segurar. Era como se fosse mais forte do que ela. Afinal, ele havia perdido uma
aula importante. E aquilo a preocupava:
Lorraine – Eddie... – tentara chama-lo sem
precisar usar o microfone, mas aparentemente ele não ouvira. – Edmund... –
usara o microfone agora desta vez e fora o momento em que ele olhara para ela,
revelando o nome dele. – Podemos conversar? – perguntara e Edmund então
assentira, levantando-se logo em seguida, podendo observá-lo, pois era um rapaz
com um cabelo escuro, avolumado, com fisionomia exótica e olhos até mesmo um
pouco puxados, aproximando-se de Lorraine e descendo os degraus para
encontrar-se com ela, enquanto Lorraine voltara a colocar o microfone em cima
da mesa.
Edmund – Aconteceu alguma coisa,
professora? – perguntara sério para ela, subindo em cima do palanque e ficando
de frente para Lorraine.
Lorraine – Bem, eu lhe pergunto a mesma
coisa. Aconteceu alguma coisa, Eddie? – ele franziu o cenho.
Edmund – Não. Por quê?
Lorraine – Você não esteve presente durante
bom tempo da minha aula, e quando estava, preferiu optar por usar o celular...
– Edmund então coçou a cabeça, intimidado.
Edmund – Eu estava com dor de barriga.
Somente estava avisando a minha mãe... – inventara uma história, embora não
parecesse verdade, enquanto Lorraine parecia ter percebido isso.
Lorraine – Hum... Entendo. – ela assentira.
– Bem, James me dera uma lista com a nota da turma e um dos nomes que eu
consegui ver rapidamente e me chamara atenção fora o seu. – disse. – A sua nota
está baixa. – o informou. – Você tem certeza de que não tem problema ficar
pulando as aulas de Histologia? – Edmund nada dissera, somente a escutara. – Eu
entendo. É uma disciplina complicada. O curso é complicado. Há pessoas que se
identificam e há pessoas que não... – tentava o ajudar. – Eu não deveria, mas
acabo me apegando com os problemas de meus alunos. Então, caso você queira
desistir, eu posso ajuda-lo. Tenho prestígio na universidade. Eu posso
conversar com o reitor e tentar resolver isto da melhor maneira possível. –
explicara, totalmente compreensível com o aluno.
Edmund – Não será necessário. – ele
recusara, gentilmente. – Eu estou bem. Eu garanto. – Lorraine assentira. –
Preciso apenas me esforçar mais... É só isso. – garantiu.
Lorraine – Entendo... – ela então dera um
leve sorriso. – Está bem. Qualquer coisa que você precisar, eu estarei aqui. –
ele também retribuíra com um sorriso leve de canto.
Edmund – Eu agradeço. – ele, então,
virara-se de costas, pronto para ir para o seu lugar, quando então, algo
passara pela sua cabeça. – Professora...
Lorraine – Sim?
Edmund – Posso lhe fazer uma pergunta? –
ela então sorrira.
Lorraine – Claro!
Edmund – O que você acha que aconteceria
com nós se repentinamente o mundo que conhecemos deixasse de existir? – Lorraine
franziu o cenho neste momento.
Lorraine – Como assim? – não havia entendido
a pergunta.
Edmund – Como... Como se todas as vezes em
que saíssemos de casa... Deixássemos de estarmos seguros... – Lorraine havia
ficado séria com aquela pergunta dele.
Lorraine – Talvez nós fôssemos obrigados a
somente sobreviver. – respondera a ele diretamente.
Edmund – Mesmo que para isto tenhamos que
perder a humanidade? – Lorraine, então, ficara pensativa, como se algo tivesse
passado por a sua cabeça.
Lorraine – Mesmo que tenhamos que perder a
humanidade. – respondera a ele, confirmando.
Edmund
nada mais dissera. Apenas agradecera assentindo. Lorraine o observou a subir de
volta para o seu lugar, guardar o seu notebook em sua mochila e sair do
auditório. Não estava entendendo absolutamente nada. Qual era o ponto daquela
pergunta? Qual era o ponto de tudo aquilo? Mas de alguma forma parecia ter a
afetado. Especialmente quando Edmund fizera a última pergunta. Lorraine sentira
isto. Ela apenas suspirou. Ficara tensa. Lorraine guardava algo. Desde até
mesmo aos medicamentos como segredos. Aparentemente tudo o que Bethany havia
dito definitivamente estava acontecendo. As falhas começavam a aparecer. E logo
notávamos que não havia ninguém totalmente perfeito.
...
A
câmera acompanhou Edmund. Parecia desatento. A conversa com que havia tido com
Lorraine. O conselho que ele havia pedido. Faria sentido? Talvez. Em alguns
momentos, até mesmo esbarrou em um rapaz. Olha
por onde anda! Gritou ele. Parecia extremamente perdido. Confuso. E até
mesmo aborrecido. Parou no momento em que ouvira o seu celular vibrar. Ele o
pegara no bolso. Olhara pra ele. Ficara pensativo. O som de conversas parecia
também o distrair. Era muito abafado. E havia muitas pessoas do lado de fora. Preferiam
se manter por perto até a aula de Lorraine começar. Era o comum.
Edmund
desbloqueou o celular. Havia chegado uma mensagem. A câmera acompanhou para que
pudéssemos ter a visão completa do que ele estava vendo que havia chamado até
mesmo a atenção de Lorraine. Alguém havia mandado um vídeo. Quem havia mandado
era alguém chamado Sloane. Provavelmente uma mulher. Edmund afastou-se um pouco
da multidão entrando na mais próxima porta que vira para que pudesse ter ainda
mais privacidade. O barulho diminuiu drasticamente. Ele então franziu o cenho.
Reproduzira o vídeo. Tinham poucos segundos, mas o que era possível de observar
era que se tratava de um acidente. Em uma estrada, possivelmente. Tudo o que
ele vira fora um corpo estirado ao chão. E um policial de costas. Os olhos de
Edmund acompanhavam minuciosamente cada detalhe. Não poderia ser perdido. O
corpo, que até então, parecia estar morto, já que estava rodeado por sangue,
levantou-se pouco a pouco. Era uma mulher. De cabelos pretos. Provavelmente a vítima.
E começara a caminhar. Poucos notaram. E antes que pudessem fazer algo, ela
agarrara no pescoço do policial mordendo-o e o destroçando em pedaços. O
policial tentara ser ajudado. Empurraram a mulher. Alguns tiraram a arma do
bolso. A mulher tornou-se ainda mais violenta, partindo para cima de outra
pessoa. E fora o momento em que disparos foram ouvidos e Edmund chegara até
mesmo a se assustar. Um. Dois. Três. Quatro... Seis... Oito... Dez... Doze
disparos. E nada parecia surtir efeito. Quando enfim a bala atingira a cabeça
da mulher antes de ela morder mais alguém, ela enfim fora parada. E o vídeo
finalizou assim. Deste jeito.
Edmund
estava perplexo. Ainda fitava aquele celular. Fitava aquela mensagem. Fitava
aquele vídeo. Seria necessário reproduzi-lo mais algumas vezes até que pudesse
acreditar que esta era realmente a realidade. Perder a humanidade? Um mundo em
que eles teriam que lutar? O que afinal estava acontecendo? E fora o momento em
que vimos que ele estava prestes a digitar algo. Para Sloane.
Edmund
Então é verdade...
Está acontecendo.
Sloane
É. Levei algum tempo
para acreditar. Eles conseguiram.
Edmund
Ela falou que isto
iria acontecer. E a Vanguardian Society a capturou. E nós não acreditamos...
Sloane
Talvez seja tarde
demais... Este vídeo é de New Jersey. Tem os mesmos relatos de mortos voltarem
à vida com acesso de violência em mais três estados.
Edmund
Não é tarde demais.
Sloane
E o que você pretende
fazer?
Edmund
Achá-la e expor a
verdade ao mundo. Mesmo que eu tenha que perder a humanidade para isso.
O celular de Edmund logo começara a tocar. Como se fosse uma ligação. Edmund vira. Era Sloane. Ele nada dissera. Olhara para o celular por mais alguns segundos e então o atacara no chão, pisando em cima. Quem era a Vanguardian Society? Quem era a “ela” que falou que isto iria acontecer? Afinal... O que estava acontecendo? Teria relação com o que ele havia perguntado para Lorraine? O que eram estes acessos de raiva? Edmund parecia ser alguém misterioso. E isto somente fora provado quando ele decidira ir embora dali. Para aonde? Era cedo dizer. Mas ainda assim... Muito estava para acontecer na história.
Virginia, EUA (Richmond Town) – Outside Danielle and
Marcella’s High School / Inside The Bus
08:10
AM
O carro de Duke fora visto sendo estacionado na
esquina. Não havia muitas vagas. Danielle fora a primeira a descer, em seguida
de Marcella. Estas conversavam entre si sobre algum assunto aleatório. O Sol
cada vez se mostrava ainda mais. A temperatura cada vez subia ainda mais. E era
possível de que todo aquele conselho de Lorraine para levar a blusa na
realidade não valesse de muita coisa. Duke descera por último. Com os óculos
escuros ainda, sério e conceitual. Apertara o botão do alarme para trancar. Pudemos
observar as redondezas enquanto Duke ia até porta mala para pegar as malas. De
Danielle, ele puxara as duas já conhecidas. Mas de Marcella... Era mala que não
parava mais. Uma. Duas. Três. Quatro. E continuava incontável. E aquilo acabara
sendo motivo de risada entre ambas. Era somente uma piada. Nada mais e nada
menos do que isso. Voltando às redondezas, tinha bastantes alunos. Como eram
várias turmas do terceiro ano do ensino médio, era normal que a grande maioria
deles quisesse participar. Tinha três ônibus, inclusive. Provavelmente cada um
com cinquenta assentos. Os ônibus eram avermelhados com detalhes cinza. Estava
escrito: “Brown Bird”. Provavelmente a marca.
Logo, então, Dani fora até Duke e pegara sua mala.
Puxava uma com cada mão. Era possível. Duke ajudara Marcella com as duas, por
ser mais forte. Atravessaram a rua e foram para trás da fila do segundo ônibus
que já começava a diminuir cada vez mais conforme os alunos iam entrando nele.
Atrás delas tinha o colégio em que provavelmente estudavam. Era bastante verde
e arborizado. A vizinhança em si era. Entre elas passara uma mulher caminhando
casualmente com um Yorkshire. Dani agachara-se para dar carinho na cabeça dele
e logo eles foram embora dali. Duke as ajudara a guardarem as malas e então as
abraçara individualmente. Aquela fora a ajuda dele. Ficara ali as observando
por mais alguns segundos. Provavelmente tinha compromisso, então não demorara
muito para ir embora. Somente viera as trazer. Desejar boa viagem. E logo
partira. Marcella pegara seu celular, mexendo-o nele e às vezes dando algumas
leves risadas. Dani observava ao redor. Observava quem ia. Alguns rostos eram
conhecidos, e outros não. O que acabara chamando a sua atenção. Inclusive
quando vira um garoto cabisbaixo em outra fila do primeiro ônibus. Tinha uma
fisionomia exótica. O cabelo bem arrumado. Apesar do calor, estava com um
casaco. Parecia ser motivo de piada de algumas pessoas próximas a elas. E isto
acabou servindo de comentário para Dani:
Danielle – Que idiotas... – observou o
comportamento deles. – Dois mil e dez e esse pessoal ainda faz bullying.
Saudades meteoro. – rolou os olhos, mas parecia estar sendo ignorada por
Marcella. – Você não concorda? – perguntara para Marcella que continuava
olhando fixamente para o seu celular. – Marcella? – a fila andava e elas
acompanhavam.
Marcella – Hã? – ela olhara para Dani que
esperava uma resposta. – É. Claro. – ela concordou.
Danielle – Você prestou atenção no que eu
estava falando?
Marcella – Claro, miga. – ela sorriu para
ela, mostrando o seu sotaque inglês clássico. – Quatro bebezões que não saíram
da fralda zoando o Carl Fripan. – revelara o nome do garoto. – Nada de novo sob
o Sol. – Dani sorriu então, pegando algo do bolso de suas calças, mostrando os
dois bilhetes de que provavelmente daria acesso para elas no ônibus, enquanto
Marcella continuava digitando com seus dedos no celular.
Danielle – Com quem você está conversando?
Ficou no celular o tempo inteiro... – Marcella gesticulou com a mão para que
ela pudesse esperar, enquanto Dani rolou os olhos, rindo.
Marcella – Sem-vergonha essa Siobhan! –
bufou, irritada. – Onde já se viu? – ela guardou o celular então, inconformada.
– Está se gabando porque conseguiu um Gardevoir. Pois alguém diga a ela que meu
Sableye com Knock Off irá destruir esse pseudo dela, por favor? – ela rolou os
olhos, enquanto Dani franziu o cenho, não entendendo absolutamente nada o
assunto aleatório que Marcella começara a falar. – Aprenda isto, Dani. – ela
colocou a mão no ombro de Dani, totalmente séria. – Um Psychic não pode
derrotar um Dark. – filosofou. – Mas que maldição! – ela rolou os olhos,
enquanto Dani continuava assustada. – E se for Mega? – ela ficou pensativa. –
Apesar de que né... Fingimos que não existe. Ela não pode apelar. – disse como
se fosse algo extremamente óbvio.
Danielle – Do que você está falando? – ela
riu agora.
Marcella – Este é o ponto, Dani! – ela
concordou com Dani, que continuava sem entender absolutamente nada, embora
parecesse acostumada com Marcella. – Um Shedinja não pode morrer com
Flamethrower. Está nas regras! – ela rangiu os dentes. – Ela está trapaceando.
Eu sinto o cheiro de trapaça de longe. – ela semicerrou os olhos. – Ou é poison
ou não é, querida. – defendeu o seu ponto de vista, gesticulando.
Danielle – Você está falando de Pokémon? –
ela supôs.
Marcella
– Poser você,
amor. – a ignorou. – Beware Of Ghosts. Repita comigo... – Danielle riu agora. –
Beware Of Ghosts. – tornara a repetir. – Esse outro aí eu não conheço. – pegara
seu celular novamente, enquanto Dani preferia não discutir, apenas a entregando
seu bilhete.
Era claro que Marcella parecia
ser alguém extremamente única. Tal como essa possível Siobhan. Dani apenas
balançou a sua cabeça negativamente rindo. Ela achava engraçado. De alguma
maneira, se identificava com Marcella. Era nítido. Enquanto Marcella continuava
a resmungar sobre o mesmo assunto, Dani apenas parecia ainda fitar Carl. Que
continuava ali. Sendo empurrado. Sendo agredido. Enquanto outros apenas
ignoravam a sua existência. Estava prestes a intervir, mas logo chegara a sua
vez de entrar no ônibus. Cumprimentara o motorista com um leve bom dia e
entregara o bilhete para ele. Após ele verificar se estava tudo certo, Dani
fora liberada para entrar. Aguardou do lado de fora até que o mesmo então acontecesse
com Marcella. Não demorou muito para que fosse liberada também. Dani dera uma
última olhada em Carl. Sentia pena por ele. Mas por ora... Ela apenas não podia
fazer nada.
...
Estavam agora já dentro do
ônibus. Cada lado, esquerdo e direito, tinha duas poltronas. Em cima, tinha
espaço para que bagagens pequenas fossem colocadas. Dani estava sentada na
poltrona que ficava próxima da janela, enquanto Marcella preferiu ficar naquela
do corredor. Folgada, como já mencionado, já havia deitado a poltrona. Gostava
de se sentir bem. Era um direito dela. Carregava consigo também uma sacola que
tinha alguns aperitivos para elas durante a viagem. Novamente, com o celular em
mãos. Dani, apenas observava a janela. Em um determinado momento, dera uma
olhada para o ônibus. Já estava praticamente cheio. Por elas, então, passara
uma garota. Cabelo curto. Olhos verdes. Cumprimentara-as com um aceno, e Dani
retribuíra a gentileza. Houve uma troca de olhares intensa entre elas. Era
Clara Brighton, que se sentou mais ao fundo. Marcella, então, disse a Dani,
mudando o foco do momento:
Marcella
– Escute essa
música que a Siobhan me mandou... – ela entregara o celular para Dani, que o
aproximara do ouvido, com um volume baixo, para não incomodar aqueles que
estavam ao seu redor.
Danielle – É legal. – ela sorriu após alguns
segundos, devolvendo o celular para Marcella. – Quem canta?
Marcella – Criadora do universo, miga. –
Danielle riu. – Halsey. – dissera o nome dela.
Danielle – Sério? – franziu o cenho. – Achei
que fosse a Marina and The Diamonds. – Marcella então a olhara com um semblante
de desprezo, como se praticamente tivesse cometido uma injúria.
Marcella – Que herege você, querida. – não
se conformava. – Comparar Deus com a fruteira! Mas onde já se viu... – ela
rolou os olhos em desaprovação e Dani riu. – Você nem parece a minha amiga. –
disse, praticamente de bico.
Danielle – Está bem, então, né... – preferiu
não discordar dela. – Nem parece que já acabou o nosso ensino médio... – ela
olhara para a janela novamente, e Marcella voltara a guardar o seu celular. –
Você acredita nisso?
Marcella – É... Foram bons anos... –
concordou e Dani sorriu.
Danielle – Sim... Foram bons anos. – ela
assentira, pensativa. – E os próximos também serão. E a nossa viagem também
será...
O
ônibus logo dera partida. Dani também deitara a sua poltrona. Marcella
oferecera uma lata de batatas para Dani. Era Pringles. Talvez a sua favorita.
Abrira uma lata de refrigerante de Coca-Cola. E ali elas ficaram. Batendo-papo.
Comendo besteira. Fazendo planos. Seria muito cedo para dizer que tudo ficaria
bem e que tudo ocorreria bem? Talvez não. Dani estava apenas tentando ser
positiva. Dani apenas provava de que ao contrário dos outros integrantes de sua
família, por enquanto, parecia ser a menos problemática. Embora... O início
sequer ainda estivesse perto. Quem sabe por trás de um sorriso fofo e de seus
olhos azuis se escondesse alguém que ninguém pudesse imaginar que estaria ali?
Restava somente aguardar. A câmera afastou-se. A imagem da escola. A imagem dos
ônibus. Logo... Estariam na estrada. E logo estariam também no acampamento. Acampamento
este que prometia emoções.
Virginia,
EUA (Richmond Town) – Main Highway President Noboa
09:12
AM
O Sol quente. O céu azulado. As nuvens que até mesmo
formavam desenhos. Estávamos na principal estrada que saía de Richmond Town.
Era a President Noboa. Podíamos ver a paisagem natural. Os campos não muito
altos. As montanhas mais ao fundo. E a estrada em si que era de asfalto. Ela
formava uma bifurcação. Ou seja, havia dois caminhos. Um deles livre. O outro,
que parecia ser o principal para sair ou até mesmo viajar, estava lotado de
carros. Quando olhávamos para trás e víamos as curvas que aquela estrada fazia
víamos filas e mais filas de veículos. Era o trânsito. Que pouco a pouco, em um
movimento simples e não muito exagerado, conseguia sair dali.
No meio dessa bifurcação tinha um
pedaço que era totalmente preenchido por grama. Duas viaturas pretas da polícia
estavam paradas por ali. Podíamos ver os policiais andando de um lado para o
outro. Comunicavam-se. Ali parecia ser o momento em que o trânsito acabava.
Policiais pareciam coordená-los para evitar um maior transtorno. Por meio de
gesticulações com as mãos, permitia com que carros passassem e seguissem seu
respectivo caminho. Nada mais e nada menos do que isso. A câmera começara a
seguir seu caminho. Vimos então dois carros colididos. Um deles, em um estado
não muito destruído. A ambulância parada por ali junto do corpo de caminhão do
bombeiro. O motorista parecia estar atendido. Com alguns ferimentos leves e
nada mais do que isso, estava sentado na traseira da ambulância. Parecia aflito
e até mesmo atordoado. Fitava o outro carro, este, que por sinal, já estava
muito mais danificado. Totalmente amassado. Como um pedaço de papel. Vimos que
os bombeiros estavam conversando entre si. Como se estivessem querendo bolar um
plano ou algo do tipo. O vidro do carro estava quebrado. Percebemos que um
corpo estava embrulhado num papel plástico preto. Provavelmente uma vítima
daquela fatalidade. O acidente então indicava o motivo pelo qual tudo estava
tão parado.
A câmera então percebera uma
mulher aproximando-se do veículo. Ela era negra. Tinha o cabelo escuro e preso.
Um brilho especial em seus olhos. Parecia uma policial. Vimos seu revolver
preso num cinto acoplado em sua cintura. Havia algo nela que era realmente
especial. Vestindo um colete apenas por precaução, além das calças também serem
apropriadas para aquilo. Ela agachara-se próximo do veículo. Seu nome era Kate.
Kate Smith. Vimos que havia um homem ali debaixo daquilo. Preso na lataria do
veículo. Não conseguia se mexer muito. Corria o risco de se machucar mais
ainda. Como o teto do carro estava praticamente sendo empurrado para trás, era
como se a sua perna também estivesse presa. O carro parecia ter capotado várias
e várias vezes, o que indicava o motivo pelo qual o homem estava de cabeça para
baixo. Era jovem. Não deveria ter mais que trinta anos. Kate logo dera um
sorriso para ele. De tranquilidade. E então, logo dissera para ele:
Kate
– Aguentando
firme, Jackson? – perguntara, ainda agachado perto dele, enquanto víamos uma
movimentação por trás delas dos bombeiros.
Jackson
– E-Eu... Eu
acho que sim... – Kate sorrira então. – Estou contando carneiros. Acho que está
funcionando. Como você mesma sugeriu... – Kate rira.
Kate
– Fico feliz. –
ela afirmou. – Você está sentindo alguma dor? – mais carros passavam por ali
conforme eram permitidos, e víamos alguns curiosos colocando a cabeça para fora
numa tentativa de tentar entender o que se passava ali.
Jackson
– N-Não... Não
sei. Eu acho que não. – ele suspirara. – Era como se o meu corpo estivesse
totalmente anestesiado...
Kate
– Deve ser o
efeito da adrenalina. – analisou a situação. – Me preocupo quando a dor
realmente chegar. Você não irá conseguir se manter imóvel. É necessário que
você se mantenha assim.
Jackson
– Eu sei... –
Kate suspirou. – Kate... – já sabia o nome dela, o que indicava que já havia
acontecido uma aproximação prévia entre eles.
Kate
– Sim?
Jackson
– Você acha...
Acha que eu vou conseguir sair dessa? – Kate sorrira de canto então.
Kate
– É claro. – ela
assentiu. – Os bombeiros ali são excelentes profissionais. – ela garantiu.
Jackson
– Eles parecem
estar demorando...
Kate
– Estão tentando
bolar um plano não muito invasivo. Querem manter a sua perna...
Jackson
– Entendo...
Mas, Kate... – ele agora sorrira. – Diga a eles que eu prefiro manter a minha
vida. – Kate rira agora neste momento.
Kate
– É uma boa
escolha. – brincou. – Vou pensar nisso... – Jackson então desviou o olhar.
Jackson
– E quanto... E
quanto a ele? – Kate olhou para trás e vira o homem ainda sendo atendido com um
olhar vago.
Kate
– Está em estado
de choque.
Jackson
– Ele sabe que
não foi a culpa dele, não sabe? – Kate suspirou.
Kate
– É complicado.
Jackson
– O carro dele
perdeu o controle. Não foi proposital...
Kate
– É, Jackson...
– ela parecia concordar. – Mas quando você tira a vida de alguém, não é como se
fosse algo fácil de esquecer. – afirmou, como se ela já tivesse passando por
uma situação parecida, pois ela é policial. – É bonito vê-lo preocupado. É um
gesto nobre. Afinal... Você perdeu um ente querido. E não está preocupado em
culpa-lo de maneira alguma. O mundo precisa de mais Jacksons por aí... –
brincou, elogiando-o e Jackson sorrira também.
Jackson
– Kate... – ela
ainda o fitava, agachada. – Você já tirou a vida de alguém inocente? – Kate
ficara pensativa, mas não se mostrou se abalar tanto por este assunto.
Kate
– Já... –
limitou-se a responder isso. – E acredite em mim quando eu digo que leve tempo
para superar isso. – Jackson, então, tossira sangue, preocupando Kate. –
Jackson?! – ela ficara até mesmo mais agitada, pois queria ampará-lo e como ele
estava preso, não é como se ela pudesse fazer algo.
Jackson
– Acho... Acho
que a adrenalina... A adrenalina passou... – Kate rangira os dentes.
Kate
– Droga! – ela
se levantou imediatamente. – Ajuda aqui, por favor! – gritara, e alguns
paramédicos aproximaram-se junto do médico para ir apoiá-la, enquanto Jackson
tentava resistir a provável dor que sentia, mas era inegável, e acabava mexendo
o seu próprio corpo demais, pressionando a lataria ainda mais sob seu corpo. –
Jackson, acalme-se... – pedia ela.
Paramedic
– Tentem
imobilizá-lo! Por favor, policial, afaste-se... – pedira uma mulher, que
colocava suas luvas neste exato momento, enquanto Kate apenas recuava. – Vamos
lá, pessoal! – encorajava, enquanto o médico também se agachava para cuidar de
Jackson. – Nós não iremos perder mais ninguém hoje... – Kate assistia àquela
cena.
Jackson começara a ter epilepsia.
Kate assistia a tudo. Os médicos faziam o que era necessário. Kate parecia se
sentir incomodada. Virara de costas. Parecia ser um assunto que a atingia.
Parecia ser um momento que a atingia. Sabia que era normal e sabia que era
apenas uma questão de tempo para aquilo realmente acontecesse. Várias coisas
passavam por sua mente. O fato de ele ser jovem. O fato de ele ter muito que
viver ainda. E talvez até mesmo algo que lembrasse o seu passado. Sentia-se
mal. Falta de ar logo a atingira. Uma outra policial tentava a ampara colocando
sua mão em cima de seu ombro:
Police
Officer – Kate...
Você está bem? – parecia preocupada, era uma mulher mais velha que ela, e
também negra.
Kate
– E-Estou... –
ela tentava se recompor. – Estou. – ela assentiu, agora, mais firme, dando um
leve sorriso para a policial, mantendo-se mais controlada ao perceber que
Jackson agora passava melhor. – E quanto aos bombeiros?
Police
Officer – O
chefe me disse que em meia hora ou no máximo quarenta minutos já vão entrar com
a ferramenta. – Kate assentira.
Kate
– Ótimo.
Obrigada... – a policial sorrira para ela e então se afastara.
Kate olhara novamente para o
veículo. Os paramédicos e também o médico responsável agora tentavam dar
remédio intravenoso para ele. Era o natural. Kate sentia-se mal. Como
mencionado, talvez seja apenas uma história de seu passado. Algo que já tenha
vivido. Ela era apenas uma personagem chave para a história. E conforme a
história se passasse mais adiante poderíamos notar. Restava somente aguardar
para ver o desfecho deste acidente.
Virginia,
EUA (Richmond Town) – Gillings’ Home Scenes
12:24
PM
A porta sendo aberta. Lorraine surgindo.
Provavelmente havia ocorrido tudo bem com o restante da aula de Histologia.
Afinal, ela já havia retornado para casa. Vilma fora vista recepcionando
Lorraine com o rabo balançando de um lado para o outro. Lorraine sorrira. Guardara
a bolsa e pegara a cachorra no colo, a acariciando levemente e cuidadosamente.
Parecia gostar de cachorros. Afinal... Ela tinha um em casa. Era natural.
A colocara no chão e tirara os pelos que ficaram em
sua camiseta social que havia ido para o trabalho. Ouvira o som de conversa
vindo da direção da cozinha e decidira ir até lá. Andara calmamente e
tranquilamente. Não demorou muito. Deparou-se com Bethany assando alguns
cookies e cupcakes, enquanto Thomas estava sentado na cadeira, molhado e sem
camisa. Lorraine olhara para o chão. Parecia ter a irritado. Mike mordia uma
maçã, também molhado e sem camisa. Aquilo parecia ser algo que não a deixava
mais tranquila. Muito pelo contrário. Era como se realmente a tirasse do sério.
E logo, então, partira para a bronca:
Lorraine – Thomas! Mike! – chamara a
atenção. – Vocês sabem sobre a regra de entrarem molhados para dentro de casa!
– gesticulou, com as mãos na cintura em seguida.
Thomas – Oi para você também, mãe. – ele
sorriu.
Bethany – Eu disse... – abrindo o forno e
enfiando uma fornada de cookies com pedaços de chocolate lá dentro, lavando as
mãos na torneira da pia logo em seguida. – Não foi por falta de aviso, dona... –
ela, então, vira a expressão facial de Lorraine, como se estivesse dando uma
bronca nela também, e logo mudara a maneira que ia chama-la. – Lorraine. –
trocou ela, sorrindo logo em seguida.
Thomas – Bata no Mike. Foi ideia dele. –
provocou.
Mike – Que mentira! – ele se defendeu da
acusação. – Foi ideia dele, Lorraine! – acusara também, e Lorraine
aproximara-se de Mike, dando um beliscão no braço dele, e em seguida, o
beijando no rosto. – Ouch! – ele reclamou, alisando o local em que havia levado
o belisco.
Lorraine – É culpa dos dois! Merece um
beliscão e um beijo! – ela fizera o mesmo em Thomas que chegara até a rir. –
Esta foi a ideia de vocês? Ficarem trancados dentro de casa usando a piscina no
seu último dia de solteiro? – ela riu.
Thomas – Por quê? Você tem uma ideia
melhor? – perguntou.
Lorraine – Ah, querido... – ela sorriu. –
Você não tem ideia de como foi o meu último dia de solteira...
Mike – Comendo nachos dentro de um salão
de cabelereiro? – supôs, fazendo com que Thomas gargalhasse e Bethany até risse
também, enquanto Lorraine ficara séria o fitando. – Brincadeira... – ele deu um
sorriso amarelo para ela, voltando a morder a sua maçã.
Lorraine – Muito engraçadinho o senhor Mike!
– ela sorriu também, aproximando-se da bancada, pegando o controle de televisão
e a ligando logo em seguida, que ficava suspensa num objeto apropriado para
ficar próximo ao teto da cozinha. – Para o seu governo... – ela falava ao mesmo
tempo em que mudava de canal. – Teve go-go boys. Lorraine de calcinha e sutiã.
E muito strip. – olhou debochada para Mike que riu. – O meu casamento foi na
praia. Qual é a necessidade de ficar trancada dentro de um salão de beleza se o
vento ia estragar o meu cabelo de qualquer forma? – deu de ombros. – Além
disso, é liso. Não preciso disso. – brincou, finalmente achando um canal que
gostaria.
Bethany – Concordo. O seu cabelo é lindo. –
ela comentou. – É de família. Dani e Tiff também têm cabelos lindos. Elas
pegaram os seus genes. – Thomas se levantou para pegar água no filtro e beber.
Lorraine – Falando nisso, Tiffany já
chegou? – Thomas quase se engasgou nesse momento e Mike gargalhou, fazendo com
que Lorraine estranhasse aquilo.
Thomas – Ela... Ela... – pensava numa
desculpa então. – Ela foi ao cabelereiro. – mentira, e Lorraine então franziu o
cenho neste momento.
Lorraine – Foi?
Thomas – Foi. Não foi, Mike? – empurrara
para ele, que estava de boa até então mordendo a sua maçã, e Lorraine o fitara.
Mike – Foi? – Thomas fazia gesticulações
por trás de Lorraine, criando um momento cômico que até mesmo Bethany rira, e
quando Lorraine olhara para trás, Thomas disfarçou voltando a beber a sua água,
mas sempre gesticulando para Mike confirmar a história. – Foi. Foi sim. – ele
sorriu, mas Lorraine não parecia ter acreditado neles. – Nós que levamos.
Bethany – Ah é... Levaram sim... – ela
sussurrou, irônica, enquanto fazia seus afazeres na cozinha.
Lorraine – Disse algo, Bethany? – ela se
virou para ela.
Thomas – Disse que nós levamos sim. –
sorriu e Lorraine virou-se novamente para Mike. – Bethany! – cochichou para
ela, que o fitou, e a câmera focara neles.
Bethany – O quê? – rangiu os dentes. – Se
algo acontecer vai ser culpa nossa! – continuava cochichando.
Thomas – Por mim... Por favor... –
continuava cochichando, fazendo cara de pidão. – Hoje é o meu dia.
Bethany – Humph. Não te faço mais cupcakes!
– ameaçou.
Lorraine – Hum... – ela parecia pensativa,
tornando a câmera a focar nela. – Não sei. Não estou muito convencida disso.
Thomas – Está lá sim, mãe. Nós levamos. –
insistiu. – Além disso, ela precisa ficar linda para meu casamento, não é?
Lorraine – Ela sabe se maquiar. E como
Bethany ressaltou, o cabelo dela não precisa se ajeitar.
Mike – Mas e as unhas?! – Thomas sorriu
ao ver a ideia dele. – Mulheres precisam fazer as unhas. Não é?
Lorraine – É... – ela parecia concordar. –
Mas ela fez as unhas na Sexta. Será que já estragou? – ela se virou para
Bethany, que preferiu não responder, parecendo confusa.
Mike – Vai ver ela quis mudar a cor. Ou
fazer as dos pés também. – ela enrolou Lorraine, que agora parecia mais
convencida, enquanto ele leu os lábios de Thomas agradecendo ele. – Pode não
ter combinado com o vestido dela ou sei lá...
Lorraine – É. Pode ser. – ela assentiu, indo
em direção ao telefone.
Thomas – O quê você vai fazer?! – ele se
assustou.
Lorraine – Ligar para ela, ué...
Thomas – Pra quê?
Lorraine – Pra saber se vai demorar muito...
Eu posso ir buscá-la...
Thomas – Sem necessidade mãe. Nós já
combinamos. – Lorraine o fitara.
Lorraine – Desde quando você e a Tiffany
combinam algo? – ela estranhara, parecendo o deixar sem resposta. – Thomas... –
ela ficara séria agora. – Vocês estão mentindo para mim, não estão?! – ela
parecia ter ficado brava. – Onde ela está, Thomas? – perguntara novamente.
Thomas – Você vai querer me matar? – ele
se fingiu de assustado, e Bethany até rira, limpando a pia com um pano agora.
Lorraine – Depende da gravidade. – Thomas
bufou.
Thomas – Ela saiu com um amigo...
Lorraine – Qual amigo? Para aonde? Que horas
ela volta? – Mike rira disso.
Thomas – Quantas perguntas, mãe... – ele
se afastou do filtro e voltara a se sentar perto da mesa. – Eu não sei. Ela só
pediu para eu enrolar você. Aparentemente eu perdi a prática disso... – Mike
pareceu concordar.
Lorraine – Se for aquele Lucca eu juro por
Deus que corto suas pernas Thomas! – ameaçou e ele preferiu se manter quieto.
Mike – Você não gosta dele?
Lorraine – O que você acha? – ela fez uma
expressão de “óbvia”. – Tente gostar de um garoto qualquer que fez a sua filha
chorar por três dias seguidos no seu colo. – Mike riu. – Eu vou busca-la
agora... – pareceu ter se decidido então.
Thomas – Mãe, por favor... – ela parara
então. – Dê espaço para a Tiffany. – a enfrentou, e Lorraine o fitara então. –
Você a sufoca demais. Deve ser por isso que ela está sempre mal-humorada. –
supôs. – Além disso, você nem sabe onde ela está... – Lorraine cruzou os
braços. – Ela me disse que não chegaria tarde. – garantiu. – Tem o casamento.
Ela não vai perder, né? – Lorraine não parecia totalmente convencida disso. –
Dê uma chance para ela... – pediu. – Por mim... – Mike rolou os olhos agora.
Mike – Deus, o dia podia passar logo né?
Pra você parar de usar essa desculpa. – Thomas riu e Mike terminou a sua maçã,
jogando o restante num lixo.
Lorraine – Humph... – ela parecia ter amolecido,
então. – Está bem. – convenceu-se e Thomas sorriu. – Mas só dessa vez! – ela
garantiu. – Ela sabe que quando quiser sair para algum lugar com os amigos é só
me pedir. Eu levo e busco. – definitivamente, Lorraine fazia o “tipo” de todas
as mães americanas e também do mundo, de preocupação excessiva com os seus
filhos. – E quanto a você Mike? – o fitara. – Mentindo para mim também? – ele
gesticulou com suas mãos. – Esperava mais de você... – balançou a cabeça, mas
em tom claro de brincadeira.
Mike – Ideia do seu filho. –
defendeu-se.
Bethany – Esperar mais do Mike? – ela
brincou e Thomas gargalhou.
Mike – Perdão? – ele não entendera a
piada, enquanto Lorraine voltou próxima a bancada, aparentemente mais séria.
Thomas – Mãe... – ele se levantou e se aproximou
dela, enquanto de fundo, podíamos ver e ouvir Bethany e Mike discutindo, embora
fosse apenas uma encenação e uma brincadeira. – Fica tranquila. – pediu.
Lorraine – Não sei se é uma boa ideia,
Thommy... – ela suspirou. – Sabe quando você está com um mau pressentimento?
Thomas – Sei... Principalmente dos seus. –
ele sorriu. – Sexto sentido de mãe... – brincou e Lorraine também sorriu. –
Normalmente estão certos. – Lorraine bufou novamente. – Quer dizer... Sempre
estão certos.
Lorraine – É... Esse é o problema... – ela
tentou-se manter mais calma. – Mas vai dar tudo certo... – sorriu.
Thomas – Bem... Já que você chegou e o
problema foi resolvido, tenho que ir embora...
Lorraine – Ah... – ela lamentou. – Mesmo? –
ela abraçou o filho, sorridente. – Fica mais um pouco... – pediu.
Bethany – E os cupcakes e cookies?! –
gesticulara lá do fundo.
Thomas – Eu como depois! – Thomas riu e
Bethany não pareceu ter gostado daquilo, enquanto Lorraine enfim se
desvencilhara dele.
Lorraine – Tem certeza? – Thomas apenas
assentira.
Thomas – Tenho... – ele sorriu. – Ficar
sozinho em casa. Dormir um pouco... – Lorraine o escutava. – Além disso, se o
Mike ficar aqui é capaz de ele terminar bêbado. – ambos riram.
Mike – Que bobagem! – exclamou.
Lorraine – Está bem, então... Você que sabe.
– ela o abraçou mais uma vez. – Cuide-se. E até de noite...
Thomas – Até... – a abraçou bem forte
também, e então, se desvencilharam. – Tchau, Bethany! – acenou para ela que
rolou os olhos. – Prometo que como os cupcakes e cookies depois...
Mike – Tchau, Lorraine. – a abraçou
também. – Até de noite...
Lorraine – Até, Mike... – ele também foi se
despedir de Bethany.
Primeiramente, Mike e Thomas foram buscar suas
camisetas lá do lado de fora. Não demoraram muito. E logo saíram da cozinha,
indo em direção à sala para irem embora. Lorraine olhou para Bethany e sorriu.
Ela então tivera uma ideia. Se aproximara do forno. Colocara uma luva de pano e
o abrira. Visualizara os cookies e os cupcakes. Sorriu. Iria os comer assim
mesmo. Pegara a fornada de cookie primeiro, deixando o cupcake ainda lá dentro.
Fora até a mesa onde normalmente tomam o café da manhã e até almoçam e ficara
lá. Assistindo televisão. Convidara até mesmo Bethany:
Lorraine – Vem, Beth! – chamara ela. –
Depois termina o que você está fazendo. – insistiu, e Bethany assim fizera, se
sentando ao lado dela. – Vilma! – sorrira e também a pegara no colo. – Vem
comer cookie com a mãe... – pegara um caroço de chocolate e dera na boca dela.
– Mas só um pouquinho, hein? – brincou, olhando para a televisão logo em
seguida. – Você sabe que série é essa?
Bethany – The Last Devotion. – respondera.
– É praticamente uma novela. Acredito que seja reprise de algum episódio.
Lorraine – Você assiste? – perguntou
mordendo o biscoito.
Bethany – Sim. É muito boa! – ela também se
serviu. – É com essa atriz, está vendo? – e então pudemos ver a personagem
loira, de cabelos curtos, protagonizando a série. – Chloe Callaway, ela. –
lembrara seu nome.
Lorraine – Ela é linda...
Bethany – Sim. – concordou. – Há boatos de
que ela está grávida na vida real. – Lorraine a fitara.
Lorraine – Sério? – pareceu surpresa. – Tão
jovem... – comentou. – Se eu fosse atriz, não sei se ficaria grávida tão cedo.
Pode interromper a carreira, né...
Bethany – Verdade...
Cookies. Conversa casual. Discussão casual. A
conversa ia e vinha. Ficaram ali. Até mesmo com a Vilma. Lorraine tentava
esvaziar sua mente. Afinal... Tiffany estava por aí. E a preocupava. Tinha um
mau pressentimento. E como Thomas mesmo havia dito, é sempre certeza de que
mães acertam ou preveem o que irá acontecer. De qualquer forma, Lorraine havia
permitido. E apenas ela teria que aguardar e torcer para que estivesse errada
quanto a isso.
Virginia, EUA (Richmond Town) – Lucca’s Mansion Scene
12:36
PM
A Mitsubishi ASX branca de Lucca logo fora vista
parando na frente de sua casa. Era praticamente um filhinho de papai. Dezesseis
anos e já conseguia dirigir? Queria Tiffany ousar a fazer isso. Ela, que por
sinal, parecia estar adorando a mordomia que recebia. Lucca, como um verdadeiro
cavalheiro, desafivelou o cinto e desceu para abrir a porta de Tiffany que
agradecera com um singelo sorriso. Ela, então, também retirara seu cinto de
segurança e descera. Com a mesma roupa que estava desde manhã cedo. Segurava em
sua mão um copo transparente de suco de laranja. Era do McDonalds. Ela ficara
encantada com a vista que tinha. Era realmente uma mansão. Maior que a dela.
Indicava que realmente este era o motivo de Lucca ter tudo aquilo que desejava.
Ela sorriu. Era realmente bonita. Era uma mansão que parecia mais um partenon
da Grécia Antiga com várias pilastras dando apoio. Tinha pelo menos três
andares. Tiffany tinha todos os motivos para realmente ficar encantado com este
mundo. Era bom, porque ela poderia se identificar com ele. Então, Tiffany,
apenas elogiara:
Tiffany – Nossa... É muito bonito. –
comentara, sorrindo e Lucca retribuíra.
Lucca – Obrigado. – agradeceu.
Tiffany – Seus pais estão em casa?
Lucca – Não. Estão no trabalho. – negara.
Tiffany – E os empregados?
Lucca – Está com vergonha? – ele riu e
Tiffany corou.
Tiffany – É uma casa realmente muito
grande... – observou.
Lucca – Você não precisa cumprimenta-los
se não quiser...
Tiffany – Bem, lá em casa, Bethany é
praticamente um membro da família. – referia-se à sua empregada.
Lucca – Bem, aqui... Empregados são
apenas empregados. – disse até mesmo com um tom de preconceito e Tiffany
sorriu. – Vamos? – ela assentira.
Ele então pegara na mão dela para guia-la. Andavam
tranquilamente. Passaram pela entrada que era feita por um belíssimo jardim.
Tinha até mesmo chafariz. Tiffany olhava para todos os lados para não perder
nenhum detalhe. As plantas e as flores eram realmente muito bonitas. Não
demorou muito para que subissem os degraus e Tiffany pudesse observar as pilastras
de perto. Logo, a porta vermelha estava ali. Lucca tocara a campainha e não
demorou muito para que alguém viesse atender. Era uma mulher. Cabelos ruivos
presos em um coque, vestida como uma empregada. Ela, dera passagem para que
eles adentrassem:
??? – Boa tarde, senhor Keefe. –
cumprimentou ela.
Lucca – Boa tarde, Yasmin. –
cumprimentara também.
Yasmin – E a senhorita? – referia-se a
Tiffany, que parecia distraída e deslumbrada com a imensidade daquela mansão
por dentro.
Lucca – É uma amiga minha. – Yasmin
assentira. – Tiffany. – a introduzira.
Tiffany – Oi...
Yasmin – É um prazer... – Tiffany apenas
sorrira para a gentileza.
Lucca – Nós estaremos em nosso quarto.
Em... – ele olhara para o seu relógio de pulso. – Em uma hora e meia leve nos
alguma coisa para comer. Caso meus pais cheguem, me avise também.
Yasmin – Está bem. – ela acatou. – Com
licença... – pedira e então se retirara, e fora o momento em que Tiffany
observara vários empregados passando de um lado para outro, e até mesmo um
mordomo, ficando surpresa.
Lucca – Vamos. O quarto fica lá em
cima...
Tiffany – Vamos.
Ele então ainda de mãos dadas com ela a puxara.
Tiffany não teve muito tempo de olhar para a decoração. Mas era algo
extremamente caro e de alto nível. Eles subiram as escadas até chegarem ao
andar superior. Cruzaram alguns corredores e logo estavam no quarto dele.
Tiffany contou pelo menos sete portas. Provavelmente outros quartos. No meio do
caminho, notara uma academia dentro da própria casa e uma sala de estar própria
para jogos e diversões. Nada dissera. Apenas gostara do que vira. Talvez até
mesmo recomendasse algo parecido para a sua família. Mas logo desistira da
ideia. Não é como se ela achasse que iriam escutá-la de qualquer forma.
Lucca abrira a porta e revelara o seu quarto. Tinha
uma cama, vários brinquedos específicos de coleções. A maioria eram miniaturas
de carros da fórmula um. Um notebook da apple. O guarda-roupa. Tudo parecia
valer muito. Tiffany apenas observava, enquanto Lucca preferiu se acomodar.
Tiffany andava pelo quarto. Olhava. Foi até mesmo ver a vista. Era um bairro
lindo. E fora o momento então que ele dissera:
Lucca – Sinta-se a vontade... – Tiffany
sorrira para ele.
Tiffany – Obrigada... – ela retirara aquela
blusa da sua cintura e colocara em cima da cadeira mais próxima dela. – Eu
deixei a mochila no carro...
Lucca – Depois você pega. – ele parecia
estar procurando por algo, olhando em algumas gavetas, enquanto Tiffany
permanecia um pouco mais acanhada.
Tiffany – Eu não posso demorar muito. O meu
irmão não conseguirá enrolar a minha mãe por muito tempo... – Lucca riu.
Lucca – Eu levo você em casa, não se
preocupe. – continuava a sua busca.
Tiffany – Ok... – ela suspirou.
Lucca – Você vai ao casamento mesmo? –
puxou assunto.
Tiffany – Vou sim... – confirmou. – Não
tenho como fugir. – ela riu.
Lucca – Hum...
Tiffany – Você quer vir junto? – ela
perguntara tímida. – Poderia me fazer companhia nesse evento chato...
Lucca – É. Claro. – Tiffany sorrira
agora.
Tiffany – Sério?
Lucca – Sim. – Tiffany voltou a sorrir.
Tiffany – Combinado, então... – e então,
Lucca parecia ter achado o que queria, e Tiffany pôde observar um pequeno plástico
contendo alguns cigarros dentro, fazendo com que ela franzisse o cenho e Lucca
acomodasse na cama.
Lucca – Senta aqui... – pediu.
Tiffany – O que é isso?
Lucca – Diversão... – Tiffany sorriu de
nervosismo agora.
Tiffany – Lucca, o que é isso? – perguntara
novamente, agora mais séria.
Lucca – Como eu disse, diversão. –
repetira. – Vamos lá, Tiffany, não seja careta. – ele tentava desamarrar o nó
no plástico sem danificá-lo.
Tiffany – E as empregadas?
Lucca – Elas sabem. – Tiffany riu neste
momento.
Tiffany – E elas não fazem nada?
Lucca – Não é cocaína, Tiffany. – ele
rolou os olhos. – É maconha. Não vou morrer por isso. – ela estava perplexa.
Tiffany – Seus pais não sabem, eu
suponho...
Lucca – Não.
Tiffany – E o cheiro?
Lucca – As empregadas dão um jeito. – ele
sorriu marotamente.
Tiffany – Você é louco! – ela então, dera
alguns passos em direção a porta e Lucca levantara para pegá-la pelo braço.
Lucca – Espera... – pediu.
Tiffany – Me solta! – pedira, impaciente. –
Eu não gosto disso... – ela afirmou, convicta. – Não é o meu mundo. E nunca
será! – bradou.
Lucca – Você tem que ficar mais calma...
– pedira. – Vou te soltar... – ele então assim fizera, e Tiffany suspirou,
tentando manter o controle. – Você mesma disse que precisava desapegar. Que
estava cansada da sua família e dos problemas deles... – Tiffany olhava no
fundo dos olhos dele. – Permita-se a fazer isso, então...
Tiffany – Eu... Eu não sei nem segurar um
cigarro... – murmurou.
Lucca – Eu te ensino. – ele sorriu. –
Você vai gostar da sensação. Eu garanto. – Tiffany desviou o olhar, ainda
incomodada. – Vem aqui... – ele pegou na mão dela e a puxou para ambos sentarem
na cama, e ele enfim conseguiu pegar um cigarro, tirando um isqueiro do bolso
da calça e acendendo para ela. – Finge que é um canudo. E solta a fumaça. É
simples. – Tiffany o olhou, rindo.
Tiffany – Você só pode estar brincando...
Lucca – Vamos. Tente. – insistiu e
Tiffany pegara o cigarro da mão dele, colocando-o a na boca e repetindo o passo
que ele fizera, tragando o cigarro, inalando a fumaça pela narina e soltando
pela boca, fazendo com que Lucca sorrisse. – Viu? – Tiffany sorriu também. –
Você deveria ver a primeira vez que eu tentei. Foi um desastre... – ele pegou
um cigarro para ele também e o acendeu, fazendo a mesma coisa que ele, enquanto
Tiffany repetira o movimento. – E então? – ele soltara a fumaça também.
Tiffany – Não sei... – ela franziu o cenho.
– É estranho. – afirmou. – Me sinto enjoada, mas ao mesmo tempo...
Lucca – Sente-se bem. – completou para
ela.
Tiffany – É...
Lucca – É justamente esta a sensação. –
ele sorriu por completo.
O som da conversa fora diminuindo. A fumaça saindo.
Lucca até então aparentava ser um bom garoto. Mas como mencionado... Um garoto
de papai mimado que fumava maconha. Definitivamente não era uma boa companhia
para Tiffany que já se mostrou ser uma pessoa complicada e carente. Talvez tudo
isto esteja sendo feito somente para chamar atenção. De qualquer forma, ela
havia experimentado. E talvez gostado. E seria certeza de que isso daria
trabalho mais para frente.
...
O tempo havia se passado. Provavelmente meia hora.
Tiffany estava estirada no chão. Deitada. Fumando. Não se importava da fumaça
impregnar a sua roupa ou até mesmo cair na sua cara. Era comum. Já tinha se
acostumado. Lucca somente a observava. Seus olhos pareciam fitar algo. Na
posição em que ela estava, era possível ver que os seios dela eram farto. E
como ele era um rapaz na adolescência com hormônios aflorados, normais eram
estes tipos de pensamento. Distraiu-se totalmente. Somente acabou “acordando
para a vida” quando ouvira Tiffany falando com ele:
Tiffany – Isso daqui é a melhor coisa do
mundo... – ela, então, sorriu, tirando o cigarro de perto da boca, sentando-se
e Lucca aproveitara para fazer o mesmo ao lado dela, ambos no chão.
Lucca – Eu te disse. – ele sorriu.
Tiffany – Limpou a minha mente... – ela sorrira
para ele. – Obrigada. – agradeceu. – Eu estava precisando de um pouco de paz...
Lucca – Nós todos precisamos às vezes.
Tiffany – É por isso que você também fuma?
Lucca – Também. – disse. – Não é só a sua
casa que tem problemas...
Tiffany – É. Eu sei disso... – concordou.
Lucca – É apenas difícil lidar com os
meus pais às vezes...
Tiffany – Nem me diga... – ela sorriu,
parecendo concordar, identificando-se com ele. – Na realidade, é mais difícil
com a minha mãe. O meu pai... Nós nos entendemos. Na maneira do possível.
Lucca – Bem, e ainda assim... Você a
defendeu hoje. – Tiffany sorriu agora.
Tiffany – É... É complicado. – resumiu a
situação.
Lucca – Sei bem como é... – ele
concordou, aproximando-se dela. – É difícil achar alguém parecido comigo nesse
aspecto e que realmente me entenda... – disse, olhando para os olhos dela,
enquanto a sua mão caminhava lentamente para a mão dela, chegando até a sua
perna.
Tiffany – Sim... É difícil... – concordou,
enquanto os rostos deles iam se aproximando cada vez mais. – Eu sinto falta de
alguém que me entenda.
Lucca – Eu... Eu também... – suas bocas
foram se aproximando e seus olhos se fechando. – Também sinto.
Seus lábios se selaram. E o beijo deram. Apaixonado?
Tampouco. Era somente mais uma “pegação”. Um flerte, digamos assim. Pelo menos
para Tiffany. Foi ficando cada vez mais quente. Cada vez mais profundo. Lucca
foi se destacando cada vez mais, dando impacto em seu corpo em cima dela,
fazendo com que ela deitasse. Os olhos dela se abriram neste exato momento. A
boca dele foi descendo pelo corpo dela, chegando até os seios. Suas mãos
prendiam as dela ao chão, e ela notara ela. Franzira o cenho. Era um movimento
brusco e ao mesmo tempo que a incomodava, fazendo com que ela pedisse:
Tiffany – Lucca, para... – pedira, enquanto
ele continuava a insistir, e Tiffany a se desvencilhar. – Lucca. – chamara a
atenção dele, agora ainda mais séria, e ele tentava desabotoar a calça dela com
a boca, demonstrando a sua falta de lucidez. – Lucca, para! – ela agora
aumentou ainda mais o tom de voz, mas Lucca não a ouvia. – Lucca, merda! – ela,
então, com as pernas, o empurra para frente fazendo com que ele caísse. – Que
merda foi essa?! – questionara-o, e Lucca somente olhava para ele, até mesmo
assustado, enquanto Tiffany se levantou.
Lucca – Tiffany... Eu... Eu sinto
muito... Não era isso que eu queria fazer...
Tiffany – Ah não? – ela disse sarcástica. –
Eu te pedi mil vezes para parar! – afirmou. – Você estava quase me abusando a
força!
Lucca – Eu extrapolei... – ele levantou
também, aproximando-se dela, mas fora empurrado novamente.
Tiffany – Afaste-se de mim, babaca! –
gritou. – Pervertido! Eu deveria ter saído daqui quando tive a oportunidade...
– ela fora até a cadeira e pegara a sua blusa, amarrando novamente na sua
cintura. – Mas é claro... – resmungava. – Como eu fui estúpida! – exclamou. –
Desde de manhã, desde às respostas da prova ou até mesmo aquela promessa
patética de que você não tentaria nada... – ela realmente parecia estressada. –
Você me drogou para que pudesse transar comigo... – ela estava inconformada.
Lucca – Tiff... Me desculpa... – ela
tentara passar por ele, e foi segurada.
Tiffany – Tire suas mãos imundas de cima de
mim! – o empurrou novamente, mas ele tentara se aproximar e acabou levando uma
bofetada no rosto. – Estúpido! – gritou. – Quem você acha que eu sou?! –
gesticulava. – Alguma puta qualquer que você droga para foder? – ela rira
agora. – Droga como eu fui burra! – rangiu os dentes. – Você não ouse procurar
por mim mais nenhuma vez em sua mísera vida! E nem ouse também aparecer no
casamento do meu irmão ou eu pessoalmente farei com que você desejasse nunca
ter me conhecido! – ameaçou. – Agora saia da minha frente antes que eu te bata
novamente! – ordenou e Lucca dera passagem para ela.
Lucca – Desculpa... – pedira pela última
vez e Tiffany abrira a porta.
Tiffany – Vão à merda você e suas desculpas!
– ela mostrou o dedo do meio saindo dali.
Lucca
ficara sem reação. A câmera acompanhara Tiffany. Totalmente perplexa. Mas com
medo. O que teria acontecido se ela não tivesse conseguido se defender? Ele era
um homem. E tinha mais força que ela. Seus olhos marejaram. Definitivamente,
Tiffany não tinha uma boa vida. E cada vez mais ela se decepcionava com as
pessoas. E tudo o que havia acontecido ali somente provava isso. Corria para ir
embora. As empregadas perguntavam o que havia acontecido. Mas tudo o que ela
queria era fugir. Fugir para não ter que se lembrar disso. Fugir para não ter
que se lembrar disso. Abuso sexual era algo extremamente forte. Aproveitar-se
de uma pessoa fragilizada com o uso de drogas era algo extremamente forte. E
isso somente havia piorado o estado de Tiffany.
Virginia, EUA (Richmond Town) – Gillings Construction
Company, Simon’s Office
01:21
PM
Estava de tarde. Provavelmente a maioria das
reuniões já havia sido feitas e bem concluídas. Provavelmente Simon já havia
também almoçado. Com o paletó cobrindo a cadeira em que estava sentado,
sentia-se mais a vontade. Seu escritório era bem grande. Havia uma televisão de
plasma. Ar condicionado. A mesa de seu escritório onde neste momento estava
sentado. Parede espelhada, como já mencionado. Usava óculos de grau.
Provavelmente não enxergava de perto e dificultava para digitar em seu
notebook. Víamos algumas planilhas. Nada que realmente chamasse muita atenção.
Em determinado momento, parara de fazer o que estava fazendo. Parecia
pensativo. A sua mente ia e vinha sobre alguns acontecimentos recentes. Sobre
Tiffany. Sobre o casamento de Thomas. E também sobre a reunião que havia tido
com Venus. Não descobriu até agora de que laboratório ela fazia parte. Olhara
para o porta-retrato de sua família. Dera um leve sorriso. Fora o momento em
que parecia ter tido uma ideia. Com a mão agora no mouse, parecia estar
navegando em seu notebook. A câmera filmava isso. Vimo-lo abrindo a página da
internet e abrindo o site da Google. A pesquisa fora feita. “Venus, Vanguardian Society”. Alguns
links apareceram. Clicara em alguns, mas eram sobre coisas aleatórias. Era como
se ela fosse um fantasma. Era como se ela não existisse. Havia feito ele um bom
negócio em negociar com estranhos? Ele não sabia. Valia dinheiro toda essa
preocupação que ele teria de agora em diante? Ele não sabia então. Fechara o
site. Pegara o telefone em suas mãos que estava bem próximo a ele e discara um
número. Esperara alguns segundos até que alguém o atendesse. Não demorou muito.
E logo, então, Simon parecia estar conversando com alguém:
Simon – Ei... – este fora o cumprimento
dele. – Resolvi te ligar. Tenho uma dúvida. Preciso que procure um nome para
mim... – pedira ele, sem citar com quem estava conversando, mas aparentemente
não parecia ser ninguém conhecido até então. – Venus. – citara o nome dela
novamente. – Diz que faz parte de um grupo chamado Vanguardian Society. –
informara, e então, vimos o seu semblante mudar repentinamente. – Sim. Nós
fechamos um negócio. – continuou. – Devo cancelar, então? – ele, então, ficara
em silêncio por alguns segundos, como se estivesse somente escutando quem
estava do outro lado da linha. – Manterei então. – afirmou. – Devo me
preocupar? – ele assentia positivamente, entendendo seja lá o que o homem
estivesse lhe falando. – Isto não é bom, Petifier. – citara algo que parecia
ser um sobrenome. – Eu sei, Julian. Eu sei... – assentira. – Mas aparentemente
eles estão fazendo com que pessoas corram risco de vida. E eu pareço estar
agora somente os ajudando. – estava até mesmo um pouco mais agitado. – Está
bem. Eu ficarei fora disso. Desde que, no entanto, você resolva o problema. –
parecia estar lhe dando um ultimato. – Está bem. Aguardarei o contato.
Ele desligara o telefone então. Encostara-se em seu
assento. Olhara para o porta-retrato de sua família novamente. Seja lá o que
ele havia escutado, pelo seu semblante, definitivamente não parecia boa coisa.
Franziu o cenho. Ficou pensativo. Refletia sobre o que havia conversado com o
tal Julian Petifier. Quem era ele? Ninguém sabia. Mas parecia ser alguém do
contato de Simon, provavelmente. Ficara assim. E distraiu-se então quando
ouvira dois toques em sua porta como se alguém quisesse entrar. Após a
permissão concedida, a presença de Klaire se revelara. Sempre com papéis em
mãos, encostara a porta atrás dela com o pé e aproximara-se dele. Era um pouco
destrambelhada. Mas nada que incomodasse. Logo, ela dissera então:
Klaire – Aqui estão as papeladas que me
pediu. – ela entregou para ele. – Foi o máximo que pude achar sobre a
Vanguardian. Mas não parece ser nada incriminador... – Simon somente fitava o
papel, sem disser nada. – Se permite que eu lhe dê uma opinião... Aquela mulher
pode até mesmo ser assustadora, mas eu acredito que eles estão limpos. –
afirmou, segura disso e Simon dera um leve sorriso para ela.
Simon – É. Eu sei... É que eu não consigo
pensar sobre isso... – Klaire sorrira para ele, então, e dera a volta, afastando
as coisas da mesa dele e se sentando nela.
Klaire – Você precisa parar de se
preocupar com essas bobagens, Simon... – ele apenas a fitara, notando seu
generoso decote somente agora, e ela então, pegara nas mãos dele. – Deixe com
que eu lhe ajude a relaxar... – disse, com um sorriso malicioso, puxando a mão
dele delicadamente para debaixo de sua saia.
Simon – K-Klaire... – ele gaguejou
conforme ela ainda continuava a puxá-lo, e ele sentia até mesmo como se
estivesse sendo pressionado. – Klaire... Nós não podemos...
Klaire – Ninguém vai saber... Eu
prometo...
A mão dele continuava a deslizar. O prazer na
expressão facial de Klaire. Ela, então, após alguns segundos, se levantou.
Abaixou a saia, junto da calcinha. Por trás, pudemos ver a sua avantajada bunda.
Simon empurrou a cadeira para trás e o notamos retirando o cinto e abrindo a
calça, abaixando-a até os joelhos. Não vimos nada íntimo, mas provavelmente,
ele teria feito o mesmo com a cueca. Klaire se aproximou ainda mais.
Vulgarmente. Sentou-se em cima dele e fechou os olhos. A câmera começou a se
afastar. Movimentos repetidos de subir e descer. Gemia fraco. Gemia baixo para
que ninguém escutasse. Simon a pressionava ainda mais contra seu corpo. Suas
mãos desabotoaram a camisa social de Klaire que era de botões e suas mãos
subiram sobre o corpo dela, alcançando os seios e apertando. A câmera continuou
a se afastar. Os gemidos. A traição. A escuridão. O som começara a diminuir.
Bethany estava certa. Era uma família corrompida. E ia se provando cada vez mais
e mais. A falta de lealdade de Simon com Lorraine. Os segredos dele com o tal
Julian Petifier. Ninguém era perfeito. E ninguém poderia ser. E isso era claro.
Virginia, EUA (Richmond Town) – Thomas & Hannah’s Apartment,
Scenes
02:00
PM
A chave rodando na maçaneta. A porta branca se
abrindo. Thomas adentrando com a mesma camiseta antiga que havia aparecido na
casa de sua mãe. Provavelmente, já havia deixado Mike em sua casa. Tivemos a
vista total do apartamento em que ele e Hannah moravam. Tinha dois andares.
Logo na primeira observação, pudemos notar, inclusive, a escada que dava acesso
para o andar superior. Afinal, era um engenheiro. Tal como o seu pai. E a sua
vida apenas estava começando e já em ascensão. Thomas adentrara. Encostara a
porta e a trancara logo em seguida. Ficara pensativo. Olhava tudo aquilo.
Embora já morasse com Hannah, embora até mesmo tivesse construído uma vida com
ela, era como se pouco a pouco a sua ficha começasse a cair. Vimos um sofá de
três lugares na sala. Um tapete quadriculado e marrom. O piso era branco. Feito
de porcelanato. Uma mesa de centro no tapete, em cima tinha um abajur. Mais ao
fundo, uma grande prateleira, com alguns objetos de decoração. Tinha
porta-retratos ali.
Thomas até mesmo se aproximou deles. Pegara um. Era
uma foto dele com Hannah. Ele a abraçava por trás. O sorriso de ambos. A
felicidade de ambos. Thomas sentia isso. Sentia o amor. Ele até chegara a
sorrir sozinho. Passara o dedo delicadamente sobre aquela foto. Estava feliz lá
e se encontrava feliz agora. Colocara a foto no lugar em que estava, e pegara
outra agora com toda a sua família. Lorraine. Simon. Danielle. E Tiffany
também. Os amava incondicionalmente. Não poderia negar isso. Era uma relação
muito próxima. Principalmente com os seus pais, que o criara com muita
dedicação e carinho.
Ele então se afastara. Seguira seu caminho, deixando
a sala. Subira as escadas e pudemos ver o que já tinha lá no andar superior.
Outra sala. O sofá agora de couro e uma grande televisão. Havia um Playstation
quatro ali também além dos seus respectivos controles. Gostaria de se divertir,
digamos assim. Passou por estes, tornando a seguir o seu caminho. Atravessara
um corredor até chegar ao fundo onde tinha uma porta branca. Não demorara muito
até chegar lá. Ficara observando a porta por alguns segundos. Tinha um quadro
pendurado lá. Estava escrito Luna. Cor de rosa. E tinha dois pequenos ursos. A
ursa usava um vestido. Simulava Hannah. O urso estava de terno. Simulava
Thomas. E no meio de ambos, uma ursinha menor. Simulava a filhar. Sorriu
novamente.
Abrira a porta do quarto e tivemos a observação. As
paredes eram grafitadas por um rosa bem leve e não muito chamativo. Mas somente
a metade das paredes. A outra era lisa e branca. Pudemos ver algumas prateleiras
próximas do teto com alguns ursos e até mesmo bonecas. Uma casinha de bonecas
no chão aberta com seus diversos cômodos. Um sofá de couro branco com algumas
almofadas em cima. Uma poltrona listrada mais ao canto em cima de um tapete
circular também rosa. Uma cômoda onde Thomas agora se aproximara. Tinha tudo
ali. Pomada, fralda e até mesmo trocador. Além de que tudo estava desenhado com
o nome de sua princesa. Mas, emocionou-se totalmente quando se aproximou enfim
do berço. Branco. Com uma cortina a envolvendo. Sorria de orelha a orelha. Mal
pôde imaginar que este momento iria realmente chegar. Apoiava-se na grade,
somente observando que em poucos meses a sua filha estaria ali. Filha. Imaginaria ele que em algum
momento de sua vida poderia se tornar pai? Ele fechou seus olhos. Deixara toda
a emoção corroer a sua alma. E então, dentro de sua mente, pudemos ver o quão
realmente parecia ser conturbada. O som de uma colisão. De uma batida. Thomas continuava ali. Diante do berço. Totalmente inquieto agora que aquilo viera à sua mente. O grito. “Thomas!”,
era uma voz feminina. O som de carro de policial. O som de uma ambulância. O
som de um provável bafômetro. “Você está bêbado e dirigindo?!”, dizia o
policial. “Você assassinou a garota!”, acusava o outro. “Foi só um
acidente...”, defendeu a si mesmo. Lembrava-se. E lembrava-se. E lembrava-se. Vinha. E vinha com potência. O som de grades se fechando. O som de Lorraine aos
gritos. “Solte o meu filho! Eu pagarei a quantia que for necessário...”. O som
de Simon tentando segurá-la. Porém... Nada poderia ser mais doloroso do que
sair da cadeia com a ajuda dos pais e se deparar com a família daquela que
assassinou num acidente de carro. “Eu o acolhi em minha casa... E você a
matou...”, dizia a mãe dela com os olhos cheios de lágrimas.
Thomas então abrira os olhos. Ficara ali. Estavam marejados. Avermelhados. Tudo aquilo. Todo esse quarto. Toda essa memória triste e infeliz que carregava dentro de seu peito. Ele fechou os punhos, acreditando que até mesmo poderia ser culpado. Eu farei diferente desta vez, minha filha... Eu prometo. Sussurrara ele, fazendo planos. Thomas então afastou-se. E decidira sair dali. Hoje era o dia do casamento. Hoje era um dos dias mais especiais de sua vida. Mas com esta cena, pudemos mais uma vez comprovar o que Bethany já havia dito. Thomas fora responsável pela morte de alguém. E carregava essa culpa junto com ele. E Lorraine, e também Simon, havia o liberado. Não havia o deixado pagar pelos seus erros. Não havia o deixado pagar por aquilo que de fato havia sido um erro. Um acidente? Talvez. Mas ele havia bebido. E aquilo havia cometido a morte de uma inocente. E ele sabia disso. Thomas também carregava segredos. E este parecia ser apenas um deles.
Virginia, EUA (Richmond Town) – Beauty & Model SPA
02:30
PM
Provavelmente fazia algumas horas desde que estava lá.
O lugar era realmente chique. E parecia caro. O local em que estávamos agora
era um salão de beleza. Hannah se sentia como uma rainha. Era o intuito do
local, inclusive. Dar a ela um dos melhores dias de sua vida. Seus cabelos
estavam presos com bobes. As mãos esticadas enquanto eram feitas e pintadas
pela manicure. Os pés recebiam uma massagem extremamente relaxante. Teria como
ela reclamar? Não. De maneira alguma. Hannah estava sendo tratada da melhor maneira
possível. E ela apenas agradecia por isso.
Podíamos prestar atenção mais detalhadamente em como
o local era. Era ao ar livre. Tinha várias bancadas e vários espelhos onde os
profissionais maquiavam e faziam o cabelo, como era o caso de Hannah. Era
praticamente uma selva. Extremamente natural. Hannah sentia-se bem. Respirava
bem. Podia ver o céu de onde ela estava. Bastava apenas inclinar o pescoço e
assim poderia ter a tal visão que gostaria. Havia outras mulheres ali sendo
atendidas também. Poucas eram grávidas. Podia até mesmo contar nos dedos.
Algumas se aproximavam, puxavam assunto e perguntavam quando iria nascer. Eram
simpáticas em sua grande maioria. Em uma cadeira vazia, Anastacia estava lendo
uma revista. Com a cadeira inclinada para trás, estava sendo maquiada. Mas não
se incomodava. Na realidade, aquilo sequer fazia parte do pacote que Hannah
havia adquirido. Apenas estava tentando também agradar a sua avó. Ela merecia
um dia de descanso e um dia em que se sentisse jovem. Faria bem a ela, também.
Os cabelos de Hannah pareciam ser um problema. Por
ela estar grávida, evitavam o máximo que podiam em não utilizar produtos
químicos. Poderia ser prejudicial. Tentavam vários estilos de cabelo. Até mesmo
o velho coque acabou sendo cogitado, embora Hannah tenha sido clara que não o
queria preso. Queria diferenciar. Ela apenas gostaria de se sentir bela. Não
que ela não fosse. Mas ela gostaria de não ser uma noiva qualquer, e sim
aquela, que no momento que entrasse na igreja e caminhasse até a Thomas, seria
aplaudida por todos. Imaginava algo do gênero. Era arrogante? Talvez. Mas era
um desejo dela. Ninguém poderia culpa-la.
Enquanto ainda pensavam em um modo de cuidar dos
cabelos dela, pediram para que Hannah encostasse a cabeça no encosto. Inclinaram
a cadeira da mesma maneira que Anastacia estava. Agora era o momento de colocar
a prova da maquiagem. Estava sendo extremamente paparicada. E gostava daquilo.
Sentia-se bem com tanto bons tratos. Ela logo fechara os olhos. Era o momento
em que fariam o desenho do delineador, então, ela precisava ficar daquele
jeito. Somente facilitava. Por ser mulher, já estava acostumada. Então deixava
somente as profissionais realizarem o seu serviço.
Com os olhos fechados, pôde ficar pensativa. Hannah
não acreditava no que estava acontecendo ali naquele momento. Não acreditava
que iria casar. Não acreditava que estava tendo um dia somente para ela. E quem
diria? Afinal... A sua vida não era da mesma classe média de Thomas. Longe
disso. Muito pelo contrário. Hannah sempre viveu da maneira que acreditava ser
correta. O suficiente para poder comer. Para ter um teto para viver. Para
sustentar a si mesma e levantar no outro dia e conseguir respirar. Era o
básico. O básico para todo e qualquer ser humano. E somente de pensar
naquilo... Era como se lhe trouxessem memórias de volta. Memórias de uma vida a
qual ela era habituada. Mas que pouco a pouco, desacostumou-se. E ao contrário
do que a grande maioria fez, não se deixou levar. Não mudou a sua
personalidade. Não mudou o seu jeito de ser. Muito pelo contrário... Apenas
melhorou.
Flashback
Hannah estava no ápice de sua
juventude. Loira ainda. Parecia ser há uns 4 anos. Estávamos numa padaria. Era
de tarde. Não deveria ser nem mais e nem menos do que três e pouco da tarde.
Arás do balcão, trabalhava como atendente. Víamos os diversos pães e bolos
sendo a mostra por ali. Alguns eram realmente lindos e parciam deliciosos.
Chocolate. Morango. Até de cenoura. Não era nenhuma padaria extremamente
luxuosa, mas dava para o gasto. Hannah vestia seu uniforme. Uma camiseta branca
por debaixo de um avental verde que tinha o logotipo da padaria com um boné da
mesma coloração. Hot Coffee, era o nome. Não era um estabelecimento da família
aquele lugar, Hannah era somente uma contratada qualquer. Ela parecia sempre
estar atenta ao relógio que batia na parede. Lá em cima. Tão desatenta, que até
mesmo trocava os pedidos dos clientes. Alguns reclamavam, outros eram mais
simpáticos. Era somente mais um dia cotidiano em sua vida que parecia ser
bastante corrida.
Ela olhava o relógio. A fila ia
e vinha. Ela atendia. Até mordia o lábio inferior. Hannah era realmente jovem.
Podíamos dizer que o tempo realmente lhe fez bem. As espinhas sumiram. Os seus
olhos ganharam mais atenção. A pele ficara mais bonita. Hannah ficara mais
bonita. Então, quando o relógio parecia ter parado em três e dez da tarde, ela
praticamente surtara. Sorria de orelha a orelha. Como se aquele horário
significasse algo. Ela, então, fora até um dos rapazes que a acompanhava no
atendimento. Era um homem másculo, musculoso e negro. Sorriso branco. Simpático
com as atendentes. Algumas até mesmo suspiravam. Ele era um homem realmente
muito atraente e bonito. Hannah então com cara de pidona, enquanto ele parecia
pesar alguma coisa na máquina para entregar à cliente, disse a ele:
Hannah – Bruno, me cobre,
por favor?
Bruno – De novo, Hannah? –
ele rolou os olhos.
Hannah – Vai! Não seja
malvado! – ela fez bico.
Bruno – Você está pedindo
isso até a hora que você for mandada embora. – ele advertiu.
Hannah – Enquanto você me
convence de algo que eu não farei... O tempo passa. Os clientes reclamam. E a
padaria poderia estar lucrando. – ela sorriu amarelo e Bruno rolou os olhos. –
Por favor... – insistira. – Por favorzinho. – fez até voz infantil fazendo com
que ele risse.
Bruno – O que você irá
fazer? – ele entregara um pacote de pães para uma moça, conversando com Hannah
enquanto isso.
Hannah – Como assim? – ela
pareceu surpresa. – Simplesmente comprar ingressos por maior show da década,
dã. – Bruno riu.
Bruno – É mesmo? E você
tem um bom gosto musical assim?
Hannah – Você sabe que isso
é relativo... – ela sorriu e Bruno pareceu concordar. – E então? – ela sorriu
novamente. – Por favor? – Bruno riu.
Bruno – Está bem. Vai. –
ele aceitou e Hannah comemorara, o abraçando e dando um beijo em sua bochecha.
– Mas só vinte minutos, hein? – Hannah fizera um sinal de “joia” para ele.
Tirara o seu boné e desamarrara
o avental, dobrando-o de qualquer jeito e tratara logo de sair daquele balcão.
Os clientes até mesmo riam e comentavam entre si. Era algo engraçado. Hannah
realmente estava empolgada quanto ao tal dos ingressos que iria adquirir para o
show. Era natural. Ela era praticamente uma mini adolescente. No momento em que ia sair para provavelmente
ir até uma lan house para adquirir o que gostaria, acabou esbarrando em um
homem. Ela acabara até mesmo desequilibrando, mas fora segurada pelo mesmo,
impedindo com que ela caísse:
Hannah – Meu Deus! Me
desculpe, senhor... – ela sequer olhava para os olhos dele. – Eu não vi por
onde eu andava e... – e fora o momento em que conseguira fitá-lo pela primeira
vez, e pudemos ver que se tratava de Thomas. – Quero dizer... Desculpe, rapaz.
– ela se auto corrigiu e Thomas dera um sorriso amigável.
Thomas – A culpa foi minha.
Eu que não estava olhando por onde andava... – Hannah riu.
Hannah – Não. A culpa foi
totalmente minha... – ela gesticulava. – Eu saí igual uma louca. Nem vi por
onde andava. – rolou os olhos. – Sou distraída. Não ligue para mim...
Thomas – Mas eu sou o
brutamonte daqui... – brincara em relação ao seu tamanho e Hannah riu. – Você
poderia ter se machucado se eu não tivesse a segurado...
Hannah – É. Você tem
razão... – concordou. – Então por que não fazemos assim? A culpa fica dividida.
Cinquenta por cento para cada! – sugeriu e Thomas sorriu.
Thomas – É uma boa ideia...
– ele sorriu novamente, como sempre, galanteador, deixando Hannah intimidada,
que desviou o olhar neste momento. – Mas então... Para onde você ia tão
apressada? – perguntou ele, curioso.
Hannah – Nossa! É verdade!
– ela rangiu os dentes. – Droga... – ela murmurou ao ver o horário na parede. –
Eu nunca conseguirei a tempo. Provavelmente já esgotou... – deu-se de
derrotada.
Thomas – Esgotou o quê?
Hannah – O show. Juntei a
minha economia toda para comprar e agora vou ter que gastar em sorvete. –
murmurou ela, chateada.
Thomas – Qual show?
Hannah – Red Hot Chilli Peppers. – Thomas sorriu.
Thomas – Eu vou ao show
deles! – disse empolgado.
Hannah – É mesmo?! – ela
retribuiu na mesma empolgação. – Eles são demais, não são? – Thomas assentiu,
concordando. – Eles arrasam... – concluiu.
Thomas – As músicas deles
são ótimas. – ele foi sucinto.
Hannah – Bem... Pelo menos
alguém vai se divertir. Já eu tenho que voltar ao trabalho novamente... – ela
suspirou. – Novamente, desculpe-me pelo esbarrão. – ela sorriu, virando-se para
voltar ao balcão ainda com o avental e o boné em mãos.
Thomas – Espere... – Hannah
virou-se para ele novamente. – Eu conheço um amigo. Que vende ingressos. Talvez
ele possa arranjar algum para você... – Hannah sorriu.
Hannah – Sério? – Thomas
assentiu.
Thomas – Pela metade do
preço. – Hannah sorriu. – E ainda dá para gastar o resto em sorvete enquanto
assiste Friends no sofá de casa.
Hannah – Ah não. Friends é
superestimada. – ela rolou os olhos. – Prefiro The O.C. – sorriu ela, por fim.
Thomas – Finalmente alguém
que me entende! – exclamou e Hannah sorriu.
Bruno – Hannah! – gritara
ele mais do fundo. – Serviço acumulado aqui, por favor...
Hannah – Bem... Você ouviu.
– ela sorriu novamente. – Tenho que ir.
Thomas – Claro, claro... –
ele, então, pegara um pedaço de papel e anotara com uma caneta um número de
celular ali. – O número do amigo que eu disse. Fala que eu que estou pedindo o
favor. – Hannah sorrira ao pegar o papel em mãos.
Hannah – Obrigada... – ela
guardara o papel nos bolsos. – Então, eu acho, que nos vemos no show... – ela
começara a andar para trás, recuando, ainda sorrindo, até voltando a esbarrar
no balcão, totalmente atrapalhada pelo jeito de Thomas que rira após o
acontecido.
Thomas – É. Nós nos vemos
no show... – ele concordara com Hannah.
Primeiro encontro com o seu
futuro marido? Hannah não fazia ideia. Mas havia algo que tinha chamado atenção
nele. Ela apenas não sabia o que era. Charme? Beleza? Sorriso. Um esbarrão por
acidente que havia culminado em um relacionamento sério com direito a um bebê
esperado por ela. Thomas ficara ali. Por mais alguns segundos. Fitando-a voltar
para o serviço. E logo fora embora. Sem sequer ter pedido absolutamente nada.
Havia ele esquecido e se encantado por ela também? Na realidade... Pareceu
apenas suspeito. Hannah apenas não havia notado. Mas ainda havia algo além do
que um mero esbarrão. Restava apenas aguardar e ver o restante da história,
pois ainda tinha muito que acontecer. Um flashback. Um flashback sobre um pouco
da vida de Hannah antes de encontrar Thomas. Para entendê-la um pouco. Para
analisa-la um pouco. Para entendermos o mundo do qual ela havia saído. Que
tampouco era parecido com este que vivia neste momento. Hannah havia mudado.
Mudado muito. Mas não deixara se levar por isso. E era a melhor parte.
End Of Flashback
Anastacia – Bem... Eu já vou indo... – ela se levantara de onde estava sentada anteriormente, e Hannah enfim fitara a sua avó, vendo a sua produção totalmente completa.
Hannah – Nossa vó! – ela sorriu. – Está linda! Quase uma modelo, hein?
Anastacia – Claro, querida. Eu me cuidei. Sou linda desde sempre. – gabou-se fazendo com que todas ao redor ali dessem risada dela, embora para ela, parecesse somente um comentário aleatório.
Hannah – Você já vai embora mesmo? – Anastacia se aproximara dela e lhe dera um beijo no rosto, e Hannah fizera o mesmo com ela.
Anastacia – Já sim. Ainda tenho que fazer compras. – Hannah riu. – O quê? – ela rolou os olhos. – Está me chamando de gorda? – dera um tapa nela.
Hannah – Vó! – ela reclamou rindo.
Anastacia – Você que começou!
Hannah – Claro, claro... – ela rolou os olhos. – Mas está bem. Vá com Deus. – ela sorriu.
Anastacia – Você também. Fique com Deus. – ela dera agora um beijo na testa de Hannah. – E é bom elas cuidarem bem de você, hein? Se não irão se ver comigo! – Hannah riu.
Hannah – Elas vão, vó. Não se preocupe... – sorriu. – Obrigada pela companhia hoje. Vejo você de noite... – Anastacia afastou-se então.
Anastacia – Vejo você também de noite. – acenara por fim.
Hannah observara a ir embora. Logo já não era mais possível vê-la ali. Ela sorriu. Avós... Sempre tão doces e ao mesmo tempo amargas. Voltou a se acomodar em sua cadeira. Fechou os olhos. E voltara a sentir relaxada com todo aquele tratamento especial. As unhas. A massagem. A maquiagem. Ela realmente não tinha o que reclamar. Tudo o que ela podia fazer era somente aproveitar. Lembrar-se dos bons tempos em que apenas namorava Thomas. Dos bons tempos com sua família, com a família dele, pois faltavam agora poucas horas. Poucas horas para ser uma mulher casada. E aquilo realmente a empolgava. Empolgava muito.
Virginia, EUA (Richmond Town) – Main Highway President
Noboa
05:06
PM
Eram cinco da tarde. O céu já se encontrava sem
nuvens. Provavelmente porque aguardava o momento em que o Sol iria se por. A
câmera via ainda aquela fila de trânsito. Pudemos notar na bifurcação, três
ônibus escolhendo o caminho livre. Era o mesmo que estava levando Danielle e
Marcella para o acampamento. Apenas uma curiosidade. Nada mais e nada menos do
que isso.
Logo, então, a câmera aproximou-se. Kate acompanhava
o trabalho árduo dos bombeiros. Com a motosserra, serrando totalmente o aço
resistente. O barulho era insuportável. Saía várias faíscas devido ao atrito
que fazia. Mas Kate continuava ali. Até mesmo como um apoio moral de Jackson,
que mesmo agora não sentindo mais dor, permanecia acordado. Até mesmo orando
para Deus. Talvez ele fosse o responsável para tirá-lo dali. Tinha fé nisso,
pelo menos. O homem que estava sendo atendido logo se aproximara de Kate. Mancava.
Era natural. O impacto parecia ter sido grande. Era um homem da mesma faixa
etária de Jackson. Ficara ao lado de Kate. Observando o trabalho dos bombeiros.
Também desejava para apenas com que o melhor acontecesse. Tinha fé nisso. O
restante dos policiais continuava também o seu trabalho de sinalizar os
veículos parados no trânsito de darem a volta no caminho. Tampouco estava
próximo de um término. Muito pelo contrário. O som da motosserra parava e
continuava o tempo inteiro. Exigia força. E ao mesmo tempo em que exigia força,
exigia paciência. E Kate sabia. Logo, ela, então comentara:
Kate – Jackson está sendo forte... Você
não acha, Arthur? – o homem a fitara neste momento, parecendo surpreso de Kate
estar falando com ele.
Arthur – É... Eu acho. – ele desviara o
olhar, fitando agora o corpo mais adiante, ainda na mesma localização, não
tendo sido retirado durante este tempo, somente mais afastado do centro da
estrada, sendo levado mais para a borda.
Kate – Você sabia que ele não o culpa? –
Arthur tornara a olhar para Kate, que cruzara os braços então. – Eu aconselho você
a segui-lo neste quesito. – ela dizia, sem olhar diretamente para Arthur. – Eu
sei como é. – parecia pensativa, refletindo também sobre seus atos. – A
sensação de que há sangue em suas mãos... – ela então fitara Arthur. – Você já
imaginou se o nosso mundo fosse inteiramente uma guerra? – levantara a
hipótese. – E se sangue em nossas mãos fosse o mínimo que devêssemos fazer para
continuar a viver? – Kate tornara agora a fitar Jackson, enquanto os bombeiros
realizavam seu serviço. – Bem... Eu já. – afirmara. – E apenas serviu de
consolação para entender de que nada que eu fizera contra inocentes foi
proposital. – afirmou. – Você apenas tem que entender isso...
Arthur – E o que acontecerá se ele não
conseguir escapar disso? – Kate o fitara novamente.
Kate – Você ainda estará aqui, Arthur. E
terá que continuar com a sua vida. – afirmou, dura até mesmo. – Não há como
mudar certas coisas... – disse. – Você vai apenas ter que aceitar que o perdão
dele fora o suficiente e perdoar a si mesmo.
Arthur – Você acha que eu deveria ir até
lá? – parecia hesitar em se aproximar dele.
Kate – Acho. – concordou, dando um
sorriso de canto. – Fará bem. Para você. Para ele. Um pouco de apoio a mais é
sempre bom. – Arthur assentira.
Kate o observara se aproximar. Os bombeiros logo se
afastaram para dar uma pausa. Era o momento em que poderiam conversar. Arthur
se sentou no asfalto e ficara ali. Era até mesmo emocionante. Arthur não estava
bêbado. Arthur não passara do limite de velocidade. Arthur sequer deveria
responder por isso criminalmente. Mas às vezes, a humanidade fala mais alto.
Ele tirara a vida de alguém. E mesmo que acidentalmente, era algo que
carregaria para sempre em sua vida. Uma emoção de que aquela pessoa a qual ele
havia machucado não poderia viver novamente a sua vida. Não poderia concluir os
seus sonhos. Ter uma família. Ter um marido. Ter filhos. E aquilo o machucara.
E não era fácil para absolutamente ninguém. Kate entendia isso. Talvez até
mesmo porque havia passado por aquela situação. Aquela situação de se sentir
responsável por algo que não havia feito. E podíamos voltar então a quando ela
se abalara com o fato de Jackson estar ferido. E gritando de dor. Ela desviara
o olhar. Aquilo voltara novamente à sua cabeça. Como uma memória que mostrava
mais um pouco de sua vida. Como uma memória que mostrava pouco a pouco o que
acontecera em sua vida.
Flashback
O flashback se passava há muitos
anos. Kate ainda era uma criança. Aparentemente de onze anos. Com os cabelos
crespos feitos em pequenas chuquinhas. Era até mesmo moda naquela época um
penteado desse estilo. Kate estava com um bebê em seu colo. Também negra.
Deveria ter um ano. Era uma menina. Distraída com uma mamadeira em mãos.
Parecia coloca-la na boca e mordê-la o tempo inteiro. Talvez até mesmo um hábito
de criança. Nada a discutir. Bebês costumavam a colocar coisas em sua boca o
tempo inteiro. Kate parecia distraída com ela no colo. Brincava. Tentava a
fazer dar risada. Parecia muito apegada a ela. Muito apegada mesmo. Talvez
fosse até algum parente. Até mesmo uma irmã.
O ambiente era de papelaria.
Víamos os materiais escolares bem dispostos em algumas prateleiras. Não era
algo expansivo. Somente para dar o dinheiro básico e fazer com que a família
vivesse bem em suas próprias necessidades. As paredes eram velhas. Precisavam
de pintura. Víamos mofo em alguns locais também. Kate e o bebê estavam como se
fosse nos “fundos” da papelaria. Kate pareceu, por algum motivo até mesmo
aleatório, ter vontade de ir até lá à frente. Seria algum sentido? Alguma premonição
talvez. Colocara a criança sentada onde estava. Não era uma cadeira muito alta.
Pudemos ouvir Kate chama-la pelo nome. “Fique aqui, Clementine”. E logo saíra
dali.
Dera alguns passos. Conforme
andava, era como se estivesse um ruído de uma conversa acontecendo. Kate
franzira o cenho. Resolvera ficar por trás de uma parede a fim de tentar
escurar. Mas era como se fossem sussurros. Não eram muito fáceis de serem
identificáveis. Porém, ela notara que tinha algumas vozes. Na maioria, de
homens. Mas também havia uma voz feminina. Era a de sua mãe. Era como se
estivessem a ameaçando. E no momento em que tentara espiar por cima do ombro,
vira o disparo sendo feito contra ela. Arregalara os olhos. Aquilo havia a
assustada. Os homens que até mesmo eram bem vestidos para serem meros ladrões,
apenas fugiram. Kate vira ali uma oportunidade para ir até a sua mãe. Correra.
Logo a alcançara. “Mãe! Mãe!” gritava Kate totalmente desesperada com os olhos
já marejados. Estava caída atrás da bancada. Era de noite. E não tinha muitas
pessoas na rua para ajuda-la. Tentara até gritar, mas a sua mãe que agonizava
no chão, pegara firme em suas mãos. Era uma mulher negra. Lindíssima. O seu
nome era Yvonne. Yvonne Smith. E era como se ela quisesse dizer algo a sua
filha, que tentava se atentar às palavras da mãe:
Kate – Ma-Mamãe... – ela
chorava bastante.
Yvonne – Me-Me escute,
querida... – ela dizia com bastante segurança.
Kate – Eu preciso chamar
por ajuda! – clamou.
Yvonne – Não, não... – ela
negara. – Eu ficarei bem. – garantiu. – Você precisa fugir...
Kate – Como assim fugir?
– ela franziu o cenho, até mesmo soluçando.
Yvonne – Pegue Clementine.
Fuja com ela. E me promete que irá cuidar dela...
Kate – Mas, mãe... –
tentou dizer algo.
Yvonne – Me prometa, Kate!
– Kate a abraçara então, sujando suas mãos de sangue, e Yvonne tossira agora,
fazendo com que aquilo parecesse ter uma semelhança com o fato de Jackson estar
preso ainda na lataria daquele acidente.
Kate – E-Eu... Eu
prometo. Claro que eu prometo! – exclamou e Yvonne sorrira.
Yvonne – São homens maus,
Kate... – afirmou. – E eu tenho medo de que eles voltem e possam fazer algo com
vocês... Não são ladrões. Eles não terão dó de você somente porque é uma
criança...
Kate – Posso ajuda-la? –
perguntou, sussurrando, com um semblante de tristeza em sua expressão.
Yvonne – Ninguém pode me
ajudar, Kate... – afirmou com um sorriso em seu rosto. – Não mais. –
continuara. – Agora vá...
Kate – Mãe...
Yvonne – Vá, Kate! –
ordenou tentando falar alto, forçando a si mesma, embora sofresse de dor. – Vá
e não olhe para trás...
Kate recuara. Olhara para suas
mãos. O vermelho escorrendo. Ela olhara para a sua mãe que sussurrara mias uma
vez. Passos começaram a ser ouvidos. Eram como se os homens estivessem
retornando. Kate recuara. Aquilo doía. E doía muito. A camera a acompanhou. Ela
retornando para o fundo da papelaria. O tom de conversa aumentando. Kate
pegando Clementine novamente no colo e apressando-se logo para sair dali. Outro
tiro fora ouvido novamente. E outro tiro. E as lágrimas de Kate jamais pararam
de cair. Sentiu-se inútil. Sentiu-se inútil porque naquele momento ela não
tinha como ajudar a sua mãe. E aquilo a machucava. Machucava porque somente
trazia péssimas memórias. E talvez este fosse o motivo para se sentir tão
abalada com Jackson. Porque não havia nada com que ela pudesse fazer com as
próprias mãos. Talvez Kate apenas quisesse fazer a diferença. E era complicado.
Mas a pergunta que ainda permanecia no ar: quem eram aqueles homens? E porque
atiraram nela? E como Kate havia conseguido fugir? Bem... Este era apenas o
início de sua história. Algo que ainda possuía muita profundidade.
End Of Flashback
Kate – Trina! – ela exclamara, empolgada. – Resolveu dar sinal de vida, não é mesmo? – ela brincou.
Trina – Eu estava em meu trabalho, Kate. Sabe como isso é importante. – frisou, e afastou-se do celular logo em seguida quando uma mulher se aproximara dela. – Deixe em cima da mesa. Obrigada. – a mulher colocara a papelada em cima da mesa dela, e pudemos observar que Trina era uma mulher importante, já que possuía sua própria mesa e o seu próprio escritório.
Kate – Prendendo quem dessa vez? – perguntou, o que indicava que a profissão de Trina também era a de uma policial.
Trina – Ah, você sabe... – ela sorriu. – Prisioneiros aqui, prisioneiros acolá...
Kate – Vamos lá, Trina. Você pode parecer uma policial regional, mas nós sabemos que você costuma pegar caras grandes. – Trina riu neste momento.
Trina – Chefe argentino de uma máfia de drogas. – Kate surpreendeu-se então.
Kate – Uau! – ambas riram e a cena trocara para Kate novamente. – E eu aqui num acidente de trânsito na rodovia.
Trina – Ah, os piores... – murmurou, mexendo em algumas papeladas ao mesmo tempo em que conversava com Kate. – Lembro-me desta época. Você fica aí parada. Sem muito que fazer. Para no final não dar em absolutamente nada. É um pouco entediante. – foi sincera, e o frame trocara novamente, enquanto Kate rira.
Kate – Na realidade... Eu fico com dó. Tem um rapaz preso nas latarias aqui. E parece que ainda vai durar a noite inteira. – ela se virou para trás e observou o trabalho dos bombeiros.
Trina – Alguma fatalidade?
Kate – Uma.
Trina – Hum... – ficou pensativa. – Você tem sorte. Já peguei acidentes que envolvia sete caminhões, quatro carros e duas motos. – Kate riu agora.
Kate – Sério? – ela franziu o cenho. – Deus! – ela rira até. – Deve ter sido trabalhoso...
Trina – Ah é querida. Espere até você ter que preencher os formulários disso. – brincara sarcástica e Kate rira novamente. – Você merece mais. Tem talento para mais.
Kate – É verdade. – foi até mesmo convencida. – Eu aprendi com a melhor, não é mesmo? – Trina sorrira neste momento. – Sinto sua falta... – afirmou.
Trina – Eu também, querida. Eu também. – Kate também sorrira. – O fim de ano está se aproximando. O Natal está se aproximando. Não quer vir até aqui? – Kate sorrira.
Kate – Não parece uma má ideia. – afirmou. – Considerarei a proposta.
Trina – Está bem. – ela sorrira. – Bem... Eu tenho que ir. Como eu disse... Há formulários me esperando. – Kate rira.
Kate – Está bem. – ela acatara. – Boa sorte com os papéis.
Trina – Boa sorte para você e para o rapaz que está debaixo do carro...
Kate – Obrigada. Até mais.
Kate desligara o celular com um sorriso no rosto. Trina lhe parecia alguém importante. Ainda não fora esclarecida qual era a relação entre elas, mas de algo tínhamos certeza: não era a sua mãe. Kate suspirara. Realmente ela tinha muito trabalho ali. Era algo até mesmo chato e cansativo. Esperar por boas notícias. Mas também não era como se ela pudesse agilizar o processo. Logo voltara a ficar ao lado de Arthur. Com a esperança de que teriam boas notícias. Arthur mesmo havia dito que não sairia dali até que Jackson fosse liberado. Demoraria? Demoraria. Mas era algo a se considerar. A câmera começara a se aproximar de outra região então. Do corpo. Protegido por aquela capa preta de proteção. Por um momento, poderíamos ter visto que o corpo estava se mexendo. Ilusão? Ninguém sabia ao certo. Era realidade? Tampouco. Parecia ser uma mentira até mesmo. Até mesmo porque aquilo não voltara a se repetir. Era estranho. Muito estranho...
Virginia, EUA (Richmond Town) – Inside The Bus / Camp,
Various Scenes
05:27
PM
Podíamos
ouvir o som da roda do ônibus passando em cima de pedras. Parecia agora uma
estrada barrosa. Já fazia alguns minutos desde que haviam passado por aquele
acidente em que pudemos acompanhar Kate Smith. A câmera focava em uma imagem
panorâmica do ônibus. A maioria estava adormecida. Alguns até mesmo
conversavam. Outros mexiam em seus celulares. Esta a imagem que podíamos ver. O
acampamento parecia ser bem nas redondezas de Richmond Town. Praticamente já
fora da cidade. Havia demorado horas para chegar até lá. Seria válido que então
valesse a pena e que eles pudessem realmente se divertir.
A
imagem focara em Dani. Adormecida. Demorara alguns segundos até que acordasse.
Marcella também estava dormindo. Ela tinha um sono pesado. Alguns até podiam se
identificar. Dani abriu os olhos lentamente. E então pôde parar para observar a
paisagem. Realmente era uma estrada barrosa. Ao redor, várias e várias árvores.
Estavam praticamente dentro de uma floresta. Dani sorrira empolgada. Até mesmo
chegara a cutucar Marcella para que esta acordasse. Estava cercada pelo pacote
da Pringles e uma lata de refrigerante em seu colo, além de ouvir música. Vimos
o estado dela. Totalmente apagada. Resmungou e virara para o lado. Dani deu de
ombros. Ela realmente queria observar. E ficara ali. Observando pela janela. Até
que o ônibus foi parando. Pouco a pouco. Até que então parecia ter concluído.
Dani olhou tudo pela janela. Era uma casa totalmente feita de madeira. Um
sobrado, poderíamos dizer assim. Grande. Alto. E poderia até mesmo brincar e
dizer que poderia ser mal-assombrado. Quem nunca, não é mesmo? Pouco a pouco
quem estava no mesmo ônibus que ela começava a acordar. Cochichavam entre si.
Se espreguiçavam. Já até mesmo levantavam. Dani cutucara Marcella novamente,
mas não adiantara de nada. Queria mostrar a ela. Tentou mais uma vez. E mais
uma vez. Até que percebera que a única solução era provoca-la, dizendo:
Danielle – Marcella! Siobhan está aqui e vai
roubar o seu Game Boy! – Marcella acordara assustada então.
Marcella – Maldição! Cadê essa vadia?! –
exclamou, totalmente alerta, fazendo com que Danielle risse.
Danielle – Relaxa. Foi só um sonho... –
Marcella também passara a observar pela janela.
Marcella – Nós já chegamos? – parecia
surpresa.
Danielle – Aham... – confirmou.
Marcella – Cara! Foi rápido, hein? – ela
riu, tirando a lata de refrigerante de cima dela e guardando em um lugar
específico na poltrona a sua frente, junto com a embalagem do salgadinho.
Danielle – Claro. Não deu quinze minutos de
viagem e você praticamente morreu... – ela rolou os olhos e Marcella sorriu.
Marcella – Viagens me dão sono. – algumas
pessoas passavam por ela para sair do ônibus.
Danielle – Eu percebi... – ela dera uma leve
risada. – E então... Vamos? – Marcella assentira.
Marcella
esperara com que as pessoas lhe dessem espaço para que pudesse levantar. Não
demorou muito. Levantara-se e aguardara com que Dani fizesse o mesmo. Afinal,
Marcella esteve sentada na poltrona que ficava no corredor. A fila começava a
andar. A ansiedade a aumentar. Normal. Eram todos adolescentes ali apenas
querendo curtir um fim de semana agradável. Nada mais e nada menos do que a
normalidade deles.
...
Alguns
minutos passaram. O motorista ajudava os alunos a pegarem suas malas. Danielle
e Marcella estavam na fila. Não demorara muito para que chegasse sua vez. Dani
agradecera em pegar a delas. Da mesma maneira da última vez. Carregava cada uma
com uma mão. Marcella já teve mais dificuldade. Eram muitas malas. Porém, para
não atrapalhar o fluxo, apenas deixava uma de lado. Dani achava aquilo
engraçado. Até rira. Marcella em si era uma pessoa divertida. Embora muitas de
suas ações não fossem propositais. Ela era apenas daquele jeito.
Dani
então passara a olhar ao seu redor. Eram árvores altas. Verdes. O chão era
coberto por uma camada de terra. Mas não lama. Não manchava o sapato. Havia
algumas folhas caídas também. Pôde observar um grande acúmulo de alunos por
ali. Até mesmo o diretor. Era um homem de prováveis sessenta anos de idade.
Tinha o cabelo um pouco grisalho e grande. Seu nome era Ignacio Flames. Provavelmente
tenha vindo para impedir com que algo errado pudesse acontecer. Apenas
protocolos. Algumas turmas até mesmo já montavam suas barracas. Era uma espécie
de acampamento. O sobrado de madeira era passível de ser utilizada. Porém, não
para dormir. Apenas para fazer as necessidades, cozinhar e até mesmo passar o
tempo por ali. Nada mais do que o necessário. A diversão era no caso de dormir.
Teriam que dormir em cima do chão. Embora a maioria tivesse trago consigo
colchões infláveis. Ninguém queria dormir sobre o chão frio. Era natural.
Dani
olhara para o alto. As folhas tampavam o céu. Mas era possível de que já estava
se escurecendo já que era quase seis da tarde. Ela vira uma casa em cima da
árvore. Sorrira. Aquilo era legal. Marcella trazia suas malas ainda. Até o
momento em que pararam debaixo de uma árvore. Para fazer sombra. Dani a
ajudara. Marcella deitara suas malas e começara as abrir. Era como se estivesse
procurando por algo. Sussurrava algumas coisas. Estava com o fone no ouvido.
Provavelmente estava falando com alguém. Dani até mesmo chegara a olhar para o
seu celular. Estranhara, pois não tinha sinal algum. Talvez Marcella apenas
estivesse dando sorte. Uma hora ou outra isso iria acontecer com ela também.
Fora
o momento em que Dani pôs seus olhos em mais alguém. Clara. A garota que havia
a cumprimentado no ônibus. Não se falaram nada. Clara sequer a percebera. Dani
que a fitava. Por alguns segundos. Até que se distraíra com o som de risadas.
Quando ela fitara, era o mesmo grupo de garotos empurrando, rindo e fazendo
piadas com aquele mesmo menino. Carl. Ela bufara. Aquilo realmente a irritou.
Não conseguiu se segurar quando vira que um deles empurrara Carl tão forte que
ele cambaleou para trás e acabou caindo de bunda. O impacto havia sido forte.
Alguns ao redor riram mais ainda. Ele, obviamente, havia ficado com vergonha.
Marcella observou que Dani havia saído dali. E fora o momento em que a câmera
captou Danielle se aproximando deles, esticando a mão para Carl se levantar.
Ele a fitara. Hesitou. Chegara até a olhar para um deles como se estivesse
pedindo permissão. Dava até mesmo dó de alguém se submeter assim. Dani
insistira. E então, até mesmo falara, no intuito de convencê-lo a aceitar a sua
ajuda:
Danielle – Segura a minha mão... – pediu
sorridente e assim ele fizera, e Dani o ajudara a se levantar.
??? – Qual é, Gillings. Achei que a sua
popularidade te impedisse de ajudar os rejeitados. – disse um dos garotos,
arrancando a risada entre eles.
Danielle – Acho que já está na hora de você
crescer, não concorda, Jonathan? – sorrira ela agora. – Não somente ele. Todos
vocês. – parecia estar dando uma bronca neles. – Qual é, pessoal! – ela
gesticulava. – Nós somos quase adultos. Que tal nos portarmos como tais? –
todos se silenciaram então. – Estamos aqui para nos divertir, não para ferir os
outros. – concluiu, e aquele grupo logo saíra dali, cochichando entre si, e
Dani, sentindo-se vitoriosa, olhara sorridente para Carl. – Está tudo bem com
você? – sorriu, mas ele nada respondera, apenas continuava acanhado. – Eu acho
que nós nos apresentamos, mas eu sou...
Carl – Danielle. – Dani sorrira. –
Danielle Gillings. Eu
conheço você. – respondera ele, e Dani apenas assentira.
Danielle – Sim, isso mesmo... – ela ia
continuar a falar algo, mas fora interrompida por ele.
Carl – Eu sei que aqueles caras são
babacas. Mas eu não preciso que você me defenda. – ele afirmou e Dani agora
retirara o sorriso estampado do rosto. – Não mesmo...
Ele
afastara-se. E logo saíra dali. Infiltrando-se na floresta. Ela ficara até
mesmo sem reação. Olhara para trás e vera Marcella somente observando.
Balançara a cabeça negativamente. Dani gesticulou para ela como se não
entendesse nada. Não estavam uma próxima da outra para que pudessem conversar.
Marcella então gesticulara para ela de volta. Com uma sinalização de que era
para que Dani fosse atrás dele. Dani sorrira. Era uma ótima ideia,
aparentemente.
Dani
então assim fizera. Seguira o mesmo caminho de Carl sob os olhos de Marcella,
que voltava a arrumar suas malas e até mesmo a pegar a barraca. Iria montar
enquanto isso. A câmera focara em Dani. Andava por meio daquela floresta. Não
era perigosa. Via até mesmo pássaros voando de ninho a ninho. Sorria. Gostava
da natureza. Seguia a trilha de barro. Não demorou muito para que pudesse
sentir um cheiro. Um cheiro até mesmo agradável. Água. E quando percebera, já
tinha mais a sua frente, um grande lago. Ela sorrira. Realmente aquilo era
divertido. Logo notara uma gritaria e uma correria passando por ela. Teve até
que desviar. Eram dois garotos sem camisa. Ouvira até mesmo o “tchibum!” que
fizeram quando saltaram no lago. Riu. Parecia divertido. Teria que checar ali mais
tarde.
Resolvera
a andar. Tranquilamente. Passara por alguns galhos, jogando-os para o lado para
não se machucar. Quando enfim saíra da floresta, tivera a vista perfeita do
lago. Era extenso. Ela sorrira. Era realmente uma vista muito bonita. Seus
olhos logo fitaram Carl. Sentado numa ponte, molhando os seus pés. Tinha mais
pessoas ali dentro do lago. Mas ninguém conversava com ele ou se importava em
ir até a ele. Apenas divertiam-se. Dani aproximou-se. Deu alguns passos até
chegar à ponte que soltava alguns ruídos assim que caminhava nelas. Carl havia
notado. Chegara até mesmo a olhar para trás. Mas não dissera mais nada. Dani
logo se sentou perto dele. E sorridente como sempre, apenas comentara:
Danielle – É lindo... Você não acha?
Carl – É... – ele dera um sorriso de
canto. – Muito bonito. – concordou.
Danielle – Você vai entrar também? –
referia-se à agua.
Carl – Eu não sei nadar...
Danielle – Ah isso não é problema! – ela
sorriu. – Eu te ajudo... – Carl a fitara.
Carl – Sério?
Danielle – Claro! – ela afirmou e Carl
sorrira agora, mas logo, ele voltou a desviar o olhar, parecendo incomodado. –
Aconteceu algo?
Carl – Eu... Eu só não estou acostumado
a tanta gentileza. – respondera e Dani pareceu se chatear ao ouvir aquilo.
Danielle – Bem... Se te serve de consolação,
eu também não era acostumada. – Carl voltara a olhar para ela.
Carl – Por quê? – ele franziu o cenho.
Danielle – Eu... – ela suspirou. – Eu sou
gay. – Carl pareceu surpreso agora e Dani até mesmo rira.
Carl – Sério?! – ele olhara para todos
os lados, para se certificar de que ninguém estava os ouvindo, enquanto Dani
apenas sorrira confirmando.
Danielle – Sério...
Carl – E mais alguém sabe?
Danielle – Bem... Tirando minha melhor amiga
e você... – referiu-se à Marcella. – Não. – Carl arregalou os olhos agora,
sentindo-se mais entrosado pela conversa.
Carl – Nossa! – ele estava ainda
surpreso. – Estou... Surpreso. E agradecido. Por saber disso... – Dani sorrira
para ele. – E a sua família?
Danielle – Eles não sabem.
Carl – Por quê? – ele então desviou o
olhar. – Desculpe... Estou sendo intrometido demais...
Danielle – Não se preocupe! – ela o
tranquilizou. – É bom às vezes ter alguém para conversar sobre isso... – Carl
voltara a olhar para ela, se sentindo melhor. – Mas respondendo à sua
questão... – ela suspirou. – Eu não sei muito que dizer sobre isso. Eles apenas
não sabem.
Carl – Eles são preconceituosos?
Danielle – Não! – negara rindo. – Eu acho
que não, pelo menos... – ela sorriu. – O meu irmão. Ele deve saber. Eu o contei
do meu primeiro beijo e compartilhei sobre o quão nojento tinha sido. – ela se
lembrou. – Foi com um menino. – Carl somente a fitava. – Ele deve desconfiar...
Mas nós nunca conversamos sobre isso. – Carl somente a escutava. – E ele não
deve se importar também. E não deveria. O que eu faço a respeito da minha
sexualidade só cabe a mim. – Carl sorrira, como se concordasse.
Carl – A sociedade deveria ser mais
assim, também... – ele desviou o olha, fitando o horizonte e o lago ainda.
Danielle – Você também é... Não é? – Carl
nada respondera, parecendo ficar tímido. – É por isso que aqueles garotos
estavam te maltratando?
Carl – É um dos motivos...
Danielle – Entendo. – ela também voltara a
fitar o lago. – Como eu disse... Eu também não era acostumada com a gentileza.
Eu apenas me bloqueei destes comentários negativos. Desses olhares negativos. E
eles logo deixaram importarem algo para mim.
Carl – Não é como se eu quisesse ser
amigo deles...
Danielle – Bem... – ela sorrira. – Você pode
ser meu amigo, então. – Carl olhara para ela, rindo. – Deus, isso foi tão
quarta série, né? – ambos riram.
Carl – É...
Danielle – O que eu quis dizer é que nós
podemos ser amigos. – Carl sorrira agora. – Você vai gostar da Marcella. – ele
franziu o cenho.
Carl – Ela sabe sobre você?
Danielle – Sabe sim. É a minha melhor
amiga...
Carl – E como ela lida com isso?
Danielle – Do jeito Marcella de ser. – ela
riu. – Você acredita que ela até quer juntar eu com as meninas? – Carl riu. –
Pois é... – Dani assentiu, pensativa. – Marcella meio que vive em um mundo só
dela. Demora, mas você, eventualmente, acaba se acostumando com ela. – Dani
sorriu. – Ela é um amor de pessoa.
Carl – Entendi...
Danielle – Mas então... – ela suspirou. –
Conte-me mais sobre você! – incentivou. – Eu gosto mais de saber sobre meus
amigos... – ambos então sorriram.
O
som da conversa começou a diminuir. Mais pessoas começaram a surgir. Meninas de
biquíni. Meninos de shorts, outros de sunga. Saltavam no lago. Marcella também
logo veio se juntar a eles. Sentou-se próximo a eles. Já estava tarde. Não
queriam ter o risco de adoecerem, portanto, preferiram ficar ali em cima da
ponte. Sentados. Apenas observando. A imagem se afastava. O por do Sol surgido.
A belíssima imagem. Carl e Danielle haviam se identificado. Danielle provou
também que tinha seus segredos. Não eram ruins. Muito pelo contrário. Mas ainda
assim, a sua família não sabia. O que provava que toda aquela imagem de união
era errônea. E que na realidade eles sequer pareciam conhecer um ao outro. O
passeio do acampamento estava somente começando. Tinha muito ainda o que
acontecer. Diversão. Conversas. Risadas. E mais ainda...
Virginia,
EUA (Richmond Town) – Gillings’ Home Scenes
08:40
PM
Já estava de noite. O casamento se aproximava. E Lorraine
encontrava-se na suíte de seu quarto principal. Arrumada. Pronta. Com os olhos
brilhando. Com uma felicidade que exalava. Seu cabelo arrumado. Provavelmente
ela mesma havia feito o penteado. Deixara o liso. Mas não escorrido. Ela havia
feito algo que deixasse ainda mais natural. Era liso, portanto, não precisava
ter que ir ao cabelereiro como mencionado anteriormente. Os brincos caríssimos.
Era lindo. Tinha uma pérola na terminação. Terminava de o ajeitar na orelha
delicadamente para não se machucar. Finalizara. Olhara para as suas mãos. As
unhas pintadas de vermelho. A maquiagem em seu rosto delicada, sem ser nem um
pouco extravagante. O rímel. O delineador. O blush. E até mesmo o batom
avermelhado que combinava perfeitamente com a maçã de seu rosto.
Aproximou-se de seu closet. Fora de frente para
aquele espelho e observou a si mesmo. Vimos o vestido. Era azul marinho. Mas
não tão escuro, mas também não tão claro. Era um tom diferente. Único. Afinal,
era a mãe do noivo e precisava também chamar atenção. Possuía manga comprida,
mas que não pegava totalmente os seus braços. Possuía renda da parte do abdômen
para cima. Os braços também possuíam. A parte debaixo era totalmente lisa. Até
mesmo colocou a mão na cintura. Semicerrou o olho. Fez uma pose diferente para
ter outro ângulo. Suspirou então. Parecia que era assim então que iria para o
casamento. Estava linda sim. Ninguém poderia negar. Mas havia algo em seu
semblante que parecia totalmente errado.
Ouvimos o som de seu salto alto. Era coberto pelo
vestido, claramente. Mas estava ali. Ela voltou para o banheiro novamente. Abriu
algumas gavetas, parecendo procurar por algo. Não demorou muito até que
encontraste. Eram dois potes de comprimidos. Os mesmos que ela havia tomado de
manhã pela faculdade. Ficara-os notando. Parecia incomodada. Odiava ter que se
sentir submetida ou submissa a algo. Odiava se sentir dependente. Durante todo
o tempo de sua vida, clamou por ser uma mulher livre. Uma mulher independente.
Ao contrário do que aqueles comprimidos faziam a se sentir. A câmera focara
neles. Pudemos ver. Eram sim remédios prescritos por médicos. Tinha uma faixa
branca nelas. Depressão. Ansiedade. E
tudo começava a se encaixar cada vez mais. Claramente. Lorraine era uma mulher
depressiva. Ansiosa. E necessitava deles para manter o seu próprio controle. Segredos obscuros... Havia dito Bethany.
E mais uma vez era somente a prova de que ela estava certa. Pegara dois
comprimidos de cada. Não se importava com a quantidade. Não era o necessário,
mas assim iria ser então. E os bebera. Sem água mesmo. Guardara-os de volta no
mesmo lugar então.
Ainda ali próxima da pia, tinha o seu celular.
Parecia aflita. Pegara-o e o fitara por alguns segundos. Havia feito uma
promessa de que não iria se descontrolar. E tentava mantê-la, pelo menos.
Desbloqueara-o e vimos nele uma fotografia de Tiffany. Provavelmente estava
fazendo uma ligação para ela. Ficara com ele por alguns segundos na orelha. E
chamava. E chamava. Mas ninguém atendia. Realizou uma segunda tentativa. Mas
havia falhado novamente. Acalme-se,
Lorraine... Está tudo bem. Tudo ficará bem. Dizia a si mesmo. Sexto
sentido? Mau pressentimento? Bem, era superstição. Mas ela até mesmo chegava a
acreditar. Desistira. Colocara-o de volta na bancada e voltara para o closet. Ainda
tinha alguns detalhes a finalizar.
Parecia investigar algo agora em seus armários
abertos. Procurava por algo. Logo achara sua caixa de joias. Parecia um baú de
tesouros. Assim que o abrira, vimos a organização. Era uma caixa roxa,
aveludada por dentro, com vários buracos onde eram enfiados os anéis. Alguns
brincos pendurados também estavam ali. Ficara os encarando por alguns segundos,
parecendo estar escolhendo algum específico para usar. Não demorara muito.
Logo, retirara um anel. Tinha uma pedra lindíssima. Pequena, mas ainda assim,
linda. Era uma safira. Colocara em seu dedo por fim. Ainda faltava outro
detalhe. Guardou a caixa em seu respectivo lugar e dera um passo para o lado,
pegando outra. Essa era aveludada por dentro e por fora, mas era menor. Era
preta. A abrira em seguida e vimos um colar. Com várias pedras o enfeitando.
Ela sorriu ao vê-lo. Parecia lhe lembrar de bons tempos. O pegara delicadamente
e guardara a caixa também.
Voltara a se aproximar do espelho numa tentativa de
coloca-lo sozinho. Apenas o segurou no pescoço para que pudesse observar se
realmente iria combinar. Ficou ainda mais linda. Ela suspirou. A preocupação
com Tiffany ainda parecia a atingir. Tentara colocar o colar sozinho, mas
parecia complicado. Ficara ainda mais frustrada após algumas tentativas. Fora
então, quando pelo reflexo, vira alguém se aproximando. Ela sorrira. Era Simon,
que havia acabado de chegar. Já estava trocado e pronto. Não era o mesmo terno
que havia ido para o serviço. Podíamos notar que era um diferente. A gravata. A
camisa social por debaixo. E até mesmo um pano branco dentro do bolso do
paletó. Ele se aproximara ainda mais de Lorraine, pegando o colar das mãos dela
e a ajudando, que comentara:
Lorraine – Você demorou... – observou. –
Onde esteve? – Simon ajustava o colar para ela, não demorando para enfim
coloca-lo em torno de seu pescoço.
Simon – Eu passei numa loja para comprar
o terno. E acabei me trocando por lá... – Lorraine virara-se para ele então,
colocando seus braços em torno do pescoço dele, sorrindo.
Lorraine – É mesmo? Mas você tem tantos
ternos bonitos aqui em casa...
Simon – Eu sei. Quis comprar outro,
apenas... – ele sorriu também.
Lorraine – E o serviço, como foi?
Simon – Foi ótimo. Vários projetos
fechados. Teremos um bom fim de ano...
Lorraine – Fico feliz... – ela, então, dera
um selinho nele, desvencilhando-se em seguida e voltando a se encarar no
espelho.
Simon – E o seu?
Lorraine – Foi ótimo também. – Simon sorriu.
Simon – Então hoje foi um belo dia... –
Lorraine sorrira novamente.
Lorraine – É. Hoje foi um belo dia. –
concordou. – Você realmente acha que está tudo bom aqui? – parecia em dúvida. –
Tenho outros vestidos. Posso trocar...
Simon – Você está linda, meu amor... –
Lorraine sorriu com o elogio.
Lorraine – Obrigada. Você também está. –
retribuiu, dando um beijo mais demorado nele, finalizando com dois selinhos
nele.
Simon – Inclusive, eu tenho uma surpresa
para você. – Lorraine sorrira novamente, franzindo o cenho.
Lorraine – Uma surpresa? – Simon assentira,
cruzando os braços.
Simon – É. – assentiu. – Vá até o quarto.
– pedira e Lorraine continuava a sorrir.
Ela então assim fizera. Saíra do
closet, passando pela suíte e logo chegara ao seu quarto. Simon viera logo
atrás. Lorraine então deparou-se com um grande e lindo buque de rosas em cima
de sua cama. Duas caixas pretas. De veludo. Tal como Lorraine já tinha nos
mostrado anteriormente, indicando que provavelmente também tivesse joias ali.
Lorraine sorriu de orelha a orelha. Fora até uma das caixas e a abrira. De
fato, era um colar. Lindo. Belíssimo. Com pedras pequenas. Eram diamantes.
Lorraine parecia totalmente encantada com tudo aquilo, e já até mesmo
emocionada, prestes a chorar, sorrira de felicidade:
Lorraine
– Você não foi
só comprar o seu terno... – estava realmente emocionada. – Você foi me
presentear... – ela, então, fora até a ele. – Mas hoje não é o meu dia,
querido... – Simon sorriu também.
Simon
– E é aí que
você se engana, querida... – ele dera um sorriso de canto. – Todos os dias é o
seu dia. – Lorraine sorrira com a declaração. – Eu te amo... – Lorraine o
abraçara agora.
Lorraine
– Eu te amo
também! – disse, com bastante entonação. – Tudo é muito lindo. Eu não sei do
que seria da minha vida se eu não tivesse você... – ele então pegara nas mãos
dela. – Não teríamos essa vida maravilhosa... Não teríamos esses filhos maravilhosos...
– Simon somente a ouvia, embora, algo parecesse errado com ele, era como se um
sentimento de culpa o dominasse completamente. – Você me completa... – Simon
apenas sorrira novamente, e eles tornaram a se abraçar, enquanto Lorraine fora
ver a outra caixa de joias. – Vou pedir para Beth pegar e colocar num vaso
depois. – Simon nada dissera sobre isso.
Simon
– E as meninas?
Dani mandou alguma coisa para você?
Lorraine
– Mandou sim.
Fotos do lugar. Fotos com a Marcella. – ela sorriu. – Ela está se divertindo,
pelo menos... – parecia ter agradado Simon isso.
Simon
– E Tiffany?
Lorraine
– Este é
justamente o problema. – ela suspirou. – Ela não chegou ainda...
Simon
– Ela está fora
de casa desde a hora que foi para a escola? – Lorraine assentiu. – E você não
me contou? – parecia não ter gostado disso, embora se mantivesse
Lorraine
– Eu prometi a
Thomas de que deixaria ela ter um tempo para ela. – Simon suspirou.
Simon
– Você tentou
ligar para ela?
Lorraine
– Tentei, mas...
Ela não me atende. – lamentou e Simon suspirou, preocupando-se também.
Simon
– Chamamos a
polícia, então? – dera a ideia.
Lorraine
– Não! – negara.
– Não... – insistira, aproximando-se de Simon. – Vamos dar a ela mais alguns
minutos. – Simon somente a escutava. – Por favor... – insistira e Simon nada
dizia ainda. – Caso ela não chegue, procuramos a polícia. – Simon então
assentira positivamente, enquanto Lorraine sentiu-se mais tranquila, embora
avisar os policiais não fosse uma má ideia na realidade.
O som de gritos. O som do nome de
Tiffany sendo chamado. Era uma voz feminina. Lorraine e Simon se entreolharam.
Ele, por não estar de vestido e de salto, fora na frente. Mais rápido. Descera
as escadas. Lorraine apressou os passos também, embora não pudesse correr
tanto. Para facilitar, tirara o salto ali mesmo. Depois o calçaria. Saíra de
seu quarto, entrando no corredor. Fora para a direita então, vendo logo as
escadas mais adiante. Descera. E então, vira a imagem de Bethany ali. Também já
pronta para o casamento. Muito bonita, inclusive, com um vestido liso, sem
bordado ou muitos detalhes, simples até mesmo, dourado. O cabelo cacheado
indicava ainda mais o seu estilo.
Lorraine apressou-se em ir até a
sua filha. Apavorou-se ali mesmo. Simon tentava conversar com ela pois já
estava próximo de sua filha. Lorraine descera os degraus. Quase tropeçara. A
feição e o semblante de desespero. Tiffany estava péssima. Um olhar vago. As
roupas sujas e imundas. O cabelo desajeitado. A expressão facial de alguém que
tinha chorado bastante. Bastante mesmo. Lorraine logo chegara até a ela. Simon
afastou-se. Também passara logo a observar. Bethany pareceu ir até a cozinha, e
buscar algo para acalmar. Quem? Ela não sabia. Trazeria o máximo que pudesse,
seja para Lorraine, quanto para Tiffany. Estavam ali. De frente à porta da
residência. E fora quando Lorraine dissera, com o som de uma voz de claro
desespero:
Lorraine
– Filha! Filha!
– ela pegava em seus braços, a abraçando, embora Tiffany não correspondesse em
nada. – Você chegou... – ela sorria, embora pelo estado físico que Tiffany
estava, somente tendia a esperar pelo pior. – Você está bem?! – ela se
desvencilhou, agachando-se próximo dela, enquanto Tiffany continuava a fitar o
vago. – Por que você não atendia o seu celular? – Bethany chegara com dois copos
d’agua, enquanto Simon somente observava, paralisado até mesmo, notando que
algo estava errado. – Responda a mamãe, querida... – pedira a ela,
delicadamente. – Onde você esteve? Você está bem? Está machucada? Com quem você
saiu? – fez várias perguntas, mas nenhuma era respondida.
Simon
– Responda a sua
mãe, Tiffany. – pedira sério, embora parecesse estar se irritando então,
enquanto Bethany continuava ali, e fora o momento em que viram um sorriso
brotar no rosto de Tiffany, desmanchando-se em uma gargalhada até mesmo
debochada.
Lorraine
– O quê é isso?!
– ela se afastou. – Por que você está rindo?
Simon
– Tiffany!
Tiffany
– Vocês deveriam
olhar para a cara de vocês neste momento... – ela sorrira ainda. – Como se
realmente se importassem comigo... – Lorraine parecia inconformada. – Estou
surpresa de que não temos policiais envolvidos ainda... – ela, então, parecia
estar seguindo o seu caminho, prestes a subir as escadas, quando Lorraine a
segurara pelo braço.
Lorraine
– Onde você está
indo?! – questionara, em fúrias.
Tiffany
– Solte o meu
braço! Você está me machucando! – queixou-se.
Lorraine
– O-O que... O
que é isso?! – ela começara a cheirar as diversas partes de Tiffany, desde o
cabelo até mesmo a roupa. – Esse cheiro... Esse cheiro impregnado. – ela ria
agora de nervosismo. – Você só pode está brincando comigo, Tiffany! – rangiu os
dentes neste momento.
Tiffany
– Vamos lá,
mamãe... Não seja hipócrita. Você também já deu uma fumada às vezes... – e
neste momento, Lorraine levantara a mão para agredi-la, mas Simon a impedira,
pois se isto acontecesse, tudo aquilo realmente iria para outro nível e
dimensão.
Simon
– Acalme-se,
querida... – Lorraine já estava com seus olhos marejados, numa mistura de
nervoso, tristeza e preocupação.
Lorraine
– Onde estão as
suas coisas? Cadê a sua mochila?! – Tiffany agora sorrira. – Onde está o seu
celular?
Tiffany
– Não sei... –
debochava. – Por aí. – riu novamente, demonstrando que estava totalmente fora
de si, o que indicava que a droga havia tomado conta dela. – Talvez um grupo de
trombadinhas tenha me abordado. E me roubado. Sei lá... – Lorraine estava
totalmente perplexa com o que estava acontecendo.
Lorraine
– Mas... Mas o
que está acontecendo com você? – ela soltou pouco a pouco o braço de sua filha,
enquanto Bethany parecia totalmente agoniada em assistir aquela cena, e Simon
permanecia sem querer se envolver naquilo.
Tiffany
– Adivinha só...
– ela sorriu novamente. – Eu oficialmente aceitei que faço parte da família
Gillings. – ela, então, se virou novamente.
Lorraine
– Onde você
pensa que está indo?! – ela a puxara pelo braço novamente. – Você tem o
casamento para ir a poucos minutos e está fedendo a cigarro! – Simon até mesmo
tentara intervir, mas quando notara, Lorraine começava a puxá-la e a arrastá-la
pelas escadas, sem se importar com o seu vestido ou como estava bem arrumada
neste momento. – Você está fedendo a cigarro, Tiffany!
Os gritos. O desespero. Tiffany
tentando se desvencilhar. A força que até mesmo Lorraine usava. Usufruia.
Afinal... Tiffany mal conseguia aguentar com o seu corpo. Simon e Bethany se
entreolharam. A última, totalmente, sem ação. Apenas afastou-se. Com os copos
d’agua em mãos. Não queria saber o que iria acontecer logo em seguida. Simon,
no entanto, preferiu seguir. Gostaria de evitar tragédias. Era o máximo que ele
conseguiria então.
...
Lorraine estava ali. Entrava em
seu quarto. Com dificuldades, pois Tiffany parecia uma verdadeira criança,
agarrando-se em tudo o que via em sua frente para tentar impedi-la. Mas não
parecia ser o suficiente. A xingava. Tentava bater em sua mão. Lorraine estava
séria. Estava totalmente já bagunçada. Já soada. E o casamento era em uma hora.
Sabia que tinha tido um mau pressentimento. Era o seu sexto sentido. Agindo
cada vez mais.
Adentraram na suíte. Simon viera
logo atrás. Fique aí! Ordenara ela. Simon
nada dissera. Apenas obedecera. Caso contrário, poderia até mesmo sobrar para
ele. A câmera acompanhou Lorraine e Tiffany ali. Lorraine trancou a porta e
tirara a chave. Abrira o chuveiro. Tiffany não tinha mais para aonde correr. Somente
gritava. Esperneava. E gritava novamente. Lorraine aproximava-se dela. Era
unhada. Arranhada. E agredida. Mas tentava se manter totalmente firme e forte. Aquela
não era a sua filha. E ela acreditava fielmente nisso. Tirara a blusa dela. Com
dificuldade, os shorts. Deixara-a de calcinha e sutiã. Vimos Tiffany de costas.
Seu sutiã sendo retirado. A calcinha logo em seguida. Os gritos de “Eu te odeio! Eu te odeio, mãe!” eram
nítidos e altos. Tiffany cobrira os seios com os braços. Lorraine a arrastara
para o boxe. E a enfiara no chuveiro. Entrara também. Não se incomodaria de dar
banho nela ela mesma. O seu visual? Estrago. Um belo dia? Não. Arruinado, isso
sim. Mas ainda assim, tentava curá-la. Tiffany estava ali. Em prantos. Com as
lágrimas escorrendo. Com uma dor inigualável. Mas Lorraine se manteve forte. Firme
e forte.
...
Os minutos se passaram. Simon
fora visto. Sentado na beirada da cama. Esta, que já não tinha mais o buquê ou
a caixa de joias. Provavelmente havia pedido para Bethany retirar. A porta se
abrira. O estado de Lorraine era até mesmo lamentável. O cabelo bagunçado. O
vestido sujo na barra e molhado. Tiffany enrolada numa toalha. E sem falar na
humilhação que passara. Em ter que dar banho em uma adolescente. Como se fosse
uma mera criança. Lorraine tentara pegar no braço de Tiffany, que se
desvencilhara já aos berros. Simon se levantara. E mais uma vez, toda aquela
guerra começaria:
Tiffany
– Tire suas mãos
de mim! – gritou novamente, recuando para trás e Lorraine, tentando ainda se
manter paciente, tentara novamente, e fora o momento em que ela empurrara
Lorraine, que acabara cambaleando para trás e batendo as costas na parede,
enquanto Simon pareceu ter se desesperado e fora ajuda-la. – Eu disse para tirar
as suas mãos de mim! – gritou novamente, ainda com a toalha cobrindo o seu
corpo, enquanto Simon ajudava Lorraine a se levantar, que estava totalmente
perplexa com o que havia acontecido.
Lorraine
– O que foi
isso? – ela perguntou e Tiffany somente a fitava, totalmente estática. – Você
vai me bater agora? – Lorraine chegara até a rir, enquanto Simon se afastou.
Simon
– Lorraine... –
ele tentara chama-la mais uma vez, para acalmá-la.
Lorraine
– Você vai me
bater?! – ela questionara aos gritos agora, com os olhos marejados, totalmente
furiosa e até mesmo fora de si, e fora o momento em que vira um cinto,
provavelmente de alguma calça de Simon, pendurado na poltrona próxima a ela. –
Pare de agir igual uma criança mimada, Tiffany! – ela dobrara o cinto, enquanto
Tiffany apenas fitava aquilo.
Simon
– Lorraine... Não
perca a cabeça... – pedira mais uma vez.
Tiffany
– Mãe... – ela
assustara-se. – O-O... O que você vai fazer? – perguntou, agora aflita. – Eu
pedi para você tirar suas mãos de mim... – agora falava em um tom mais
pacífico.
Lorraine
– Eu estou
exausta. – ela balançara a cabeça negativamente. – Eu estou exausta da maneira
como você age. Da maneira como você me trata. Da maneira como você trata todos
ao seu redor... – falava, num tom até mesmo de choro. – Eu prometi que teria
paciência. Eu prometi que lhe daria uma chance... – ela começou a se aproximar
com o cinto em mãos, e Tiffany ia recuando, até que chegara um momento em que
ela não tinha mais para onde correr, pois acabara chegando à cama. – Mas eu estou
exausta, Tiffany... – afirmara, totalmente confusa. – De suas malcriações. Do
seu jeito... – Tiffany balançava a cabeça negativamente. – Eu nunca fiquei tão
decepcionada com alguém igual fiquei com você no dia de hoje, Tiffany... – ela
forçava o cinto em suas mãos. – Você não é mais uma criança. – rangiu os dentes
agora. – E você não vai se sobressair em cima de mim! – bradou.
Lorraine avançara. Simon ficara
para trás. As cintadas. O barulho. O estalo. Tiffany de toalha. Sem sequer a
proteção da roupa. Você vai me bater,
Tiffany? Você vai me bater? Gritava Lorraine. Totalmente perdida.
Totalmente complicada. Tiffany gritava. Chorava. Clamava pela ajuda de seu pai.
Clamava para com que sua mãe parasse de fazer isso com ela. Mas ela havia
procurado. Tudo isso era apenas consequências de seus atos. E Simon sabia
disso. E já não podia fazer mais nada. Porque sabia que embora fosse doloroso,
também era para Lorraine. Ela nunca havia feito isso com nenhum de seus filhos.
Mas Tiffany extrapolara. E agora ela teria que aguentar isso.
...
Havia passado alguns minutos
novamente. Então. Lorraine estava exausta. Ofegante. O som dos estalos ainda
era eminente. Mas pouco a pouco ia parando. Já não tinha mais forças para
continuar a surra que havia dado em Tiffany. Esta? Com o rosto molhado. Com a
perna avermelhada. Com o corpo avermelhado. A toalha protegera o resto. Mas
ainda assim... Eram marcas que não sairiam facilmente. Havia sido agredida.
Agredida pela sua própria mãe. Simon, então, enfim aproximara-se de Lorraine.
Esta recuara. Dera mais uma cintada. Simon esticou a mão e abaixara a dela.
Pegara o cinto com a sua outra mão vaga. Ele tentava a tranquilizar. Lorraine
permanecia ali. Com a respiração ofegante. Olhando para Tiffany, que estava
totalmente acanhada em um canto. Simon, então, disse:
Simon
– Acalme-se,
Lorraine... – ele fora abaixando a mão dela ainda mais, pegando nela e a
segurando firmemente. – Acalme-se...
Lorraine
– Que-Que
horas... Que horas são? – questionou e Simon olhara para o relógio despertador
na cabeceira próxima de sua cama.
Simon
– Nós temos uma
hora. Ou mais. Thomas não irá começar sem nós... – Lorraine nada mais dissera,
permanecendo uma mulher ali sem emoção.
Lorraine
– Eu... Eu vou
trocar de vestido. Me arrumar. Arrumar o cabelo. Tirar essas joias... – ela
dizia, ainda ofegante. – Leve-a para o quarto dela e a ajude a se trocar com o
vestido.
Simon
– Lorraine...
Lorraine
– Não, Simon. –
negara então. – Ela vai para o casamento. – afirmou decidida. – Ela já arruinou
a minha noite. Eu não irei permitir com que ela faça o mesmo com o seu irmão...
Lorraine desvencilhou-se de
Simon. Ele a observou. Logo, ela fechara as portas da suíte. Ele então sem ter
como questionar a ordem dela, apenas acatara. Tiffany gemia às vezes. Simon a
pegara no colo e logo saíra do quarto. A câmera voltara a focar em Lorraine.
Estava lá. De frente ao espelho do banheiro. E logo... Desabrochou-se em
lágrimas. Chorando compulsivamente. Como se já não houvesse amanhã. Ver a filha
drogada. Ter que agir com violência. Toda essa índole era muito diferente do
que Lorraine havia pregado até então. Mas, era como se ela não tivesse escolha.
E ela sabia disso. Talvez até mesmo fosse para o próprio bem de sua filha.
Teria que fingir. Fingir no casamento de que tudo está bem. E de que tudo
ficaria bem. Pouco a pouco a imagem de uma família feliz e sem problemas ia
desmoronando. Começara com Simon que havia a traído. E ela sequer imaginava.
Tiffany demonstrando ser alguém difícil de lidar. Drogando-se. Lorraine com
remédios de depressão e ansiedade. Thomas com um acidente que havia cometido
ainda misterioso. Será que de alguma forma Danielle poderia escapar disso? Era
praticamente uma maldição. A família inteira estava totalmente amaldiçoada.
Virginia, EUA (Richmond Town) – Camp, Various Scenes
09:00 PM
Estávamos dentro da cabana que Marcella havia
montado. Sozinha. E ainda havia boatos de que era folgada. Boatos negados, não
é mesmo? Víamos o seu interior. Havia uma lamparina com o fogo aceso iluminando
por ali. Marcella e Carl estavam lá. Ela estava de pernas cruzadas na posição
de índio. E ele se apoiava nos seus próprios joelhos. Quem diria que eles se
dariam tão bem? Tinha até mesmo o outro colchonete para ele poder dormir ali
com elas. Era pequeno. Mas como Carl não era alto e grande, caberia ali. Até
mesmo Dani poderia se surpreender. Esta, que por sinal, não se encontrava ali.
Talvez até mesmo nem ela esperava por isso. Mas Marcella sabia fazer amigos
fáceis. Ela era uma pessoa agradável. Bem... Pelo menos a maioria achava isso.
Não tinha muitas coisas ali. Somente os colchões cobertos por lençóis brancos.
As malas espremidas num canto. E o chão que era possível de se ver. Ambos
tiravam fotos. Riam. E tiravam mais fotos. Marcella realmente havia achado alguém
que gostava tanto de poses quanto ela. E era até mesmo agradável:
Marcella – Pronto! – ela sorriu. – Estamos
lindos. Nós somos lindos, fala sério... – ela olhava para a foto que tirara com
o seu celular. – Olha isso! – a câmera focava nas fotos que haviam tirado,
vendo várias e várias poses de ambos. – Victoria Secret não sabe o que está
perdendo. – Carl rira disso. – Eu sempre quis ter um amigo gay. – ela afirmou e
Carl franziu o cenho.
Carl – Você tem uma amiga gay... –
Marcella ficara pensativa então.
Marcella – É... É verdade. – Carl riu
novamente. – Maldição! – ela bufou. – Eu nunca tinha parado para pensar sobre
esse lado. – disse, honesta. – Mas, Dani é diferente. Ela não gosta de fotos. –
fez bico. – Você já é mais...
Carl – Agitado? – Marcella assentiu
sorrindo.
Marcella – Isso! Agitado! – concordou. – Nós
somos almas gêmeas. – Carl riu novamente.
Carl – Eu já te mostrei a minha coleção
dos discos da Christina Aguilera?
Marcella – Mentira! – ela parecia perplexa.
– Você gosta da Christina Aguilera?
Carl – Eu amo ela! – Marcella então
gritara totalmente entusiasmada.
Marcella – Deus se você não fosse tão gay eu
beijaria você agora mesmo! – Carl gargalhara disso. – Mas você não tem aquela
mixtape horrorosa né?
Carl – Não. Esse disco aí nem o diabo
quer. – Marcella parecia ter gostado do que havia ouvido.
Marcella – É justamente isso que eu fico
dizendo para Dani, mas ela não me entende. Ela ainda diz que há algumas músicas
que podem ser salvas. – ela rolou os olhos. – Elastic Love. All I Need. I Am. –
ela colocou o dedo na garganta, para brincar de que estava fingindo nojo
daquilo. – Nojento...
Carl – Eu não concordo. Acho horrível.
Marcella – Exatamente! – exclamou. – Se dar
descarga no álbum ninguém vai saber se é um cocô ou não. Pode estar até escorrendo
pela parede. – Carl riu disso. – Mas você é fã do Back To Basics, né?
Carl – Claro. Melhor álbum do mundo. –
Marcella sorriu.
Marcella – Eu amo tanto você... – seus olhos
chegavam até a brilhar.
Carl – Eu sei, eu sei. – brincou se
gabando. – Espere aqui. Eu vou lá buscar...
Marcella – Está bem! – ela sorriu.
Carl engatinhara puxando o pano para sair da cabana.
Logo vimos um sorriso estampado no rosto dele. Estava de noite, o que era
óbvio, já que eram mais de nove horas da noite. Ele ficara ali. Parado por um
tempo. Nunca tinha se identificado com alguém em tão pouco tempo. Era bom se
sentir querido. Era bom se sentir notado. Era bom simplesmente ter amigos. E
até mesmo se culpava em pensar de que esta viagem seria péssima. Muito pelo
contrário. Somente pelo fato de já ter conhecido Dani e Marcella já tinha
valido todo o tempo de sua vida.
Podíamos ouvir os sons da cigarra. Combinava com
aquele clima de floresta. Ouvíamos também um som vindo daquele sobrado de
madeira. Talvez a maioria estivesse reunida lá para se divertir e jogar papo
fora. Mas Carl preferia ficar somente na companhia de Marcella, pois como a
própria Dani havia dito, uma vez que você a entende, você totalmente se encanta
por ela. Carl andara em direção a uma cabana. Provavelmente a que ele havia
montado para dormir sozinho. Mas acabou se surpreendendo com a chegada de um
grupo de garotos. Seguravam garrafas de cerveja. A maioria já bêbada. Alguns
sem camisa e molhado. Provavelmente havia acabado de sair do lago somente
agora. Carl tentara ignorá-los, somente abaixando a cabeça. Mas fora o momento
em que Jonathan, aquele que Dani havia desafiado, aparentemente, havia o
percebido:
Jonathan – Olhe só quem nós temos aqui... –
os outros garotos se colocaram na frente de Carl, que agora olhava para todos
ao seu redor, tentando sair, mas sendo impedindo. – Se não é o protegido da
querida Gillings... Por onde anda ela, aliás? – ele sorriu, dando um gole em
sua cerveja logo em seguida.
Carl – Deixe-me passar... – ele evitava
contato visual.
Jonathan – Seja mais divertido, Carl! – ele
evitava falar muito alto, para não chamar atenção.
Carl – Eu só quero ir até a minha
cabana. Pegar algumas coisas. Não quero incomodar ninguém...
Jonathan – Ah, nós acreditamos nisso. – ele
sorrira maliciosamente. – Nós na realidade gostaríamos que você andasse mais
conosco, Carl. Você é um cara legal! – exclamou, aproximando-se dele, se
fazendo de íntimo ao colocar seu braço ao redor do pescoço dele. – Vocês não
acham, galera? – eles falavam entre si, concordando sobre isso.
Carl – E-Eu...
Jonathan – Vamos lá, Carl... – ele sorrira.
– Você já foi visitar o lago? – questionou.
Carl – E-Eu... – parecia ter dificuldade
em se expressar, ainda mais por se tratar de ser bastante tímido.
Jonathan – Ótimo. – ele sorriu novamente. –
Vamos até o lago então.
Jonathan andava com o Carl. Praticamente o
abraçando. Tratando-o como se fosse do grupo. Mas era claro que não passava
somente de mais zoação. Carl encontrou-se contra a parede. Ele não tinha muita
opção. Logo, o restante viera mais atrás. E então eles sumiram. Ali dentro
daquela própria floresta. Marcella? Parecia distraída. A câmera focara agora
nela dentro de sua cabana. Tentava arranjar sinal com o seu celular, mas
parecia frustrada. Como mencionado, ela apenas deve ter tido sorte ao conseguir
da primeira vez. Mal havia notado a conversa do lado de fora. E aquilo
aparentemente não era bom. Eles estavam indo para o lago. E como estavam
bêbados... Isso não poderia ser bom.
–
Estavam todos reunidos no sobrado de madeira.
Pudemos ver a decoração. Tudo, absolutamente tudo, ali era feito de madeira. Da
parede até o chão. Parecia uma casa mal assombrada como já comentado
anteriormente. Ou até mesmo um sobrado de algum caçador, visando que tinha
algumas cabeças de animais mortos pendurados na parede como objeto de
decoração. Ali não tinha grande coisa. A grande maioria estava reunida na sala
e não tinha muito que se comentar sobre isso. Apenas tinha três sofás grandes e
espaçosos. Dani estava sentada no encosto de um deles sorrindo com o que estava
acontecendo. Rindo, até mesmo. Tratava-se de um jogo de mímica. Era sobre temas
aleatórios. Até o diretor brincava também. Dani dava bastante gargalhadas. Era
bom para espairecer. Conhecer estudantes de outras salas diferentes. Habitar
lugares diferentes. Parecia monótona a rotina que Dani sofria dentro de sua
casa. Não era como se ela tivesse muita escolha. Mas ainda assim... Parecia
antenada no que acontecia com a sua família. Vimos em seu celular. Parecia
estar tentando enviar mensagens para Lorraine com quem já havia conversado.
Porém, a última vez que havia tido contato com ela havia sido dentro do ônibus.
E provavelmente não era boa coisa, afinal, Lorraine havia sido bem especifica
sobre mandar notícias o tempo inteiro. Dani suspirou. Tentaria então dar uma
ligação.
Levantara-se de seu encosto e tentara achar um local
mais privado para dar uma ligação. Seguira, cruzando alguns corredores. Tentara
achar. Logo chegara à cozinha. Com o celular em mãos, sequer olhava no que estava
mais na sua frente. A cozinha parecia vazia. Fechara a porta por trás e todo o
som da bagunça se abafou. Aproximara-se do filtro d’água e pegara um copo para
si. Dera um gole. Mas não conseguia completar a ligação. Bufou. Apoiou-se na
pia e tentou mais uma vez. Fitava o chão. Parecia aérea. Quando o som da
conversa do lado de fora aumentou drasticamente e logo voltara a se abafar,
pôde-se prever de que a porta havia sido aberta e fechada. Era Clara. A garota
com que Dani já havia olhado. E até mesmo trocado alguns olhares. Clara, então,
disse:
Clara – Desculpe... Eu não vi que você
estava aqui. – ela sorriu, envergonhada.
Danielle – Não se preocupe. – ela a
tranquilizou. – Não estou conseguindo ligar.
Clara – É... O sinal daqui é péssimo. –
concordou. – Estou tentando há horas falar com a minha mãe. Não só eu... Minhas
amigas não estão conseguindo também.
Danielle – Já vi que isso será um
problema... – ela rolou os olhos, afastando-se da pia. – A minha mãe não é o
tipo de mãe que aceita falta de notícias. – Clara sorriu agora.
Clara – É... Eu me lembro dela. – Dani
então desviara o olhar, parecendo ter ficado um pouco afetada com aquele
assunto. – Como ela está?
Danielle – Ela está bem...
Clara – E a sua família?
Danielle – Também.
Clara – Thommy vai casar hoje, não é? –
Dani sorrira, assentindo.
Danielle – Vai sim...
Clara – Sinto falta dele. – ela sorriu. –
Ele é um cara legal. – Danielle nada respondera. – Eu vi o que você fez hoje
para defender o Carl... – Dani somente a escutava. – Foi um belo gesto. – elogiou.
Danielle – Alguém precisava parar aqueles
idiotas... – Clara riu então e Dani fizera o mesmo.
Clara – Se isso acontecesse há alguns
anos, você não teria feito nada. – dizia como se a conhecesse de muito tempo
atrás.
Danielle – É. Provavelmente. – pareceu
concordar. – Acho que eu mudei... – Clara sorriu.
Clara – Nós todos mudamos. – resumiu
tudo. – Para o melhor... Eu espero.
Danielle – Eu também... – murmurou. –
Então... Bem... – ela forçara um bocejo, como uma tentativa de escapar daquela
situação até mesmo constrangedora. – Estou com sono... – Claire sorriu. – Então
acho que já vou indo... – ela, então, passara por Clara, indo até a porta,
próxima de sair para voltar à sala e possivelmente à sua barraca, quando ouvira
o seu nome sendo chamado.
Clara – Dani... – Dani paralisara neste
momento, como se o seu coração quisesse sair da boca, pois há muito tempo não
ouvia aquela voz lhe chamando deste jeito carinhoso, e Dani então se virara
para ela, com um leve sorriso estampado no rosto. – Você me parece bem... –
comentou, sorrindo. – Fico feliz de vê-la bem... – afirmou. – Marcella ainda
está por aí?
Danielle – Marcella está sendo Marcella... –
ambas sorriram ao ouvir isso.
Clara – Fico feliz. Pelo menos sei que ao
lado dela você não irá se machucar. – Dani desviara o olhar neste momento. –
Foi bom te ver novamente...
Danielle – É... – ela concordou. – Foi bom
te ver também. – ela sorriu.
Dani
abrira a porta. E logo saíra. A câmera filmara a reação de ambas. Clara apenas
dera um leve sorriso. Pegara água. E ficara ali por mais alguns segundos.
Pensativa. Dani, por outro lado, realmente parecia ter se conectado muito com
algo que já havia tentado esquecer. Sequer parara para entrar na brincadeira
novamente. Até fora chamada. Mas cruzou os corredores, a sala e logo saíra
daquele sobrado. Tudo o que ela queria era ficar em paz. Pelo menos agora. O
que provava aquilo que já podíamos perceber. Clara e Dani tinha uma história.
Será que tinha a ver com o fato de Dani ser lésbica? Talvez. Apenas o que
podíamos fazer era aguardar o resto da história então.
–
Marcella
estava em sua cabana. Ainda. Com o celular em mãos. Tentando fazer ligação,
mandar mensagens ou até conectar na Internet. Mas tudo parecia falhar. Fora o
momento em que caíra para trás, bufando de raiva por ter fracassado em suas
tentativas. O celular em cima de seu corpo. E o susto que levara ao ver alguém
surgindo repentinamente na cabana. Com uma expressão de alguém que estava
prestes a chorar. Era Dani. Até mesmo de bico. Marcella notara. E tratara de
comentar logo:
Marcella – Ai que susto! – reclamara. – O
quê aconteceu? – notara como ela parecia chateada.
Danielle – N-Nada... – ela até virara o rosto
para limpar uma lágrima, evitando Marcella de ver. – Onde está Carl?
Marcella – Não sei. Ele sumiu. Disse que ia
pegar a discografia dele para eu ver e não voltou até agora. – Dani estava até
de nariz entupido. – Danielle! – chamara a atenção dela. – O quê aconteceu? –
perguntou mais uma vez.
Danielle – Eu... Eu encontrei com a Clara. –
voltara a fitar Marcella agora, parecendo envergonhada e não querendo falar
muito também sobre este assunto. – E... Nós conversamos.
Marcella – Conversaram? Como assim vocês
conversaram? – parecia ter ficado agitada sobre esse assunto também. – Vocês
conversam? Desde quando? E aliás o que ela está fazendo aqui?! – parecia
inconformada. – O que ela falou para você?! – já estava criando caos, sendo que
nem havia sido algo tão grave assim. – Posso ir até lá e bater nela? – Dani
sorrira então. – Eu já mencionei que a família Butler sabe lutar, não? – Dani
assentira. – Ótimas aulas de luta na Inglaterra, querida. – Dani rira então.
Danielle – Relaxa... – a tranquilizou. – Não
foi nada demais. – Marcella pareceu ter abaixado a guarda então. – Nós só
conversamos. E... Eu não me senti bem com isso. Porque ela é extremamente
agradável...
Marcella – Ah, querida... – ela, então,
engatinhara para ficar ao lado de Dani. – A proposta de eu ir lá e acabar com a
raça dela ainda está de pé. – Dani sorriu. – Eu sei que é complicado. Porque
você ainda gosta dela...
Danielle – É... – ela suspirou. – Eu acho
que isso ainda é o pior de tudo. – ela bufou.
Marcella – Hum... – ela bufou. – Eu ainda não
estou muito feliz com essa história não. – ela gesticulou. – Essa daí não tinha
nem que estar aqui, linda. – Danielle gargalhou.
Danielle – Eu vou ficar bem... Prometo. –
ela sorriu. – Desde que você não vá lá e faça barraco.
Marcella – É mesmo? – ela lamuriou. –
Poxa... – Dani riu novamente. – Eu já estava pensando em facas, algemas e
crossbow. – Dani gargalhara. – Não acha que é uma linda combinação?
Danielle – É sim... – ela concordou. – Não
sei do que seria a minha vida se não fosse você... – Dani abraçara Marcella,
então.
Marcella – Eu sei, amor. Eu sei. – ela rolou
os olhos, brincando.
Danielle – Convencida! – ela se desvencilhou
aos risos. – Você é a pior! – esbravejou. – Besta... – reclamou.
As
risadas. A amizade. O abraço por fim. O som foi diminuindo da conversa. Era
realmente fofa a amizade delas. Cultivada há muito tempo. Fora dito então.
Clara provavelmente havia sido uma ex-namorada de Dani que não havia dado
certo. E Dani provavelmente ainda gostava dela. O que provava cada vez mais que
a sua família realmente não sabia nada sobre ela. E por enquanto, continuariam
sem saber. Dani. Marcella. As risadas. Os abraços. Realmente boas amigas.
Virginia, EUA (Richmond Town) – Thomas & Hannah’s
Apartment, Scenes
09:17
PM
Thomas já estava pronto. Olhava-se no espelho. Pudemos
ver o seu reflexo. Estava no quarto
em que ele e Hannah dormiam. Vimos o seu terno. Preto. A gravata branca. O
colete por debaixo branca. E também a camisa social. O mesmo pano por dentro do
paletó. Algo que combinava muito com ele. Gabava-se. Ele realmente estava lindo.
O cabelo bem penteado em um topete perfeito. A barba rala e até mesmo sexy.
Víamos tudo o que tinha ao redor. Era um dormitório. Nada muito complexo. Havia
um guarda-roupa marrom encostado na parede e a cama kingsize do casal embutida
totalmente arrumada com um edredom roxo. Ele segurava um celular em mãos. Fora
o momento então em que a câmera focara na mensagem ele que havia acabado de
receber. Era uma selfie. De Dani e Marcella com a paisagem do acampamento ao
fundo. Thomas riu. Pelo menos ele havia levado na esportiva o fato de sua irmã
não estar presente lá. De qualquer forma, era como se estivesse. Em seu
coração. E pensava assim pelo menos. O restante de sua família, embora ele não
soubesse de seus problemas, estaria lá de qualquer forma. Tinha crença nisso.
Também resolvera tirar uma selfie para mandar para Dani. O flash do celular
fora visto. E a pose de Thomas. E então, pudemos ter acesso à conversa deles.
Conforme as falas eram mencionadas, os frames trocavam para as respectivas
reações de Thommy e também de Dani.
Thomas
*Enviou uma foto*.
Quase casado, hein? *Emoji de um bonequinho com a língua para a fora*
Dani
Uau! Acho que agora então é oficial!
Está lindo! *Emoji de várias palmas e corações*
Thomas
Hahaha. É sim. Acho que é oficial.
Está se divertindo?
Dani
Estou sim. Marcella sempre garante isso. *Emoji de um bonequinho chorando
de rir*
Thomas
Isso é bom. *Repetira o mesmo emoji*
Dani
E você? Ansioso?
Thomas
Você não tem ideia...
Dani
Hahahaha. Ok então. Me manda mais fotos quando chegar a hora!
Thomas
Ok!
Thomas guardara o celular. Sorria ainda. Logo, começara a desabrochar. Havia algo errado ainda. Talvez aquela cena. Aquele momento no quarto de Luna. Aquele momento em que ficara a sós com os seus próprios pensamentos. Ele ficara ali ainda de frente ao espelho. Faltavam poucos minutos. Poderia ele acreditar? Talvez não. O sorriso logo virara uma expressão séria. Porque ele sabia que este relacionamento com Hannah tinha tudo para dar errado. Devido a circunstâncias específicas. Devido ao acidente que ele causara. Devido a absolutamente tudo. Somente não imaginava que poderia amá-la com tanta intensidade...
Flashback
Thomas estava em sua cela de
presídio. Há quatro anos. Era dois mil e seis. Então, sua aparência era ainda
mais jovem. Sequer tinha barba. Estava Aflito. Algemado. O que piorava ainda
mais a sua situação. Humilhado? Era a menor de sua preocupação. Mas estava
sendo tratado com um verdadeiro assassino. Estava sentado naquele colchão velho
e fino que chamavam de cama. O chão acinzentado e sequer lavado. Um pequeno
vaso sanitário que não cheirava bem próximo a ele. Mal tinha janela. Não era
presídio um oficial ainda, portanto, ainda vestia as mesmas roupas do momento
do acidente. Era algo provisório. Aflito. Apoiava seu braço nas suas pernas.
Suas mãos se cruzavam como se estivesse pedindo em uma oração para tudo ficar
bem. Estava sujo. Tudo bagunçado. A camiseta um pouco chamuscada e rasgada. Era
bege. A calça também não estava em seu melhor estilo. Sem sapato. Provavelmente
teria o perdido em um dos piores momentos de sua vida. Era um espaço pequeno. E
estava a sós por ser em uma delegacia próxima do local em tudo o que acontecia.
Era melhor. Afinal, imagina ele dividir a cena com mais infratores? Era como se
realmente tudo indicasse para ainda ficar pior.
No momento em que ouvira passos
vindos à direção de sua cela, levantou-se imediatamente. Espremeu-se nas grades
para ter uma visualização completa do que estava acontecendo. Era um policial.
Vestido adequadamente de azul com o chapéu. Víamos o seu revolver próximo de
sua cintura. Parecia um homem de cinquenta anos de idade mais ou menos. Era
branco. Carregava consigo algumas chaves na quais encontrava dificuldade para
achar a correta. Parecia não estar com muita pressa. Foi aí então que Thomas
encontrou o momento correto para lhe perguntar:
Thomas – O que está
acontecendo?! – perguntou, afobado, mas o policial sequer o olhou, ignorando-o.
– Para aonde eu estou sendo levado?! – questionou, e então, o policial achara a
chave correta, puxando as grades para a esquerda e adentrando lá, em seguida,
tirando as algemas dele.
Police Officer – Relaxa. Pagaram a
sua fiança... – Thomas franziu o cenho, vendo suas mãos livres então.
Thomas – Pa-Pagaram...
Pagaram a minha fiança?
Police Officer – É. Aparentemente
este é o lado bom de ser alguém rico, não é mesmo? – ele sorrira debochado,
empurrando Thomas para fora da cela. – Vamos.
Thomas não dissera mais nada.
Achava estranho. Mas ainda assim, agradecido. Somente pôde supor que tenha sido
a sua família. Esperava pelo menos. Atravessou aquele corredor sujo e estreito.
Via mais algumas celas. Todas do mesmo tamanho da que estava. Parecia não
querer nunca mais em sua vida voltar àquele lugar. Não somente parecia... Ele
tinha certeza. Era um pesadelo. Um pesadelo que o assustava muito.
Viu a porta sendo aberta e a
visão de um corredor mais limpo e branco bem a vista. Lorraine o esperava ali.
De braços cruzados. Com um semblante de ao mesmo tempo de preocupação, mas
também de desgosto. Thomas notara isso. O policial dera dois tapas nas costas
dele, liberando-o para que fosse até a sua mãe. Eles se abraçaram. Lorraine
estava com um sobretudo vermelho com botões pretos. Um cachecol. Parecia ser um
dia frio. Lorraine parecia fria com ele. O abraçara. Mas toda aquela gentileza
e sorrisos que ela distribuía parecia não existir mais. Pelo menos, não neste
momento. Ele então perguntara:
Thomas – Foi você que pagou
a fiança?
Lorraine – Foi. – limitou-se
a se responder, e parecia estar seguindo o seu caminho para fora daquele local
então, e Thomas a acompanhava atrás.
Thomas – Me diz que aquilo
que eu ouvi não é verdade... – referia-se à morte.
Lorraine – Infelizmente é. –
conversavam enquanto caminhavam, até que cruzaram enfim o corredor, vendo um
amplo espaço da delegacia, com vários policiais de um lado para o outro,
telefones tocando a todo o instante.
Thomas – E onde está a
imprensa? – Lorraine nada dissera, apenas gostaria de sair daquela delegacia o
mais rápido possível, mas então fora o momento em que Thomas surpreendera-se a
ver uma mulher ali, com a expressão facial avermelhada, molhada, com os lábios
secos e os olhos marejados, parando neste mesmo instante. – Sra... Sra... – ele
até mesmo gaguejara, enquanto ela aproximava-se incrédula, vendo uma mulher
loira de aproximadamente quarenta anos de cabelo médio e franja. – Sra.
Scutbatch... – ele mal podia acreditar que a estava vendo bem em sua frente.
Lorraine – Vamos, Thomas... –
o apressara, mas a mulher se colocou na frente de Lorraine.
Sra. Scutbatch – Mas... Mas o que
está acontecendo aqui?! – o restante dos familiares também se levantou,
chocados com o que estavam vendo.
Lorraine – Lydia, por
favor... – a chamara de outro nome, pedindo gentilmente para que ela saísse de
sua frente, enquanto Thomas mal podia se comunicar.
Lydia – Ele... Ele está
livre? – recusava-se a acreditar. – Lorraine... – Lorraine pôde ver as lágrimas
dela escorrendo seu rosto. – Eu não consigo acreditar que você fez isso... –
balançava a cabeça negativamente. – Como... Como você pôde?
Lorraine – Ele é o meu filho,
Lydia.
Lydia – Ele matou a minha
garotinha! – gesticulou agora, em prantos, e fora o momento em que uma pequena
garota de aproximadamente cinco anos, também loira, assustara-se e viera
abraça-la, pedindo para que esta se acalmasse. – E você... Ao invés de deixa-lo
sofrer... De pagar pelos seus erros... Simplesmente pagou a fiança dele...
Lorraine – Olhe nos meus
olhos e diga que você não faria o mesmo pelos seus filhos... – Lorraine também
tivera seus olhos marejados.
Thomas – Sra... Sra.
Scutbtach... – ele sussurrou.
Lydia – Cale-se! –
descontrolou-se então, precisando ser contida pelos seus familiares. – Eu o
acolhi em minha casa e você a tirou de meus braços! – ela chorava bastante,
praticamente aos soluços.
Thomas – Eu... Eu sinto
muito... – desculpou-se.
Lydia – Assassino! –
gritara, e Lorraine apenas o puxara, deixando-os ali, somente para sair logo da
delegacia. – E você vai carregar esta mesma culpa para seu túmulo, Lorraine...
– e fora neste momento em que ela paralisara, e então, resolvera virar-se para
ela.
Lorraine – Eu realmente sinto
muito sobre o que aconteceu com a sua filha, Lydia. Eu realmente sinto. – ela
também se emocionara. – Eu não estou em posição de me colocar no mesmo lugar
que você, mas você também acha que é fácil estar nesta posição? – dizia, com a
voz trêmula. – Eu pensei em deixa-lo aqui. Mesmo que fosse por alguns dias. Mas
o meu coração de mãe falou mais alto! – bateu no seu próprio peito. – Então, eu
realmente sinto muito. Eu não consigo imaginar a dor que você está sentindo. A
sua filha era uma jovem iluminada. Com muito brilho e com um futuro muito
promissor pela frente. E infelizmente não há nada que eu possa fazer para isso
parar... – ela se virou novamente. – Vamos, Thomas.
E então ela seguira seu caminho.
Logo saíra da delegacia. A imagem da família da tal moça. Thomas parecia
chocado. Perguntava a si mesmo se realmente valia a pena. Estavam no
estacionamento. Lorraine fora na frente. Estava atrapalhada. Procurava as chaves
de seu carro. Até mesmo chegara a derrubá-la. Logo adentrara no carro. Thomas
estava lento. Demorara também. Era outro veículo diferente do atual. Mas ainda
assim, era moderno. Thomas entrara também. No banco de passageiro.
Lorraine estava ali. A câmera
filmava o interior do carro. Thomas estava fitando o vago. Lorraine parecia
totalmente aérea. E fora o momento então em que ela abrira o porta luvas.
Thomas até mesmo se assustara. Não dissera nada. Pelo menos imediatamente. Mas
no momento em que ela achara uma caixa de cigarros e um isqueiro e o acendera
bem na frente dele, Thomas disse:
Thomas – Mãe...
Lorraine – Cala boca, porra! – gritou,
falando palavrão e até mesmo o assustando pois sua mãe não costumava a ser
assim exceto quando parecia muito abalada. – Deixe... Me deixe fumar... – ela
ligara o motor do carro e abaixara o vidro que era elétrico. – Me deixe fumar.
– pedira novamente por mais alguns segundos, e ali ficara, tragando por um ou
dois minutos, até que então, jogara o cigarro por fora da janela.
Thomas – Onde está o meu pai?
Lorraine – Resolvendo problemas. Para que a
imprensa não fique sabendo disso. – Thomas somente a fitava, ainda totalmente
estático e sem ação.
Thomas – M-Mãe... – gaguejara.
Lorraine – Não diga nada, Thomas. – pedira.
– Você tem noção do que eu arrisquei neste momento? – o repreendeu. – Do que eu
e o seu pai colocamos em jogo? Do que você colocou em jogo?! – bradara. – Nós
temos uma marca, Thomas. Nossa família é uma marca! – Thomas nada dissera. –
São quatro da manhã. Deixei as suas irmãs em casa dormindo. E elas não sabem de
nada. – Thomas apenas ficara cabisbaixa. – E continuarão sem saber. – preferiu
assim.
Thomas – Eu... Eu realmente não sei o que dizer...
Lorraine – Você foi irresponsável, Thomas.
Dirigir bêbado? – ela riu agora de nervosismo. – Você tem que mudar de vida...
Thomas – Eu vou mudar de vida! – assentiu concordando.
Lorraine – Isto não pode ser dito da boca
pra fora, Thomas. Você vai mudar de vida. – frisou e Thomas a fitara agora, não
entendendo. – Conversei com a mãe de uma amiga minha. E ela possui uma filha.
Hannah Rankin. Ela trabalha numa padaria. É uma excelente e responsável moça. –
Thomas o olhava incrédula agora.
Thomas – O que é isso? Você está arranjando encontros para mim
agora?
Lorraine – É assim que irá funcionar agora,
Thomas. – Thomas riu.
Thomas – Você não pode nos obrigar a nos amar!
Lorraine – Você tem razão. – concordou. –
Mas Hannah não sabe de absolutamente nada. – Thomas estava perplexo. – Você
começará a criar uma rotina na padaria. Indo lá. Pedindo as mesmas coisas. Você
é um rapaz bonito. Chamará a atenção... – Thomas balançava a cabeça
negativamente. – Logo ela se apaixonará por você. E será apenas uma questão de
tempo até que se torne mútuo e vocês possam construir uma boa vida. Além disso,
você começará a trabalhar com o seu pai. – enfim pôs a sua autoridade de mãe
ali.
Thomas – Você só pode estar louca...
Lorraine – Louca?! – ela agora gritara. –
Isto é o mínimo que eu posso fazer por aquela família, Thomas! – bradara e ele
apenas desviara o olhar, abalado. – Tirar você das ruas e impedir com que outro
inocente se fira no caminho. – Thomas nada dissera. – É isto que você quer? –
ele continuara a ficar mudo. – Foi o que eu pensei...
Lorraine então
começara a dirigir. A câmera começara a se afastar. A expressão de Thomas. A
expressão de Lorraine. Ambos saindo daquele estacionamento. A outra cara de
Lorraine se expressando cada vez mais. Os segredos imundos. O motivo pelo qual
Thomas e Hannah se conheceram. E ela sequer faz ideia de isso até agora. E
talvez este fosse somente um dos motivos para se abalar tanto com a questão do
casamento. A culpa do acidente. A culpa de não ter acontecido naturalmente. A
culpa de que ele teria que levar isso com a sua vida para sempre. Mas o que
poderia ele fazer? Absolutamente nada. Teria apenas que seguir em frente.
End Of Flashback
Todo aquele flashback passara por sua cabeça. Toda aquela memória. Todas aquelas ações. Todos aqueles arrependimentos. Hannah. Lorraine. A tal moça que morrera no seu acidente. Mas ele havia prometido que faria diferente. Por Luna. Por Hannah. Ele havia mudado de vida. Mesmo que não fosse a sua intenção em ser proposital. Não achava que iria se apaixonar por ela. Sequer acreditava que esse dia poderia tornar-se realidade. Ou que poderia construir uma família. De qualquer forma... Havia tentado.Distraiu-se quando ouvira a campainha tocar. Ele suspirou. Faltavam poucos minutos. Saíra de seu quarto, apagando a luz e deixando a porta ainda aberta. Dera passos até chegar à porta da sala. E então, a abrira com a chave que já estava no buraco de fechadura. Abriu. E então pudemos ver Mike. Com um terno parecido, mas não tão escuro. De qualquer forma, também lembrava o de Simon. Mike sorrira. Sempre piadista, não deixara de brincar ao ver o seu amigo ali bem em sua frente:
Mike – Deus! Eu estou quase casando com você também! – Thomas riu. –Será que dá tempo de colocar um vestido de noivo? – sorriu maliciosamente. – Me dá um abraço, homem do ano... – eles então se abraçaram.
Thomas – Como você é idiota... – Mike sorriu.
Mike – Eu sei. Partilhamos da mesma característica. – ambos riram. – Bem... Então acho que é isso. Está pronto? – Thomas dera um longo suspiro, ficando pensativo.
Thomas – É. Eu estou pronto. – garantiu.
Mike dera dois tapas no ombro de Thomas. Ambos saíram do apartamento. Thomas fechara a porta e se trancara. Quando voltasse seria oficialmente um homem casado. E era bom contar com o apoio de pessoas que gostava. De qualquer forma, mais uma vez, íamos descobrindo cada vez mais um pouco sobre ele. Thomas deixou de ser o membro mais misterioso da família. Aprendemos sobre ele. E também poderíamos concordar que ele definitivamente estava pronto. Pronto para seguir em frente.
Virginia, EUA (Richmond Town) – Beauty & Model SPA
/ Inside The Limusine
09:28
PM
Em um pódio, era onde Hannah estava. Já com o seu
salto em seu pé. Diversas mulheres ajustando os detalhes finais de seu vestido
de casamento. Ela estava deslumbrante. Maquiada perfeitamente. Os lábios destacados
com batom. O rímel. O delineador. Sentia-se como realmente este fosse o seu
dia. E claro, o dia de Luna também. Acariciava a sua barriga o tempo inteiro.
Estava ansiosa. Para o casamento... Para o nascimento de sua filha... E para
construir uma vida com o homem que realmente ama.
O local em que estava já não era mais um “SPA”. Era
mais uma sala reservada. Era normal que noivas ficassem ali para se preparar
para o casamento, então fora desenvolvido um local específico para que fosse
arrumado os detalhes finais. Era um espaço não muito pequeno com vários
espelhos para que elas pudessem se olhar. Tinha várias cortinas avermelhadas
bem grandes também e algumas máquinas de costuras em cima de bancadas. Próximas
de Hannah, estavam as costureiras com suas respectivas agulhas traçavam as
linhas finais. O vestido dela era branco. O que era óbvio. Deixava seus ombros
desnudos e tinham partes que envolviam seus braços. Era totalmente liso, ou
seja, sem renda. Seus cabelos estavam ondulados, para também sair do clássico
coque. Preferia não usar o véu de grinalda. Queria ir com o rosto livre. Queria
chorar. Queria vê-lo chorar. Queria ver a sua família chorar e a dele também.
Apenas gostaria de se emocionar.
Depois de alguns minutos, tudo parecia concluído.
Eram cinco mulheres. Elas se afastaram. Era difícil achar uma noiva grávida que
ficasse tão linda, mas Hannah estava deslumbrante. Desceu do pódio com a ajuda
de uma delas e andou lentamente até um dos espelhos. Sorriu de orelha a orelha.
Chegou até mesmo a se emocionar. Encheu os olhos de lágrima. O lado positivo
era que a maquiagem era a prova d’água, mas não gostaria de gastar todas suas
lágrimas agora. E então, murmurou:
Hannah – Droga... Mal chegou a hora e eu
já estou aqui igual uma boba chorando. – ela sorria ao mesmo tempo. – Obrigada,
garotas... – ela agradeceu, olhando a todas elas. – Vocês foram essenciais para
fazer esse dia ainda mais especial. – ela garantiu, e fora o momento em que
ouvira o telefone tocando, e Hannah olhara para trás e vira uma das
funcionárias indo até ele para atender, prestando atenção e vendo ela somente
assentir e responder, não sendo possível ela ouvir a total conversa.
??? – Hannah... A limusine chegou. –
informou a moça, que tinha prováveis quarenta anos, com cabelo channel loiro,
desligando o telefone logo em seguida.
Hannah – Bem... Então eu acho que é isso.
O momento se aproxima. – ela virou-se para todas as costureiras. – Mais uma
vez, obrigada pelo apoio. – ela agradeceu novamente com um sorriso. – Deus eu
estou tão nervosa! – ela riu e mostrou a mão trêmula para as costureiras que
riram ao ver isso. – Bem... Então vamos lá. Querem me acompanhar? – elas se
entreolharam e assentiram. – Então vamos lá... Me ajudem mais uma vez, hein?
Não me deixem cair! – ela brincou, divertida.
Hannah então andava. Tentava ir com classe. Afinal,
estava de salto e grávida. Era complicado. Apoiava-se nas costureiras que as
guiavam para fora da sala. E logo todo aquele salão do SPA fora visto. As
mulheres restantes que estavam ali comemoravam e gritavam: “Linda! Maravilhosa! Perfeita! Noiva mais
linda que eu já vi!”. Era realmente um apoio. Hannah sentia-se bem.
Sentia-se linda. E todo esse dia exclusivo e dedicado para ela dentro do SPA
somente ajudava para isso. Elas então andaram. E andaram. E logo chegaram à
porta de vidro onde Hannah já pôde visualizar a limusine estacionada. O
motorista estava lá. Com o chapéu clássico e com o terno clássico. Hannah o
reconheceu imediatamente. Ficara séria e mudara seu semblante em questão de
segundos. Como se já o conhecesse. As costureiras então a levara até a porta.
Hannah despediu-se individualmente de cada uma delas e fora o momento em que o
motorista se aproximara para ajuda-la. Era um homem jovem. Com uma barba rala.
O corpo provavelmente malhado. Era másculo. Dera um sorriso galanteador para as
costureiras que ficaram ali até o motorista acompanhar Hannah até a porta e
abrir para ela. Hannah parecia desconfortável, especialmente após o ouvir
dizer: “Você está absolutamente linda...”,
mas ela parecia não tentar demonstrar isso. E logo adentrou na limusine.
Era um carro espaçoso, obviamente. Tinha vários
bancos. No centro, um balde cheio de gelo com várias champagnes. Observou ele
adentrando no carro logo em seguida. A janelinha que dava a visualização do
motorista logo fora aberta. Ele dera um sorriso de orelha a orelha. Hannah
parecia séria ainda. Um semblante até mesmo estranho, afinal, ela demonstrou
ser alguém simpática e paciente o dia todo. Mas, não conseguiu se segurar ao
então perguntar:
Hannah – O que você está fazendo aqui,
Gregor? – revelara então o nome dele.
Gregor – O motorista não pôde e Thomas
pedira para que eu viesse. – ele continuou a sorrir, como se fosse uma maneira
de provoca-la. – Você viu? Até consegui um chapéu. Diz se não é o motorista
mais gostoso que você já viu... – disse dando uma piscadela com uma alta
confiança em si mesmo e Hannah apenas riu, debochando.
Hannah – Faça-me o favor... – desviou o
olhar.
Gregor – Vamos lá, amorzinho... Você já
foi mais divertida. – olhou para ela com malícia. – É a sua última noite de
solteira. Embora eu e você saibamos que não faça diferença alguma.
Hannah – Aquilo não voltará a acontecer! –
bradou.
Gregor – Você e eu sabemos que isto não é
verdade. – Hannah sorriu de nervosismo.
Hannah – Eu estou me casando, Gregor! –
afirmou. – Com o seu amigo!
Gregor – Bem, você não pensou nisso quando
estávamos nos deliciando na cama dele há um mês... – ele rolou os olhos, ainda
rindo em seguida. – Thommy sabe que nós transamos três semanas antes de você
descobrir a sua gravidez? – ele sorriu maliciosamente. – E em uma época em que
vocês não estavam bem no relacionamento... – aquilo parecia ter aborrecido
Hannah. – Já pensou como vai ser se a pequena Luna nasce com o meu rostinho
maravilhoso? – ele riu novamente. – Será muito engraçado... – ele ficou
pensativo.
Hannah – Eu nunca irei admitir que você é
pai da Luna! – rangiu os dentes.
Gregor – Imagino como será a cara da pobre
Lorraine ao descobrir que a nora dos sonhos não passa de uma vadia... – Hannah
neste momento pareceu ter se irritado.
Hannah – Pare ou eu ligarei para o Thomas!
– ameaçou e Gregor ficara sério.
Gregor – É mesmo? – ele duvidou. – Você
não tem noção de que a pessoa que realmente tem as cartas aqui sou eu, não é? –
Hannah negava balançando a cabeça em negação. – Bem... Você aparentemente não
sabe brincar. – ele deu de ombros, pronto para dar partida no carro.
Hannah – Qual é o seu problema com o
Thomas? – questionara. – Vocês são amigos há tantos anos... Fizeram faculdade de
engenharia juntos. Você praticamente cresceu naquela casa e hoje fala com tanto
desgosto da família Gillings... – parecia inconformada com aquela situação. –
Como se os odiasse...
Gregor – Eu odeio. – disse, sem problema
algum. – Talvez, com exceção de Tiffany. Ela descobriu que a família dela não
vale nada e é que não passam de pedaços ambulantes de merda. – ele riu agora
neste momento.
Hannah – E por que você continua falando
com eles? Indo até a eles?
Gregor – Talvez porque eu adore ter o
prazer de ver a cara do pequeno Thommy sem ele imaginar que eu durmo com a
noiva dele. – respondeu, diretamente.
Hannah – Como eu disse... Não voltará a
acontecer. Foi uma fraqueza minha. Thomas não merece isso. Lorraine não merece
isso... – Gregor riu.
Gregor – Ah, querida... – ele sorriu
novamente malicioso. – Você realmente não sabe nada sobre a família Gillings...
– deixara no ar. – E irá voltar a acontecer sim. Não agora... – ficou
pensativo. – Deixarei você curtir essa vida patética de casado com o Thomas por
alguns meses. E então, podemos voltar a aproveitar o que realmente interessa,
não é? – ele tornara a sorrir. – Ou você vai dizer que eu realmente não sou
melhor de cama do que aquele playboy metido? – Hannah nada respondera. – Eu
tenho você em minhas mãos, Hannah. – ele disse, agora sério. – Eu posso acabar
com essa sua reputação de boa moça em poucos segundos. Será praticamente
deserdada. E voltará a ter aquela sua antiga vida de fracassada como vendedora
de roupas em um shopping mequetrefe. – debochou.
Gregor enfim ligara o carro. Fechara aquela janela
que permitia com que Hannah o visse. Ela? Totalmente aflita. E não era para
menos. E cada vez mais íamos descobrindo que os integrantes da família Gillings
tinham realmente podres. Era somente uma questão de tempo. Não existe
perfeição, uma vez já mencionado. Hannah não era perfeita. E o pior de tudo é
que ela agora teria que acatar as decisões de Gregor. E viver com o peso na
consciência de que Luna poderia ser sua filha. E aquilo a machucava. Porque
apesar de tudo isso, ela realmente amava Thomas.
Virginia, EUA (Richmond Town) – St. Jude Church Scenes
10:11 PM
Finalmente
chegou o momento. A câmera captava totalmente a decoração da igreja que
receberia os noivos em instantes. Vimos a igreja. Imensa. O tapete principal,
por onde passaria os padrinhos e madrinhas junto do noivo e a noiva, era
amarelo. A igreja toda tinha como cronometria o amarelo. Era uma simbologia.
Vimos também a decoração de flores. Vasos e mais vasos espalhados apoiados na
estrutura da madeira que separava os bancos onde os convidados se sentariam.
Era um extenso tapete. Como de premiações de cinema e séries. A igreja tinha lá
na frente a cruz onde Jesus fora amarrado e crucificado. O teto era pintado por
algum pintor famoso. Víamos anjos e santos por ali também. Abençoado,
poderíamos dizer assim. Havia um grande lustre pendurado. Iluminava
praticamente toda a igreja. O local era lindo. Riquíssimo em seus detalhes.
Feito com amor, com paixão. Tinha até mesmo um teor chique. Um teor acima do
nível. Algo que definitivamente não poderia faltar para a família Gillings.
A
maioria dos convidados já estava ali. Afinal, fora marcado para as dez das
noites, como a própria Lorraine havia dito. Talvez fosse parte de um charme.
Era um charme a noiva atrasar. Fazia com que ainda se tornasse emocionante.
Porém, este não parecia ser o que agora preocupava Thomas. Ele aguardava
próximo da porta onde entraria a noiva, com o seu belíssimo terno, parecendo
estar um pouco impaciente. Era uma porta grande, inclusive. Encontrava-se
aberta, por onde os convidados entravam. Alguns convidados já vinham o
cumprimentar. Eram homens e mulheres de alta sociedade. Afinal, seu pai e sua
mãe representavam uma marca. Como já mencionado inúmeras e inúmeras vezes.
Thomas apenas sorria. Ao seu lado, estava Mike. Parecia aflito. Olhava para o
seu relógio. O que lhe realmente preocupava era que ainda faltavam pessoas para
chegar ali. Era que faltava a sua família. Ninguém deles havia chegado ainda.
Já havia mandado mensagens, telefonado, mas aparentemente... Ninguém respondia.
Estava claro que ele não estava ciente do que havia acontecido com Tiffany, mas
ainda assim, era como se ele sentisse que algo tivesse acontecido. E o pior:
que talvez pudesse ter sido a sua culpa, já que ele que havia insistido para
deixa-la se divertir. Tentou se manter calmo. As pessoas iam e vinham.
Cumprimentavam. Acenavam. Davam parabéns. O restante dos padrinhos já se
posiciona em suas posições. Estavam prontos para dar início. Ele, então, se
virara para Mike, e dissera:
Thomas – S-Será... Será que esse casamento
vai acontecer? – ele dizia entre dentes, já que tentava disfarçar o máximo que
conseguia. – As pessoas logo vão comentar entre si. – uma senhora de idade
vestindo um vestido rosa logo viera o abraçar, fazendo o mesmo em seguida com
Mike, somente por educação, embora não o conhecesse, causando até mesmo
estranheza.
Mike – Você já ligou para eles?
Thomas – Já. Inúmeras vezes. – ele rolou
os olhos. – Daqui a pouco a Hannah chega e eles não estão aqui ainda... – e
fora o momento em que ele fitara Gregor chegando próximo da escadaria, já que
ele estava próximo da porta aberta, o que indicava que Hannah já estava por
ali. – Viu só? – ele murmurou. – Está dando tudo errado... Ela já chegou aqui,
Mike! – ele bufou.
Mike – Thomas... – ele sorriu. – Relaxa.
Jogar negatividade não vai adiantar nada. – Thomas então suspirou, como se
estivesse contando até dez.
Thomas – É. Você tem razão. Não adiantará
de nada... – ele concordou.
As
portas estavam prestes a fechar. Gregor provavelmente ficara do lado de fora.
Não era padrinho. Um amigo de Thomas. Mike também se posicionara com o seu
respectivo par. Thomas dera uns passos mais para trás, pois seria o último da
fila que se formava. Pudemos ver de fundo, Mike conversando com o seu par.
Parecia estar fazendo piadas. Thomas suspirou. A sua impaciência continuava e
continuava. A porta logo se fechara. Estavam para começar o casamento. A noiva
estava lá, não tinha mais como adiar. E antes que eles pudessem fazer isso,
fora o momento em que Lorraine e Tiffany correram para conseguir passar a
tempo. Elas enfim conseguiram chegar. Tiffany fora mais para frente. Sequer
olhara para Thomas, apenas queria se distanciar. Também era madrinha, portanto,
cruzara os braços com o do rapaz que a acompanhava. Lorraine se posicionara
próximo de Thomas. Os convidados já estavam sentados. Tudo encaminhava para
enfim de fato acontecer. Thomas, então, olhando pra frente agora, entre dentes
e sussurrando, perguntara:
Thomas – Por que vocês se atrasaram? –
Lorraine parecia estar aérea, somente acenando para alguns convidados que
cochichavam entre si apontando para ela, e pudemos ter uma visão melhor dela,
uma vez que ela havia trocado o seu vestido, agora era rosa, não muito forte,
com vários detalhes, principalmente na parte superior, enquanto a cauda
permanecia sendo lisa, com as costas nuas e abertas.
Lorraine – Podemos ignorar isso, por favor?
– ela sorria ainda, sem olhar diretamente para Thomas.
Thomas – Aconteceu alguma coisa, não
aconteceu? – ele insistiu.
Lorraine – Depois nós conversamos, Thomas. –
ela ficara mais séria agora, murmurando. – Hoje é o seu dia. Não vale a pena
estraga-lo. – afirmou, decidida.
Music Background: Bitter Sweet Symphony
– The Verve
A
música começara a tocar. Os convidados se levantaram. Thomas deu-se por vencido
e cruzou os braços com a da sua mãe. Não parecia ter comprado essa história de
“hoje é o seu dia”, mas por ora, deixaria como estava. Como ela mesma havia
mencionado, não vali a pena estraga-lo. Logo, a coordenadora que provavelmente
Thomas havia contratado começara a orientar os padrinhos e madrinhas. Eles
começaram a andar. Desfilavam por aquele tapete. O coração de Thomas batia cada
vez mais rápido. Era como se tivesse borboletas em seu estômago. Como se
realmente mal pudesse acreditar que este momento havia chegado. Pudemos notar
os fotógrafos mais a frente. Tiravam fotos. Os padrinhos paravam. Sorriam. E
logo continuavam o seu caminho. Nada mais e nada menos do que isso.
A
fila andava. Tiffany fora a seguinte. Com o cabelo ondulado, provavelmente
feito às pressas, estava com um belíssimo vestido verde-água. Tinha detalhes
prateados nele. Fizera “carão” para a câmera. Até mesmo chegara a sorrir.
Fingia bem. Tal como o restante de sua família. Sentia-se como uma modelo,
embora, pudesse também estar enjoada. Era o efeito da droga ainda nela. O seu
parceiro continuara a andar, acompanhando-a para o altar. Tiffany então fora
para o lado esquerdo. Era o lado em que os padrinhos convidados pelo noivo
ficariam.
A
fila continuava. E continuava. E a música ia e vinha. Mais um casal fora. Mike
e sua acompanhante aguardaram por alguns minutos. E também foram. Mike era um
grande amigo de Thomas. Era óbvio que ele seria o padrinho. Mas, na hora de
tirar a foto, deixara as piadas de lado e sorrira. Fez bonito até mesmo. Thomas
chegara a rir. Não parecia ser alguma atitude dele. Em tempos normais, apenas
zoaria. Mas parece que havia mudado. Pelo seu amigo.
Não
demorara muito para que chegasse a vez de Thomas e Tiffany. As fotos. Os
flashes. Os fotógrafos. O câmeraman o filmando. Thomas estava apreensivo.
Lorraine olhara para ele. Por um momento, havia se esquecido do nervosismo que
havia passado. A sinfonia e a música que tocava era absolutamente lindíssima. E
no momento em que a coordenadora o liberou para seguir adiante, Thomas pôde ter
a certeza: está finalmente acontecendo.
Estava
de “braços dados” com o de Lorraine. Enrolado. Esta, sorria. Tentava até mesmo
não se emocionar. Pararam por um instante para que pudessem ser fotografados.
Com o apoio da câmera, pudemos os vê-los de frente. Thomas. Lorraine. Lindos.
Maravilhosos. Muito bem vestidos. E felizes. Acima de tudo... Felizes. Tudo o
que Lorraine havia dito para ele na noite em que havia pagado a sua fiança
havia acontecido. Hannah não sabia disso. Poucos sabiam disso. Talvez, até
mesmo, somente Simon. Mas ainda assim, havia acontecido. E para ela era uma
honra. Hannah era uma ótima moça. Aparentemente, pelo menos. Daria a ela uma
neta. Do que mais ela poderia reclamar? Bem... De nada. O importante era que o
seu garoto havia crescido. Eles continuaram o seu caminho. E andavam por aquele
tapete. E andavam. Até que chegaram até ao altar. Thomas ficara de frente para
Lorraine e a olhara no fundo de seus olhos. Ele dera um leve sorriso no rosto.
Vimos uma lágrima escorrendo no rosto dele. Era impossível não se emocionar com
um momento como esse. Logo, ele então, dissera:
Thomas – Obrigado por tudo... – ele,
então, pegara nas mãos dela e beijara e Lorraine sorrira de orelha a orelha,
também emocionando-se.
Lorraine – Deus o abençoe, meu filho... –
ela então o abraçara firmemente.
Lorraine
fora para o lado esquerdo. Ficara ali sozinha. Era uma cerimônia. Era algo
natural. Thomas ficara de frente. Em sua posição. Onde esperaria agora por
Hannah. Com as mãos fechadas. Todos os padrinhos e madrinhas ali. Três de cada
lado. O padre logo chegara. Um senhor de idade. As fotos. Os flashes. Os
fotógrafos. Era realmente um belíssimo dia. Pelo menos... Para ele.
...
Estávamos
do lado de fora. A limusine fora vista. A câmera acompanhava Hannah. Do lado de
dentro. Tentando não se sentir muito abalada com o que Gregor havia dito para
ela. Tentando não se sentir muito abalada com qualquer coisa que viessem lhe
dizer agora. Carregava em suas mãos um terço. Havia rezado. Rezado para que
absolutamente tudo ficasse bem. Seus olhos marejaram. Limpara-os, para que
ninguém notasse. Emoção? Também. Mas na realidade... Ela apenas desejava que
Thomas nunca soubesse a realidade. O que apenas acabava criando uma espécie de
paradigma, uma vez, que ele também guardava coisas dela. Seria uma
coincidência? Talvez. Mas de alguma maneira era melhor que isto fosse revelado
o mais rápido possível. Evitava com que ambos acabassem se machucando durante
este processo.
Logo,
a sua porta fora aberta. Chegara o momento. Gregor lhe dera as mãos. Hannah não
tinha opção, a não ser aceitar a ajuda para sair dali. E assim fizera. Ela
olhara ao seu redor. A vizinhança. Os carros estacionados. A grande igreja do
lado de fora. E Simon aguardando para leva-la até o altar diante da porta
fechada. Gregor nada dissera. Não havia mais nada que ele pudesse dizer a ela.
Somente, ainda segurando as mãos delicadas dela, a guiara por aqueles degraus,
ajudando-a a subir cuidadosamente. Simon logo fora recebê-la. Ele trocara um
leve sorriso de canto com Gregor, que assentira mais uma vez. Ele e Hannah
trocaram olhares pela última vez. Ele então se afastou. Trataria de assistir o
casamento do interior. Precisava ainda manter esta “pose de bom amigo da
família” para aqueles aos seus arredores. Simon pegara nas mãos de Hannah. O
motivo pelo qual ela talvez estivesse ali seria de que já não possuísse mais
pai. E aquilo era um motivo único. Que a levara em prantos. Simon, então, trata
de elogiá-la:
Simon – Você está linda... – sussurrou
ele e Hannah apenas agradecera com um singelo sorriso.
Hannah – Obrigada, Simon. Obrigada por
substitui-lo em um momento tão importante para mim... – Simon sorriu novamente.
– Seja onde ele ou a minha mãe estiverem... – desta vez, Hannah revelara que
sua mãe também já havia falecido. – Eu tenho certeza de que eles estão me
assistindo. Assistindo Thomas. Assistindo a Luna. – Simon assentira, parecendo
concordar. – Obrigada... – agradeceu novamente, e então, a abraçara.
Eles
cruzaram seus braços. Ficaram na posição. Vistos de costas pela câmera, Simon
estava na esquerda. Hannah na direita. A porta prestes a abrir. Ela estava
pronta. Ela precisava esta pronta. Thomas contava com isso. Os seus amigos
contavam com isso. Os familiares contavam com isso. Todos os detalhes de sua
maquiagem e vestido já haviam sido descritos. Hannah acariciara a sua barriga.
Ela assentira. Tinha certeza do motivo de estar ali, não importando o que
Gregor havia dito a ela. Ela amava unicamente e exclusivamente Thomas e havia o
escolhido para ficar ao lado dela em sua vida. E para ela... Isso bastava.
...
Music Background: A Thousand Years – Christina Perri
A
cena voltara para o interior da igreja. Thomas suava. Suava frio. Aguardava. E
no momento em que a música começara a tocar... Ele tinha certeza de que ela
estava vindo. A câmera captava imagens exclusivas da reação de Lorraine. De
Tiffany. Da expressão de cada uma delas. O piano delicado da canção. A porta se
abrindo. Como ele estava no altar, conseguia ter uma visão. Todos os convidados
se viravam. Era o momento que todos mais aguardavam: a chegada de Hannah. A
porta abria-se. Lentamente. E mais lentamente. E fora o momento em que os
flashes foram disparados em que podíamos ter a certeza: Hannah estava ali. Com
um buquê lindíssimo em mãos. Era branco. Flores brancas. Pétalas brancas.
Totalmente branco. Estava acompanhada de Simon. Ela o via como uma figura
paterna. Substituía essa figura, pelo menos. Lorraine sorrira. Thomas sorrira.
Emocionara-se. Não cansava de mostrar seus dentes. Não cansava de observar. De
analisar. De crer. Hannah estava ali. E ela estava exuberante.
A
caminhada da noiva então logo começara. Eram passos lentos. Passos muito
lentos. Ela e Simon andavam. Os fotógrafos não atrapalhavam, mas tiravam várias
fotografias. Hannah não deixava de sorrir. Parecia lento. Mas era. A canção de
Christina Perri continuava a ecoar por aquela igreja. Os convidados também
tiravam fotos. Eles cochichavam entre si. Hannah estava maravilhosa. E ninguém
tinha muitas dúvidas disso.
Os
minutos se passavam. Quando eles enfim se aproximaram, Thomas descera os
degraus para pegar a mão da noiva. Demorou alguns segundos até que se
aproximassem totalmente. Thomas esperara com que Simon desse um apertado abraço
em Hannah. Vimo-la se emocionando. Não era fácil fazer tudo isso sem a presença
de seus pais. Conseguiria Thomas? Ele também não sabia. Assim que se
desvencilharam, Simon abraçara firmemente o seu filho. Ficaram ali por alguns
segundos. Thomas também se emocionara. Da mesma maneira que havia no momento em
que encontrara o aconchego de sua mãe. Simon logo se afastou. E foi até a
Lorraine, ficando do lado dela. Trocaram um leve sorriso. Lorraine havia
observado tudo. E o que ela podia dizer e afirmar era que estava somente
orgulhosa. Estava tudo lindo. Tudo magnífico.
Thomas
encontrou Hannah agora. Ele foi até a ela. Dera um beijo na testa dela
demorado. Hannah fechara os olhos. Ele, logo, agachara-se de joelhos e também
dera um beijo na barriga de Hannah. Não teve uma única pessoa que não achara
aquilo extremamente fofo e agradável. Ele logo pôs-se de pé. Sussurrou para
ela: você está linda. E ela
retribuíra: você também. Cruzaram os
braços. E então deram passos adiante. Até que calmamente e tranquilamente...
Encontraram-se sob o altar. Aguardando o início da cerimônia.
...
Alguns
minutos já haviam se passado. Thomas e Hannah estavam ali. Os convidados
sentados. Pudemos até ver Anastacia sentada na primeira fileira. Bethany estava
ao seu lado. Arrumada como já havia sido mostrada lá na mansão dos próprios
Gillings. Estava feliz em assistir e presenciar algo tão importante para a sua
net. A cerimônia provavelmente já estava próxima do fim. Lorraine e Simon
assistiam. De braços cruzados. Tiffany e Mike, obviamente, também estavam ali.
A primeira, séria. Nada dizia. Mas também não parecia impaciente. Embora
tivesse feito “birra” pelo fato de estar sendo obrigada a ir ao casamento, no
fundo, ela havia gostado. Já Mike, estava sendo motivo de boas risadas de
Thomas, que não conseguia se concentrar no que o padre estava dizendo. Ele mesmo
já havia chorado. E aquilo era realmente hilário. Nunca imaginou que o pano
dentro do bolso de seu paletó valeria de algo. A câmera também focara em
Gregor. Não estava sentado, mas afastado. Assistia àquilo. De braços cruzados e
com um sorriso malicioso estampado no rosto. Iria fazer valer aquela promessa
feita para Hannah. E ela também sabia disso.
Hannah
e Thomas se fitavam. O padre falava algo. Lia algo em suas mãos. Parecia estar
os benzendo. Podíamos ver pela leitura labial que eles estavam se declarando um
ao outro. Então, chegara o momento em que consumariam de vez aquele matrimônio.
Thomas e Hannah pegaram um na mão do outro. Se entreolharam. Lorraine sorria.
Estava realmente feliz. E então, pudemos prestar atenção firme, no que o padre
realmente dizia:
Priest – Noivos caríssimos, viestes à casa
da Igreja para que o vosso propósito de contrair Matrimônio seja firmado com o
sagrado selo de Deus, perante o ministro da Igreja e na presença da comunidade
cristã. – Hannah e Thomas ainda se olhavam. – Cristo vai abençoar o vosso amor
conjugal. Ele, que já vos consagrou pelo santo Baptismo, vai agora dotar-vos e
fortalecer-vos com a graça especial de um novo Sacramento para poderdes assumir
o dever de mútua e perpétua fidelidade e as demais obrigações do Matrimônio.
Diante da Igreja, vou, pois, interrogar-vos sobre as vossas disposições. –
declamou o rito do matrimônio. – Thomas Gilling e Hannah Rankin, viestes aqui
para celebrar o vosso Matrimônio. É de vossa livre vontade e de todo o coração
que pretendeis fazê-lo?
Thomas – Sim... – sorriu, e Lorraine
também emocionara-se ao ouvir isso, junto de Hannah, que também sorria.
Hannah – Sim...
Priest – Vós que seguis o caminho do
Matrimônio, estais decididos a amar-vos e a respeitar-vos, ao longo de toda a vossa
vida?
Thomas – Sim.
Hannah – Estou, sim.
Priest – Estais dispostos a receber
amorosamente os filhos como dom de Deus e a educa-los seguindo a lei de Cristo
e da sua Igreja? – Hannah neste momento passara a mão em sua barriga e Thomas
sorrira de orelha a orelha.
Thomas – Sim.
Hannah – Sim...
Priest – Uma vez que é vosso propósito
contrair o santo Matrimônio, uni as mãos direitas e manifestai o vosso
consentimento na presença de Deus e da sua Igreja. – Thomas e Hannah então
uniram as mãos direitas, enquanto aproximaram um microfone na boca de Thomas
para que ele pudesse falar.
Thomas – E-Eu... – a sua voz mal saia, o
que arrancava risadas de alguns ali perto, e Mike até mesmo continuava a se
emocionar e a chorar. – Eu Thomas Gillings, recebo-te por minha esposa a ti
Hannah Rankin... – Hannah sorria e tinha os olhos marejados agora. – E prometo
ser-te fiel... – continuou. – Amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza,
na saúde e na doença... – Thomas chegara a ter uma lágrima escorrendo em seu
rosto. – Todos os dias da nossa vida. – colocara o anel no dedo de Hannah, e
trouxeram o microfone para próximo dela, agora.
Hannah – Eu... Hannah Rankin. – tinha mais
firmeza em sua voz, embora também estivesse mais trêmula. – Recebo-te por meu
esposo a ti Thomas Gillings, e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na
alegria e na tristeza, na saúde e na doença... – ambos sorriram. – Todos os
dias da nossa vida. – ela também colocara o anel no dedo dele. –
Priest – Confirme o Senhor, benignamente,
o consentimento que manifestastes perante a sua Igreja, e se digne
enriquecer-vos com a sua bênção. Não separa o homem o que Deus uniu. – os
convidados se levantam neste momento. – Bendigamos ao Senhor... – e todos então
falaram em uníssono “Graças a Deus”. – Eu os declaro marido e mulher. Thomas...
– ele deixara a formalidade de lado agora. – Pode beijar a noiva.
E
então Thomas a agarrou em seus braços e a abaixou. Beijou-a. Com amor. Com
intensidade. Com muita felicidade. Os gritos de comemoração. O sorriso de Lorraine.
O sorriso de Simon. As lágrimas de Mike. Até mesmo Tiffany. Tudo havia dado
certo, aparentemente. O casamento havia acontecido. O casamento enfim havia
acontecido. E agora eles eram casados. Marido. E mulher. O padre logo se
afastara. Os padrinhos logo vieram até a eles. Uma dupla de vez. Abraçando os
noivos. E dando felicitações. Tiffany. Mike. Lorraine e Simon. Tudo parecia
estar indo bem. Conforme estes gestos aconteciam, eles desciam do altar e iam
para a porta da frente da igreja, que já estava aberta. Era um momento bastante
emocionante, porém, breve.
Fora
o momento então em que quando tudo já havia acabado, Thomas e Hannah se
olharam. Cruzaram os braços. E estavam próximos de descer o altar juntos.
Casados. Os fotógrafos vieram. Tiravam fotos. Os convidados jogavam arroz. As
risadas. Um momento único e marcante na vida de cada um deles. Como Lorraine
havia começado o dia: será um belíssimo dia. Apesar dos pesares... Estava sendo
mesmo. Um belíssimo dia. Uma belíssima noite. Para ambos Hannah e Thomas.
Virginia, EUA (Richmond Town) – Camp, Various Scenes
10:36
PM
A câmera filmava o mesmo grupo que havia cercado
Carl. Podíamos ver claramente o céu. Escuro. Sem estrelas. Limpo. E Lua, que
iluminava perfeitamente aquela noite. Estavam na ponte em que ele havia
conversado com Dani. Davam várias risadas. Curtiam. Tinha até mesmo uma música
ligada. Não muito alta, pois como dito, não queriam chamar a atenção do
diretor. Não queriam se meter em encrencas. Apenas se divertirem. De qualquer
forma, era uma música eletrônica. Podíamos contar um grupo de cinco. Seis, se
incluíssemos Carl. Este, que estava mais afastado. Sentado na beirada da ponte.
Cabisbaixo. Pois se mantinha preso. Não queria estar ali. Queria apenas estar
perto de Danielle e de Marcella, também.
Carl se levantara então. Parecia agora ter deixado
de ser tão retraído. De ser tão reservado. Como se realmente tinha que tomar
uma atitude. Dirigiu-se até a eles, sem sequer dizer uma palavra. Como se
realmente estivesse prestes a sair dali. Mas novamente, Jonathan se pôs em sua
frente. Cada vez mais bêbado e fora de si mesmo. Abrira os braços, dando
risada, impedindo-o de sair dali:
Carl – Deixe-me passar, por favor... –
pedira novamente, agora se impondo mais.
Jonathan – Novamente, Carl? – ele bufou. –
Eu já disse a você que passará o resto da noite aqui. Conosco. Que somos os
seus amigos!
Carl – Você não é o meu amigo... – ele
franziu o cenho.
Jonathan – É. Bem... Talvez. – ele riu. –
Mas, ainda assim... Queremos ser. Eu realmente quero ser seu amigo. Como um
irmão. – ele, então, tentara colocar seu braço em torno de Carl, que recuara
rispidamente.
Carl – Não encoste em mim! – ele bradou,
agora, em um tom de voz mais alto, surpreendendo Jonathan e todos os seus
amigos do grupo por ali.
Jonathan – Olha só, rapaziada... – ele rira.
– E não é que o pequeno Carl cresceu? – ele ficara sério agora. – Você
realmente precisa esfriar a cabeça, não é mesmo, Carl? – ele então empurrara
Carl, que cambaleara para trás. – Eu realmente estava querendo acabar com nossa
inimizade. Como a própria Danielle mencionara... Crescer. Evoluir. Aceitar que
já somos homens civilizados! – bradara, empurrando Carl novamente, que se vira
cada vez mais próximo daquele lago.
Carl – Pare... – ele fora empurrado
novamente. – Pare! – pedira, assustando-se ao se ver novamente na borda da
pequena ponte, enquanto o grupo de Jonathan parecia torcer e estar o zoando
ainda mais.
Jonathan – Qual é? – ele riu. – Está com
medo da água? – perguntara debochado.
Carl – Eu... Eu não sei nadar... – ele
disse, desviando o olhar, tímido, tentando manter o equilíbrio, porque
realmente estava na iminência de cair ali.
Jonathan – Você não sabe nadar? – todos ali
gargalharam, exceto por Carl. – Você está brincando, não está? – ele franziu o
cenho.
Carl – N-Não... – ele murmurou. – Eu não
sei nadar. – reafirmou.
Jonathan – Bem... – ele sorriu
maliciosamente. – Vamos ver então se você está falando a verdade...
E empurrara Carl. Carl caíra no lago. Risadas.
Diversão. Bebida. Carl se afobava ali na água. Vimos ele tentar manter o
controle ou até mesmo subir de volta para a ponte. Pedia por ajuda. Pedia por
clemência. Mas Jonathan também estava na ponta. Impedia e impossibilitava que
Carl subisse enquanto todos davam gargalhadas. Para ele... Tudo não se passava
de uma zoação. Mas era algo sério. Realmente sério. Pois Carl realmente não
sabia nadar. E estava afogando. E estava ficando sem ar. Cada vez mais. Tentava
ficar com a cabeça para fora, mas como se tratava de um lago, era muito fundo
para ele. E aquilo somente tendia a piorar cada vez mais. Ninguém o ajudava.
Ninguém o ajudava porque simplesmente não acreditavam nele. E fora o momento em
que Carl já não podia ser visto mais. Já não estava mais ali. Já havia perdido
a força para aguentar. E havia realmente afundado. As bolhas que a água soltava
logo deixaram de surgir. E fora o momento em que as risadas desapareceram. E
tudo aquilo deixara de ser algo divertido. O grupo até mesmo se aproximara. Jonathan
ainda insistia em acreditar que Carl também havia entrado na brincadeira. Mas
muito pelo contrário... Ele parecia ter se afogado. Jonathan, então, disse:
Jonathan – Vamos lá, Carl... A brincadeira
acabou. – ele dera um sorriso ainda, tentando se manter no clima. – Vamos,
Carl! – incentivou, com um grito, mas nada parecia subir à superfície. – Carl?
– ele agora ficara sério, notando o que realmente havia acontecido, recuando
para trás, junto de seu grupo.
??? – O que está acontecendo, Jonathan?
– questionou outro.
??? 2 – A brincadeira foi longe demais...
– comentou mais um.
Jonathan – Calem a boca! – bradou. –
Droga... – ele murmurou. – Isso não pode estar acontecendo... – e fora o
momento em que todo o seu grupo parecia estar se afastando cada vez mais. –
Onde vocês estão indo?! – ele questionara.
??? – Nós não temos nada a ver com
isso! – gritou o primeiro que havia se intrometido, e Jonathan permaneceu ali,
próximo da beirada.
??? 3 – Foi você que o empurrou! – acusou
outro.
Jonathan – Eu? – ele olhara para a lagoa. –
Eu... Eu o empurrei? – e quando ele percebera, todo o seu grupo já havia sumido
dali. – Carl... – ele sussurrara o seu nome.
Jonathan recuara. E recuara. E recuara novamente. E
também correra para longe dali. Carl? Afogou-se. Em o que provavelmente parecia
ser uma brincadeira. Uma brincadeira de muito mau gosto. Culminada na morte de
alguém inocente. Porque provavelmente ninguém o notaria. Ninguém perceberia que
ele havia sumido. Talvez Dani. Talvez Marcella. Mas poderia ser até mesmo tarde
demais. Uma brincadeira de mau gosto que terminara em tragédia. E ninguém
sequer pulara no lago para ajuda-lo. Ninguém queria se responsabilizar. Ninguém
queria estragar o passeio. Ninguém queria ser o culpado.
–
Dani estava deitada em seu colchonete. Olhara para o
lado. Marcella já estava dormindo. Totalmente esparramada. Elas sequer
imaginavam o que tinha acontecido agora há pouco. Elas sequer imaginavam qual
havia sido o destino de Carl. O máximo que passava em sua cabeça era de que ele
provavelmente havia voltado para a sua cabana e adormecido. Esquecido. Talvez
até mesmo tenha ido descansar mesmo que o seu colchão ainda estivesse ali. Era
uma opção dele, afinal. Dani talvez o pudesse entender. Em seu diálogo com ele,
Dani havia revelado que também já fora uma pessoa desprovida de atenção. Carinho.
Até mesmo invisível. E todas essas características poderiam explicar se ela
realmente entendia o lado de Carl.
Dani suspirou. Estava com o celular em mãos. Olhava
para ele. E fora o momento em que vira que a sua bateria estava acabando.
Provavelmente, sua única opção também fosse fazer igual Marcella e dormir.
Amanhã o dia seria bom. Poderia ir ao lago, nadar e se sentir bem. Pensava
assim, pelo menos. Logo, ela se impulsionou com os braços para ficar quase
sentada e ter apoio o suficiente para assoprar a lamparina que iluminava a
cabana e tudo ficara escuro. Mas ainda assim, não estava com o sono. Escutara o
som de seu celular. O som de alguém que havia lhe mandado alguma mensagem. Ela
sorriu. Havia encontrado uma brecha no próprio sinal. Mesmo que
momentaneamente. Era Lorraine. Havia mandado algumas fotos do casamento. Em sua
maioria, estava Thommy, Hannah e Simon. Tiffany provavelmente havia preferido
se isolar. Era uma opção dela. Dani sorrira de orelha a orelha. Sentia-se bem
em ver a sua família bem. “Queria estar
aí para tirar fotos com vocês também...” digitara ela. Estava arrependida? Não.
Mas ainda assim, era como se uma pequena vontade tenha batido. Somente uma
pequena vontade. Seu celular então apagara. E fora o momento em que percebera
que a bateria “havia morrido”. Ela suspirou. Estava até mesmo com preguiça para
se levantar e ir até o sobrado e colocar para carregar novamente. Pensava nas
consequências que teria que enfrentar caso assim optasse. Clara poderia estar
lá.
Sua história com Clara não era muito esclarecida. O
que podíamos supor era de que ela tinha tido um caso com ela. E que ainda
nutria sentimentos por ela. E que provavelmente havia resultado em sofrimento.
Mas não porque Clara havia a traído ou era uma má pessoa. Muito pelo contrário.
Dani olhara para Marcella adormecida. Não poderia culpa-la por querer agredir
Clara. Foram tempos difíceis. Difíceis porque somente ela sabia de sua
condição. Difíceis porque ela não se sentia confiável o suficiente para contar
a Lorraine. Para contar ao seu irmão. E até mesmo o seu pai. Portanto, somente
Marcella sabia sobre a história. E somente Marcella esteve ali por ela. O tempo
inteiro. E é justamente por este motivo que Clara havia dito que se sentia
melhor ao saber que Marcella estava por perto. Pois tinha certeza de que ao
lado dela... Dani poderia se sentir bem.
Dani voltara a encarar o teto da cabana. Pensativa.
Esta história com Clara lhe trazia más sensações. Mas ao mesmo tempo...
Lembrava-se de como realmente era. Como realmente era ter alguém em seus
braços. Embora muito jovem... Poderia dizer até mesmo que já chegara a amá-la.
E temia que isto pudesse voltar. Com muito mais força. Com muito mais
intensidade. E que Clara não sentisse o mesmo. E que isto pudesse machuca-la
novamente. Então, tudo o que pensava agora era uma memória. A última memória do
dia em que estavam juntos. E tal como alguns dos personagens, poderíamos ter
acesso a uma parte da vida de Dani. Para entendê-la melhor. Para compreendê-la
melhor.
Flashback
O céu estava alaranjado. Provavelmente
já estava próximo de virar noite. Mas a vista ainda assim era linda. Estávamos
em um campo. Em um parque. A grama baixa. Brinquedos ao fundo. O céu limpo.
Prédios, mas ainda assim... Uma bela vista. Podíamos ter uma visão panorâmica
de toda a Richmond Town. E de tudo que ela representava. Esta visão, esta
memória, provavelmente representava há dois anos. Dani estava ali. Sentada num
balanço de crianças. O cabelo preso. O olhar sereno. E mais ao seu lado, também
podíamos ver Clara. Que não deixava de olhar para ela em nenhum momento. O que
acabava deixando Dani até mesmo constrangida. Esta, desviara o olhar. Apenas
voltara a encarar a paisagem. Mas não conseguia se segurar. Logo, então, disse:
Danielle – Você está me
deixando envergonhada... – Clara sorriu.
Clara – Desculpe. – Dani
sorriu também.
Danielle – É um ótimo lugar
aqui. Como você descobriu?
Clara – Meus pais me
trazem aqui desde que eu sou criança... – Dani agora passara a olhar para ela.
– E eu continuei a vir. É bom para pensar. Sentar neste balanço. Ir de um lado
para o outro. Sentir o vento vindo em seu rosto... – Dani sorriu. – É libertador.
– Clara retribuíra o sorriso.
Danielle – Libertador... –
ela sussurrou. – Por que eu sinto... Sinto algo ruim saindo desta palavra?
Neste momento? – Clara ficara séria então, desviando o olhar, com um semblante
mais vago e uma expressão mais cabisbaixa. – Bem... – Dani suspirou. – Eu acho
que eu estava certa.
Clara – Eu gostaria que as
coisas fossem diferentes... – afirmou, num tom de voz bem baixo.
Danielle – O quê aconteceu? –
perguntou ela, paciente e calma ainda.
Clara – Eles
descobriram...
Danielle – Quem descobriu?
Clara – Os meus pais. –
Clara aparentemente não havia encontrado coragem o suficiente para dizer isso
olhando nos olhos de Dani.
Danielle – Descobriram... Descobriram
o quê? – ela parecia ter se preocupado então.
Clara – Sobre tudo. –
agora ela fitara Dani, com os olhos marejados, enquanto a luz alaranjada
reluzia sobre elas. – Sobre mim... Sobre nós. – Dani nada dissera então. –
Então... – Clara limpara seus olhos. – Eu a trouxe aqui. – ela sorrira de
canto. – Sem que eles soubessem. Sem que eles desconfiassem... Para que
pudéssemos passar mais um dia juntas. – Dani continuava a fitando, parecendo
estar angustiada agora. – Para que pudéssemos dizer...
Danielle – Adeus. – ela
completara por Clara. – Eu... Eu não quero fazer isso... – referia-se a
despedir-se dela, rindo até mesmo de nervosismo.
Clara – Eu também não,
Dani! – ela afirmara. – Mas... – havia um porém. – Eles ameaçaram. Ameaçaram de
me colocar em um reformatório. Vão me trocar de colégio. Só não vão me trocar
de cidade porque eu os impedi. Disse que me afastaria de você. Disse que...
Disse que nunca mais a veria. – argumentava, gesticulando ao mesmo tempo.
Danielle – Eu... Eu apenas
não quero fazer isso... Não quero ser parte disso! – ela então se levantara de
seu balanço, dando as costas para Clara, decidida em ir embora dali.
Clara – Você está dizendo
isso porque os seus pais ainda não sabem... – Dani ficara parada então. – Qual
seria a sua ação se eles descobrissem? – questionara, e Clara se levantara. –
Seria diferente da minha?
Danielle – Eu lutaria! –
afirmou, com os punhos cerrados.
Clara – Eu também dizia o
mesmo... – ela sussurrou, se aproximando de Dani.
Danielle – Eu lutaria... –
reafirmou agora, com um tom de voz mais baixo, enquanto Clara ficava cada vez
mais próxima dela.
Clara – Não há como prever
isso, Dani... – ela enfim ficara perto dela.
Danielle – Eu... – pudemos
ver que Dani realmente estava abatida ali. – Eu lutaria. – reafirmou,
virando-se para Clara agora. – Eu lutaria e lutaria de novo! – bradou com os
olhos marejados de lágrimas. – Dane-se os meus pais. Dane-se o que eles
pensariam... – Clara parecia abalada ao estar ouvindo aquilo, enquanto Dani
colocava toda a sua emoção a prova naquele momento. – Eu apenas... Lutaria. –
afirmou novamente. – Por nós...
Clara – Eu realmente
gostaria que as coisas fossem mais simples... – afirmou, sorrindo de canto. –
Eu gostaria que a solução fosse apenas lutar. – Clara, então, passara
delicadamente a mão no rosto de Dani. – Mas a vida real não é assim. Não se
baseia em fantasias... – Clara limpara a última lágrima que escorrera do rosto
de Dani. – Eu... Eu sinto muito.
O Sol. O céu alaranjado. Seus
lábios se selando em um beijo doloroso e ao mesmo tempo afetuoso. A câmera
começou a se afastar. Vimos elas ali. Não demorara muito para que se
desvencilhassem. Era um adeus. Um adeus momentâneo, uma vez que já haviam se
reencontrado. Dani sequer olhara para trás. Clara fora embora. E mais uma vez,
um flashback de um integrante da família Gillings permitira que pudéssemos
entende-los mais ainda. Dani não possuía segredos obscuros. Segredos que
envolvia vida e morte. Muito pelo contrário. Mas Dani sem dúvidas parecia ser a
mais solitária de todos eles. Porque ninguém poderia compreender a sua
tristeza. Porque ninguém realmente a entendia. Porque ninguém sabia a verdade.
E esta parte de sua história era realmente dolorosa.
End Of Flashback
–
A câmera estava lá. No lago. Na ponte. Onde tudo havia acontecido há poucos minutos. O som da água. O som da Lua. O som das cigarras. Tudo culminava para criar um ambiente extremamente sombrio. Ninguém havia voltado. Ninguém havia o ajudado. E já fazia um tempo desde que tudo havia acontecido. A câmera se aproximara. E se aproximara. Da ponte. Da beirada. Pudemos ver o local onde Carl havia caído. E que repentinamente... Começava a aparecer bolhas. E mais bolhas. Como se alguém estivesse tentando chegar à superfície.
O som aumentara. Um grande impacto acontecera. Praticamente um susto. Principalmente quando repentinamente vimos uma mão segurara a beirada da ponte. Uma mão branca. Pálida. Seria Carl? Mas seria isso possível? Era alguém tentando o resgatar? Imprevisível. Mas de alguma maneira, embora Dani acreditasse que bastava somente fechar os olhos que o dia já havia acabado, era como se aquele fosse somente o início de sua noite. E todos ali naquele acampamento sequer faziam ideia. Mas realmente... Estava apenas começando.
Virginia, EUA (Richmond Town) – Main Highway President
Noboa
10:45 PM
O som da motosserra havia acabado de parar. Mais uma
pausa. Os bombeiros suados. Exaustos. Cansados. Era normal... A própria Trina
Smith havia dito que seria demorado. Afinal... Ele estava preso dentro de uma
lataria. E tinha todo um cuidado próprio para que o carro não o engolisse ainda
mais ou o acabasse pressionando até a morte. Ou até mesmo o esmagasse. Eram
profissionais. Profissionais treinados para esse tipo específico de situação.
Como mencionado, nada além da normalidade.
O trânsito já havia acabado. Afinal... Já fazia
horas desde que estavam ali. Portanto já não havia muitos carros passando por
ali e nem ninguém sinalizando absolutamente nada. Alguns policiais estavam
sentados próximo à ambulância que estava ali para dar ainda qualquer tipo de
ajuda específica para Jackson. Kate, logo fora vista. Descera da parte de trás
da ambulância. Carregava consigo um copo de água e uma seringa. Também
apresentava um semblante de exaustão. E de sono também. Estava ali fazia muito
tempo. Mas, de alguma maneira, pensava que já estava próximo de acabar. E que
conseguiriam tirar Jackson com vida dali. Era o que os seus pensamentos se
seguravam. Era o que ela segurava. Agachou-se próxima do carro. E de Jackson.
Ele, ainda acordado. Olhava para alguns pontos. Prestava atenção nas conversas.
Nas cenas. Apenas queria que tudo isso acabasse. E nada mais e nada menos além
disso. Arthur também estava por ali. Mas adormecido. Com a cabeça encostada na
lateria de um veículo policial, apenas caíra no sono. Era o normal. O dia para
ele havia sido extremamente agitado. A câmera logo voltara a se aproximar de
Kate e Jackson para que pudéssemos ouvir a conversa deles:
Kate – E aí? – ela sorrira para ele, que
retribuíra. – Está segurando firme?
Jackson – Eu acho que é o carro que está me
segurando firme... – brincou e Kate riu.
Kate – É verdade... – ela concordou. –
Trouxe algo para você. – ela mostrou o copo de água e a seringa e os olhos de
Jackson até brilharam, passando a língua em seus lábios, provavelmente porque
sua boca estava muito seca. – Como você não pode se inclinar para beber no
copo, trouxe a seringa. É só abrir a boca e tcharam! A mágica está feita. – ela
sorriu.
Jackson – Você não faz ideia dos sonhos que
eu estou tendo por causa de um copo d´água... – Kate riu. – Sem mencionar o
fato de eu estar apertado. – Kate riu, desviando o olhar, parecendo incomodada
com aquele assunto agora. – Ah. Desculpe... – ele envergonhou-se agora.
Kate – Eu posso imaginar o que você está
passando... – ela colocara a seringa dentro do copo e puxara para aderir a água
dentro dela, e em seguida, apertara a seringa dentro da boca de Jackson que
gemeu, até mesmo de prazer, fazendo com que Kate risse ainda mais. – Deus!
Parece que você ficou dias num deserto... – ela repetira o mesmo movimento com
a seringa.
Jackson – Você... – ele engoliu a água. –
Não faz ideia. – Kate sorriu, fazendo novamente. – Você acha... Acha que irá
acabar logo? – referia-se ao serviço dos bombeiros, enquanto Kate ainda lhe
dava água.
Kate – Eu conversei com eles agora há
pouco. Parece que a próxima vez que vierem aqui é a última. – Jackson sorriu e
Kate logo terminara de lhe dar água.
Jackson – Estarei indo para casa, então...
– ele sorriu, e Kate também fizera o mesmo.
Kate – É... Você está indo para casa. –
concordou. – Quer mais água? – ofereceu.
Jackson – Se não for incômodo... – Kate
apenas balançara a cabeça negativamente aos risos e logo se levantara.
Jackson continuava lá. Até mesmo porque estava
preso. Não tinha para onde ir. Observou Kate se levantar e voltar para a
ambulância e pegar mais água. No caminho, ela conversava com alguns policiais e
médicos. Eles já haviam se tornados próximos. Era o que um acidente de carro,
com uma vítima e um homem preso debaixo de um carro por horas fazia. Jackson
pensava isso, pelo menos. Ele logo começara a olhar para outra direção. Para o
saco preto. Que continuava ali. Sua visão parecia ter ficado borrada por um
momento. Ele até mesmo piscara algumas vezes. Quando ele pareceu ver um
movimento dentro daquele saco de plástico, ele franziu o cenho. Como seria
possível? Pensava ele. Os movimentos continuavam. Ficavam mais fortes. Mas
ninguém parecia notar. Era somente ele. Estaria ele delirando? Estaria ele
tendo ilusões? Ele não sabia ao certo.
As pancadas ficaram mais fortes. Mais agressivas.
Jackson piscava mais vezes. Queria ter certeza do que estava vendo até avisar
alguém. E fora o momento em que vira que o saco se rasgara. Arregalara os
olhos. Ele olhara para o lado, Kate estava com o copo d’água em mão parada
conversando com um homem. Tentava chama-la. Mas a sua voz não saía. E era uma
agonia extrema que sentia em seu coração. E quando olhara de volta para o saco
preto, a mulher que havia morrido se levantara. Era loira. Com uma aparência
horrível. Jackson recusava-se a acreditar. Alguém...
Socorro... Mas era quase um socorro. Jackson pôde ver. Pôde ver claramente.
A pele. O ferimento na cabeça dela. Os olhos amarelados. Os dentes já podres e
deteriorado. Amarelados também. Quase caindo. Arrastava-se pelo chão. Tentava
gritar. Sua voz não saía. Sua boca secava. Sua garganta não permitia. E a tal
mulher continuava a se arrastar. A se aproximar. Kate não percebia. A aflição.
A adrenalina. Seu coração batendo rápido. Os olhos piscando mais e mais vezes
numa tentativa de imaginar que aquilo realmente estava acontecendo. E o pior
realmente aconteceu. A mulher “morta” ficara próxima dela. E com uma ação
incrível, se colocara para dentro do carro com ele. Rasgara seu pescoço em
pedaços. E fora somente neste momento em que Jackson conseguira gritar alto o
suficiente. Kate olhara. Arthur acordara. E a única reação de Kate fora somente
agir:
Kate – Mas... Mas que merda é essa?! –
ela rangiu os dentes.
Kate correra até lá. Chutara a mulher numa tentativa
de fazer com que ela se afastasse. Tentara pegá-la e se assustara com a imagem
que estava tendo. O sangue escorria cada vez mais. Kate então rangira os
dentes. Puxara as pernas da mulher com força. Outros policiais vieram para ajudar
e auxiliá-la. Alguns já sacavam o revólver e atiravam nela. Uma. Duas. Três
vezes. Nas costas. Mas nada parecia surtir efeito. A mulher até mesmo chegara a
se levantar. Agora caminhava em direção a Kate. Os dentes. O sangue escorrendo
por sua boca. Uma expressão assustadora. Kate imaginava como aquilo poderia
estar vivo? Ela também sacara o seu revólver. Atirara. Atirara mais uma vez.
Aquilo definitivamente não estava acontecendo. Eram tiros vindos de diversas
direções, mas não fazia efeito nenhum. Somente impedia com que ela se
movimentasse em direção a Kate.
A mulher fora derrubada então. Ela voltara a se
arrastar para dentro do carro. Puxava Jackson. Ouvíamos o som do carro de quem
estava pressionando-o ainda mais. O grito de dor. Não! Não! gritava Kate. Esta avançou. Dera mais um tiro. E mais um
tiro. A mulher puxava Jackson mais ainda. Os paramédicos se recusavam a olhar.
Os policiais tentavam a puxar, mas somente piorava a situação, pois ela não
largava dele. E fora o momento em que algo viera em sua cabeça. Ficara ali.
Estática. Sem ação. Mas, repentinamente... Um tiro fora dado. E certeiro.
Fazendo com que ela voltasse a ficar morta. Um tiro na cabeça. Mas antes que
ela pudesse enfim voltar a descansar em paz... O carro caíra e esmagara
Jackson.
Kate
gritara. O sangue espirrou em todos ali perto. Kate caíra de joelhos de chão
aos prantos. Como seria aquilo possível? Como aquilo havia acontecido? Estavam
todos em estado de choque. Arthur. Os bombeiros. Os policias. Os médicos. Não
acreditavam no que os seus próprios olhos mostravam. E Kate havia visto. Havia
visto pela primeira vez. Algo que ela jamais pudesse pensar que poderia ser
real. Um morto-vivo. Um morto-vivo ressurgindo. E acabando com as ideias dela.
Acabando com a possibilidade de Jackson viver. Finalizando tudo e a todos.
Acabando com tudo e a todos. E a cena acabara assim. Com Kate ali. Com os olhos
marejados. Suja de sangue do próprio Jackson. Lamentando que não havia trago o
copo d’água cedo o suficiente para impedir o pior. Tudo o que ficara em sua
mente fora somente a sua última frase. Que se desmontou em uma verdadeira
coleção de mentiras... Você está indo
para casa.
Virginia, EUA (Richmond Town) – Edmund’s Home
10:59
PM
Edmund havia acabado de chegar a sua casa. Abriu a
porta cuidadosamente para não acordar ninguém caso estivessem dormindo. Não era
um cômodo iluminado, então somente a iluminação natural da Lua bastava. Estava
com a mochila nas costas. A roupa bagunçada. O cabelo bagunçado. Onde ele esteve
até agora? Ninguém sabia ao certo. Como mencionado, Edmund era uma pessoa
misteriosa. Com objetivos misteriosos. O vídeo que ele havia visto. A mulher
com quem ele conversava por mensagens. Tudo ao redor dele era extremamente
duvidoso e suspeito.
Fechou a porta atrás de si com o mesmo cuidado
anterior. Andava com dificuldade. Bem a sua frente tinha escadas, estava
prestes a subi-la quando notara que as luzes da cozinha estavam acesas. A
decoração era simples. Edmund não parecia vir de uma família rica. Classe
social média, podíamos dizer assim. Apenas o básico para ter aconchego e viver.
Edmund seguira as luzes então, indo para a direita. Dera alguns passos e
pudemos ver enfim a cozinha. Deparou-se com duas pessoas ali. Uma mulher de
cabelos curtos e escuros lavando a louça, enquanto um homem que era mais gordo,
aparentava ter próximo dos quarenta e oito anos, estava sentado na cadeira
próximo à mesa fatiando um pão. Talvez um lanche da noite. Eles eram Millis e
Ronald Cullough. Ambos, ao ouvirem os passos de Edmund, viraram-se
imediatamente e os viram. Logo deram um sorriso. Eram os pais dele. Edmund
retribuiu levemente. Parecia cansado. Ronald, então, dissera:
Ronald – Filho! Você chegou! – disse,
ainda sorrindo, enquanto Millis continuava lavando a louça, de costas para
ambos, mas virava a cabeça às vezes para ver o filho. – Está tarde... – ele
olhou para seu relógio de pulso. – Aconteceu algo? Você está horrível...
Edmund – Estou cansado... – afirmou. –
Fiquei até de noite na faculdade. Fazendo pesquisa. Tenho prova amanhã... –
explicou, inventando alguma mentira, pois Edmund já havia ido embora da
faculdade há muitas horas. – Nada que um banho não possa resolver. – ele
concluiu.
Millis – Você já jantou? – perguntou
preocupada. – Faz algumas horas que eu fiz a comida, mas posso esquentar para
você se quiser... – se ofereceu, fechando a torneira e secando as mãos com o
pano, encostando-se na pia agora de frente ao seu filho, falando bastante
sorridente e amigável.
Edmund – Eu já jantei... Obrigado. – agradeceu.
– Eu... Eu vou para o meu quarto. – ele virou de costas, mas fora interrompido
quando algo que ouvira parecia ter o incomodado, deixando-o até mesmo
paralisado.
Millis – Sloane ligou atrás de você... –
informou, e Ronald levantou-se para buscar um copo limpo e logo voltou a se
sentar, agora passando manteiga em seu pão.
Edmund – S-Sloane? – gaguejou, virando-se
para eles novamente. – O que ela te disse?
Millis – Nada... – tentara se lembrar. –
Apenas perguntou onde você estava e eu disse que estava na faculdade. – disse.
– Ela disse que iria lhe encontra-lo lá. Vocês não se viram? – Edmund soava
frio.
Edmund – Sim... Sim... Eu a encontrei. –
mentiu novamente e Millis sorriu.
Millis – Aconteceu algo com o seu celular?
Ela mencionou que você não atendia as ligações dela...
Edmund – Pifou. – foi direto.
Ronald – Você está com ele aí? Eu levo
para o conserto amanhã. – sugeriu agora mordendo o seu pão.
Edmund – Eu joguei no lixo... – Ronald o
fitou neste momento. – Caiu no chão. A tela quebrou em pedaços. Não havia
necessidade em leva-lo comigo... Poderia me cortar. – Ronald riu.
Ronald – Era só ter colocado na sua
mochila... – Millis parecia ter concordado.
Edmund – É... – ele concordou, ainda
aparentando estar agoniado. – Você tem razão. Não pensei claramente... – Ronald
sorriu para ele. – Bem, então... – e fora, neste momento, então, que Edmund
fora surpreendido com um abraço repentino de Millis que praticamente se jogara
nos braços dele, totalmente deixando-o sem ação, totalmente congelado. – Mãe...
– ele sussurrou e depois de alguns segundos, a envolveu em seus braços também,
e demorara um tempo até que então eles se desvencilhassem por completo.
Millis – Eu não consigo fingir que sou
forte o suficiente, Eddie... – disse com os olhos já marejados. – Você não nos
avisou. Estávamos quase chamando a polícia... – afirmara, e Edmund sentia-se
extremamente culpado. – Eu não queria o deixar preocupado. Eu tentei ser forte.
Mas após tudo o que acontecera... – deixara no ar este segredo, e Edmund então
apenas desviou o olhar, abalado. – O mundo está perigoso. – concluiu.
Ronald – Sua mãe está certa, Eddie... –
ele levantou-se também, aproximando-se deles e tocando levemente no ombro de
seu filho. – A próxima vez que for chegar tão tarde, ao menos nos ligue do
orelhão. – pedira, com um leve sorriso, e Millis abraçara o seu marido, abatida
e emocionada.
Edmund – Bem... Eu estou aqui. – ele
sorrira. – Não acontecerá novamente. – prometeu.
Millis – Nós amamos você...
Edmund – Eu também amo vocês... –
retribuiu o carinho.
E então, fora dado um abraço de carinho. A expressão
de Edmund por trás enquanto tinha seus pais o abraçando. Era inevitável. O
olhar vazio. E ao mesmo tempo... Ainda misterioso. Onde ele esteve este tempo
todo? Uma coisa era fato: ele estava mentindo. E aquela preocupação de seus
pais. E essa declaração. E as lágrimas de sua mãe. Somente ainda mais
complicava a situação. Fora o momento então em que se desvencilharam.
Olharam-se um nos olhos do outro. Edmund apenas dera um leve sorriso, e então,
dissera:
Edmund – Vou tomar banho e dormir...
Millis – Está bem.
Edmund – Boa noite.
Ronald – Boa noite... – ele e Millis
disseram em uníssono.
Edmund então virara de costas novamente. Millis
voltara a pia para terminar de lavar as louças. Ronald, a comer o seu pão.
Edmund ficara de costas para a parede que separava a cozinha de onde ele
estava. Pudemos notar que em suas mãos tinha algo. Uma chave. Provavelmente de
algum carro. Ele fechou os olhos e suspirou. Estava fazendo ele o certo? Ele
não sabia disso. Apenas ficara ali. Pensativo. Se esta era realmente a decisão.
E quando fechara os punhos, ele aparentemente teve certeza disso.
Subira os degraus ainda com a mochila nas costas.
Teria que ir ao seu quarto ainda. Tinha dificuldade ainda por motivos
desconhecidos. Não demorou muito para que chegasse até em cima e virasse à
esquerda. Logo abrira a porta de seu quarto. Era pintado com a coloração de
azul turquesa nas paredes. Fechara a porta para ter privacidade, chegando até
mesmo a trancar. Jogara a mochila em cima da cama e colocara a chave em cima da
mesa. Primeiro, ele teria que cuidar de outros assuntos. Foi até um espelho
grande e levantara a sua camiseta, mostrando um corte horizontal. O sangramento
já havia parado, mas estava ardendo e doendo. Seu abdômen totalmente
avermelhado de sangue. Ele bufou. Não sabia que havia sido tão grave. Quase até
mesmo profundo. Ele abaixara a camiseta. Teria que se lavar. Como ele realmente
precisava de um banho, não teria problema em jogar água no seu corpo.
Tirara a camiseta jogando-a no chão e desabotoara
sua calça, retirando o cinto logo em seguida. Retirara a cueca. Como estava por
trás, pudemos ver a sua bunda. Mas nada além disso. Nenhuma genitália. Ele
então seguira para o banheiro. Tudo em seu dormitório era extremamente simples.
Tinha a cama e uma mesa de madeira onde tinha o seu computador e a televisão.
Logo, adentrara no banheiro. Era pequeno. Vaso sanitário ali e uma pia acoplada
na parede. O boxe do chuveiro logo mais à esquerda, tinha uma janela para a
saída de ar quente. Ele fechara a porta e ligara o chuveiro. Não teria muito
tempo o suficiente. Demorara a criar coragem. Afinal... Iria arder. Mas
precisava lavar o ferimento. Ele fechou os olhos. Ficara pensativo. E então,
assim fizera. Adentrara. Até mesmo rangiu os dentes quando a água tocou em seu
corpo. Mas a questão ainda continuava: como ele havia adquirido aquele
ferimento tão amplo? Provavelmente este era o motivo de ele estar tão exausto e
mal conseguir andar. Edmund provava cada vez mais ser alguém extremamente
complicado de se entender.
...
Edmund abrira a porta depois de alguns minutos. Fora
algo bem rápido. A toalha enrolada na sua cintura. Os cabelos molhados. O
ferimento ali da mesma maneira. Teria que passar na farmácia mais tarde para
comprar medicamentos. Tinha medo de infeccionar. Ele aproximou-se de seu
guarda-roupa e pegara a muda de roupas. Rapidamente vestira a camiseta e
deixara a toalha cair. Sua bunda voltara a aparecer. Colocara a cueca. Colocara
as calças. A meia. Calçara o sapato. E estava definitivamente pronto. Pegara
uma jaqueta de couro em caso de começar a fazer frio.
Uma ideia logo viera em sua mente. Procurara por
algo. Não demorara muito para achar, já que estava próximo da televisão. Era o
controle remoto. Era um volume normal. Talvez para distrair seus pais e estes
pensarem que ele ainda estava em casa. Uma ótima jogada no caso. Mudara alguns
canais até achar um agradável. Logo era um de notícias. Estava passando
reportagem sobre o casamento de Thomas Gillings, falando sobre o filho da
famosa doutora Lorraine. Edmund somente fitara aquilo. Pensativo. Afinal... Ele
havia conversado com ela hoje. E talvez a sua ideia ou até mesmo seu conselho
tenham sido cruciais para as suas próximas ações. Não demorara muito para que
trocasse de canal. Então, algo pareceu ter chamado ainda mais sua atenção.
Aquele vídeo de que Sloane havia lhe mandado, já estava na televisão. Pessoas
ficando nervosas. Mortos levantando. Ataques violentos. Ele, então, rangiu os
dentes. Murmurou. Cerrou os olhos. Fechou os punhos. Definitivamente, aquilo
parecia mexer muito com ele. E sequer tínhamos ideia sobre o que realmente se
tratava.
Ele quase atacara o controle na parede, mas preferiu
se controlar para não chamar muita atenção. Virara de costas para a parede,
passando a mão em seus cabelos molhados, visivelmente incomodado com a situação
que acabara de ver. E fora o momento em que seus olhos fitaram um painel de
foto. Ele então se aproximara. Tinham várias fotos penduradas ali. Era um
painel médio marrom. Ele sorriu de canto. Tirou o “prego” que prendia a fotografia
e pegara em suas mãos. Era ele, há provavelmente uns dois anos. Acompanhado de
uma moça. Loira de cabelos ondulados. Linda. Com os olhos azulados. Os lábios
carnudos e destacados com batom. E um lindo sorriso. Edmund a beijava na
bochecha nesta foto. Pareciam muito próximos um do outro. Ele apenas dera um
leve sorriso. Seus olhos transmitiam emoção. Ele transmitia emoção. Dentro de
sua própria alma. E fora naquele momento em que memórias vinham em sua mente. E
pouco a pouco começávamos a descobrir cada vez mais quem era Edmund Cullough.
Flashback
Era de noite. Dois mil e oito.
Pudemos ver um braço. Um balde pipoca segurando-o. Junto com dois copos de
refrigerante. Era questionável como alguém conseguia segurar tantas coisas
assim tendo somente duas mãos. Usou o corpo para empurrar a porta e logo nos
vimos novamente no quarto de Edmund. Este, inclusive, parecia ter dificuldade
em carregar tais objetos. Forçou uma tosse para que alguém logo se tocasse. E
fora o momento em que a câmera fitara a imagem da tal moça loira deitada na
cama. Como ela parecia muito distraída em sua cama com o celular em mãos,
Edmund a chamara pelo nome. Natasha.
Fora somente o que pudemos ouvir. Ela logo, então, levantara-se para ajudá-lo.
Com aquele lindo sorriso como a própria foto em que Edmund segurava no mundo
real. Pegara os copos de refrigerante e colocara na cômoda ao lado da cama,
voltando a se acomodar lá, pegando o controle remoto e regulando alguns canais,
enquanto Edmund preferiu se sentar na cadeira do computador, a arrastando para
perto da cama para que pudessem assistir ao filme juntos. Ele, então,
comentara:
Edmund – Você quase não é
folgada, né? – ela então rira.
Natasha – A cama estava mais
confortável. – deu beijinho no ombro para ele, que riu também.
Edmund – Palhaça. –
murmurou, comendo a pipoca. – Que filme é esse?
Natasha – Underworld. –
esticou o braço para pegar um pouco da pipoca.
Edmund – Eu não sabia que
gostava de vampiros... – continuava a assistir.
Natasha – E eu não gosto. –
ela sorriu. – É melhor do que lobos, quero dizer. Mas nenhum me agrada muito. –
concluiu.
Edmund – Você não me contou
como foi a entrevista...
Natasha – Ah, então! – ela
diminuiu o som da televisão, para que pudessem conversar melhor, deixando só a
imagem, enquanto Edmund ainda parecia olhar para a televisão. – É um lugar legal.
Fui entrevistada por um homem chamado... – tentava se lembrar do nome. – Stern.
Stern Todd. – lembrara-se dele. – Ele era careca. Boa pinta... – elogiara e
Edmund a fitara, arqueando a sobrancelha. – O quê? – ela riu. – Não pude deixar
de notar... – rolou os olhos. – Enfim... Ele era um dos integrantes da equipe
da Vanguardian Society. Sempre com um isqueiro em mãos abrindo e fechando. –
afirmou, o que trazia a tona de que este mesmo homem já havia aparecido no
início do episódio. – Trabalham no laboratório de pesquisas científicas para
medicamentos Bioclinic Laboratory. – explicava enquanto Edmund prestava atenção
e comia a sua pipoca. – Eles acharam o meu currículo de alguma maneira. E eu
acredito que deva dá certo. – ela sorriu, satisfeita.
Edmund – Alguém finalmente
percebeu que você não é uma loira com pouco QI. – ela então atacou o
travesseiro nele aos risos.
Natasha – Besta! – reclamou,
ainda rindo. – Mas eu acho que vai dá certo sim. – ela sorriu. – E somente para
você ficar sabendo... Eu o recomendei também. – ela desviou o olhar, tímida
agora e Edmund a fitara.
Edmund – Sério?
Natasha – É claro. –
afirmou. – Não vou a lugar nenhum se o meu parceiro da feira de ciências não
estiver lá... – Edmund sorriu de orelha a orelha agora.
Edmund – Awn! – ele ainda
sorrindo, se jogou em cima dele, e ambos riram bastante. – Que bonitinho! – ela
encostou a cabeça nele. – Espero que dê tudo certo... – ele disse, esticando o
braço pra pegar o balde de pipoca e colocar em cima do corpo deles para ambos
comerem.
Natasha – Vai dar tudo
certo. – disse, confiante. – Como eu disse, não estou indo a lugar nenhum sem
você. – Edmund sorriu novamente. – Mas sabe quando você pressente de que dará
um grande passo na sua vida? – disse, pensativa. – Stern disse que eu era
especial. E eu acredito nisso. Coletaram até o meu sangue. – Edmund nada disse,
somente a escutava, sem desconfiar de segundas intenções. – E eu também acredito
em Athena. – afirmou, com os olhos praticamente brilhando, totalmente
sonhadora. – Após ela perder a filha dela... Tudo o que eu realmente imagino é
que ela queira fazer a diferença, sabe? – Edmund apenas assentia, olhando para
ela. – De fazer o mundo um lugar melhor...
Edmund – E nós iremos
ajuda-los... – Natasha sorrira para ele. – Juntos. Grandes cientistas... – ele
brincou e ambos riram.
Natasha – Juntos, não é? –
ele assentiu positivamente.
Edmund – Sempre...
Ela se acomodou ainda mais no
ombro dele. Pensativa. Ele? Apenas feliz pela amiga. E também pelo gesto de
amizade que ela havia provado agora em recomendá-lo. Vanguardian Society. Já
não era a primeira vez que este nome era citado. Athena. Stern Todd. Famosas na
mídia? Talvez. O que se podia dizer era que eles apenas estavam tentando fazer
a diferença. E Natasha acreditava nisso. E Edmund acreditava nela. Provando de
que a relação deles já era algo firme. De muito tempo atrás. E de que isto não
acabaria tão cedo. Não se dependesse deles... Antes que a cena acabasse, tudo o
que pudemos ouvir fora a gargalhada de ambos.
End Of Flashback
Edmund – Eu vou salvar você... Eu prometo... – sussurrou, com a voz até mesmo falhada, e pudemos notar de que Natasha era a “ela” sobre qual Edmund se referia na conversa com Sloane. – E eu vou destruí-los antes que eles destruam o mundo. – prometera, então.
Guardara a arma de volta ao lugar. Pegara a jaqueta e cobrira o revólver por cima. Colocara a mochila nas costas. Aproximara-se da mesa e pegara um pedaço de papel. Uma caneta procurara então. E rapidamente tratara de escrever algo: “Mãe... Pai... Eu sinto muito. Como vocês mesmos disseram... Eu tentei ser forte. Mas eu irei atrás dela. E eu a trarei de volta para casa. Caso algo dê errado, não olhem para trás e fujam. Fujam o mais rápido que puderem. Eu amo vocês...” Deixara ali em cima. Pegara as chaves do carro. Afastara. Pensativo. Fora em direção até a janela. Tratara de olhar de volta para seu quarto. Ele pensara em seus pais. Pensara em tudo. Mas era realmente a decisão correta. Levantara a janela para cima e olhara a altura. Não era muito alto. Pendurou-se, sentando-se na borda. E então, pulara.
Ao cair no chão, rolara para mais uns metros adiante. Limpara-se da terra que ficara no seu corpo e correra pela rua. O veiculo ali estava. Com o intuito de não fazer o alarme disparar, preferiu abrir a porta com a própria chave. E assim fizera. Entrara. Colocara a mochila no banco de trás. E sequer sem pestanejar, dera partida no carro. A câmera trocou o frame para Millis e Ronald. Eles sequer imaginavam. Estavam ainda na cozinha, somente conversando. A câmera trocara para o quarto. A foto de Natasha com Edmund. E para o papel em que tinha o recado dele. E então... Voltara para Edmund. A decisão estava feita. E agora já não tinha mais como voltar atrás. E então saíra dali. Com o destino de realmente encontra-la.
Virginia, EUA (Richmond Town) – Burriet Buffet,
Various Scenes
11:10 PM
Estávamos agora no bufê onde seria realizada a
comemoração do casamento de Hannah e Thomas. Era um espaço amplo. E de luxo.
Víamos as mesas que pareciam ser de madeira importada. Uma delas, parecia ser
exclusiva para os noivos e seus familiares. Já víamos Anastacia sentada por
ali. Era uma mesa redonda. Tinha vários pratos. Um vaso quadrado de flor bem ao
centro. Em cima dos pratos, tinha um pano branco. Servia para não limpar a
boca, mas sim, impedir que algo manchasse a sua camisa. O prato estava sob um
objeto circular. Parecia ser de palha. Um detalhe a mais que não faria muita
diferença, mas que ainda assim, parecia ser bastante importante. Tudo aquilo
fora feito e improvisado pela própria Hannah. Havia algumas iluminarias
iluminando o ambiente. O ar condicionado ligado. Os convidados chegando pouco a
pouco. As paredes com belíssimos detalhes. Obras de artes penduradas.
Obviamente, tudo aquilo, não vinha somente do dinheiro de Thomas. Simon também
deve ter o ajudado. Assim como Lorraine. Agora que sabíamos como eles realmente
haviam se conhecido e que não havia sido natural, e sim, proposital, Lorraine
faria de tudo para que esta vida de ambos desse certo. Talvez porque se
sentisse endividada com a família daquela moça que havia falecido durante o
acidente.
Todos aplaudiram a partir do momento em que as
principais estrelas da noite chegaram ali. Hannah segurava o seu buquê.
Balançava o braço de um lado para o outro como atos de comemoração, tal como o
próprio Thomas. Gregor também fora visto mais ao fundo. Como ele fora o
motorista de Hannah, nada mais justo de ter sido o responsável em trazê-los até
aqui. Um mero detalhe também pôde ser observado. Uma moça, mais ao fundo de
Hannah. Tossia bastante. Precisou ser amparada. Embora, negasse que precisasse
de qualquer atendimento médico. Mas aparentemente não parecia ser nada demais.
Afinal... Todos os olhares eram destinados exclusivamente para Thomas e Hannah.
Eles que deveriam brilhar. E nada mais e nada menos do que eles.
...
Alguns minutos se passaram. Thomas e Hannah posavam
juntos para o fotógrafo. Estavam por trás da principal mesa. Tinha alguns
quitutes lá. A maioria comida excêntricas. Doces, também. Um bolo de enfeite
estava ali. Grande. De torre. Deveria ter quatro andares. No topo, tinha
bonecos de biscuit de Thomas e Hannah. Ele de terno ajoelhado para ela. E ela
de vestido, totalmente encantada pelo pedido. Somente detalhes e detalhes.
Enquanto isso, eles cruzavam seus braços, cada um com uma taça de champagne,
onde faziam poses para beber. Era algo que o fotógrafo mesmo havia iniciado e
pedido. Algo realmente para marcar a memória deles. Nada mais justo do que esta
ocasião ter um álbum de casamento. Eram flashes e mais flashes. Havia uma
música de fundo também.
Logo, começaram a chamar convidados. Para tirarem
fotos com eles. Iam familiares. Iam primos, primas, tios e tias. Até mesmo
amigos. A grande maioria fazia uma festa. Lorraine estava ali próxima deste
momento. Comemorava cada grito e cada etapa que eles davam. Não deixava os
sozinhos de maneira alguma. Até mesmo porque não queria perder absolutamente
nada, então, ela realmente estava empolgada.
Fora o momento em que vimos a expressão facial de
Hannah mudar. De sorriso para algo sério. Gregor havia se aproximado dali.
Sorridente e pulando. Provavelmente, porque já havia bebido algumas cervejas.
Queria dar mais parabéns aos noivos. Thomas comemorava com ele, sem imaginar ou
pensar sobre absolutamente nada. Era inocente. Gregor dera um toque de mãos com
Thomas e o abraçara, dizendo:
Gregor – Thommy, cara! – ele estava
realmente empolgado, fazendo até “croque” na cabeça de Thomas. – Você realmente
se casou nessa porra! – falou num tom de voz mais alto, enquanto pudemos ver Lorraine
sorrindo e acompanhando aquelas fotografias.
Thomas – Quem diria, não é mesmo? – Gregor
sorriu.
Gregor – Eu só queria compartilhar a
felicidade de vocês... – Hannah sentia-se enojada com aquela falsidade. – Vocês
sabem que eu gosto muito de vocês, não sabem? – Thomas assentiu positivamente.
– Ótimo! – ele abraçara novamente Thomas, desvencilhando-se dele em seguida e
indo até a Hannah. – Hannah... – ele sorrira maliciosamente a vê-la.
Hannah – Gregor... – ela teve que fingir a
mesma empolgação, mas ninguém parecia ter percebido nada de estranho naquilo.
Gregor – Você sabe que tudo aquelas coisas
que lhe disse no carro são verdades, não sabe? – Thomas franziu o cenho. – Eu
disse a ela que a considero da família, Thommy! – Thommy riu. – Eu prometo que
algum dia irei levá-la para beber no bar com a gente, hein?! – ele a abraçara
então, e Hannah fora obrigada a aceitar, embora não fosse a sua atitude
inicial. – São verdades mesmo. Não se esqueça. Estou ainda lhe observando... –
sussurrara ele no ouvido dela, sem que ninguém notasse, deixando-a a arrepiada.
– Meus parabéns, Hannah! – ele sorrira agora ao se afastar dela, e Hannah
retribuíra, embora não parecesse mesmo de verdade. – Que o casamento de vocês
seja abençoado. E dure bastante. – ele concluiu.
Hannah – Obrigada... – ela agradeceu.
Thomas – Agora, a foto! – ele disse
empolgado. – A foto, senhoras e senhores! – ele abraçou Gregor por trás, que
ficara no meio de ambos, colocando sua mão na cintura de Hannah, até mesmo
propositalmente.
Gregor – A foto! – ele sorriu.
E o flash fora visto novamente. Gregor abraçara
Thomas novamente. Quem diria que aquilo era uma encenação? Gregor era realmente
um bom ator. Fingia que gostava de Thommy. Fingia que gostava de tudo aquilo.
Fora até mesmo a Lorraine deseja-la congratulações. Chegara até a abraça-la.
Aquilo realmente enjoava Hannah, que semicerrou os olhos. Estava incrédula. Era
a única que sabia a verdade sobre ele. A única que sabia de seu desprezo sobre
a família inteira, principalmente de Lorraine e Thomas. E aquilo a incomodava.
Incomodava porque ela não podia fazer nada. Afinal... Ela estava nas mãos dele.
E caso ousasse em contar o que sabia, provavelmente poderia ser desmascarada. E
era justamente o que ela não queria. Logo disfarçou. Mike chegara para
fotografar com eles. E dele, ela realmente gostava e fizera uma festa.
Realmente Hannah era uma boa moça. Ela apenas estava sendo usada por um homem
que não prestava.
–
Garçons andando de um lado para o outro. Com
bandeja. Servindo aperitivos até o momento em que o jantar fosse oficialmente
liberado. Víamos os convidados sentados em suas mesas. Conversavam. Tudo ali
era realmente tranquilo. Até mesmo o barulho da conversa não era alto. Eram
civilizados, podíamos dizer assim. Estávamos agora mais afastados. Num bar.
Havia um grupo de homens ali bebendo uísque e discutindo sobre times de
futebol. Não pareciam incomodar ninguém. Simon também estava ali. Sentado numa
banqueta alta. Com um copo de cerveja em mãos. Estava pensativo. Quieto.
Pensativo sobre muito. Pensativo ainda sobre Venus. Sobre o casamento. Sobre
tudo. Sabia ele como havia começado o relacionamento de seu filho com Hannah?
Provavelmente. Simon sabia sobre muita coisa. E isso o tornava cada vez mais
misterioso.
Fora o momento então em que vimos uma mulher se
aproximando. Loira. Belíssima. Elegante. Com um vestido dourado. Cheia das
joias. Seduzia todos e a qualquer um que se atrevesse a olhar em direção a ela.
Os homens até mesmo esqueciam sobre o que estava acontecendo. Mas ela não dava
a mínima para nenhum deles. Era Klaire. Que logo, então, se sentara num banco
próximo ao de Simon. Levantara o dedo e um dos garçons logo tratara de
atendê-la. Não deixara também de perceber seu generoso decote. Fazia como
provocação. Mas ainda assim... Ela era uma boa mulher. Não era somente uma
“vadia” qualquer. Fazia para provocar? Talvez. Mas também fazia para chamar
atenção. Klaire somente não gostaria de passar sendo ignorada. Não era do nível
dela. Ela, por outro lado, apenas pedira por uma taça de vinho. Logo, então,
comentara:
Klaire – Foi um lindo casamento, você não
acha? – perguntara, deliciando-se de seu vinho, sem olhar diretamente para
Simon. – Hannah é uma mulher sortuda em ter Thomas. – ela afirmara, mas Simon
continuou calado. – Ela estava linda. O cabelo. O vestido. Pergunto-me se algum
dia eu também estarei nessa mesma posição que ela... – ela sorrira, pensativa.
– Não sei. – ela dera outro gole em seu vinho. – Talvez.
Simon – O que você está fazendo aqui,
Klaire? – questionou.
Klaire – Ora... Eu fui convidada. – sorriu
ela, debochada.
Simon – Eu sei. Quero dizer... O que você
está fazendo aqui perto de mim?
Klaire – Vim beber uma bebida. O mundo não
gira em torno de você... – deu de ombros.
Simon – Klaire... – ele parecia ter se
estressado. – Lorraine pode nós ver. – advertiu.
Klaire – A brincadeira fica mais
excitante, então... – ela tornara a sorrir, finalizando o seu vinho, e então,
vimos a sua mão deslizando sob a bancada do bar, sem que ninguém percebesse,
aproximando-se da mão de Simon, que imediatamente recuara.
Simon – O que você está fazendo?! – ele
disse, praticamente rangindo os dentes, num tom de voz não muito alto para não
ser notado.
Klaire – Não finja que você não gostou,
Simon...
Simon – Lorraine pode nos ver! –
reafirmou.
Klaire – Lorraine não é ciumenta, Simon. –
tornara a dar de ombros. – Além disso... Sou só a secretária tomando uma bebida
com o chefe no bar. Qual é o problema? – ela sorriu delicadamente.
Simon – Você... Você realmente adora este
tipo de jogo que você faz, não é? – Klaire rira agora.
Klaire – Você sabe do que eu gosto, Simon?
– ela perguntara, fitando-o agora. – Eu gosto do fato de que embora você
aparentemente esteja incomodado com a minha presença, você ainda não se
levantou... – Simon ficara sério novamente. – Você ainda está aqui. Arrependido,
talvez. Mas continua aqui. Perto de mim. Porque sabe que o prazer que eu lhe
dei fora algo que Lorraine jamais conseguira proporcionar. – provocava-o,
deliciando-se com a expressão de Simon, rindo por fim. – Este é o tipo de jogo
que eu faço. – ela afirmou. – E aparentemente... Está dando certo. – ela
sorrira, levantando-se logo em seguida. – Estive dando uma olhada por este
lugar... – parecia pensativa, olhando tudo ao seu redor. – E notei que há um
banheiro. Quebrado. Atrás das escadas... – ela mordera o lábio inferior. –
Encontre-me lá em cinco minutos... – ela, então, saíra de lá. – Belo casamento.
– reforçara a sua opinião.
E logo saíra de lá. Simon a fitara. Pensativo.
Estaria ela certa? Estaria ele realmente interessado no que ela tinha a dar?
Ele não podia negar. Ela realmente o atraía. Mas ela atraía todo mundo. Era uma
mulher sensual. Com um corpo escultural. Ele bebera o resto de sua cerveja.
Klaire logo sumira de sua vista. Ele olhava ao seu redor. Chegara mesmo até a
procurar por Lorraine, mas também não a havia por perto. Ninguém pareceu ter
dado a mínima para a conversa que eles tinham dado ali, como se sequer tivessem
prestado atenção. Ele logo se levantara. Realmente iria a encontrar. Aqui? No
casamento do próprio filho? Atrás da própria sombra da mulher? Era excitante. E
ao mesmo tempo, perigoso. E ao mesmo tempo... Somente o tornava ainda mais
canalha. Especialmente após tudo que havia dito a Lorraine há algumas horas.
Sobre ela ser a mulher de sua vida. Sobre ela ser a razão da sua vida. Somente
podíamos notar que não passava de mais uma mentira...
–
Estávamos agora no banheiro. Vimos a porta abrindo.
E a presença de Tiffany ali. Cruzara um pequeno corredor, virando para a
esquerda e deparando-se com o total banheiro feminino. Estava vazio. Ou, um
pouco vazio. Tinha ela e mais uma mulher. A mesma que esteve tossindo durante a
chegada dos noivos. Chegara a franzir o cenho. Era uma tosse até mesmo
desesperada. A mulher tinha cabelos pretos. Vestia um vestido não muito curto
roxo, mas ainda simples. Chegara a abrir apertar o botão da torneira da pia que
era feito de mármore preto para lavar o rosto e ver se melhorava, porém, não
pareceu surtir o efeito desejado. Tiffany achara estranho. Até mesmo pensara em
oferecer a sua ajuda. Mas aparentemente não era o seu problema, desistindo da
ideia.
A sua visão logo ficara embaçada. Desistira de ficar
ali próxima da mulher e correra para a divisória que dividia todos os blocos
ali. Trancara a porta rapidamente. E fora o momento em que a vimos vomitando.
Praticamente enfiando a sua cabeça dentro do vaso sanitário para liberar toda
aquela aflição. Para liberar todos os efeitos da droga. Para liberar seu
nervosismo. Para liberar a angústia. O desespero que havia sentido ao enfrentar
a sua mãe. O medo que havia sentido ao enfrentar Lucca. Era algo que
aparentemente a abalava. E muito. Pelo som, podíamos notar ainda que a mulher
tossia. E tossia. E tossia. Mas, ao mesmo tempo, Tiffany vomitava. Até mesmo
pausara para conseguir ar. Vimos que seus olhos estavam marejados.
Avermelhados. Novamente, a ânsia veio. Enquanto o único som de fundo ainda era
a tosse da tal mulher, que também aparentemente, havia entrado em uma dessas
divisórias. Tiffany vomitou mais uma vez. Levantou-se com dificuldade. Apertou
o botão para a descarga. Limpara a boca com a própria mão. Notara que o som de
tosse havia acabado. Provavelmente a mulher havia ido embora.
Destravara a porta e saíra logo dali. Dirigiu-se
para a pia novamente e apertar o botão da torneira, molhando as mãos e colocando
sabonete nelas. As lavou. E em seguida, lavou o próprio rosto. Olhou-se no
espelho. Estava péssima. As olheiras dominavam. A expressão de cansaço. A
expressão de melancolia. O semblante de quem estava realmente exausta.
Suspirou. Ela não tinha escolha. Lorraine havia sido bastante exigente quanto
ao seu comportamento durante o casamento. Sem saída, a sua única escolha era
apenas fingir que estava bem. Ainda se olhando no espelho, dera um sorriso.
Falso, obviamente. Mas dera um sorriso. E notara que já parecia ser o
suficiente. E então, resolvera deixar o banheiro. Não havia mais nada que
pudesse fazer ali.
Ao mesmo tempo, uma música alta fora ouvida. Parecia
que a balada havia acabado de começar. A câmera continuara ali. No banheiro
feminino. E fora se aproximando. Passando por aquelas diversas cabines. Por
aquelas diversas divisórias. Até o momento em que parara em uma delas. De
frente a uma delas. A porta aberta. Tiffany sequer havia notado. A câmera
adentrara. Filmando tudo o que tinha lá dentro. A tal mulher estava no chão.
Caída. Numa poça de sangue. Morta. Engasgando em seu próprio veneno. Qual seria
este? Ninguém sabia ao certo. Mas mais uma fatalidade havia acontecido. Os
olhos abertos. A reação. Parecia ter sido doloroso. Muito doloroso. E talvez...
Este indicava somente o início do casamento.
Virginia, EUA (Richmond Town) – Camp, Scenes
11:33
PM
Um estalo. Um pesadelo? Talvez. Dani repentinamente
acordara. Ela se levantara, até mesmo assustada. Suada. Ela olhara ao seu
redor. Marcella continuava virada de lado. Adormecida. Até mesmo em outro
planeta. A lamparina apagada somente dificultava. Ela olhava para o colchonete
de Carl vazio. Suspirou. Ele ainda não havia retornado. Por onde raios andava
ele? Se preocupara agora. E se ele tivesse sido vítima daqueles garotos
novamente? Bufou. De qualquer forma, já havia perdido o sono. Engatinhara para
fora da cabana, passando por cima de Marcella, que virara de lado novamente
após ouvir o barulho. Dormia como uma pedra. Mas ainda assim, Dani não queria
incomodá-la.
Dani já estava do lado de fora. De alguma maneira,
parecia frio. Alisava seus braços. O vento estava gelado. Olhava para ao seu
redor, e não via nada de suspeito. Todas as cabanas fechadas e provavelmente
com alunos dentro dormindo. Ela parecia atordoada. Não prestava atenção em
alguns detalhes. Talvez fossem ainda consequências do pouco de sono que lhe
restava. Fora o momento em que fitara o sobrado. As luzes estavam acesas.
Poderia Carl estar ali? Bem... Era uma suspeita. Uma suspeita que poderia ser
investigada.
O ambiente cheio de cabanas. Dani desviava de
algumas. As árvores andando de um lado para o outro. Dani com frio. Até mesmo
pensava em Lorraine. Ela havia previsto. Faria frio. E talvez Dani estivesse em
complicações se não tivesse levado a jaqueta para o acampamento. Apenas dera
uma leve risada. Mães sempre estão certas. É praticamente uma lei/regra da
natureza. Não há como mudar o inevitável.
Ela seguira com o seu caminho. Andava em uma direção
torta. Não demorara muito para que subisse os degraus até a plataforma que
sustentava o sobrado. Parecia ouvir alguns ruídos. Provavelmente conversas que
vinham do interior. Fora o momento em que colocara a mão na maçaneta e a
abrira. O repentino frio ainda parecia a incomodar. Até mesmo chegara a se
arrepiar. Assim que adentrara, tivera a visão de alguém de costas. Parecia
agachado. Próximo de um homem. Como Dani ainda estava um pouco “confusa” por
ter acordado tão repentinamente, não prestara muita atenção. Para ela era
somente mais um rapaz de sua escola dormindo após ter bebido muito. Via tudo
embaçado. Quando esfregou a mão nos olhos, parecia começar a enxergar com mais
nitidez. Parecia estar com as mesmas roupas de Carl. Inclusive. Era ele. Dani
sorrira. Ainda continuava não se atentando aos detalhes. Ela se aproximara,
sorridente, dizendo logo em seguida:
Danielle – Carl? – ela chamara o nome dele,
embora Carl continuasse ali agachado próximo do rapaz. – Onde você esteve? –
ela se aproximava mais ainda. – Marcella e eu estávamos preocupadas... –
continuava a andar em direção a ele. – Carl? – ela franziu o cenho, e fora o
momento em que ela percebera que ele estava próximo de Jonathan. – Jonathan? –
ela estrava tudo aquilo, pois era uma combinação até mesmo improvável de
acontecer. – Carl... Você está bem? – ela enfim chegara perto dele, repousando
sua mão sob o ombro dele. – Ca-Carl? – insistira novamente.
E fora o momento em que se assustara. Carl se virara
para ela. Dani acabara cambaleando e caindo para trás. Gritara. Carl não
parecia mais ele. Os olhos amarelados. A pele pálida. O cabelo bagunçado. E
todas as suas vestes sujas de sangue. Provindos de Jonathan, que estava com o
seu intestino rasgado e solto para fora. Dani recuava para trás. Totalmente
assustada. Não entendia absolutamente nada. Mas pouco a pouco começava a
entender. O cenário. O frio. Os desvios que fazia. E nada daquilo naquele
momento lhe parecia ter chamado a atenção. Ela olhara para seus pés. Para suas
mãos. Estavam impregnadas por sangue. Ela havia desviado de corpos. As cabanas
estavam rasgadas. E Carl continuava a se aproximar. E conforme ela ia cada vez
mais para trás, fora o momento em que se surpreendeu. A porta se abrira. E
tinha mais pessoas ali. Pode contar sete. Sete pessoas. Todas transformadas.
Variando de homem à mulher. Do mesmo estado em que Carl se encontrava
atualmente. Porém... A diferença era única: eles estavam mordidos.
Danielle ali ficara. Em pânico.
Recuando. Mal tinha forças para se levantar. Não entendia o que estava
acontecendo ali. Mas estas eram somente as consequências de uma leve
brincadeira causada por Jonathan que acabou tendo como consequência a própria
morte dele. E ali ficaria. Ficaria até que retornássemos para mais um episódio
com a família Gillings. O que aconteceria com Dani? Sentiu-se cada vez mais
limitada. Sentiu-se cada vez mais pressionada contra a parede. Teria ela
salvação? Teria ela como sair dali? Bem... Restava somente aguardar. Pois este
era apenas o início de tudo. O início de um apocalipse. O início da perca da
humanidade. O início de tudo. E quem eram aquelas criaturas? Eram zumbis.
Zumbis sedentos pelo cheiro fresco que exalava da própria Danielle. Restava
então... Somente aguardar. Aguardar para termos certeza se Dani conseguiria de
fato escapar daquilo.
Virginia, EUA (Richmond Town) – Burriet Buffet,
Various Scenes
11:52
PM
O som da balada. O som da música eletrônica alta.
Aparentemente era no andar superior. Sim, o bufê também tinha dois andares. O
superior era para quem quisesse se divertir e dançar. Embaixo somente ficava
aqueles que queriam paz e sossego. Alguns até mesmo já jantavam. A janta, que
inclusive, já estava sendo colocada na mesa. Alguns pratos prontos eram levados
e trazidos pelo garçom. Dependia da necessidade de cada um.
Os noivos continuavam a tirar as últimas fotos.
Lorraine estava sentada em uma das mesas. Tiffany também estava ali. Bethany
também. Entrosava-se na conversa com Lorraine, que parecia conversar sobre
algum assunto aleatório com Anastacia, enquanto Tiffany, apenas mexia no
celular. Não demorara muito para que Simon se juntasse a eles. Com um olhar
mais vazio. Arrependimento? Culpa? Mais ao fundo, estava Klaire. De fato...
Alguma coisa havia acontecido entre eles. E novamente, Simon apenas havia se
mostrado um homem que ia contra todas as suas qualidades. Sujo. Infiel. Não era
um pai de família digno. Somente se manchava mais e mais.
...
A cena mudara. Eram frames ágeis e não muito
demorados. Estávamos na cena do banheiro novamente. A câmera filmava a cabine a
qual a mulher havia morrido. Notávamos que seus dedos se mexiam. Notávamos
grunhidos. Ruídos. E a sua pele que agora já parecia estar podre. Era um efeito
rápido, aparentemente. Pouco a pouco, ela conseguia se mexer. Pouco a pouco...
Ela conseguia se levantar. Mais uma vez estavam lá. Mortos-vivos. Ou melhor...
Zumbis. Consequências do quê? O que eram eles? Ninguém ainda sabiam. Mas eles
existiam. E esta, inclusive... Estava lá..
...
A cena voltara para o local onde Thomas e Hannah
estavam. Terminavam a última foto com o último familiar. Estavam cansados até
mesmo. Finalizara com um grande beijo. Fora o momento em que notaram Mike vindo
até a eles. Mais ao fundo, pudemos perceber o banheiro feminino. Era muito
próximo dali. Mike estava com todos os adereços possíveis de um casamento e de
uma balada neste. Gravata cor-de-rosa de papel. Chapéu colorido. Óculos
estranhos. E provavelmente, bêbado. Ele fora até os noivos e os abraçara
intensamente. Já até falava torto. E até misturava as palavras:
Mike – Cara... – ele sussurrou. – Eu amo
tanto vocês... – ele olhava ao seu redor. – Eu amo essa família! – ele bradou e
Thomas rira após ele dizer isso. – Vocês já tiraram uma foto?
Thomas – Quem? Nós e minha família?
Mike – Sim...
Hannah – Nós já tiramos várias fotos,
Mike... – neste momento, ao fundo, pudemos observar a mulher abrindo e
rastejando-se a porta cada vez mais, bem lentamente.
Mike – Tirem outra, por favor! – ele
pedira e Thomas e Hannah se entreolharam. – Eu quero postar no Instagram. – ele
sorrira e ambos riram.
Thomas – Se eles concordarem... – Hannah
também parecia assentir, já que não parecia uma má ideia.
Mike – É claro que eles vão concordar! –
ele sorriu, e fora até a mesa em que eles estavam sentados. – Galera... – ele
fitara a todos. – Vamos tirar uma foto.
Lorraine – Nós já tiramos, Mike... – ela
sorriu para ele, bastante gentil.
Mike – Eu sei! – ele assentiu. – Mas
esta é para mim... – ele fizera até bico. – Vamos lá. Mais uma fotinho... Não
custa nada! – ele insistiu e Lorraine rira.
Lorraine – Está bem então... – ela se
levantara. – Vamos, querido? – ela chamara a atenção de Simon que estava
distraído, totalmente em outro mundo.
Simon – Desculpe...
Lorraine – Tirar foto. – ela sorriu.
Simon – Ah, sim. Claro. – ele concordou,
seguindo Lorraine também, indo ambos para trás daquela mesma mesa onde tiravam
as fotos.
Lorraine – Tiffany...
Thomas – Vem, Tiff... – chamara ela também.
Mike sorrira de comemoração. A mulher zumbi já
estava próxima. Mike pegara seu celular. Todos se posicionaram. Hannah e Thomas
no centro. Tiffany, Lorraine e Simon por ali. Thomas chegara até mesmo a parar
o momento para pegar o seu próprio celular. Mexera nele por alguns instantes. E
fora o momento em que ele surgira com uma fotografia de Danielle. E estava ali.
Estava tudo completo. Mike, então, dissera:
Mike – Sorria! – ele sorriu também com a
foto. – É a minha família perfeita...
Ele dissera isso. A mulher zumbi próxima dela. O
grito de Anastacia. O susto de Bethany. E quando eles mal puderam perceber...
Ela atacara o pescoço de Mike. Thomas. Lorraine. Simon. Tiffany. Hannah. Todos
sem reação alguma. O sangue jorrava. E jorrava. E jorrava. Tentava se defender.
Se debatia. Mas nada parecia surtir efeito. Este era realmente o início. O
início de um apocalipse. E assim terminava o primeiro capítulo de Somber
Crusade. Após mostrar o cotidiano da família Gillings, o que aconteceria de agora
em diante? O apocalipse havia começado. Mesmo que lentamente. Como seria a vida
deles? Tudo começara a escurecer. A partir de agora... Era sobrevivência.
Família perfeita? Ninguém acreditava nisso. Absolutamente ninguém. Todos tinham
falhas. E em sua maioria... Falhas graves. Traição. Depressão. Teimosia.
Rebeldia. Acidentes. E mentiras. Além da própria opção sexual. O logo de Somber
Crusade logo aparecera. Era apenas o início de um show. Era apenas o início do
primeiro núcleo da série. E Mike havia sido o primeiro atingido por isso dos
inúmeros que ainda estavam por vir.
Um ano
depois... (Flashforward – Post Credits Scene)
Music Theme: Long & Lost – Florence + The MachineLorraine fora vista. Um olhar vago. O céu sem humor. O Sol escondido. As nuvens foram embora. Nada mais ali havia restado. A vegetação era de campina. Era uma vegetação alta. Ao fundo, podíamos observar diversas montanhas. Era uma paisagem até mesmo bonita. Não era possível dizer em qual Estado ela estava. Poderia ainda ser Virginia. Mas era complicado. Porém, o que realmente chamava atenção era o buraco de terra já tampado com uma cruz estampada. Lorraine estava ali. Um semblante vago. Um semblante triste. Um semblante de confusão, mas de tampouco aceitação. Um lenço na cabeça. Os cabelos já mudados. Eram castanhos. As vestes sujas. Usava uma blusa branca, mas com marcas de sangue. A calça tinha a mesma aparência. Seu punho enfaixado com uma faixa velha e também suja. Sua aparência esvaeceu. Ela em sim havia esvaecido. Perdia o foco. Rotina já não importava mais. Tempo já não importava mais. Segurava em suas mãos uma corrente. Apelava para a sua fé em momentos como estes. Talvez, porque se sentisse abalada. Talvez porque realmente estava. Aparentemente ela estava sofrendo internamente e exteriormente.
Agachou-se no chão. Ficara cabisbaixa. Podíamos ver as lágrimas escorrendo o seu rosto. Podíamos ver o choque que realmente era para uma mulher de seu porte. Ela passava a mão na terra sem se importar de sujar-se mais ainda. Balançava a cabeça em negação. Recusava-se a acreditar. Recusava-se a acreditar que vivia em um mundo tão conturbado. O vento veio. A atingiu. Atingiu a vegetação alta. E aquilo aparentemente tentava lavar a sua alma. Se é que realmente ainda existisse uma dentro de Lorraine. A vegetação continuava a balançar. A câmera afastou-se. Alguém se aproximava. Era Kate. Com um semblante de preocupação também. Aproximou-se mais ainda. E mais ainda. Ficando bem próxima a ela. O cabelo preso em um rabo de cavalo. Arranhões em seu rosto, talvez pela movimentação que fazia. Camiseta preta, provavelmente fazia semanas que não a trocava. As calças rasgadas. Definitivamente... Também havia perdido todo o seu estilo. Kate nada dissera. Apenas ficara ali. Quieta. Respeitando o espaço de Lorraine, que continuava praticamente sentada no chão. Sem intenção alguma de se levantar. Sem intenção alguma de continuar. Que ao notar que Kate estava ali, apenas dissera:
Lorraine – Eu realmente espero que você nunca tenha que passar essa dor que sinto agora em meu coração... – sussurrou, visivelmente abalada, erguendo a cabeça, e câmera notava ao mesmo tempo em que seus olhos se encontravam avermelhados e marejados, Kate atrás, quieta, e também de luto. – Eu realmente achei que tudo ficaria bem. – ela dizia, fitando o vácuo. – Eu realmente achei que tudo acabaria bem. – ela, então, desviou o olhar. – Mas eu estava enganada. – Kate continuava ali em pé próxima a ela. – E vi o meu mundo colidir e despedaçar-se em milhares de pedaços sem que eu ao menos pudesse fazer algo... – a lágrima escorreu de seu rosto novamente. – Eu fingi que o meu mundo era perfeito. Eu fingi que a minha vida era perfeita. E eu apenas não consegui enxergar o que estava bem ali na minha frente... – murmurou. – Eu falhei, Kate. – se condenava. – Eu falhei.
Kate – Se tiver algo que eu possa fazer por você... – Lorraine neste momento dera um melodramático sorriso, enrolando a corrente religiosa de suas mãos ao redor da grande cruz encravada ali naquele túmulo. – Embora eu acredite que somente o tempo seja o suficiente.
Lorraine – Infelizmente, não há nada que nem você e nem ninguém possa fazer por mim... – ela, então, levantou-se, com o apoio de Kate que não a deixara em nenhum momento. – Não há tempo. Não há absolutamente nada. – ela ainda olhava aquele túmulo. – Não há remédio para curar as feridas de uma mãe que acabou de enterrar um filho... – afirmou, abalada, indicando, sem dizer nomes, que um de seus filhos havia morrido. – Eu não estava pronta para este mundo, Kate... – Kate segurara nas mãos de Lorraine. – Mas há pessoas contando comigo. E eu não posso decepcioná-las... – Kate nada dizia, apenas a escutava. – E esta perda apenas me fará cada vez mais forte.
O vento batera nelas novamente. A câmera começara a se afastar. Um ano havia se passado. Kate. Lorraine. Elas haviam se encontrado. Tragédias haviam acontecido. Mortes haviam acontecido. Era inevitável. Viviam em um mundo que isto era inevitável. Zumbis haviam dominado tudo e a todos. E sobreviver agora era somente o básico. Kate e Lorraine continuaram ali. Por mais alguns minutos. Até que então, juntas, afastaram-se. Lorraine abalada. Kate séria. A imagem começou a se escurecer novamente. Este era somente o início de uma verdadeira cruzada. Era o início de Somber Crusade. E então... Tudo ficara preto. Era o fim do episódio.
Continua no próximo episódio...
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