Somber Crusade

Somber Crusade

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

[01x01] Smile! It's My Perfect Family

Virginia, EUA (Richmond Town) – Gillings’ Home Scenes
05:45 AM / 05:59 AM / 06:25 AM / 06:41 AM / 06:55 AM / 07:06 AM
29 November 2010
O Sol já havia nascido. Iluminava perfeitamente o dormitório do casal Gillings. Era luxuoso. Praticamente de uma mansão. Podíamos vê-los deitados adormecidos na cama. Lorraine e Simon Gillings. Uma esposa e mãe de família perfeita. Um marido e pai de família perfeito. Defeitos? Poucos realmente acreditavam que eles poderiam ter. A cortina era de persiana. Branca como neve. O quarto era espaçoso. Havia uma cômoda ao lado de onde Simon estava dormindo. Uma jarra d’água ali no caso de qualquer um deles pudesse sentir sede junto da foto com quem parecia serem seus filhos. A câmera afastou-se. Começara a ter uma visão mais panorâmica do ambiente em que estávamos. Havia de frente a cama uma porta de madeira fechada, provavelmente para onde daria entrada para a suíte do casal. Parecia uma madeira cara. Ricos e felizes? Muitos acreditavam que esta junção não poderia ser verdadeira. Mas sim... Era uma família rica e feliz.

Logo, ouviu-se o som de um leve ruído. Um despertador. Duraram poucos segundos após a mão de Lorraine deslizar sob o botão para desliga-lo. O relógio marcava cinco e quarenta e cinco da manhã. Como uma rotina. Como se realmente fosse o horário adequado para acordar. Com os pés, Lorraine, ainda de olhos fechados, afastou o leve cobertor de algodão de suas pernas, mas sem fazer muito barulho ou sem se mexer muito para não acordar Simon. Ela, então, sentou-se. Girou a sua cabeça levemente e cuidadosamente para estralá-lo. Talvez isto fosse um aviso de que estivesse na hora de trocar o colchão da cama. Espreguiçou-se agora levantando seus ambos os braços. Pudemos notar que vestia uma camisola de seda. Sem abrir os olhos ainda, provavelmente porque estava com sono, levantou-se. Passou pela beirada da cama, e ficara ali parada, até que sua mão deslizou sob o cobertor e o afastou, puxando delicadamente o pé de Simon, como se fosse também um aviso para que este despertasse, visando que começara a se mexer lentamente.

Seguira em direção àquela porta de madeira já mencionada. Eram duas. Grande. Com uma alça de puxar para o lado. E fora justamente o que Lorraine fizera, fechando-a de volta para isolar-se no banheiro novamente. O silêncio agora dominava mais ainda. Nada poderia ser ouvido. A não ser o fato de que Lorraine encontrava-se em sua suíte. Em seu banheiro. Um grande espelho fora visto. Os olhos de Lorraina enfim abriram-se. Mostraram-se lindos e brilhantes. Eram azuis. Ela fitara a si mesma no espelho. Seus cabelos curtos e loiros. Podia-se ver que a pia era de mármore. Havia um depósito para a escova de dente e sabonete líquido bem ali. Ligara a torneira e enchera a mão de água e jogara delicadamente em seu rosto, continuando a se fitar. Estava séria. Mas ainda assim... Parecia encantada. Parecia bem. E acima de tudo... Parecia feliz com os hábitos que desenvolvera:
Lorraine – Bom dia, Lorraine... – começara o seu monólogo, com uma voz leve, doce e suave. – Você é uma mulher linda. – suas mãos encostavam-se à pele de seu rosto delicadamente, enquanto ela fazia diversos ângulos para o seu próprio reflexo. – Você é uma mulher jovem. Uma mulher adulta. Guerreira e batalhadora... – elogiava a si mesma. – Você possui um ótimo emprego. Uma ótima renda. Uma ótima casa... – ela continuava a se tocar. – Você possui um marido perfeito. Bom. Honesto... – ela dera um sorriso, e pudemos ver seus lindos dentes brancos. – Duas filhas lindas. Um filho maravilhoso. Uma nora que logo me presenteará com um pequeno netinho... – parecia sonhadora com esta possibilidade. – Bom dia, Lorraine... – repetira do mesmo jeito em que havia começado aquela profunda reflexão. – Hoje será um dia perfeito. Hoje será apenas mais um lindo dia...

E acabara aquele momento em que se encontrava só consigo mesma. Molhara as mãos novamente e enxaguara o seu rosto. Pegara a sua escova de dente junto da própria pasta e colocara um delicado grão nela, levando-a até a boca. A porta de trás logo abriu-se e Simon revelara a sua presença. Tinha cabelos grisalhos e uma aparência que podia se dizer que ele mesmo se impunha. Parecia um homem de negócios. Um homem importante. Bom dia, querida... Fora o que havia dito ele, num belo sorriso, dirigindo-se para o closet mais à direita, e Lorraine apenas respondera com um aceno, ainda ocupada com escovando seus dentes. Não demorara muito para finalizar o que fazia ali, enxaguando a escova e a colocando de volta no lugar. Secara seu rosto com uma toalha bem ao lado, junto das suas mãos. Percebera que Simon estava no closet e aproximara-se dele.

Era grande. Simon já estava vestido. Afinal... Era homem. Uma camisa social branca e uma calça social preta. Nada muito mais do que básico, mas também necessário. O closet era composto por sua maioria de roupas femininas. Pertencentes à Lorraine, obviamente. Sobretudos e vestidos eram as vestimentas mais comuns ali. Gostava-se de se sentir elegante. Afinal... Já pudemos notar o quão vaidosa Lorraine poderia ser. Sapatos, saltos e botas também eram passíveis de serem vistas. Eram vários e vários armários brancos para combinar com a decoração daquele dormitório por completo. Lorraine notara a dificuldade de Simon que estava com duas gravatas em frente a um espelho pamplona, apenas não sabendo escolher qual poderia ser melhor para a ocasião:
Simon – E então? – ele mostrara à Lorraine as duas gravatas, cada uma em sua mão, podendo-se notar que uma era azulada e a outra tinha a cor de vinho.
Lorraine – Você realmente nunca parece se decidir, não é? – ambos deram uma leve risada. – Deixe-me lhe ajudar... – ela se ofereceu, aproximando-se dele e observando a gravata de mais perto. – Hum... – pareceu pensativa. – Esta. – pegara a gravata de cor vinho.
Simon – Você tem certeza? – Lorraine apenas assentira, sorrindo em seguida. – E quanto à azul?
Lorraine – Ela é mais bonita. Precisa de uma ocasião mais especial... – ambos trocaram sorrisos.
Simon – Você quer dizer hoje à noite... – Lorraine voltara a sorrir.
Lorraine – É... – ela concordou. – Eu quis dizer hoje à noite. – deixara no ar o evento que iria acontecer esta noite. – Permita-me... – ajustara a gravata em volta do pescoço dele, dando o nó adequado e o deixando totalmente preparado.
Simon – Eu não sei o que seria da minha vida se não fosse você... – Lorraine rira.
Lorraine – Foi apenas uma gravata, querido... – Simon também rira após isto e eles estão deram um selinho rápido.
Simon – Hoje será um belo dia? – perguntara para Lorraine que assentira positivamente, sempre sorridente, alegre e positiva.
Lorraine – Hoje será um belo dia... – concordou.

Lorraine afastou-se dele, saindo dali. Simon a observara. Era impressionante o ritual que a família fazia desde cedo. Era como se fosse um cronograma. Era realmente um hábito. Uma rotina. Eles faziam isso sempre. Desde o momento em que Lorraine acordasse às quase seis da manhã. Desde o momento em que ela puxava o pé do marido. Desde o momento em que ela falava consigo mesma no espelho, escovasse os dentes ou até mesmo ajudava Simon a escolher uma gravata. E era imprescindível que uma frase não pudesse faltar. Eram supersticiosos. Caso esquecessem... Provavelmente seria um dia nublado. O céu não ficaria azulado. O Sol se esconderia. Nada mais e nada menos do que: “hoje será um belo dia...”. E teria alguém que duvidasse? Aparentemente... Não.

...

A câmera logo voltara a acompanhar Lorraine. Estava em seu quarto. Esticara a cortina, deixando a luz entrar. Dobrara o cobertor e seus olhos foram em direção ao despertador. Marcava o relógio cinco e cinquenta e nove. Estava na hora de mais uma de suas ações rotineiras. Andara calmamente até a porta da saída do quarto, que também era de madeira, abrindo-a e saindo de lá. Vimos um extenso corredor. Podíamos contar cerca de quatro portas. Antes que pudesse tomar alguma ação, uma destas portas se abrira e Lorraine notara uma densa camada de fumaça. Era o banheiro. Era a filha do meio deles. Danielle. Estava enrolada numa toalha, provavelmente de banho já tomado, com os cabelos loiros molhados. Tinha uma beleza importante e exótica. Seus olhos eram azulados. A maçã de seu rosto muito bem destacada. Era uma aparência frágil, mas ainda assim, exuberante. Estava indo em direção ao seu quarto, mas parando diante de Lorraine, a cumprimentando:
Danielle – Bom dia mãe... – disse sorridente.
Lorraine – Bom dia, meu amor. – dera um beijo na testa dela e Danielle voltara a seguir o seu caminho.

Danielle fora para a direita. Lorraine seguira o caminho oposto, ou seja, seguira para a esquerda. Não demorara muito para que esta atingisse o que estava em sua mente. Mais um momento de seus hábitos. Abrira a porta do destino final e deparou-se com o quarto. Havia uma garota deitada na cama com os cabelos loiros e alongados. Era a filha mais nova, Tiffany. A decoração do quarto mostrava quem realmente poderia ser ela. Vários pôsteres da banda Nirvana, além de uma mesa de estudo em que estava o seu notebook. Era um quarto bagunçado. Era algo bem adolescente e “teen”. Nada muito além disso. Lorraine dera um leve sorriso ao ver a filha. Mostrava como realmente ela era apegada à sua família

Dera alguns passos e sentara-se bem na borda da cama, próximo do travesseiro de Tiffany, que estava de costas para ela. Podíamos ouvir um ruído. Como se fosse abafado. Era música. Não era passível de se reconhecer de qual se tratava, mas logo a causa daquele som fora descoberta quando Lorraine retirara o fone de ouvido do ouvido de Tiffany cuidadosamente, aproximando-se do ouvido dela e sussurrando algo que não foi possível de se escutar. Tiffany parecia ter se acordado ao se mexer. Objetivo concluído, aparentemente. Lorraine recolocara o fone de ouvido na orelha dela e levantou-se novamente, saindo do quarto, mas deixando a porta aberta.

Direcionara a si mesmo de volta para o seu quarto, fechando a porta logo em seguida. Simon já não estava mais ali, indicando que este já poderia ter descido para a cozinha. Olhara para o relógio pela terceira vez. Era seis e seis da manhã. Definitivamente agora era o momento dela. Arqueou a sobrancelha, no entanto. Era perfeccionista. Talvez tivesse desperdiçado um minuto que já poderia ser precioso. Sendo assim, não teria muito tempo a perder. Retirara a sua camisola desfazendo a fita que formava um nó. Ficara de calcinha e sutiã. Mostrava como realmente ainda estava em forma. Com a camisola nas mãos, fora de volta para a sua suíte. Pendurara-a num gancho preciso para isto. Provavelmente voltaria a ser utilizado, uma vez que somente era usado quando fosse dormir. Não havia a necessidade de fazer diversas trocas. Voltara a se fitar no espelho, fazendo novamente mais ângulos para verificar a sua aparência. Vaidade era um ponto extremamente importante para Lorraine. Ela suspirou. Não tinha mais nenhum segundo disponível para continuar a se observar.

Abrira uma das gavetas da pia e retirara um creme. Sentara-se em uma cadeira ali disposta justamente para este momento. Abrira a tampa do creme e colocara uma quantidade em suas mãos, passando delicadamente em sua pele, principalmente no braço, fazendo movimentos suaves, esfregando-o totalmente. Repetira a mesma quantidade, desta vez, para as pernas. Fechara o creme e guardara de volta na gaveta. Estava pronta agora para escolher o que vestiria para este dia. Fora em direção ao seu closet. Como mencionado anteriormente, opções era o que não faltava ali. Casacos. Sobretudos. Vestidos. Camisas sociais. Era definitivamente um paraíso para qualquer mulher.

Fora passando de armário em armário. Era um armário “aberto”. Não tinha porta. Definitivamente algo muito acima do nível, o que mostrava cada vez mais a condição financeira desta família. Lorraine apenas observava. Passava as mãos. Em alguns momentos, pegava algumas vestimentas que vinham junto de seus respectivos cabides, e era possível ouvir o barulho que fazia quanto estes eram retirados dos lugares em que estavam anteriormente. Lorraine repetira esta ação duas vezes. Três vezes. Quatro vezes. Nada parecia lhe agradar como roupa do dia de hoje. Preferiu optar por algo simples então. Retirara uma camisa social branca. Os botões eram pretos. Parecia perfeito para ela. Não chamava atenção. Também retirara uma calça social. Azul-marinho. Sem renda nenhuma. O salto que usaria era preto. Não muito alto também, mas estrondoso o suficiente para ser ouvido da esquina. Era assim que gostava de ser. Era assim que gostava de ser tratada. Era assim que Lorraine era. Uma mulher vaidosa. Com uma família aparentemente perfeita. Com uma vida perfeita. E nada há de estragar aquilo que Lorraine considera como prioridade. Os hábitos dela cada vez se mostravam. Sua personalidade cada vez mais era mostrada. E novamente... Era assim que Lorraine se portava.

...

Lorraine já estava pronta. Os cabelos platinados. Nem precisavam ser penteados. Eram naturais e lisos. A roupa escolhida lhe caía perfeitamente bem. A maquiagem já passada. Nada muito gritante, apenas o básico. O batom era avermelhado, mas não tão estonteante. Não se importava se fosse, afinal. Muitos dizem ser a cor da luxúria. Mas Lorraine aparentemente não poderia se importar menos com opiniões machistas. Olhava-se no mesmo espelho em que Simon estava quando persistia em sua dúvida com a gravata. Estava linda. E aquilo já era o suficiente.

Com o salto já vestido também, dirigiu-se para fora da suíte. O som em que pisava no carpete de seu dormitório era absolutamente impactante. Lorraine era uma mulher impactante. Olhara para o relógio. Quatro vezes até então. Marcava seis e vinte e cinco. Sorrira satisfeita. Mais uma vez... Uma mulher sem atrasos e totalmente pontual. Abrira a porta de seu quarto. Tratou-se de verificar se suas filhas ainda estavam em seus respectivos dormitório. Começara com Tiffany. A porta já estava aberta, então não era preciso ela bater antes de entrar. Tiffany, no entanto, já havia levantado, o que era um excelente sinal. Ela assentiu satisfeita. Fora em direção agora à Danielle. Esta, porém, já estava com a porta fechada. Deu duas batidas para verificar. E então ouviu um grito: Um momento. Lorraine apenas aguardara. Levou alguns segundos até que ouvisse o som da porta sendo destrancada e aberta por Danielle, que permanecia com os cabelos molhados, mas agora apropriadamente vestida, com calças jeans, uma camisa “Keep Calm and Shipp Kynda” de uma série de televisão famosa por lá e all-stars preto. As duas trocaram leves sorrisos. Lorraine adentrou no quarto, não se preocupando em deixar a porta aberta. Observara ao redor. Diferente de Tiffany, era um quarto mais simples. Não possuía pôsteres, apenas vários livros e CDs empilhados de uma maneira mais organizada. Tinha uma janela que mostrava a vista da vizinhança. Era aconchegante. Inclusive, o quarto em si, era bastante organizado. O que talvez indicasse a tranquilidade de Danielle.

Lorraine não conseguira notar de perceber que Danielle estava ocupada. Abria a porta de seu guarda-roupa e retirara algumas mudas de roupas bem dobradas. Em cima de sua cama, tinha uma mala de viagem. Lorraine aparentemente demonstrou-se um pouco chateada. Preocupada, também. E não se esquivou de perguntar o que realmente gostaria de saber, então:
Lorraine – Você realmente vai para esta excursão? – perguntou ela, acanhada.
Danielle – Ah, mãe... – notara o tom de entristecido da voz que Lorraine aparentemente fazia questão de mostrar, parando de arrumar as suas malas. – Você sabe que está marcada faz tempo... – Lorraine apenas desviou o olhar. – É a minha última oportunidade de ficar perto dos meus amigos... – tentava convencê-la. – É a minha formatura, mãe.
Lorraine – Bem... – ela aproximara-se da janela, dando uma boa olhada pela vizinhança. – Você irá para a faculdade, não? – Daniele sorriu. – Lá também tem formatura. – ela olhara para Danielle agora que rira.
Danielle – É, mas... Como eu disse, é a minha última oportunidade. – Lorraine sentou-se na beirada da cama, próxima à mala, apenas escutando o que Dani tinha a dizer. – Eu estudo com eles desde, o quê... – ficara pensativa. – Quatro anos? – Lorraine rira, pois achava esta situação até mesmo agradável, provando de que ali poderiam ter nascido diversas amizades verdadeiras. – Além disso, não é culpa minha de que o Thomas resolveu marcar o casamento dele hoje, que é uma Segunda-feira. – rolou os olhos. – Não vou ser a única a não ir. Pessoas trabalham de Segunda-feira. – afirmou, convicta disto.
Lorraine – As pessoas já vão ter saído do serviço, querida. O casamento é só às dez. – disse. – E além disso, você não é qualquer uma que irá faltar ao casamento. Ele é o seu irmão. – Danielle suspirou.
Danielle – Eu sei. E eu me sinto um pouco culpada por isto... – disse, sincera. – Mas nós já conversamos. E ele disse que totalmente me entende.
Lorraine – Pelo jeito, não vou conseguir te convencer, não é? – Danielle apenas riu. – Bem. Está bem! – ela levantou-se, mostrando mais animada. – Você quer ajuda para terminar de arrumar as suas malas?
Danielle – Não. Não precisa. Eu já acabei... – Lorraine assentira.
Lorraine – Sempre tão independente, não é mesmo? – Danielle sorrira. – Você conseguiu o meu apoio, então. – Danielle sorriu novamente, animada. – Mas, com uma condição...
Danielle – E qual seria?
Lorraine – Você levar o seu celular. E um casaco! – Danielle riu. – É claro, ué. – deu de ombros. – Você está indo para um acampamento. No meio do nada. Tenho certeza de que vai cair a temperatura por lá!
Danielle – Mãe, você já olhou para a janela? Está super ensolarado. – riu.
Lorraine – Escute o que eu digo, filha. Eu sou praticamente uma mãe-natureza. – Danielle agora gargalhara. – E quanto ao celular, deixe-o com som. Sem este negócio de opção de “vibrar”. Quero que me escute quando eu ligar para você! – ordenara e Danielle gesticulara com as mãos, entrando na brincadeira.
Danielle – Como quiser, madame... – brincara.
Lorraine – Estou falando sério, Dani. – Danielle apenas sorriu.
Danielle – Mas se você ficar me ligando a cada cinco minutos vou deixar no vibratório... – Lorraine fechara a cara neste momento e Dani riu. – Estou brincando. – Lorraine suspirou, levantando-se e aproximando-se dela.
Lorraine – Que horas você vai?
Danielle – Daqui umas duas horas...
Lorraine – Ah... Então eu não estarei aqui para vê-la ir... – lamuriou. – Quem irá te levar?
Danielle – O pai da Marcella. – Lorraine assentiu.
Lorraine – Para aonde?
Danielle – Para a escola. Combinamos de que o ônibus nos pegue lá. – Lorraine suspirou.
Lorraine – E quando você volta mesmo? – Danielle riu agora. – O quê? – ela rolou os olhos.
Daniele – Mães são muito engraçadas... – comentou.
Lorraine – Responda a pergunta. – disse, impaciente.
Danielle – Sexta-feira, mãe. Sexta-feira... – Lorraine suspirou novamente.
Lorraine – Está bem, está bem... – parecia não ter mais pergunta. – Você me entendeu quanto ao casaco e o celular, não é? – Dani assentiu. – Se não conseguir falar comigo, tente mensagem. WhatsApp. Skype. Satélite. Não sei, dá um jeito! – Danielle rira novamente.
Danielle – Ok...
Lorraine – Agora abrace a sua mãe! – ordenou novamente, agora aos risos.

E então abraçaram-se. Não era uma despedida. Mas ainda assim, Lorraine não parecia confiante em deixa-la ir para a excursão. Formatura? Bem... Até que ela tentara convencê-la. E o fato de que Danielle iria perder o casamento de Thomas, o seu irmão, somente tornava a situação ainda mais complicada. Mas Lorraine não sabia dizer não para ela. Dani parecia ser responsável. Com boas notas. Com um bom futuro pela frente. E ela teria que deixá-la aproveitar o que lhe falta de sua adolescência antes que as responsabilidades de adultos a alcançasse. Era inevitável. E Lorraine apenas demonstrava o quão “tigresa” ela poderia ser. Uma mãe. O conselho sobre o casaco. O conselho sobre o celular. Ela apenas a amava. Incondicionalmente.

...

A câmera mostrava agora a escadaria principal em espiral que dava acesso ao principal cômodo da residência dos Gillings. Um lustre de cristal dava boa vindas àqueles que fossem convidados para entrar. Ruídos de conversas paralelas foram ouvidos em outra direção, provavelmente na cozinha. Tudo ali era feito da melhor madeira possível. Talvez um gosto pessoal deles. Logo, o som de passos descendo degraus fora ouvido. Era Lorraine, e logo atrás, Danielle. Lorraine carregava no seu colo uma pequena mala branca com detalhes dourado, portanto, tinha cuidados em descer dali. Danielle também carregava. Porém, a sua mala era maior. Talvez por aguentar carregar uma força física maior ou talvez apenas por Lorraine já estava apropriadamente vestida para ir ao serviço.

Assim que chegaram ao solo depois de um minuto, Danielle colocou a mala maior próximo da porta de entrada, e Lorraine colocara a mala de mão em cima desta. Elas se entreolharam. Estava decidido. Danielle realmente iria. O olhar de cumplicidade delas era o principal, acima de tudo. E então, dirigiram-se para outro local. Passaram pela sala, e pudemos notar seus detalhes. Era extremamente grande. Dois sofás beges ambos com três lugares. Uma estante que estava encostada à parede com uma televisão de cinquenta e uma polegadas. A mais recente da geração em que se encontravam. O tapete que repousava sob o piso era aveludado. Pudemos notar uma pequena cama com a aparência de uma almofada no chão. Logo, ouvimos Danielle agachar-se próximo dela, e não demorou muito para que o seu respectivo dono surgisse. Era uma cachorra. Lulu da Pomerania era a sua raça. Danielle acariciou a cabeça dela, sorridente. Enquanto Lorraine, por sua vez, apenas seguira o seu caminho. O som da conversa que até então estava abafado começara a aumentar, já que a câmera acompanhava os passos de Lorraine. Danielle logo viera mais atrás, enquanto a pequena cachorra, que se chamava Vilma a acompanhava.

Logo, chegaram na cozinha. Também grande. Tinha os azulejos decorando as paredes. Uma geladeira. Fogão. Nada mais e nada menos do que o básico. Uma mesa redonda média para que pudessem ter uma adequada refeição. Estavam todos reunidos ali. Com uma mesa recheada para o café da manhã. Jarra de suco. Pão. Manteiga. Panqueca. Ovos fritos. Café. E até mesmo Bacon. Tudo do bom e do melhor. Simon e Tiffany estavam ali. Esta, agora, podíamos notar mais os seus traços. Com os cabelos maiores que o de Danielle, porém, não tão loiros. Tinham mechas escuras. Seus lábios eram mais carnudos e seus olhos também eram maiores. Abria a porta da janela neste segundo para pegar uma jarra de suco, então, vimos que vestia shorts jeans com uma blusa xadrez amarrada na cintura, enquanto a sua camisa estava escrita: “Smells Like Teen Spirit”. Realmente era fã de Nirvana. Logo, voltou-se a acomodar-se onde estava sentada anteriormente. Não demorara muito para que chegasse mais alguém. Era a empregada. Bethany seu nome. Mulata e linda. Vestia a clássica roupa de empregada. Sorridente, cumprimentou Danielle com um beijo na testa e Lorraine com um beijo no rosto. Pareciam bastantes próximas uma da outra, ou seja, com um íntimo contato. Não demorara muito também para que Lorraine e Danielle se acomodassem para tomar o café da manhã. Lorraine olhara para o relógio. Eram seis e quarenta e um da manhã. Definitivamente ela tinha um tempo para ficar tranquila:
Lorraine – Bom dia família... – já acomodada, pegara um prato de porcelana pequeno para servir-se da panqueca que era recheada.
Danielle – Bom dia pai, bom dia Tiff... – também repetira com educação.
Simon – Bom dia filha. – ele, que provavelmente já havia terminado de se servir, somente bebia uma xícara de cappuccino, pegara um jornal em cima da mesa e o abrira bem ali.
Tiffany – Bom dia. – respondera, sem olhar diretamente para a sua mãe e a sua irmã, com um dos fones de ouvido na orelha, com os olhos atentos para o celular.
Lorraine – Vocês têm mesmo que ler jornal e usar o celular na mesa? – continuava a se servir, e podíamos ver de fundo Bethany passando de um lado para o outro, aparentemente atarefada, enquanto Danielle se servia do suco de laranja que tinha ali em cima da mesa. – Vocês sabem que a hora da refeição é uma hora especial.
Simon – Você está um pouco atrasada hoje, querida... – ele não pareceu se importar com a bronca da esposa.
Tiffany – Tanto faz. – deu de ombros, ainda não olhando para elas.
Lorraine – Não, amor. Eu não estou. – ela sorriu. – Eu estava conversando com a Dani lá em cima... – ela cortou a panqueca e colocou um pedaço em sua boca. – Deus, Bethany! Você cada dia mais se supera! – achou totalmente delicioso o que havia provado. – Experimente, Dani. Está muito bom! – havia desviado do assunto.
Danielle – É mesmo? – ela pegara um pedaço da panqueca de Lorraine e provara. – Realmente, Bethany... – ela sorrira, e Bethany passara por ela e ambas deram um toque no ar.
Bethany – Parece que o jogo virou, não é mesmo? – ela, Dani e Lorraine riram. – Quando você me contratou dona Gillings, eu não tinha os melhores dotes culinários. Acho que posso me candidatar para o MasterChef americano! – elas voltaram a rir, e Bethany logo deixou o cômodo novamente.
Danielle – Está muito gostoso. Vou desistir do pão... – ela serviu-se da última panqueca restante, enquanto Vilma estava deitada próxima a ela.
Lorraine – Sim... – concordou. – Ah, como eu estava dizendo... – ela bebeu um gole de seu suco natural. – Eu estava conversando com a Dani e ela decidiu que irá mesmo ao acampamento com os amigos. Inicialmente, eu não concordei, mas ela me convenceu de que seria uma boa ideia, e de que Thomas também não iria se importar, e... – ela, então, notara que Simon estava lendo o jornal, a ignorando. – Simon? – ele, então, distraído, a olhara.
Simon – Perdão... – ele desculpou-se. – É que eu estava lendo esta matéria aqui. Você sabia que aquela farmacêutica, ou cientista, não sei a profissão dela... – ele ainda olhava para o jornal, ao mesmo tempo que trocava olhares com Lorraine ao mesmo tempo. – Sumiu após a morte da sua filha para aquela síndrome terrível? – ele então ficou pensativo. – Qual era o nome dela mesmo...
Danielle – Athena? – supôs. – Eu vi essa reportagem em algum lugar. – comera a sua panqueca logo em seguida.
Simon – É! – concordou. – Athena... – ele suspirou. – Deve ter sido difícil ficar numa situação como esta... – tentava se colocar no lugar da mulher.
Lorraine – Você está mudando o assunto, querido... – ele sorriu, fechando o jornal novamente. – E quanto a você, Tiffany? Eu já não pedi para guardar o celular? – ela ficara séria, olhando para a filha, que estava tão entretida, que não havia a escutado. – Tiffany! – falara num tom de voz mais alto, que ela enfim pôde ouvi-la, fitando a sua mãe que estava a encarando.
Tiffany – Argh! Mas que droga! – ela colocou o celular em cima da mesa, fechando a cara e cruzando os braços.
Simon – Como eu disse, você está atrasada. Eu e Tiffany já terminamos o café da manhã. É por isso que eu estava lendo o jornal e ela estava no celular. – defendera a filha. – É uma tradição que todos saiamos juntos da mesa.
Lorraine – Eu sei. Mas, como eu estava dizendo, eu estava conversando com a Dani sobre a excursão. E ela decidiu que iria. – cortava a sua panqueca.
Simon – Você tem certeza de que irá perder o casamento do seu irmão, filha?
Danielle – Ele entende. – foi simples na resposta.
Simon – Está bem então. Cuidado, hein? – Dani apenas sorriu positivamente para ela.
Tiffany – Por que ela tem a opção de escolher entre ir ou não neste negócio chato enquanto eu sou obrigada? – questionou ríspida.
Lorraine – Talvez porque ela tenha ótimas notas e um ótimo currículo escolar enquanto a senhorita está de recuperação em três matérias? – respondera com outra pergunta, e Tiffany bufou.
Tiffany – Não é justo! – não aceitava.
Lorraine – Não é uma hora apropriada para discutirmos isto, Tiffany. – terminava de comer a sua panqueca com o último pedaço.
Tiffany – Bem, você nunca tem uma hora apropriada para discutir nada comigo. Já com o Thomas ou com a Dani... – ela, então, levantou-se da mesa, causando um grande “climão”, fazendo com que Dani sequer olhasse para a sua irmã, enquanto Simon preferiu não ter atitude alguma.
Lorraine – Tiffany Gillings! Não ouse levantar da mesa e sair! – bradou, rangindo os dentes agora.
Tiffany – Assista-me... – e então fizera, pegando o seu celular e saindo da cozinha, enquanto Lorraine levantou-se indignada para ir atrás dela, mas sendo impedida por Simon que fizera o mesmo.
Simon – Lorraine... – disse, calmo.
Lorraine – Ela não pode fazer isto, Simon! – argumentou.
Simon – Você mesma disse que não é uma hora apropriada para discutirmos isto. Além disso... Faltam cinco minutos para dar o nosso horário. – Lorraine bufou, não se sentindo totalmente convencida, olhando para o relógio pendurado na parede da cozinha, totalizando a quinta vez em que se preocupava com o tempo.
Lorraine – Está bem... – concordou, embora aquela não fosse a sua escolha de alguma maneira. – Você acabou, Dani? – referia-se ao café da manhã.
Danielle – Sim... – levantou-se também.
Lorraine – Bethany, querida! – chamara a empregada, que logo aparecera. – Nós já terminamos. Estava delicioso. – sorrira ela agora, mantendo a tranquilidade. – Você não se importaria de tirar a mesa hoje, não é? Eu a ajudaria, mas estou em cima do horário.
Bethany – De maneira alguma, dona Gillings.
Lorraine – É Lorraine, Bethany. Você já está aqui há tantos anos... – Bethany sorrira.
Bethany – Está bem, Lorraine. – Lorraine agora sorrira.
Lorraine – Muito bem! – ela então logo saíra da cozinha também.
Simon – Você não ficou chateada com as coisas que ela disse, não é? – ele acompanhava Dani para fora da cozinha também, abraçando a filha por trás.
Danielle – Claro que não. – ela sorriu. – Deixei de me importar com as grosserias da Tiffany há muito tempo. Aconselho você e a mamãe a fazerem o mesmo. – Simon riu.

A câmera os acompanhara. Lorraine estava mais na frente. Simon desvencilhou-se para pegar a sua maleta preta e o paletó em cima do sofá já mencionado. Vilma vinha logo atrás. Lorraine fora para próximo de onde as malas de Dani estavam e pegou a sua bolsa Louis Vuitton que estava pendurada. Parecia sentir falta de algo a mais. E fora o momento em que Bethany surgira:
Bethany – As chaves! – gritara, jogando uma para Lorraine e outra para Simon, que pegaram em cheio com um reflexo apurado as chaves, fitando-as logo em seguida, e jogando novamente um para o outro, trocando as respectivas chaves. – Droga! Eu nunca acerto! – reclamou, e Lorraine rira, enquanto Bethany retornara para a cozinha.

Lorraine com a bolsa em mãos, abrira a porta. Vamos Tiffany! Gritara ela, enquanto Tiffany foi vista descendo as escadas rapidamente com a mochila nas costas. E fora o momento em que Lorraine olhara para frente de sua residência, deparando-se com um Azera prateado. Um carro. Do ano mais recente, ou seja, de dois mil e dez. Dele, descera um rapaz. Musculoso e bonito. Usava uma camiseta com gola V listrada e calças jeans. Seu cabelo era loiro escuro. Tinha óculos escuros e uma verdadeira classe. Era Thomas. Lorraine logo sorrira de orelha a orelha ao ver o filho. Este, também estava acompanhado. Do banco do passageiro, descera mais um homem. Os cabelos eram escuros. Pretos. Tinha um estilo mais sério, com uma camisa polo que tinha como as cores básicas o branco e o azul-marinho, vestindo também calças jeans, além dos seus óculos escuros. Era amigo dele. Simon logo pôde ver o filho. Não demorou muito para que as irmãs também vissem. Todos saíram da residência. Lorraine fora a primeira a abraçar o rapaz bem apertado:
Lorraine – Que surpresa boa! – ela desvencilhara-se dele dizendo isto em seguida. – Não esperava vê-lo assim tão cedo... – sorrira. – Mike! – abraçara o amigo dele também.
Danielle – Thommy! – ela correu para abraça-lo.
Thomas – Ei, Dani. – ele dera um sorriso maroto, enquanto Simon o abraçara também. – Oi pai! – e em seguida, ele fora também até a Tiffany, embora esta não parecesse tão receptiva assim, enquanto os outros também cumprimentaram Mike, que aparentemente, já parecia “da família”.
Lorraine – Hannah não veio com você? – perguntou, procurando-a.
Thomas – Ela decidiu que iria passar o dia relaxando. Como o salão de beleza dela é só meio-dia, a avó dela a levou para comprar algumas roupinhas para a Luna.
Lorraine – Que legal! – comentara. – E provavelmente você também veio relaxar, não é?
Thomas – É. – ele riu. – Digamos que eu esteja um pouco ansioso... – Mike então forçara uma tosse, e todos olharam para ele rindo, exceto por Tiffany que permanecia com o fone de ouvido, não dando muita importância para aquela conversa. – O quê? – disse ele sempre com aquele sorriso galanteador.
Mike – Um pouco? – ele rolou os olhos. – Você está sendo modesto, meu caro... – Lorraine sorriu.
Lorraine – Pare de atacar o meu menino! – ela deu um leve tapa em Mike, voltando a abraçar Thomas. – Você sabe que aqui sempre será a sua casa, não é? – Thomas assentiu, sorrindo.
Simon – A sua mãe tem razão, filho. Esta sempre será a sua casa...
Thomas – Obrigado, pessoal... – agradeceu.
Lorraine – Meu Deus! – ela olhara para o relógio de pulso dela, checando que era sete e seis da manhã. – Eu estou atrasadíssima... Vamos, Tiffany. – apressou a sua filha, apertando o botão, abrindo o portão da garagem. – Filha... – ela fitara Dani. – Que a sua excursão e a sua última confraternização com seus amigos seja muito divertida e que Deus a acompanhe no trajeto! – ela dera um abraço rápido em Dani, e logo Simon fizera o mesmo. – Não esquece de me ligar quando chegar lá! – advertiu.
Danielle – Obrigada...
Lorraine – Thommy e Mike, é a minha casa e é a casa de vocês, hein? – ela abraçara pela última vez o seu filho e também Mike. – Mas não abusem! Bethany está aí para me contar se vocês fizerem algo de errado quando eu voltar! – dera uma bronca. – Até mais...

Simon repetira as mesmas ações de Lorraine. Tiffany viera logo atrás. Logo o alarme do carro de Lorraine fora desativado. Simon aproximou-se de seu carro também. Despediram-se com um aceno e com um “tenha um bom dia”. Nada mais do que o comum para até então. Tiffany logo adentrara no carro de sua mãe. O de Simon era um C5 preto, enquanto o de Lorraine era um Edge acinzentado. Todos da marca de dois mil e dez. Lorraine saíra da garagem primeiramente. Logo Simon. Cada um seguira para um caminho diferente. Lorraine buzinara ao ver Dani, Thomas e Mike adentrando ainda na residência Gillings.

E este era somente uma observação básica do que de fato se tratava a rotina daquela família. Lorraine fora para o seu serviço. Provavelmente deixaria Tiffany na escola. Simon também fora para o seu serviço. Lorraine mostrara ser uma mulher de família. Quase uma líder. Com uma rotina impecável e inquebrável com uma personalidade única. Simon, por outro lado, era mais sério. Reservado. Mas não poderia ter dúvidas do quanto amava a sua família. Danielle era alguém responsável. Embora tivesse quase dezoito anos, não se deixava levar para a sua idade. Tinha planos. Tinha metas. Tiffany, por outro lado, já era alguém mais “problemática”. Adolescente. Rebelde, até mesmo poderia se dizer assim. E Thomas, embora não tivesse sido mostrado com muito mais foco como o restante da família, iria se casar no dia de hoje. Às dez da noite. E com uma noiva grávida. Definitivamente... Uma grande família. Mas será que realmente mostravam toda esta perfeição? Afinal... Sempre há quebradiças. Falhas. E defeitos em qualquer relação. E Tiffany já mostrara como nada poderia atingir o ideal. Restava somente aguardar. A imagem fora escurecendo pouco a pouco. Este era apenas o início do spinoff de Voyagers Purgatory. Era o início de uma provável revolução. Era o início de Somber Crusade.

Virginia, EUA (Richmond Town) – Lorraine’s Car, Streets View
07:11 AM
O silêncio estava predominando entre mãe e filha. E não era para menos. Fazia poucos minutos desde aquele “climão” que havia se instalado após uma pequena discussão, esta que teria se estendido se não fosse Simon impedindo. Afinal, para eles, o tempo era algo precioso. Lorraine era quem estava no volante. Com o cinto segurança lhe protegendo. Parecia concentrada, mas às vezes, olhava no espelho que tinha no interior do veículo que dava acesso a parte traseira para visualizar a sua filha. Via Tiffany ali. Estava sentada no banco atrás daquele do passageiro. Do seu lado estava a sua mochila. Tiffany parecia com a expressão facial de alguém que estava realmente chateada. E não era para menos. Ela em si parecia ser uma pessoa complicada e cheia de problemas. Com o clássico fone de ouvido na orelha e fitando a janela para visualizar o que tinha do lado exterior, não parecia muito acessível em ter alguma conversa com a sua mãe.

E então, fora o momento em que Lorraine parara no sinal. Ela suspirou. Ficou pensativa. Olhou novamente no espelho, fitando Tiffany. Olhou agora para o rádio, e inquieta, começara a mexer nele. Ligara. Colocara num volume não muito alto, mas também não muito baixo. Era agradável. Tentava identificar alguma música que pudesse as relacionar neste momento. E como aparentemente era um farol que iria demorar a enfim atingir o “verde”, via neste pequeno minuto uma chance de se reaproximar com Tiffany:
Lorraine – Não tem nenhuma música boa... – continuava a mexer no rádio. – Pergunto-me qual é o problema das músicas de hoje em dia. Quem é que compra música desta banda vencedora de reality show? – murmurou. – Eles não têm talento. – afirmou, convicta disso. – Você tem alguma preferência, Tiff? – conversou agora com a filha, pedindo a opinião dela, mas aparentemente ela não estava nem lhe ouvindo. – Tiffany? – a chamou novamente, e desta vez Tiffany olhara para ela, já que a sua posição facilitava isso. – Tira o fone, por favor... – pedira educadamente e Tiffany fizera isto.
Tiffany – O quê?
Lorraine – Você tem preferência por alguma música?
Tiffany – Tanto faz. Já estou escutando música... – deu de ombros, voltando a colocar o fone de ouvido.
Lorraine – Hum... Está bem. – ela arrumara a estação do rádio novamente. – Vou deixar esta. – era uma música de Britney Spears, era Overprotected. – É antiga, mas todos amam as músicas da Britney. – deu um leve sorriso agora. – Você não concorda? – Tiffany não a respondera, e o sinal enfim abrira e Lorraine conseguira seguir com o seu caminho, dirigindo enquanto tentava aproximar-se de sua filha. – Tiffany?
Tiffany – O que foi?! – agora ela parecia um pouco mais ríspida e grossa ao tirar o seu fone de ouvido pela segunda vez.
Lorraine – Podemos conversar? Gostaria que você pudesse prestar atenção em mim... – dizia, ainda tentando manter-se calma.
Tiffany – Você disse que não era uma hora apropriada para conversarmos.
Lorraine – Bem... No café da manhã em família não é realmente uma hora apropriada para discutimos questões familiares. – tentou se defender, corrigindo-a, ainda dirigindo, enquanto seu carro fora para a direita, e Tiffany resolvera continuar a fitar a janela.
Tiffany – Tanto faz. Você já respondeu a minha pergunta. É óbvio que você tem uma clara preferência pelo Thomas e pela Danielle. – completou.
Lorraine – Isto não é verdade! – afirmou, desmentindo-a. – Eu amo os meus filhos da mesma maneira.
Tiffany – Ah, é? – ela riu agora. – Não parece.
Lorraine – Tiffany...
Tiffany – Então me diz por que Danielle teve a oportunidade de escolher em ir ou não para este casamento estúpido? – ela agora olhara para a sua mãe, gesticulando com as mãos enquanto falava. – Ah é! Porque é a filhinha perfeita... – rolou os olhos. – E quanto a Thomas? Foram inúmeras as vezes em que você o livrou quando ele ainda era solteiro e chegava bêbado em casa. – Lorraine apenas a escutava, séria e dirigindo. – E eu? Bem... Vivo de castigo somente porque eu estou indo de contra a esta sociedade hipócrita que acredita que as pessoas têm que viver presas em um padrão. – bufou. – Você realmente ama os seus filhos da mesma maneira. – disse, com um tom de ironia.
Lorraine – Se você se empenhasse, também ganharia os seus bônus. – defendeu os motivos de Danielle e Thomas serem privilegiados em alguns momentos. – Mas aqui estamos nós, não é mesmo? Danielle está indo para a viagem de formatura. Thomas está se casando. E você está indo para a escola para a recuperação quando deveria estar em casa de férias. – Tiffany rolou os olhos neste momento. – Você pode não entender as minhas ações hoje, mas no futuro irá agradecer a educação que estou lhe dando. E quando você for mãe, irá entender completamente o que eu faço por você. – argumentou perfeitamente, mas Tiffany não parecia satisfeita, e fora o momento em que Lorraine parecia estar diminuindo a velocidade para estacionar o seu carro em alguma vaga livre, fazendo isto logo em seguida, desligando o veículo por completo após realizar o seu movimento, e virando-se para trás, embora o seu cinto de segurança impedisse seu total movimento. – Eu apenas quero entender o que realmente está acontecendo com você, minha filha... – foi possível ver Tiffany ter seus olhos marejados neste momento, enquanto Lorraine comunicava-se agora com uma voz mais dócil e suave. – Não é sobre Dani. Não é sobre Thommy. E tampouco é sobre o casamento ou a sua recuperação na escola... – Tiffany, então, limpara as suas lágrimas e olhara para a sua mãe mais uma vez.
Tiffany – Eu apenas estou cansada de vocês fingindo que tudo está bem e tudo ficará bem. – Lorraine a escutava. – Que nós somos uma família perfeita. Que nós não possuímos defeitos. Que nós somos felizes... – Lorraine nada dissera, apenas desviara o olhar neste momento. – Quando na realidade, nós somos imperfeitos. E que somos quebrados. E acredite ou não... Mas a única pessoa que tem menos falhas de nós todos sou eu. – ela pegara a sua mochila neste momento, colocando a mão na porta do carro para abri-la. – E você sabe disso...

E então, Tiffany abrira a porta do veículo e saíra. Lorraine ficara ali, observando ela adentrar pelo portão da escola sem nem olhar para trás. Uma família imperfeita? Não era o que parecia. Definitivamente tudo aquilo havia pegado Lorraine de surpresa. Ela não esperava tal declaração. Tal desabafo. Ela não esperava nada disto. Porém, como ela mesma já havia disto... Não era uma hora apropriada para discutirem isto. Nem perto disso. Ao ver que Tiffany provavelmente já estava dentro do colégio, ligara o seu carro e partira dali. Mas totalmente pensativa com cada palavra que Tiffany havia dito.

Virginia, EUA (Richmond Town) – Gillings’ Home, Various Scenes (Inside The House / Swimming Pool Area / Outside The House)
07:30 AM
Danielle estava do lado de dentro. Olhava-se no espelho que estava na sala e tentava achar uma maneira de deixar o seu cabelo de uma maneira mais confortável. Era possível visualizar Vilma, que estava deitada em sua cama, como de costume. Danielle parecia indecisa. Fazia diversos e diversos estilos, porém nenhum parecia agradá-lo. Podia-se ouvir som de conversa vindo mais abafado de outra direção. Pareciam homens conversando. Provavelmente era Thomas e Mike. Nada que ela teria que se preocupar.

Distraiu-se quando ouviu o seu celular apitar. Era um iPhone branco com uma capa extremamente fofo. Era de raposas e morangos. Talvez a sua combinação perfeita. Parecia ser extremamente apegada a séries. Reparava-se ainda na mesma camiseta que vestia e nas coleções de DVDs próximos a ela. Podíamos notar que tinha ali desde The Suitor, Red Rails até The Coma. Danielle destravou a senha do seu celular. A câmera acompanhava seus movimentos. Sorriu ao ler a mensagem que havia chegado para ela. Era uma foto. Vinha do famoso WhatsApp, aplicativo conhecido para conversas pelo celular. Danielle sorria para aquela foto. Chegava até a rir. Na mensagem estava escrito: “Estamos chegando, Dani!”. E a foto tratava-se da selfie de uma garota morena com cabelos crespos sorrindo fazendo um sinal de “joia” junto de um homem robusto que estava com óculos escuros, provavelmente seu pai ou até mesmo o seu tio. Era Marcella. Marcella Butler. Passos foram ouvidos e logo Bethany fora vista se aproximando, e comentou logo que a vira fitando o celular:
Bethany – Rindo para a tecnologia, Dani? – comentara, aproximando-se dela e ficando por trás delas, ambas tendo seu reflexo visto pelo espelho.
Danielle – É. Marcella sabe me alegrar. – riu novamente. – Acho que é algo de família...
Bethany – Ah é, com certeza. – concordou, rindo também. – Aquela prima dela é bem expressiva, para não dizer outra coisa... – Danielle gargalhou desta vez.
Danielle – Siobhan? – Bethany assentiu. – É... Expressiva... – voltou a rir. – Experimente ficar um dia perto dela para você ver. Você meio que acaba adquirindo o humor dela por osmose do ar mesmo sem querer... – Bethany riu.
Bethany – Eu acredito. – sorriu. – Mas, então. O que você fazia aqui parada?
Danielle – Estava procurando por algo que fizesse o meu cabelo ficar mais apresentável... – ela guardou o celular no bolso.
Bethany – Hum... Deixe-me lhe ajudar... – ela, então, pegara o cabelo de Dani e tentara fazer um coque, ou até mesmo tentara deixa-lo preso, mas aparentemente não combinava muito com ela. – Eu poderia fazer tranças... O que acha?
Danielle – Mesmo?! – ela se empolgou. – Ah... Mas estou com preguiça daqueles que vão problematizar as minhas tranças... – ela rolou os olhos.
Bethany – Deixe para lá. Eu sou negra e acho que você ficará linda. – ela sorriu e Danielle retribuiu a gentileza.
Danielle – Está bem, então! Você é demais! – ela sorriu novamente, e Bethany começara a enrolar os cabelos platinados de Dani em tranças perfeitas, aparentando ter bastante habilidade.
Bethany – Você já colocou a sua blusa dentro da mala?
Danielle – Ah... Você ouviu a conversa... – ela riu, referindo-se ao momento em que Lorraine pedira para ela ir agasalhada ao acampamento.
Bethany – Não precisei. Eu faria o mesmo. Não só faria como faço. – corrigiu a si mesmo.
Danielle – Mães... – ela riu. – Mas sim, já coloquei a blusa. E ela está me mandando mensagem quase o tempo inteiro...
Bethany – Bem, você não pode culpa-la. Você sabe que ela é bem próxima e apegada a vocês... Thomas era um garotinho aprisionado no quarto até ontem e hoje irá se casar. – Dani riu.
Danielle – É... Você tem razão. – concordou. – Ela sempre foi bastante protetora. – ela ficou pensativa. – Talvez esse seja o problema com a Tiffany. – refletiu. – Quero dizer... – ela suspirou. – Eu nunca me importei. Sempre fui caseira, então, quando me proibiam de sair de casa, realmente achava que estava tudo bem. Thommy sempre foi bastante responsável. Talvez Tiffany sinta-se sufocada. – Bethany a escutava somente. – Não sei. Somente uma hipótese...
Bethany – Eu não sei também. Não tenho muito que a dizer a respeito desta situação... – também ficara pensativa. – Trabalho aqui há muitos anos. Talvez seja apenas a adolescência que é uma etapa muito difícil.
Danielle – É... Pode ser. – ela deu uma leve risada. – Eu apenas queria poder entendê-la. Nós costumávamos ser muito próximas há alguns anos... E de repente, ela apenas mudou.
Bethany – Pessoas mudam, Dani. É normal. – comentou. – Talvez ela tenha mudado naturalmente ou algo tenha a forçado a mudar. Nós talvez nunca saberemos.
Danielle – O que você quer dizer? – Bethany continuava a fazer as tranças de Dani.
Bethany – Eu não sei... Talvez ela tenha descoberto segredos... – Dani arqueou a sobrancelha. – Você realmente acredita que a relação de seus pais é tão tranquila assim? – Dani ficara pensativa. – De que Thomas realmente não possui problemas em casa? – citara. – De que você é totalmente sorridente todos os dias do ano? – Dani apenas desviara o olhar, ficando mais acanhada. – Ou de que eu realmente sou bondosa completamente? – ela, então, finalizara as tranças de Dani. – Pessoas possuem segredos e lados obscuros, Dani. E cedo ou tarde... Eles sempre vêm à tona.

Bethany então se afastou. Fazia sentido o que ela tinha dito? Fazia sim. Tanto era que Dani ficara ali diante do espelho, totalmente pensativa. Demorou alguns segundos até perceber que seu penteado havia sido concluído. Ficara de perfil para visualizá-lo de maneira apropriada. Dera um leve sorriso de canto, mas nada tão expressivo como costumava a dar. Segredos. Lados obscuros. Cedo ou tarde, eles realmente vêm à tona. E Bethany tinha razão.


O rádio foi colocado. A piscina estava sendo celebrada. Sun Goes Down de David Guetta era a música preferida para este momento. Estávamos agora na área de lazer da grande casa da família Gillings. Era um paraíso, podemos dizer assim. Repleto e rodeado pelo jardim. Esverdeado. Bonito. Com as flores mais bonitas e também exóticas ali. O dia ensolarado facilitava para isto. O Sol não queria esconder-se de maneira alguma. Víamos a piscina azulada e grande que tinha até uma pequena queda d’água. Rodeava uma “pequena ilha” onde tinha um coqueiro e grama. Talvez para fazer sombra para quem quisesse entrar ali. Tinha até outras pequenas piscinas para crianças espalhadas pelo local. Era algo realmente chique e até mesmo caro. O padrão de vida para esta família era realmente alto. Víamos três espreguiçadeiras brancas por ali que estavam sob o piso que era “listrado” e de madeira. Estas, inclusive, tinham as camisetas dos rapazes que estavam ali. Era Thomas e também Mike. O último, já dentro da piscina. Com seus óculos escuros padrão, apoiando o braço na borda da piscina enquanto desfrutava alguns petiscos que tinha ali pedaços em cubo de queijo com palitos e até salame, além de degustar a cerveja de garrafa que segurava com uma de suas mãos. Balançava a cabeça ao som do ritmo da música que ecoava por ali. Era o dia do casamento. O último dia de solteiro de Thomas. Mesmo ainda sendo de manhã, não havia motivo para não comemorar ou até mesmo lamuriar a perda de um “amigo” para a vida de casado.

Thomas também estava sem camisa. Mas do lado de fora. Com um shorts básico, exibia seu musculoso peitoral. Também com óculos de Sol e calçava o chinelo para não queimar os pés. Parecia estar conversando com alguém. Estava com o celular dele na orelha, o que indicava que realmente fazia tal ação. A câmera aproximou-se dele para que então pudéssemos ouvir a conversa. Thomas até mesmo fora até rádio para diminuir o volume e conseguir escutar melhor a tal ligação:
Thomas – Está tudo bem, amor. Eu já conversei com ele. Ele irá lhe buscar. – garantiu com o seu tom de voz máscula, e pela maneira como ele falava, poderia se tratar de sua noiva. – Sim. Mike está aqui. Garantindo que eu me comporte e não fique bêbado. – ele olhou para Mike rindo ao vê-lo dar um grande gole na cerveja, acenando totalmente sorridente para Thommy. – Talvez tenhamos que inverter os papéis e eu garanta que ele não fique bêbado até de noite... – ele riu. – É sim. Ele está mandando um beijo para você... – ele sorriu galanteador. – Mande um beijo para a sua avó também. Anastacia é uma querida. – dizia ele simpático somo sempre. – Está bem. Divirta-se... Lembre-se de que fizemos um acordo de sem ligações até de noite, hein? – ele brincou e em seguida rira com o provável comentário que sua noiva tenha feito. – Está bem. – concordou novamente. – Até logo... – ele sorriu. – Te amo, meu amor. – despediu-se por fim.

Sorridente. Sonhador. Apaixonado... Poderiam ser as características básicas para descrever alguém como o Thomas. Fora até o rádio novamente e aumentou o volume da mesma maneira que estava novamente. Quando virara para seguir até a piscina vira que Mike estava com um sorriso estampado no rosto. Talvez até de deboche. Ele gostava de brincar com Thomas a respeito desta futura vida de casado e não faria questão de esconder sobre isso:
Thomas – O quê? – ele parecia ter ficado envergonhado, desviando o olhar, e sentando-se na borda para molhar as pernas, não tendo a preferência de adentrar na piscina.
Mike – Te amo, meu amor... – ele fez uma voz melosa. – Deus, você é tão meloso. – ele riu agora neste momento.
Thomas – Ah é? – ele entrou na brincadeira também. – Espere até você encontrar o amor da sua vida. Quando isto acontecer, tenha certeza de que serei o primeiro na fila para zoar você. – Mike riu novamente.
Mike – Você está errado. Eu já encontrei o amor da minha vida... – ele então levantou a garrafa de cerveja e ambos riram. – Cara... Eu sinto pena de você. – ele lamentou e Thomas arqueou a sobrancelha.
Thomas – Por quê?
Mike – Você está preso para sempre... – Thomas rira levemente da fala dele. – Você nunca mais irá para uma balada. Ou beberá uma cerveja. Ou sairá com os seus parceiros sem permissão! – ele exclamou. – Eu realmente sinto pena de você...
Thomas – Não se preocupe. Hannah e eu temos um acordo quanto a isso... – disse. – Ela pode sair com as amigas dela quando quiser e eu também posso sair com os meus. – Mike sorriu neste momento.
Mike – Eu já disse que eu amo a sua noiva? – ambos riram.
Thomas – Mas claro que há exceções...
Mike – Droga... – murmurou.
Thomas – Nós não podemos ficar tão bêbados.
Mike – Mas podem beber? – Thomas sorriu.
Thomas – Sim... Podemos. – assentiu e Mike pareceu ter gostado disto.
Mike – Por mim é o suficiente. – ele dera outro gole em sua cerveja.
Danielle – Thommy! Thommy! – chamara Thomas, e a voz parecia vir de longe, porém, conforme ela chamava mais, podíamos sentir que ela vinha se aproximando.
Thomas – Ei, Dani! – sorriu ao vê-la se aproximar e andar até a eles. – Junte-se a nós...
Danielle – Bem, eu gostaria... – ela lamentou. – Marcella já chegou.
Thomas – Ah... – ele lamentou também, levantando-se logo em seguida. – Você já vai então?
Danielle – Vou sim... – assentiu.
Thomas – Já avisou a mãe? – ela assentiu positivamente. – Ok então... – ele a puxou para um abraço. – Cuide-se, hein? – dera um beijo no rosto dela, e ela fizera o mesmo no rosto dele. – Tem certeza de que não quer ver o seu irmão casando? Dá tempo ainda... – brincou e Dani sorriu.
Danielle – Você me envia fotos... Vai parecer que eu estava lá! – garantiu.
Thomas – Certo... – sorriu novamente. – Divirta-se...
Danielle – Você também, senhor casado... – brincou, recuando e afastando para voltar para dentro de casa. – Tchau Mike! – despediu-se apenas acenando já que ele permaneceu dentro da piscina apenas observando a conversa e curtindo a sua cerveja.

Ambos observaram Dani ir embora. Thomas dera um leve sorriso. Ele então voltara a se sentar na borda da piscina e notara que Mike continuava com um olhar para lá. Ele franziu o cenho. Aquilo aparentemente estava errado. E fora o momento então em que ele dera um tapa no braço dele, mas não tão forte, o suficientemente para que ele “acordasse para a vida”:
Mike – Ai! – reclamou. – Por que isso do nada? – ele alisou o seu braço.
Thomas – Não seja cínico. – ele bufou. – Eu conheço esse olhar...
Mike – Que olhar? – fez-se de desentendido.
Thomas – Esse olhar. De safado. – Mike riu.
Mike – Oi?
Thomas – Você estava olhando para a bunda da minha irmã! – Mike riu novamente.
Mike – Por favor, né... – ele desviou o olhar.
Thomas – Mike... – ficara sério.
Mike – O que eu posso fazer? Ela é quase uma mulher. Eu sou um homem. E ela está ficando cada vez mais bonita e... – Thomas deu outro tapa em Mike, que riu após
Thomas – Não ouse falar gostosa!
Mike – Em minha defesa é você que está falando... – gesticulou.
Thomas – Humph. – bufou enciumado, mas de uma maneira até brincalhona. – Você sabe que isto nunca poderia acontecer, não é? – Mike nada dissera, apenas bebera sua cerveja. – Você tem um péssimo histórico com mulheres.
Mike – Que mentira! – exclamou, perplexo. – Minhas ex-namoradas me amam. Até me ligam às vezes.
Thomas – Ligam para dizer o quão canalha e idiota você foi com elas no passado. – Mike deu um sorriso amarelo.
Mike – Bem, a vida não é perfeita... – Thomas riu.
Thomas – Além disso, deveria ser uma regra amigos não se relacionarem com irmãs.
Mike – Sério? – ele franziu o cenho. – Nunca pensei nisso...
Thomas – Claro, a sua irmã só tem cinco anos... – ele rolou os olhos e Mike agora percebeu o quanto de sentido aquilo realmente fazia. – E imagina se a minha mãe ficasse sabendo? – Mike riu neste momento. – Você sabe que não estaria vivo para contar o resto da vida, não é? – ambos riram. – Eu me lembro de quando a Dani deu o seu primeiro beijo... – ele sorriu lembrando-se daquela época. – Faz dois anos. Ela tinha quinze... – pôde-se notar que ela tem dezessete anos atualmente. – E ela somente contou para mim. – lembrou-se. – A minha mãe não ficou sabendo no início. Mas quando ela descobriu... – ele riu. – Até eu que não tinha culpa de nada, exceto por saber daquilo, acabei apanhando. Ela ligou até para a mãe do garoto. – Mike riu também.
Mike – Ela nunca se importou com os seus casos? – referia-se a namoros antigos.
Thomas – Não... Acho que o fato de eu ser homem ajudou um pouco. – Mike assentiu, parecendo concordar. – Com as minhas irmãs é sempre diferente nesta situação. – refletiu.
Mike – E aqui está você. Na sua última noite de solteiro... – Thomas sorriu agora.
Thomas – É... – ele ficou pensativo então. – Eu passei por muita coisa até chegar aqui... – Mike apenas o escutava. – E eu finalmente estou me casando. – disse. – Com uma filha para nascer... – Mike sorriu agora. – Pequena Luna... – encantou-se. – É real, Mike. Eu estou me casando! – gritou ele, abrindo os braços.

Mike o puxou para a piscina. A amizade deles sem dúvidas parecia algo especial. Não se tinha dúvidas sobre isso. E realmente o casamento estava acontecendo. Mostrou-se um pouco da personalidade de Thomas. Parecia ser alguém tranquilo. Mas será que realmente ele era tudo isto que aparentava ser? Bethany afirmou que pessoas possuíam segredos. Era natural. E Thommy pode não escapar disso.


O som do porta mala do carro sendo batido foi ouvido. Estavam do lado de fora agora. Danielle foi vista ali aparentemente após ter guardado as duas malas de viagem. Marcella estava dentro do carro que não possuía teto, sentada no banco de passageiro, com as pernas pro alto, não parecendo se importar com o que acontecia ao seu redor. Era um VW Eos preto a marca dele. Mascava um chiclete ao mesmo tempo em que tagarelava sobre algumas coisas aleatórias sozinha. Tirava algumas fotos também. Eram selfies, como de costume. Parecia ser alguém sempre muito bem humorada. Um homem estava próximo a ela. Era grande, alto e musculoso. Sério. Agora sem os óculos de sol daquela foto enviada por Marcella mais cedo. Com uma camiseta verde-musgo bem ajustada no corpo e calças jeans, além do seu sapato normal. O seu nome era Duke. Duke Butler. Parecia ter ajudado Dani a guardar as suas malas. Estavam prontos para dar a partida e irem para o colégio onde pegariam o ônibus para excursão. Definitivamente tudo estava pronto:
Danielle – O quê aconteceu com o Senhor Vladmir? – perguntou sobre o pai de Marcella, conversando com Duke.
Duke – Ele teve que sair para ir ao trabalho. Estava de folga. E como eu estou hospedado na casa dele, me ofereci para levar vocês... – Dani então sorriu.
Danielle – Ah é! Não tive oportunidade ainda de lhe dar um abraço... – ela então assim o fez. – Você então é o pai de Siobhan? – perguntou ao se desvencilhar dele e Duke assentiu.
Duke – Siobhan é bastante famosa, não é? – Dani apenas sorriu.
Danielle – Você não faz ideia... – brincou. – E por onde anda ela?
Duke – Ah... Não sei. – Dani franziu o cenho. – Mesmo. Não estou brincando... – ambos riram. – Deve estar por aí. Ao redor do mundo... – disse. – Eu diria que talvez Las Vegas. Ela gosta de pôquer. – brincou e eles riram. – Mas também há a possibilidade de estar em outros países. Lituânia, Sri Lanka, Bangladesh ou até mesmo Liechtenstein. – citara os países.
Danielle – Ela realmente conhece todos esses países? – espantou-se.
Duke – Talvez. – deixou no ar e Dani sorriu.
Danielle – Vocês não moram juntos?
Duke – Nós temos, digamos assim... Uma relação peculiar. – definiu então, e Dani riu.
Danielle – Entendi... – ela, então, pegara o seu celular e olhou para a hora dele. – Meu Deus! Estamos atrasadas! – espantou-se. – Vamos!

Dani se direcionou para o carro. O som da conversa foi diminuindo pouco a pouco. Parecia estar brigando com Marcella, talvez porque ela tenha preferido ficar ali sentada ao invés de ajuda-los com as malas. Siobhan. Duke. Cada vez mais a família Butler era mostrada. Era importante mostrar que eles tinham vínculo. E que aparentemente Marcella e Dani pareciam próximas uma da outra. A excursão iria acontecer. E Dani planejava divertir-se muito com os seus amigos de infância.

Virginia, EUA (Richmond Town) – Polydel High School
07:45 AM
Tiffany aguardava dar o horário na cantina da escola. Como já era período de provas de recuperação, esta não estava aberta. Mais a sua frente, via um pátio bem aberto. Onde estava já era um pouco mais apertado. Todas as mesas e cadeiras estavam empilhadas. Mais atrás de onde ela estava, via-se um refrigerador para bebidas como água e também refrigerantes, além da bancada onde provavelmente se vendia os salgados e doces. Conseguira retirar uma para se acomodar sem grandes dificuldades. Ela conseguia ouvir o som de algo. Como se fossem gritos e até música. Supôs que poderia ser um ensaio. Mas não quis dar muita atenção a isso. Estava com o celular em mãos, apenas jogando um jogo aleatório já que provavelmente a internet não funcionava até dar oito horas e ela poder fazer a prova e ir embora. Queria férias. Queria sossego. E queria descanso.

Fora o momento então em que percebera que todo o barulho cessara. A música. O som de comemoração. E agora surgira apenas o de conversa. Como se tivesse um grupo se aproximando de onde ela estava acomodada. Era um grupo de garotas. Eram quatro aparentemente. Todas com saias e top azulado com detalhes amarelados. Provavelmente era a cor principal do colégio. Tiffany olhara aquilo, mas preferira ignorar. Por outro lado, seja lá quem fosse aquelas garotas, a principal delas preferiu provocar. Tinha o cabelo preso, porque provavelmente estava ensaiando para algo que envolvesse líderes de torcida. Ela era ruiva. Tinha franja também. Com uma cor bem branca e um corpo até mesmo definido para a idade dela. Sorrira debochadamente para Tiffany, dizendo para as outras garotas próximas às elas:
Sandy – Vejam só, garotas... Se não é a coitada da Gillings. – elas riram, demonstrando ser alguém bem baixo nível, mas Tiffany preferira ignorar, continuando a olhar para o seu celular. – Pensei que sequer tinham dado a chance de você vir para a recuperação, todo mundo aqui sabe que você não vai passar mesmo. – e então elas comentavam “boa Sandy”, “acaba com ela Sandy”, “isso aí Sandy”, deixando o ego dela bem alto, revelando também seu nome, enquanto Tiffany ainda manteve-se calada. – Qual é Gillings? O gato comeu a sua língua? – rira novamente.
Tiffany – Uau, Sandy... Cada vez mais você me prova que o seu lugar é fazendo teste para Mean Girls três. – ela sequer a fitava, parecendo deixar Sandy um pouco irritada. – A quem você está querendo enganar? – ela olhara para Sandy agora, sorrindo. – Todo mundo aqui sabe que você é uma pobre coitada. – as amigas de Sandy se entreolharam com o fora que Sandy havia acabado de passar.
Sandy – Eu tenho dó de você, Gillings... – afirmou, fazendo até mesmo “biquinho”, tratando-a com sarcasmo. – Perdeu o posto de líder da torcida pra mim, vai repetir o ano e a mamãe não gosta de você. Está difícil ser Tiffany ultimamente, você não concorda? – Tiffany pareceu ter se incomodado ao ver sua mãe sendo citada numa discussão até mesmo patética. – Pobre Lorraine... – lamuriou, enquanto suas amigas continuavam a dar risadas forçadas, cochichando entre si. – Tão fracassada quanto a filha. – concluiu. – Há somente uma maneira de que Lorraine seja famosa nos dias de hoje... – Sandy sorrira então. – Talvez ela tenha fodido com vários homens para chegar até o topo...

E fora o momento em que Tiffany não se segurou e se levantou avançando contra Sandy. Não tivera escolha. Puxara o cabelo dela e rangia os dentes. Era uma briga de adolescente, mas que havia sido provocada pela mesma. Demorou alguns minutos até que alguém viesse intervir. As garotas amigas de Sandy sequer se aproximaram. Eram tão patéticas que começaram somente a torcer. Talvez apenas tivessem medo de também apanharem. Um garoto logo surgira. Entrou no meio delas. Acabou até sendo agredido também. Puxara Tiffany para longe por parecer ser a mais agressiva e violenta. Falava palavrões. A xingava. Realmente Sandy havia conseguido tirá-la do sério. Sandy apenas sorria debochadamente. O garoto, então, dissera:
??? – Saia daqui, Sandy! – pedira, e Sandy apenas acenara provocando ainda mais uma avançada de Tiffany, que precisou ser contida pelo rapaz. – Acalme-se, Tiff... – pedira, enquanto Sandy e as garotas se afastavam cada vez mais.
Tiffany – Droga, Lucca! Saia do meu caminho! – pedira para ele, que resistia ali mesmo, impedindo com que ela se movesse, e quando vira que elas realmente já tinham ido embora, ele a soltou. – O que você está fazendo? – perguntou inconformada, gesticulando com as mãos. – Você viu como ela falou da minha mãe?
Lucca – Não. Eu estava próximo da sala de aula estudando... – ele comentou, calmo.
Tiffany – Ela tem sorte que você chegou aqui! Ia arrastar a cara dela no asfalto! – bufou, impaciente, voltando a se sentar e Lucca apenas riu, e quando a câmera afastou, pudemos ver que era um rapaz não muito alto, com o cabelo escuro, curto e baixo, de olhos azuis, sardas e com a pele branca, considerado como um padrão de beleza até, vestindo uma camisa xadrez azulada e a básica calças jeans. – Estúpida... – rolou os olhos.
Lucca – Ela parece ter dito algo bem pesado sobre Lorraine para você ter agido assim... – Tiffany o fitara, franzindo o cenho.
Tiffany – Não finja que você me conhece. – ela se levantou, então, pegando a sua mochila e colocando o celular no bolso de seu shorts, mas Lucca impedira com que ela fosse pegando no braço dela.
Lucca – Você poderia pelo menos me agradecer! – afirmou. – Você tem sorte de que não foi o diretor que veio intervir na briga.
Tiffany – Ah é? – ela sorriu. – Bem, obrigada Lucca. Obrigada por salvar as minhas unhas de quebrarem na cara daquela coisa. – ironizou, então. – Agora, com licença? – ela olhara para as mãos dele ainda segurando o braço dela, e fora o momento em que ele se desvencilhou dela, deixando-a ir embora.

Tiffany assim fizera. Lucca somente o observou ir para outra direção. Eles tinham uma história, provavelmente. Um passado, talvez também. De qualquer forma tudo isso somente provava como a personalidade de Tiffany era difícil. Sandy parecia ser somente uma qualquer da escola. O ponto a ser provado era de que mesmo com as brigas com Lorraine, Tiffany a defenderia com unhas e dentes. Ela era a única que poderia discutir com a mãe? Não era bem assim. Apesar das diferenças, Tiffany a amava. Tal como o restante de sua família. Morreria por eles, se necessário. Tudo o que ela queria era somente ser entendida.

...

O horário agora já havia dado. Estávamos em uma sala de aula. A lousa verde. As paredes pintadas com tinta branca. Era um local novo e um espaço até mesmo agradável. Tinha vários ventiladores. Cada um em cada canto da sala. As diversas carteiras. A professora em sua mesa lendo um livro,, mas que às vezes olhava a sala para ver o que estava acontecendo. Não tinha muitos alunos. Somente quatro. A professora usava óculos de grau e cabelos ruivos. Era jovem. Não deveria ter mais de trinta e cinco anos. Tiffany logo fora vista. Com um lápis com o corpo amarelado em mãos, e no final com uma borracha avermelhada. Parecia pensativa. Olhava para aquele pedaço de papel com várias alternativas e contas matemáticas e era como se sequer conseguisse se concentrar. Talvez toda aquela discussão com Sandy servisse para tirar totalmente o seu foco. E o fato de que agora Lucca havia entrado na sala somente havia complicado ainda mais a situação. Tiffany evitara contato visual. Lucca fora pegar a sua prova e se sentara bem atrás dela. Realmente... Tudo somente tinha a piorar.

Tiffany suspirou. Pensara em trocar. Mas talvez fosse chamar atenção demais ou até mesmo dar o gosto para Lucca de que ela realmente se importava. Era melhor deixar para lá. Voltara a olhar para a sua prova. Tinha ainda cerca de quarenta minutos para o término. Tudo o que ela tinha que fazer agora era colocar o seu conhecimento a prova.

...

Mais alguns minutos se passaram. Faltavam dez agora. Tiffany parecia mais desesperada. Vimos que em sua prova estava cheia de contas, mas era como se nunca conseguisse chegar em um resultado que estava próximo da alternativa. Pensava até mesmo em optar por uma em que o resultado fosse próximo. Fazia isso nas provas comuns. Talvez fosse essa técnica em primeiro lugar que deve ter a deixado nesta situação agora. Ela pegava a prova. Tinha duas páginas. Começara a observá-la no intuito de ver quantas questões corretas ela já havia conseguido. Precisava acertar pelo menos seis das dez questões ali presentes. Só tinha certeza de três. Ela bufou. Quem é que realmente precisava de equações para seguir na vida? Era um de seus pensamentos.

O tempo passava. Os segundos eram essenciais. Tentava voltar a se concentrar. E fora o momento em que percebera alguém a chutando. Somente poderia ser Lucca. Ela olhara para a professora neste momento, como se quisesse a contar algo. Mas a professora parecia extremamente distraída. E fora o momento então em que vimos Lucca por trás agachando-se e tentando fazer algo. Tiffany sentira isso em sua cadeira. Com as mãos, ela tentara distinguir o que poderia ser. Era um pequeno pedaço de papel amassado. Ela então o pegara, e sem coloca-lo diretamente na mesa, o abrira. E ali estavam respostas de seis questões. Lucca logo passara por ela, com a prova já finalizada, para entregar para a professora. Dera uma leve piscadela para ela ao sair da sala. Tiffany voltara a olhar para o papel. Ela ficara pensativa. Aceitaria a ajuda? O lado positivo era de que três das questões que ele havia passado a resposta eram questões de que ela não havia conseguido chegar a um resultado específico. Parecia sem escolha. Não poderia simplesmente optar em jogar o seu ano letivo fora somente por birra. Assinalara as questões. Chutara as outras restantes em resultados próximos e assinalara o gabarito com uma caneta azul. Olhara para o papel novamente. O virara. E atrás estava escrito um pedido de desculpas. “Eu deveria ter deixado você bater mais na Sandy... Ela meio que jogou suco em mim quando disse que ela tinha idade mental de quatro anos.” Tiffany sorriu. Era o que ela precisava ouvir.

Guardara seu material em seu estojo e levantou-se de sua carteira e pegara a prova e fora até a professora para entrega-la, junto de sua mochila. Parecia confiante, pelo menos. Logo saíra da sala de aula. E antes que pudesse virar o corredor para ir embora, pareceu ser surpreendida por Lucca que estava encostado na parede, aparentemente a aguardando:
Lucca – E então? – perguntara, e Tiffany o fitara, dando uma leve risada ao ver a camiseta dele amarelada. – Suco de maracujá. – ele disse. – Eu acho que ela estava querendo me acalmar... – brincou e Tiffany riu novamente.
Tiffany – Eu disse que ela não valia nada. – cruzou os braços, então.
Lucca – Vejo então que conseguiu o meu recado... – Tiffany assentiu.
Tiffany – E o que você está querendo provar? – permanecia ainda teimosa e resistente em relação a ele.
Lucca – Nada. – deu de ombros. – Estava apenas querendo a ajudar.
Tiffany – Bem... – ela desviou o olhar. – Eu já sabia as respostas das questões que você me mandou. – ela mentiu, e Lucca então sorriu. – O quê?
Lucca – Você não sabe mentir... – Tiffany tornara a sorrir. – Você realmente esqueceu o quanto eu a conheço, não é? – Tiffany nada dissera. – Pelo menos marcou as respostas que eu te dei? – ela assentiu. – Ótimo. Tenho certeza daquelas, pelo menos... – ele deu um leve sorriso de canto. – Não que eu esteja esperando você me agradecer, mas né... Seria bom. – ele sorriu novamente e ela retribuiu.
Tiffany – Obrigada. – agradeceu. – Bem... – ela, então, parecia estar pronta para ir embora. – Eu tenho que ir. – ela tentara seguir o seu caminho, mas Lucca pôs-se na frente dela.
Lucca – Por que não vamos dar uma volta? – pedira. – Eu estou com o meu carro aqui perto... – Tiffany o fitara, sorrindo.
Tiffany – Você está dirigindo? – ele assentiu, também sorrindo. – Lucca... – ela suspirou. – Eu não sei...
Lucca – Vamos lá... – insistiu. – Mais uma chance... – ele pedira, com direito até a um biquinho e Tiffany riu.
Tiffany – Eu... Eu não posso... – disse, e Lucca somente a escutara. – Eu disse a minha mãe de que voltaria em casa após a prova. Tenho que pegar taxi ainda...
Lucca – Eu te levo em casa...
Tiffany – Ela não gosta de você. – Lucca riu.
Lucca – Você a contou? – Tiffany riu também.
Tiffany – Qual é? – ela sorriu tímida agora. – Qual é a filha que não conta para a mãe sobre a sua primeira desilusão amorosa? – Lucca parecia concordar.
Lucca – Você pode avisar a sua irmã... – sugeriu.
Tiffany – Dani provavelmente já está dentro do ônibus. – Lucca bufou então.
Lucca – Ah, sei lá então... O seu irmão? – Tiffany ficara pensativa.
Tiffany – É... Ele está me devendo um favor... – Lucca sorrira para ela, então.
Lucca – Vamos... – pedira novamente. – Podemos ir ao shopping. Ficar lá de manhã. Almoçar. Assistir um filme... – Tiffany sorriu pois a ideia lhe parecia agradável. – Prometo que não vou sequestra-la e que estará de volta na sua casa antes de escurecer. – ambos sorriram. – E então?
Tiffany – Você promete que é só um passeio entre amigos? – Lucca sorriu então.
Lucca – Sim. Eu prometo. – garantiu.
Tiffany – Está bem, então... – ela aceitou. – Acho que realmente terei que cobrar o meu favor... – eles sorriram.

A câmera afastou-se. Tiffany pegara seu celular. Eles andaram juntos até que então pudessem sair da escola. Lucca parecia ser alguém bom. Aparentemente. A câmera os acompanhou. A imagem da cidade logo fora vista. Tiffany precisava de um tempo para que pudesse refletir. Era o básico e até mesmo o necessário. Não demorara muito para que Lucca e Tiffany chegassem até o carro dele. Era grande. O que indicava que ele poderia ser de alguém da mesma classe social que Tiffany. Restava somente aguardar o que daria tudo isso.

Virginia, EUA (Richmond Town) – Hello Baby Shop, Virginia City Mall / Mall Scenes
07:45 AM
Era um belo dia. Um belíssimo dia. Estávamos no shopping. Para maior especificidade, estávamos numa loja de roupas para bebê. Era bastante amplo. E bastante movimentada, podemos dizer assim também. Um paraíso para grávidas, podemos dizer assim. Tinha vários armários encostados na parede. Roupas de bebê para meninos e também para meninas. Algumas até se empolgavam. Acariciavam a barriga. Faziam voz fofa. Nada mais e nada menos do que mulheres que iriam ser mãe. Quem poderia culpa-las? A sensação de ter “algo” crescendo em sua barriga... A sensação de ter alguém crescendo em sua barriga... A sensação de ter uma vida crescendo em sua barriga. Era realmente mágico.

Podíamos notar também a decoração infantil. Tinha ursos. Bonecas. E até mesmo uma árvore na parede, que camuflava um buraco. Lá dentro, tinha várias crianças. De dois a quatro anos. Um espaço para poderem brincar, pois lá tinha diversos brinquedos para isso. Desta forma, as mães poderiam ficar tranquilas enquanto faziam suas compras. Os maridos, no entanto, a grande maioria, pelo menos, sentia como se fosse algo massivo. Mas alguns até mesmo davam palpites. Ajudavam a escolher as miniaturas de roupas. Era algo até mesmo engraçado. Tinha bodies, tinha macacões, vestidos para as meninas e até calças jeans. Quem poderia dizer que bebês desde cedo poderiam ser tão estilosos? Pois é. Até mesmo laços. E sapatos. E sandálias. Bem... Um verdadeiro paraíso, assim poderíamos dizer.

As atendedoras eram educadas e acessíveis. Faziam o possível para ajudar as mães que até pareciam confusas. A maioria era de primeira viagem, ou seja... Tudo ali era novo para elas. A câmera focara em uma mulher grávida. De seis meses. Tinha um cabelo longo. Loiro. Mas com mechas castanhas, principalmente na raiz do cabelo. Era lindíssima. Branca como porcelana. Maçã do rosto bem definida. Olhos maravilhosos. Vestia um vestido simples de grávida. Calçava uma sapatilha. Até mesmo tinha um laço preso em seu cabelo. Era alguém vintage. O seu nome era Hannah. Hannah Rankin. A noiva de Thomas Gilling. De quem estava grávida, como já podíamos notar. De seis meses, aproximadamente. Da pequena Luna. Ela possuía muito bom gosto, digamos assim. Também escolhia grandes laços para a filha. Vestidos. Realmente fazia compras. Iria se casar hoje. Teria que se desestressar ou pelo menos abafar a ansiedade. Hannah estava acompanhada de uma mulher mais idosa. Cabelos brancos. Deveria ter cerca de oitenta anos. Mas ainda assim com bastante energia para dar. Como Thomas e ela não podem se encontrar no dia de hoje por questões de superstição, havia pedido a companhia dela. Era a sua avó. Anastacia Rankin. Uma mulher agradável e muito simpática. Dava palpites em algumas roupas, ajudando-a a escolher as principais. Logo, Hannah, pegara um vestido em mãos. Caberia em sua filha quando tivesse pelo menos oito meses. Mas já era bom ter roupas estocadas, assim, não poderia se preocupar no futuro. Hannah, então, empolgada, disse:
Hannah – Olha só que lindo, vó! – parecia o vestido da cinderela, com brilhos e rendas.
Anastacia – Eu já imagino como vai ser! – os olhos dela brilhavam. – Uma princesinha... – Hannah sorria junto de sua avó. – Se for gordinha igual quando você era criança... Meu Deus! – exclamou, dando uma risada. – A gordura... As dobrinhas nas pernas! – deliciava-se só de imaginar, passando a sua mão na barriga de Hannah. – Ela será linda! – exclamou.
Hannah – Sim. Independente com quem ela for se parecer... – Hannah sorriu. – Não é por nada não, mas... Eu e Thomas fazemos um lindo casal. – brincou e Anastacia riu, parecendo concordar. – E já vi que teremos uma bisavó bem coruja aqui. – Anastacia sorriu, envergonhada. – Não é legal? – ela ficara pensativa. – Quero dizer... Eu não tive a oportunidade de conhecer a minha bisavó, mas a Luna terá... – Anastacia sorriu novamente. – É algo muito raro nos dias hoje. Devido à violência...
Anastacia – É... – ela concordou. – Você tem razão. Hoje em dia, já é difícil até mesmo para as crianças conhecerem seus avôs. – Hannah a escutava, enquanto ainda mexia em algumas roupas ali, parecendo indecisa. – O que é estranho, pois, conforme a medicina avança, deveria dar uma maior expectativa de vida para nós, não é? – Hannah assentiu.
Hannah – Sim... – ela assentiu. – Mas o importante é que ela poderá lhe conhecer! – Hannah sorriu. – Acho... Acho que vou levar esse... – ainda estava com o mini vestido da Cinderela em mãos. – O que você acha? – perguntou a opinião dela.
Anastacia – É lindo... – observou.
Hannah – Mas, sei lá... – não parecia estar confiante. – Você acha que é uma boa ideia?
Anastacia – O que é uma roupa a mais ou uma roupa a menos, querida? – Hannah olhara para ela agora, assustada.
Hannah – Você acha que eu exagerei? – Anastacia riu. – Droga. – ela murmurou. – Thomas vai me matar... – provavelmente referia-se às possíveis compras que já havia feito até então.
Anastacia – Não... Não... – negara. – É lindo. Leve. – Hannah sorriu.
Hannah – Está dizendo isso só para que eu me sinta melhor... – rolou os olhos, pegando o vestido, agora parecendo decida.
Anastacia – Não! Luna ficará linda... – Hannah sorriu.

E então elas seguiram para a fila dali. Como a grande maioria já eram mulheres grávidas, não era como se pudesse ter fila preferencial. De qualquer forma, teriam que esperar. Não parecia que iria demorar muito, pois tinha já muitas atendentes para ter o pagamento realizado. Quando a câmera se afastou, pudemos notar o “exagero” que Anastacia havia brincado. Ela segurava pelo menos quatro sacolas de compras, enquanto Hannah segurava mais três. Pelo menos, a fartura de dinheiro permitiria que Luna vivesse uma boa vida. Muito bela, inclusive. E todos tínhamos certeza também de que ela seria uma linda bebê, afinal... Thomas e Hannah realmente eram muito bonitos. Sairia dali uma boa combinação.

...

O som de conversa parecia ter aumentado. Um espaço amplo. Bem grande. Era a praça de alimentação do Virginia City Mall. Um dos principais shoppings do Estado. Um dos mais bonitos, inclusive. Podíamos notar que o céu era pintado com a galáxia, aparecendo os mais diversos planetas do Sistema Solar. Parecido com uma das séries mais atuais deste universo. O som de conversa era abafado. Várias pessoas falavam ao mesmo tempo, mas ainda assim, eram civilizados. Não parecia uma feira ou algo do tipo. Apenas conversavam e jogavam o papo fora. A maioria tomava café da manhã, pois ainda era muito cedo para almoçarem.

Pudemos ver Hannah e Anastacia carregando suas compras nas mãos. Mais uma sacola adicionada com o logotipo da Hello Baby Shop. Esta, nas mãos de Hannah. Procuravam por uma mesa vaga para se sentar. Não demoraram muito. Ali não estava muito lotado. Ainda era muito cedo. Logo se acomodaram ali. Decidiriam o que iriam comer, pois ainda não haviam tomado o café da manhã. Tinha algumas escolhas a serem feitas, já que não era todos os restaurantes que havia abrido ainda, o que indicava a normalidade. Como ambas sentaram em duas mesas que estavam unidas, sobravam duas cadeiras ao lado. Colocaram as sacolas ali, porque queriam se sentir tranquilas. O assunto então parecia fluir muito bem:
Hannah – Uff... Já estamos aqui não faz uma hora e já cansei! – ela riu.
Anastacia – Andamos bastante, mesmo... – comentou. – O que você vai querer? – Hannah semicerrou os olhos, pensativa.
Hannah – Não sei. Pensei em sorvete. Não estou com fome...
Anastacia – É. Eu também não. – concordou. – Também quero. Eu vou lá na fila. Fique sentada aqui... – ela se levantara. – Você quer sorvete de quê?
Hannah – Baunilha. – respondera com um sorriso e Anastacia retribuíra.
Anastacia – Está bem. Já volto...

E dirigira-se logo para a sorveteria que ficava praticamente bem à frente delas. Hannah observou. Só tinha uma mulher na frente de Anastacia, então não demoraria muito. Enquanto isso, desviou o olhar e passara a fitar as sacolas que já havia comprado durante o tempo que estava lá. Ficava pensativa. Faltava tão pouco para tê-la em seus braços que ainda parecia ser surreal. E não somente isso... Logo oficializaria mais ainda a sua relação com Thomas. Iria se casar. Iria vestir um vestido branco. Veria sua família, a família deles, seus amigos, seus amigos em comum, todos lá. Festejando. Comemorando. Fazendo daquilo um grande evento. Ela realmente tinha tudo para comemorar. Hoje tinha tudo para ser um grande dia. E ela sabia disso. Logo, após se distrair por um momento, notara que Anastacia já retornava. Com uma casquinha em cada mão. Não era McDonalds no qual ela havia pedido, somente para deixar claro. Mas ainda assim parecia ser um sorvete saboroso. Anastacia entregou o de Hannah em suas mãos, que agradecera com um sorriso, e logo voltou a se acomodar onde estava previamente sentada. O som de conversa ao fundo continuava. Era uma praça de alimentação. Era normal. Novamente, o assunto continuava a fluir:
Hannah – Nossa... – ela parecia refletir sobre algo, enquanto Anastacia lambia o seu sorvete, mas Hannah também não deixava de fazer o mesmo. – É estranho imaginar que já chegou, não é? – ela sorriu. – Quero dizer... – ela fizera uma pausa para lamber o seu sorvete. – Parece que foi ontem que eu estava fazendo os preparativos. Ou parece que foi ontem que ele havia me pedido em casamento! – ela riu agora.
Anastacia – Ah, querida... Parece que foi ontem que você apresentou o seu namorado em um almoço de Domingo. – Hannah tornou a rir e Anastacia a acompanhou.
Hannah – É... – ela concordou. – O tempo passa muito rápido. – ela ficara séria, como se algo tivesse voltado a sua memória. – Quem diria que eu acharia um homem perfeito para a minha vida? – sorriu ao se lembrar de Thomas. – Eu nunca tive muita sorte em relacionamentos... – ela rolou os olhos.
Anastacia – Thomas também é muito sortudo em tê-la na vida dele, Hannah...
Hannah – É... – ela sorriu. – Mas, até aonde eu sei... Ele não era um homem para casar não, viu? – Anastacia parecia surpresa. – Ele já foi baladeiro... – Anastacia riu agora.
Anastacia – Difícil imaginar essa situação, pois Thomas é bastante responsável. – Hannah sorriu.
Hannah – Sim... – ela concordou. – Mas então... Vamos? – ela se levantara, pegando as sacolas com sua mão livre, pois a outra estava ocupada com o sorvete, e Anastacia fizera o mesmo.
Anastacia – Você vai ainda comprar mais?! – ficou surpresa.
Hannah – Vou! – riu. – Luna precisa de mais roupinhas... – sorriu. – E ainda tem uma hora extra. Minha sessão do SPA é só às nove. – afirmou.
Anastacia – Coitado do Thomas. Será que ele tem ideia do quão caro vai vir a conta final do mês dele? – Hannah gargalhou agora.
Hannah – Vó!
Anastacia – O quê? – ela bufou. – Sou sincera, querida. Sou sincera...

Hannah e Anastacia logo seguiram o seu caminho. O som da conversa delas fora diminuindo. Nada mais e nada menos do que apenas uma cena casual. De vó e de neta. De vó que ajudava a neta a escolher os presentes. A escolher as roupas. As risadas que elas davam. Pareciam além de ter uma relação familiar, serem muito amigas. O que era absolutamente normal, pois avó era uma das melhores coisas do mundo. Pelo menos... Hannah imaginava assim. De noite era o seu casamento. E tudo o que Anastacia estava fazendo era ajuda-la a se distrair. E nada mais e nada menos do que isso. Hannah precisava. E esta era apenas mais uma cena introdutória. Que mostrava mais um pouco da vida da família Gillings. E Hannah realmente estava há poucas horas de se tornar uma Gillings oficial da família. E isso poderia ser extremamente interessante.

Virginia, EUA (Richmond Town) – Gillings Construction Company
07:45 AM
O elevador se abriu. A presença de Simon fora visto. Aparentemente atrasado para um importante evento. Ele era um homem de negócios. Aparentava. Tinha um semblante sério e ao mesmo tempo respeitoso. Algo que Lorraine também dividia em sua universidade. Algo chamado prestígio. Toda a família Gillings pelo menos. Era uma empresa de construção. Simon era um doutorando em Engenharia. Uma das empresas nacionais mais renomeadas do país. E não era para menos. Todo o local parecia ser extremamente muito bom. A mencionar a parede espelhada que dava a vista de mais prédios. Parecia estar no centro da cidade de Richmond. Prédios altos. Com vários andares. E muito bonitos, inclusive. Podíamos observar a decoração do local. Havia um sofá bege claro. Um tapete marroquino. O lustre de cristal. Provavelmente a decoração feita por Lorraine. E não era para menos. Tudo ali tinha que ser extremamente agradável.

Ele tentara ajeitar seu terno. Provavelmente havia se bagunçado na correria. Atraso provavelmente era algo que a família em si não gostava. Para ajuda-lo, então, da bancada de madeira, surgira uma mulher. Loira. Com uma maçã do rosto que parecia ser desenhada por Deus. Uma tiara na cabeça. Uma saia preta. Camisa social. E um salto alto. Provavelmente, era a secretária dele. Segurara a maleta dele e o ajudara a se organizar. Podia ser visto de fundo mais homens muito bem vestidos de terno andando de um lado para o outro. Uns conversavam no celular. Outros apressados. Cumprimentavam acenando para Simon em alguns momentos. Simon era o diretor. Era bastante respeitado pelos seus colegas de serviço. A secretária ajustara a gravata mais uma vez. Passara a mão no terno para tirar a impressão de que estava amassado. Simon, então, perguntara para ela:
Simon – E então, Klaire? – revelara o nome dela, que entregou para ele a sua maleta novamente, abrindo os braços. – Como eu estou?
Klaire – Está ótimo, senhor. – disse bastante formalmente e Simon retribuiu com o sorriso.
Simon – Eles já estão aí, certo?
Klaire – Sim. – Simon então bufou.
Simon – Diga-me pelo menos que Gregor está lá com eles... – Klaire negara balançando a cabeça negativamente.
Klaire – Você o dispensou porque ele estará no casamento de Thomas. – Simon parecia ter se lembrado disso.
Simon – Puxa... É verdade. – ele assentiu. – Quem estava lá com eles, então?
Klaire – Eu. Achei que não teria problema... – Simon sorrira para ela e dera um beijo no rosto dela e Klaire tornara a sorrir.
Simon – Você é uma anja que entrara na minha vida! – ele, então, seguira seus passos, enquanto Klaire vinha mais atrás dele, enquanto conversavam pelo caminho. – E como eles são? – pareciam apressados, cruzando alguns corredores para chegarem até a sala de reunião, podendo ver o quão chique era realmente aquele lugar, que era totalmente espelhado.
Klaire – Sérios. – resumiu-se a isso. – Inclusive, tem uma mulher asiática que realmente me assustou. – ela franziu o cenho. – Ela me encarava. Sequer sorriu para mim... Ou disse algo. – lembrou-se. – Era como se quisesse devorar a minha alma ou sei lá... Só sei que realmente foi assustador e estranho. – Simon riu da descrição dela.
Simon – Eles disseram de onde eram?
Klaire – Comentaram algo sobre Vanguardian Society. – lembrou-se. – Disseram que era de um laboratório. Mas não especificaram qual. – Simon assentiu.
Simon – A líder deles está aqui? – eles então chegaram na porta da sala de reunião, parando ali bem na frente, enquanto Klaire voltara a ajustar a gravada dele e até mesmo a gola da camiseta por debaixo do palet´.
Klaire – Não. Disseram que ela não pôde vir. Problemas pessoais... – Simon assentiu positivamente.
Simon – Como eu estou? Não seja uma mentirosa... É um negócio muito grande! – Klaire sorrira ao ouvir a mesma pergunta novamente.
Klaire – Está ótimo, senhor. – repetira e Simon sorrira, abrindo a porta logo em seguida, enquanto Klaire o seguira.

E lá estavam eles na sala de reunião. Havia uma grande mesa e algumas cadeiras. Podiam-se contar sete pessoas. Seis eram homens. Com terno. Bem vestidos. A maioria parecia ter a mesma aparência. Cabelos escuros. Semblante sério. Exceto por um que parecia brincar com o seu isqueiro sem se preocupar com o restante. Era careca. Mal prestava atenção no que acontecia ao seu redor. A outra que concluía era a tal mulher asiática mencionada. Sentava na ponta da mesa. Na cadeira. Vestia trajes pretos. Era bastante social. Simon, então, sorridente e com bastante simpatia, tratava de cumprimentar um por um. Eram educados. Até mesmo aceitavam. Klaire que estava atrás dele, entregava alguns papéis. Pôde-se observar também uma maquete muito bem construída em cima da mesa. Talvez o projeto que Simon estaria a apresentar:
Simon – Bom dia... Bom dia... – ele cumprimentara um por um, até mesmo o homem careca que retribuíra a gentileza, fitando as xícaras de café vazias, o que indicava que haviam sido bem tratados por Klaire. – Bom dia... – ele por fim esticara a mão para a mulher asiática que a olhara dos pés a cabeça, com bastante despeito, fazendo com que Simon até mesmo se intimidasse.
??? – Você está atrasado, senhor Gillings. – disse séria, enquanto Simon recuara a sua mão.
Simon – Você deve ser...
Venus – Venus. – respondera, enquanto Klaire a entregara o papel agora.
Simon – É... Claro. Venus. – ele assentira, positivamente, recuando e indo para a sua cadeira, até mesmo bastante nervoso com aquela possibilidade, enquanto Klaire o acompanhou, ficando próxima da porta.
Venus – Então... – ela dera uma olhada rápida no seu papel, como os outros homens que o acompanharam fizeram. – Espero que o senhor seja válido de nosso tempo. Não costumo desperdiça-lo. Achei que poderia ser interessante, afinal... O seu nome representa uma marca mundo afora. – Simon sorrira com o elogio vindo dela, embora ela não parecesse nada agradável.
Simon – Prometo que não irei desapontá-la... – ele afirmou. – Bem, como vocês podem ver em seus papéis, este é o orçamento que posso oferecer para vocês. Como pré-requisitaram uma maquete do projeto que me mandaram, pedi com antecedência que ele fosse colocado sob a mesa antes da chegada de vocês. – Venus nada dizia, apenas o escutava. – Trata-se de um depósito com uma proteção bastante evidente. Muros altos. Porões bem desenvolvidos. Além de que as janelas seriam feitas com grades para impossibilitar a saída e até mesmo a chegada de qualquer indivíduo na providência de Williamsburg. – Venus dera uma rápida olhada na maquete, enquanto os outros homens apenas fizeram o mesmo, enquanto aquele som de isqueiro do rapaz careca era ouvido o tempo inteiro, parecendo até mesmo mal-educado.
Venus – E o que faz você ter certeza de que o depósito possui uma proteção bastante evidente? – Klaire olhara para Simon neste momento.
Simon – Nós trabalhamos com materiais de primeira qualidade. – garantiu e Venus nada dissera. – Mencionei de que são os mesmos materiais que as grandes bases da época da segunda guerra mundial era feita para sobreviver a ataques nucleares? – Venus continuava sem reação, o que aparentemente preocupava Simon.
Venus – Entendo. – ela, então, levantara-se rapidamente e Simon e Klaire se entreolharam, sem entender nada, especialmente quando os outros acompanharam Venus se levantar, exceto pelo homem careca, que demorara alguns segundos até perceber isto. – Envie os materiais para o endereços que deixamos com a sua secretária. – Simon estava com um grande “ponto de interrogação” na cabeça. – Nós temos os nossos próprios engenheiros. Somente teríamos ter garantia de que nosso projeto pudesse ser válido. – ela, então, afastou-se de onde estava sentada, com os homens a seguindo, indo em direção a porta.
Simon – E-Espera... – ele pedira e Venus virou-se para ele, o fitando profundamente, chegando até mesmo a ser estranho, como a própria Klaire havia mencionado.
Venus – Mais alguma coisa, senhor Gillings? – era bastante formal.
Simon – É só isso? – ele franziu o cenho.
Venus – Nós entraremos em contato. O depósito do seu serviço será realizado até o fim da tarde. E não se atrase para o envio dos materiais. – cerrara os olhos. – A minha chefe não suporta atrasos. – frisou e Simon nada respondera.

Misteriosa? Sim. Venus logo deixara o local. O rapaz careca fora o último. Dera uma leve piscadela para Simon. Era divertido, até. Preferiu-se manter quieto o tempo inteiro da reunião. O negócio havia sido fechado. Embora não seria a equipe de Simon que realizaria o trabalho. Muito pelo contrário, ele apenas enviaria os materiais. Era estranho. Afinal... O projeto parecia como resquícios para um presídio. Mas não aonde o laboratório jogasse assassinos por lá. Muito pelo contrário. Era como se quisessem se proteger. Uma proteção de algo. Uma proteção de alguém. Klaire fora atrás deles. Para lhes mostrarem a saída, como cortesia de respeito. Simon apenas achara tudo aquilo suspeito. Muito suspeito. E ele tinha suas razões para permanecer com tais dúvidas.

Virginia, EUA (Richmond Town) – Virginia University Various Scenes (Parking Lot / Department Of Biosciences and Oral Diagnosis / Auditorium Classroom)
07:50 AM
Demorou mas ela conseguira chegar a tempo. Talvez porque a universidade fosse bastante longe. Lorraine não gostava de se apressar. Fazia as coisas com calma e tranquilidade. Talvez este também fosse um dos motivos pelo qual prefere prezar pela pontualidade. Estacionou o seu veículo no estacionamento ao ar livre e dele desceu. Com a sua bolsa Louis Vuitton já bem colocada em seu ombro. Trancou o alarme. Parecia dispersa. Talvez as coisas que Tiffany havia lhe dito tinha ficado em sua mente. Quem poderia culpa-la? Afinal... A sua filha parecia perdida. E isto a preocupava. Era complicado lidar com ela. Ainda mais com tudo que vem lhe acontecendo recentemente. Não queria que transparecesse que se importasse mais com Thomas ou até com Dani. Na realidade... Ela apenas tentava fazer tudo parecer ainda mais justo. E era apenas complicado.

Tentava distrair a sua mente então. Afinal, em poucos minutos, tinha aula. O ambiente em que estava não era muito diferente de um estacionamento. O caminho tinha pedras. Tinha veículos estacionados. Alguns carros saindo, outros entrando, além de seus respectivos donos. Como Lorraine era uma mulher prestigiada e conhecida, tratava de acenara para alguns. Dava bom dia. Apenas o básico de um nível de educação. Nada muito além disso.

...

A cena rapidamente trocara de frame. Lorraine ainda estava em um ambiente ao ar livre. Tudo era extremamente grande nesta universidade. Tinha bosques, árvores e até mesmo praças. Era um ambiente bem arborizado. Bonito, até mesmo. Os prédios eram alaranjados e levavam grandes bandeiras com o logotipo da faculdade. Tinham diversos e diversos campus. Lorraine tinha sorte de que o de Odontologia era um dos primeiros, então tinha como ela ir a pé mesmo. Como de costume, cumprimentava alguns alunos. Pôde-se observa uma placa com algumas anotações de orientações para alunos novos, o que não era o caso, já que era fim de período e de ano também.

Logo, seguira uma direção específica. Adentrara em um prédio, mas não deveria ter mais que três andares. A luz começou a ser deixada para trás. Não demorou muito para que após cruzasse alguns corredores chegasse ao seu departamento especializado. Era o Departamento de Biociências e Diagnóstico Oral. As paredes tinham um tom leve de azul. Era vazio, mas algumas vezes era possível ver outros professores andando por ali vestidos com seus respectivos jalecos. Lorraine os cumprimentavam também. Definitivamente, ela havia feito uma fama ali. Não era atoa que a sua classe social era bastante alta.

Não demorou muito para que chegasse a sua sala. Empurrara a porta de vidro e a deixara se encostar sozinha. Andou mais alguns passos e abriu a porta agora branca para dar acesso ao seu escritório. Tinha uma mesa de madeira ali junto com seu notebook e mais alguns livros. Nada de muito especial. Seu jaleco estava pendurado ali. Colocou-o logo em seguida. Podemos notar o que estava escrito nele: Prof. Dra. Lorraine Gillings. Realmente, algo de muito renome. Encostou a porta logo em seguida. Olhara para o relógio pendurado na parede. Tinha alguns minutos ainda. Parecia precisar de privacidade. Ainda com a sua bolsa em mãos, acomodara-se na cadeira próximo a sua mesa onde tinha suas coisas principais. Colocou a bolsa em cima da mesa e começara a vasculha-la. Parecia procurar por algo. Não demorou muito para que achasse. Eram três potes de comprimidos. Tirou um de cada, e em seguida com a jarra d’água bem ao seu lado, tomara-os. Não parecia ser algo para dor, pois eram potes pequenos com coisas escritas neles. Pareciam medicamentos prescritos por médicos. A necessidade? Ninguém sabia ao certo. Mas parecia extremamente importante, visando a maneira que se comportou. Parecia ansiosa. Assustou-se rapidamente quando a porta abriu sem aviso prévio nenhum e a presença de um homem com jaleco se revelara. Lorraine tratou de esconder os remédios imediatamente, impossibilitando que ele percebesse. Mas ainda assim... Parecia suspeito. No jaleco dele estava escrito o seu nome: James Walker. Era um homem careca que estava com óculos de grau. Parecia ter cerca de cinquenta anos. Ele, que logo, tratou-se de se desculpar:
James – Lorraine! Perdão... Eu não sabia que você tinha chegado ainda, se não teria batido... – ele desculpou-se.
Lorraine – Não... Não tem problema, querido. – parecia ainda um pouco afobada. – Aconteceu algo? – arqueou a sobrancelha.
James – Bem, na realidade, não... Apenas vim deixar as notas dos alunos aqui para você dar uma olhada depois... – ele então entregou uma prancheta para ela, com dois papéis preso, os olhando rapidamente e sorrindo para ele em seguida, mostrando que James parecia ser alguém da equipe de Lorraine, talvez até mesmo um técnico.
Lorraine – Obrigada. Sempre um excelente profissional...
James – A senhora ainda tem tempo? – Lorraine voltara a olhar para o relógio.
Lorraine – Alguns minutos... Por quê?
James – Eu estava fixando algumas lâminas e gostaria de saber se estão boas... – Lorraine sorriu.
Lorraine – Tudo bem. Vamos lá. – James sorrira para ela também.

James fora o primeiro a sair de sua sala. Lorraine levou alguns segundos. Ainda estava na adrenalina. Parecia se importar com o fato de alguém saber que ela usava alguns remédios que ainda não pareciam ter funções reveladas ou específicas. Pegou a sua bolsa e logo que deixara a sala a fechara. Acompanhou James por mais alguns passos, adentrando em outra sala mais para a direita. Logo, vimos uma maior que o “escritório” de Lorraine. As paredes brancas. Várias bancadas com pias de mármore. Tinha até torneiras. Alguns armários fixos na parede. E sem mencionar os microscópios. De última geração. James dera passagem para que Lorraine aproximasse do microscópio. Esta então fizera isto. Agachara-se um pouco para poder observar pela ocular, girando-as adequadamente. Sua mão foi até o macrômetro, que era um botão do lado direito e também esquerdo da parte inferior do microscópio que servia para aproximar a lâmina das lentes. Fechara um dos olhos para que pudesse prestar atenção. Agora o seu dedo deslizou pelo menor botão que era o do micrômetro para garantir maior nitidez. Foi até o Charriot que era um “gancho” próximo aos botões mencionados para direcionar a lâmina e ter um melhor acesso. Trocou as lentes para ampliar o aumento. James, então, dissera:
James – É uma lâmina da tonsila lingual. – mencionou. – Está boa?
Lorraine – Está ótima! – exclamou. – Estou conseguindo ver com perfeição as células do epitélio. A cripta está visível também. Sem mencionar os folículos linfoides. – ela, então, afastou-se do microscópio. – Ótimo trabalho, James.
James – Obrigado. – ele agradeceu com um sorriso. – Aquela nossa antiga lâmina não estava muito boa...
Lorraine – É. Verdade... – ela concordou. – Tem o suficiente para colocar nas caixas?
James – Acredito que somente ano que vem serei capaz de substitui-las. São muitas lâminas que precisam ser feitas. – Lorraine parecia concordar.
Lorraine – É. Você tem razão. – assentiu. – Mas está ótima. De verdade. – disse, sempre simpática. – Está bem roxa. O que a difere da antiga, que já estava degastada. – comentara.
James – Dez anos a usando, se eu não me engano.
Lorraine – É mesmo?
James – Sim.
Lorraine – Impressionante... – ficou surpresa. – Bem, de qualquer forma. Está ótimo. – ela sorriu.
James – Ah, verdade! – ele pareceu ter lembrado-se de um assunto. – Thomas está casando hoje, não é?
Lorraine – Você lembrou! – ela pareceu feliz de ele ter se lembrado do evento. – Mas também... Eu devo estar falando sobre isto desde o dia em que ele a pediu em casamento. – ambos deram uma leve risada após o comentário de Lorraine. – Mas sim... Hoje é o grande dia.
James – Eu realmente estou feliz por vocês. – Lorraine sorriu. – Por ele. Pela filhinha que está por vir... – Lorraine continuava sorrindo ao ouvi-lo. – Tudo ocorrerá bem. Será um grande evento.
Lorraine – Eu agradeço o seu carinho. Muito. – ela então o abraçara. – Mas sim... Eu também estou muito feliz. É inacreditável que o meu pequeno garotinho já vai se tornar um pai de família... – ela ficou com os olhos praticamente brilhando. – E ainda me presenteou com uma ótima nora que é a Hannah e também com uma netinha que está para vir... – parecia muito feliz com o rumo que a vida de seu filho estava tomando. – Eu agradeço a Deus. Todos os dias. – James sorrira novamente, enquanto Lorraine agora parecia ter se lembrado de algo. – Nossa! Estava quase esquecendo dos meus alunos... – ela riu. – Bem. Novamente, James, agradeço pelo carinho. E continue com o seu ótimo trabalho. – o elogiou mais uma vez.
James – Obrigado... – Lorraine passou a mão no ombro dele, demonstrando cumplicidade. – Boa aula.
Lorraine – Bom trabalho para você também!

Lorraine enfim o deixara sozinho. Era importante vê-la em uma rotina casual. Era importante vê-la interagindo com os seus colegas profissionais. E até mesmo como se portava no trabalho. Mas a partir do momento em que se afastara de James, o seu semblante mudara totalmente. Ficara séria. Como se algo ainda estivesse a incomodando. Seria Tiffany? Seria os remédios? Lorraine parecia seria ser alguém extremamente imprevisível. E esta, então, seguira para a sala de aula.

...

O frame mudara novamente. Estávamos agora em um grande auditório. Várias poltronas. Estas ocupadas já pelos alunos que conversavam. O barulho era grande. Tinha um painel para que fosse dada a aula. Parecia praticamente uma sala de cinema. Este era o nível da universidade. Tudo ali era novo e inédito. Era agradável estar naquele ambiente. O ar condicionado já ligado. Embora estivesse calor, ali na sala já estava em uma temperatura mais fria. Para alguns, era bom permanecer de casaco. Sentiam-se confortáveis. Outros já preferiam ocupar as poltronas em que tinham todo aquele ar gelado exclusivamente para eles. Preferências individuais. Outro detalhe que pôde ser observado é que ninguém tinha caderno. Era tudo por notebook. O que demonstrava que era realmente outro nível.

No momento em que visualizaram Lorraine adentrando pela porta mais abaixo pela direita junto com a sua bolsa, o silêncio começou a surgir. A maioria já foi adequando-se nas poltronas. Mostravam respeito por ela, embora fosse simpática e tranquila. Outros alunos apenas começavam a surgir e a chegar à aula. Lorraine subiu em cima do palanque onde tinha uma mesa para que colocasse as suas coisas e um computador para que conectasse o seu pen-drive para a aula começar. Demorou alguns minutos para que se organizasse completamente. Como o computador já estava ligado e conectado, apenas facilitara. Abrira o slide. O silêncio agora predominou completamente. Lorraine pegara um microfone em mãos. Era o ideal para quem sentasse no fundo. Era a única maneira de ouvi-la sem problemas. Com uma ponteira em mãos, ela testara se a luz verde estava funcionando. Pareceu satisfeita quando isto acontecera. E então... Estava pronta para começar a aula de Histologia, que era a sua disciplina:
Lorraine – Apague a luz para mim, querida? – pedira educadamente para a garota que estava próxima do interruptor, que levantara em seguida e fizera o que ela lhe havia pedido. – Obrigada. – sorriu. – Prometam-me que não vão dormir, hein? – brincou, e logo ela dera início a aula, mostrando o tema da aula que era sobre periodonto, com várias imagens da cavidade oral, principalmente da gengiva, demonstrada no slide que era visível naquele grande painel, enquanto alguns alunos eram mostrados prestando atenção e outros até mesmo digitando em seus notebook. – Bom dia a todos! – dissera o básico e eles responderam, mas não com muita empolgação. – Mas que bom dia sem graça... Vamos lá, de novo! Bom dia! – eles responderam agora mais alto. – Muito bom! – ela riu. – Bem, como vocês podem ver, a nossa aula será sobre o periodonto. A nossa última aula do semestre. – ninguém falou nada. – Poxa... Eu pensei que vocês gostassem de mim. – os alunos riram e Lorraine divertiu-se. – Como semana passada nós vimos histologicamente sobre a gengiva que faz parte do ligamento periodontal de proteção. Hoje, nós falaremos do periodonto de inserção ou também de sustentação... – ela apertara a ponteira e viera o slide seguinte que apresentava alguns tópicos didáticos. – Este compreende o cemento, o ligamento periodontal e o osso alveolar. Falaremos separadamente de cada um deles. – o slide inclusive falava sobre o cemento. – Começaremos então a discutir sobre o cemento. – ela passava a luz verde na palavra cemento escrita no slide, enquanto andava sobre o palanque, para não ficar totalmente imóvel ali, ainda comunicando-se com o microfone em mãos, que tinha um fio longo, permitindo a sua passagem. – O cemento, como vocês podem ver nesta imagem histológica, é um tecido conjuntivo mineralizado que irá recobrir a nossa dentina radicular. – ela passava a luz verde nas imagens que tinha colocado na aula. – Tem como principal função a inserção das fibras do ligamento periodontal na raiz do dente. Embora, muitas vezes seja considerada como parte do dente, o cemento não é uma estrutura dentária. – podíamos ouvir o som de teclas de teclado sendo digitados, uma vez em que tentavam anotar tudo o que Lorraine falava. – O desenvolvimento do cemento é a partir do folículo dentário... – ela passara o slide novamente. – Uma estrutura que volto a lembrar que não faz parte do germe dentário propriamente dito. – ela continuava a andar de um lado para o outro, notando enquanto observava o auditório que um rapaz levantara para sair da aula, mas preferiu não dizer absolutamente nada, uma vez que as pessoas sabiam realmente o que queriam de suas vidas. – Porém, por ser depositado sobre a raíz, uma vez mineralizado, adere firmemente. Desse modo, quando um dente é extraído, o cemento permanece recobrindo a superfície externa da raíz, dando a impressão de pertencer ao dente...

O som da voz dela começara a diminuir. A cena começara a escurecer. E a aula continuava a ser dada. Era nítido o quanto Lorraine realmente gostava da profissão em que estava. Era estável. Era uma situação estável. Embora professor pudesse ser algo desvalorizado, Lorraine provava cada vez mais o seu talento para administrar uma aula e ter o sucesso de fazer com que os alunos realmente entendessem a sua matéria.

...

Provavelmente uma hora havia se passado então. Lorraine aproximou-se de sua mesa. Não havia dispensado os alunos totalmente. Pegara sua garrafa d’água e dera um gole. Uma boa parte da aula já havia sido dada. Provavelmente havia cansado e beber líquido poderia fazer com que a sua voz se mantivesse ativa para o restante do tempo. Ela suspirou então. Voltara para o centro do palanque, com o microfone ainda em mãos. Percebera que o rapaz que havia saído do auditório retornara somente agora, sentando-se de volta em seu lugar. Não parecia muito interessado em prestar atenção no restante em que Lorraine ainda tinha a falar, somente ficara com o seu celular em mãos. Lorraine franziu o cenho. Não era o momento apropriado para chamar a sua atenção. Dissera, então:
Lorraine – Acende a luz para mim, por favor... – a mesma garota que havia apagado levantara-se agora para acender a luz no interruptor. – Obrigada. – agradeceu sorridente. – Ufa! – ela rira. – Acho que eu acabei falando bastante, não é mesmo? – refletira. – Bem... Esta foi somente a primeira parte da aula. Conseguimos concluir cemento e ligamento periodontal, certo? – ela assentira. – Darei vinte minutos de intervalo para vocês, e então vocês retornam para terminarmos com processo alveolar, e estarão liberados. Voltarão somente semana que vem para a prova final, e então... Férias! – exclamou empolgada como sempre. – Obrigada. Estão liberados. – os dispensara então.

Os alunos começaram a conversar entre si. Alguns saíam com notebook, outros preferiam deixa-los ali. Quem estava com blusa de frio já tirava também, pois o clima fora da sala de aula já era mais quente. Lorraine aproximara-se novamente da mesa e colocara o microfone ali. Retirara o pen-drive e guardara na sua bolsa. Provavelmente também iria dar uma saída para tomar um ar fresco. Olhara para o auditório novamente e ainda reparara que o mesmo rapaz que havia abandonado a sua aula estava ali sentado. Franziu o cenho. A maioria já tinha esvaziado e ido aproveitar seus respectivos vinte minutos. Havia alguns que tinham a preferência de ficar por ali. Lorraine, então, não conseguira se segurar. Era como se fosse mais forte do que ela. Afinal, ele havia perdido uma aula importante. E aquilo a preocupava:
Lorraine – Eddie... – tentara chama-lo sem precisar usar o microfone, mas aparentemente ele não ouvira. – Edmund... – usara o microfone agora desta vez e fora o momento em que ele olhara para ela, revelando o nome dele. – Podemos conversar? – perguntara e Edmund então assentira, levantando-se logo em seguida, podendo observá-lo, pois era um rapaz com um cabelo escuro, avolumado, com fisionomia exótica e olhos até mesmo um pouco puxados, aproximando-se de Lorraine e descendo os degraus para encontrar-se com ela, enquanto Lorraine voltara a colocar o microfone em cima da mesa.
Edmund – Aconteceu alguma coisa, professora? – perguntara sério para ela, subindo em cima do palanque e ficando de frente para Lorraine.
Lorraine – Bem, eu lhe pergunto a mesma coisa. Aconteceu alguma coisa, Eddie? – ele franziu o cenho.
Edmund – Não. Por quê?
Lorraine – Você não esteve presente durante bom tempo da minha aula, e quando estava, preferiu optar por usar o celular... – Edmund então coçou a cabeça, intimidado.
Edmund – Eu estava com dor de barriga. Somente estava avisando a minha mãe... – inventara uma história, embora não parecesse verdade, enquanto Lorraine parecia ter percebido isso.
Lorraine – Hum... Entendo. – ela assentira. – Bem, James me dera uma lista com a nota da turma e um dos nomes que eu consegui ver rapidamente e me chamara atenção fora o seu. – disse. – A sua nota está baixa. – o informou. – Você tem certeza de que não tem problema ficar pulando as aulas de Histologia? – Edmund nada dissera, somente a escutara. – Eu entendo. É uma disciplina complicada. O curso é complicado. Há pessoas que se identificam e há pessoas que não... – tentava o ajudar. – Eu não deveria, mas acabo me apegando com os problemas de meus alunos. Então, caso você queira desistir, eu posso ajuda-lo. Tenho prestígio na universidade. Eu posso conversar com o reitor e tentar resolver isto da melhor maneira possível. – explicara, totalmente compreensível com o aluno.
Edmund – Não será necessário. – ele recusara, gentilmente. – Eu estou bem. Eu garanto. – Lorraine assentira. – Preciso apenas me esforçar mais... É só isso. – garantiu.
Lorraine – Entendo... – ela então dera um leve sorriso. – Está bem. Qualquer coisa que você precisar, eu estarei aqui. – ele também retribuíra com um sorriso leve de canto.
Edmund – Eu agradeço. – ele, então, virara-se de costas, pronto para ir para o seu lugar, quando então, algo passara pela sua cabeça. – Professora...
Lorraine – Sim?
Edmund – Posso lhe fazer uma pergunta? – ela então sorrira.
Lorraine – Claro!
Edmund – O que você acha que aconteceria com nós se repentinamente o mundo que conhecemos deixasse de existir? – Lorraine franziu o cenho neste momento.
Lorraine – Como assim? – não havia entendido a pergunta.
Edmund – Como... Como se todas as vezes em que saíssemos de casa... Deixássemos de estarmos seguros... – Lorraine havia ficado séria com aquela pergunta dele.
Lorraine – Talvez nós fôssemos obrigados a somente sobreviver. – respondera a ele diretamente.
Edmund – Mesmo que para isto tenhamos que perder a humanidade? – Lorraine, então, ficara pensativa, como se algo tivesse passado por a sua cabeça.
Lorraine – Mesmo que tenhamos que perder a humanidade. – respondera a ele, confirmando.

Edmund nada mais dissera. Apenas agradecera assentindo. Lorraine o observou a subir de volta para o seu lugar, guardar o seu notebook em sua mochila e sair do auditório. Não estava entendendo absolutamente nada. Qual era o ponto daquela pergunta? Qual era o ponto de tudo aquilo? Mas de alguma forma parecia ter a afetado. Especialmente quando Edmund fizera a última pergunta. Lorraine sentira isto. Ela apenas suspirou. Ficara tensa. Lorraine guardava algo. Desde até mesmo aos medicamentos como segredos. Aparentemente tudo o que Bethany havia dito definitivamente estava acontecendo. As falhas começavam a aparecer. E logo notávamos que não havia ninguém totalmente perfeito.

...

A câmera acompanhou Edmund. Parecia desatento. A conversa com que havia tido com Lorraine. O conselho que ele havia pedido. Faria sentido? Talvez. Em alguns momentos, até mesmo esbarrou em um rapaz. Olha por onde anda! Gritou ele. Parecia extremamente perdido. Confuso. E até mesmo aborrecido. Parou no momento em que ouvira o seu celular vibrar. Ele o pegara no bolso. Olhara pra ele. Ficara pensativo. O som de conversas parecia também o distrair. Era muito abafado. E havia muitas pessoas do lado de fora. Preferiam se manter por perto até a aula de Lorraine começar. Era o comum.

Edmund desbloqueou o celular. Havia chegado uma mensagem. A câmera acompanhou para que pudéssemos ter a visão completa do que ele estava vendo que havia chamado até mesmo a atenção de Lorraine. Alguém havia mandado um vídeo. Quem havia mandado era alguém chamado Sloane. Provavelmente uma mulher. Edmund afastou-se um pouco da multidão entrando na mais próxima porta que vira para que pudesse ter ainda mais privacidade. O barulho diminuiu drasticamente. Ele então franziu o cenho. Reproduzira o vídeo. Tinham poucos segundos, mas o que era possível de observar era que se tratava de um acidente. Em uma estrada, possivelmente. Tudo o que ele vira fora um corpo estirado ao chão. E um policial de costas. Os olhos de Edmund acompanhavam minuciosamente cada detalhe. Não poderia ser perdido. O corpo, que até então, parecia estar morto, já que estava rodeado por sangue, levantou-se pouco a pouco. Era uma mulher. De cabelos pretos. Provavelmente a vítima. E começara a caminhar. Poucos notaram. E antes que pudessem fazer algo, ela agarrara no pescoço do policial mordendo-o e o destroçando em pedaços. O policial tentara ser ajudado. Empurraram a mulher. Alguns tiraram a arma do bolso. A mulher tornou-se ainda mais violenta, partindo para cima de outra pessoa. E fora o momento em que disparos foram ouvidos e Edmund chegara até mesmo a se assustar. Um. Dois. Três. Quatro... Seis... Oito... Dez... Doze disparos. E nada parecia surtir efeito. Quando enfim a bala atingira a cabeça da mulher antes de ela morder mais alguém, ela enfim fora parada. E o vídeo finalizou assim. Deste jeito.

Edmund estava perplexo. Ainda fitava aquele celular. Fitava aquela mensagem. Fitava aquele vídeo. Seria necessário reproduzi-lo mais algumas vezes até que pudesse acreditar que esta era realmente a realidade. Perder a humanidade? Um mundo em que eles teriam que lutar? O que afinal estava acontecendo? E fora o momento em que vimos que ele estava prestes a digitar algo. Para Sloane.

Edmund
Então é verdade... Está acontecendo.

Sloane
É. Levei algum tempo para acreditar. Eles conseguiram.

Edmund
Ela falou que isto iria acontecer. E a Vanguardian Society a capturou. E nós não acreditamos...

Sloane
Talvez seja tarde demais... Este vídeo é de New Jersey. Tem os mesmos relatos de mortos voltarem à vida com acesso de violência em mais três estados.

Edmund
Não é tarde demais.

Sloane
E o que você pretende fazer?

Edmund
Achá-la e expor a verdade ao mundo. Mesmo que eu tenha que perder a humanidade para isso.


O celular de Edmund logo começara a tocar. Como se fosse uma ligação. Edmund vira. Era Sloane. Ele nada dissera. Olhara para o celular por mais alguns segundos e então o atacara no chão, pisando em cima. Quem era a Vanguardian Society? Quem era a “ela” que falou que isto iria acontecer? Afinal... O que estava acontecendo? Teria relação com o que ele havia perguntado para Lorraine? O que eram estes acessos de raiva? Edmund parecia ser alguém misterioso. E isto somente fora provado quando ele decidira ir embora dali. Para aonde? Era cedo dizer. Mas ainda assim... Muito estava para acontecer na história.

Virginia, EUA (Richmond Town) – Outside Danielle and Marcella’s High School / Inside The Bus
08:10 AM
O carro de Duke fora visto sendo estacionado na esquina. Não havia muitas vagas. Danielle fora a primeira a descer, em seguida de Marcella. Estas conversavam entre si sobre algum assunto aleatório. O Sol cada vez se mostrava ainda mais. A temperatura cada vez subia ainda mais. E era possível de que todo aquele conselho de Lorraine para levar a blusa na realidade não valesse de muita coisa. Duke descera por último. Com os óculos escuros ainda, sério e conceitual. Apertara o botão do alarme para trancar. Pudemos observar as redondezas enquanto Duke ia até porta mala para pegar as malas. De Danielle, ele puxara as duas já conhecidas. Mas de Marcella... Era mala que não parava mais. Uma. Duas. Três. Quatro. E continuava incontável. E aquilo acabara sendo motivo de risada entre ambas. Era somente uma piada. Nada mais e nada menos do que isso. Voltando às redondezas, tinha bastantes alunos. Como eram várias turmas do terceiro ano do ensino médio, era normal que a grande maioria deles quisesse participar. Tinha três ônibus, inclusive. Provavelmente cada um com cinquenta assentos. Os ônibus eram avermelhados com detalhes cinza. Estava escrito: “Brown Bird”. Provavelmente a marca.

Logo, então, Dani fora até Duke e pegara sua mala. Puxava uma com cada mão. Era possível. Duke ajudara Marcella com as duas, por ser mais forte. Atravessaram a rua e foram para trás da fila do segundo ônibus que já começava a diminuir cada vez mais conforme os alunos iam entrando nele. Atrás delas tinha o colégio em que provavelmente estudavam. Era bastante verde e arborizado. A vizinhança em si era. Entre elas passara uma mulher caminhando casualmente com um Yorkshire. Dani agachara-se para dar carinho na cabeça dele e logo eles foram embora dali. Duke as ajudara a guardarem as malas e então as abraçara individualmente. Aquela fora a ajuda dele. Ficara ali as observando por mais alguns segundos. Provavelmente tinha compromisso, então não demorara muito para ir embora. Somente viera as trazer. Desejar boa viagem. E logo partira. Marcella pegara seu celular, mexendo-o nele e às vezes dando algumas leves risadas. Dani observava ao redor. Observava quem ia. Alguns rostos eram conhecidos, e outros não. O que acabara chamando a sua atenção. Inclusive quando vira um garoto cabisbaixo em outra fila do primeiro ônibus. Tinha uma fisionomia exótica. O cabelo bem arrumado. Apesar do calor, estava com um casaco. Parecia ser motivo de piada de algumas pessoas próximas a elas. E isto acabou servindo de comentário para Dani:
Danielle – Que idiotas... – observou o comportamento deles. – Dois mil e dez e esse pessoal ainda faz bullying. Saudades meteoro. – rolou os olhos, mas parecia estar sendo ignorada por Marcella. – Você não concorda? – perguntara para Marcella que continuava olhando fixamente para o seu celular. – Marcella? – a fila andava e elas acompanhavam.
Marcella – Hã? – ela olhara para Dani que esperava uma resposta. – É. Claro. – ela concordou.
Danielle – Você prestou atenção no que eu estava falando?
Marcella – Claro, miga. – ela sorriu para ela, mostrando o seu sotaque inglês clássico. – Quatro bebezões que não saíram da fralda zoando o Carl Fripan. – revelara o nome do garoto. – Nada de novo sob o Sol. – Dani sorriu então, pegando algo do bolso de suas calças, mostrando os dois bilhetes de que provavelmente daria acesso para elas no ônibus, enquanto Marcella continuava digitando com seus dedos no celular.
Danielle – Com quem você está conversando? Ficou no celular o tempo inteiro... – Marcella gesticulou com a mão para que ela pudesse esperar, enquanto Dani rolou os olhos, rindo.
Marcella – Sem-vergonha essa Siobhan! – bufou, irritada. – Onde já se viu? – ela guardou o celular então, inconformada. – Está se gabando porque conseguiu um Gardevoir. Pois alguém diga a ela que meu Sableye com Knock Off irá destruir esse pseudo dela, por favor? – ela rolou os olhos, enquanto Dani franziu o cenho, não entendendo absolutamente nada o assunto aleatório que Marcella começara a falar. – Aprenda isto, Dani. – ela colocou a mão no ombro de Dani, totalmente séria. – Um Psychic não pode derrotar um Dark. – filosofou. – Mas que maldição! – ela rolou os olhos, enquanto Dani continuava assustada. – E se for Mega? – ela ficou pensativa. – Apesar de que né... Fingimos que não existe. Ela não pode apelar. – disse como se fosse algo extremamente óbvio.
Danielle – Do que você está falando? – ela riu agora.
Marcella – Este é o ponto, Dani! – ela concordou com Dani, que continuava sem entender absolutamente nada, embora parecesse acostumada com Marcella. – Um Shedinja não pode morrer com Flamethrower. Está nas regras! – ela rangiu os dentes. – Ela está trapaceando. Eu sinto o cheiro de trapaça de longe. – ela semicerrou os olhos. – Ou é poison ou não é, querida. – defendeu o seu ponto de vista, gesticulando.
Danielle – Você está falando de Pokémon? – ela supôs.
Marcella – Poser você, amor. – a ignorou. – Beware Of Ghosts. Repita comigo... – Danielle riu agora. – Beware Of Ghosts. – tornara a repetir. – Esse outro aí eu não conheço. – pegara seu celular novamente, enquanto Dani preferia não discutir, apenas a entregando seu bilhete.

Era claro que Marcella parecia ser alguém extremamente única. Tal como essa possível Siobhan. Dani apenas balançou a sua cabeça negativamente rindo. Ela achava engraçado. De alguma maneira, se identificava com Marcella. Era nítido. Enquanto Marcella continuava a resmungar sobre o mesmo assunto, Dani apenas parecia ainda fitar Carl. Que continuava ali. Sendo empurrado. Sendo agredido. Enquanto outros apenas ignoravam a sua existência. Estava prestes a intervir, mas logo chegara a sua vez de entrar no ônibus. Cumprimentara o motorista com um leve bom dia e entregara o bilhete para ele. Após ele verificar se estava tudo certo, Dani fora liberada para entrar. Aguardou do lado de fora até que o mesmo então acontecesse com Marcella. Não demorou muito para que fosse liberada também. Dani dera uma última olhada em Carl. Sentia pena por ele. Mas por ora... Ela apenas não podia fazer nada.

...

Estavam agora já dentro do ônibus. Cada lado, esquerdo e direito, tinha duas poltronas. Em cima, tinha espaço para que bagagens pequenas fossem colocadas. Dani estava sentada na poltrona que ficava próxima da janela, enquanto Marcella preferiu ficar naquela do corredor. Folgada, como já mencionado, já havia deitado a poltrona. Gostava de se sentir bem. Era um direito dela. Carregava consigo também uma sacola que tinha alguns aperitivos para elas durante a viagem. Novamente, com o celular em mãos. Dani, apenas observava a janela. Em um determinado momento, dera uma olhada para o ônibus. Já estava praticamente cheio. Por elas, então, passara uma garota. Cabelo curto. Olhos verdes. Cumprimentara-as com um aceno, e Dani retribuíra a gentileza. Houve uma troca de olhares intensa entre elas. Era Clara Brighton, que se sentou mais ao fundo. Marcella, então, disse a Dani, mudando o foco do momento:
Marcella – Escute essa música que a Siobhan me mandou... – ela entregara o celular para Dani, que o aproximara do ouvido, com um volume baixo, para não incomodar aqueles que estavam ao seu redor.
Danielle – É legal. – ela sorriu após alguns segundos, devolvendo o celular para Marcella. – Quem canta?
Marcella – Criadora do universo, miga. – Danielle riu. – Halsey. – dissera o nome dela.
Danielle – Sério? – franziu o cenho. – Achei que fosse a Marina and The Diamonds. – Marcella então a olhara com um semblante de desprezo, como se praticamente tivesse cometido uma injúria.
Marcella – Que herege você, querida. – não se conformava. – Comparar Deus com a fruteira! Mas onde já se viu... – ela rolou os olhos em desaprovação e Dani riu. – Você nem parece a minha amiga. – disse, praticamente de bico.
Danielle – Está bem, então, né... – preferiu não discordar dela. – Nem parece que já acabou o nosso ensino médio... – ela olhara para a janela novamente, e Marcella voltara a guardar o seu celular. – Você acredita nisso?
Marcella – É... Foram bons anos... – concordou e Dani sorriu.
Danielle – Sim... Foram bons anos. – ela assentira, pensativa. – E os próximos também serão. E a nossa viagem também será...

O ônibus logo dera partida. Dani também deitara a sua poltrona. Marcella oferecera uma lata de batatas para Dani. Era Pringles. Talvez a sua favorita. Abrira uma lata de refrigerante de Coca-Cola. E ali elas ficaram. Batendo-papo. Comendo besteira. Fazendo planos. Seria muito cedo para dizer que tudo ficaria bem e que tudo ocorreria bem? Talvez não. Dani estava apenas tentando ser positiva. Dani apenas provava de que ao contrário dos outros integrantes de sua família, por enquanto, parecia ser a menos problemática. Embora... O início sequer ainda estivesse perto. Quem sabe por trás de um sorriso fofo e de seus olhos azuis se escondesse alguém que ninguém pudesse imaginar que estaria ali? Restava somente aguardar. A câmera afastou-se. A imagem da escola. A imagem dos ônibus. Logo... Estariam na estrada. E logo estariam também no acampamento. Acampamento este que prometia emoções.
                                            
Virginia, EUA (Richmond Town) – Main Highway President Noboa
09:12 AM
O Sol quente. O céu azulado. As nuvens que até mesmo formavam desenhos. Estávamos na principal estrada que saía de Richmond Town. Era a President Noboa. Podíamos ver a paisagem natural. Os campos não muito altos. As montanhas mais ao fundo. E a estrada em si que era de asfalto. Ela formava uma bifurcação. Ou seja, havia dois caminhos. Um deles livre. O outro, que parecia ser o principal para sair ou até mesmo viajar, estava lotado de carros. Quando olhávamos para trás e víamos as curvas que aquela estrada fazia víamos filas e mais filas de veículos. Era o trânsito. Que pouco a pouco, em um movimento simples e não muito exagerado, conseguia sair dali.

No meio dessa bifurcação tinha um pedaço que era totalmente preenchido por grama. Duas viaturas pretas da polícia estavam paradas por ali. Podíamos ver os policiais andando de um lado para o outro. Comunicavam-se. Ali parecia ser o momento em que o trânsito acabava. Policiais pareciam coordená-los para evitar um maior transtorno. Por meio de gesticulações com as mãos, permitia com que carros passassem e seguissem seu respectivo caminho. Nada mais e nada menos do que isso. A câmera começara a seguir seu caminho. Vimos então dois carros colididos. Um deles, em um estado não muito destruído. A ambulância parada por ali junto do corpo de caminhão do bombeiro. O motorista parecia estar atendido. Com alguns ferimentos leves e nada mais do que isso, estava sentado na traseira da ambulância. Parecia aflito e até mesmo atordoado. Fitava o outro carro, este, que por sinal, já estava muito mais danificado. Totalmente amassado. Como um pedaço de papel. Vimos que os bombeiros estavam conversando entre si. Como se estivessem querendo bolar um plano ou algo do tipo. O vidro do carro estava quebrado. Percebemos que um corpo estava embrulhado num papel plástico preto. Provavelmente uma vítima daquela fatalidade. O acidente então indicava o motivo pelo qual tudo estava tão parado.

A câmera então percebera uma mulher aproximando-se do veículo. Ela era negra. Tinha o cabelo escuro e preso. Um brilho especial em seus olhos. Parecia uma policial. Vimos seu revolver preso num cinto acoplado em sua cintura. Havia algo nela que era realmente especial. Vestindo um colete apenas por precaução, além das calças também serem apropriadas para aquilo. Ela agachara-se próximo do veículo. Seu nome era Kate. Kate Smith. Vimos que havia um homem ali debaixo daquilo. Preso na lataria do veículo. Não conseguia se mexer muito. Corria o risco de se machucar mais ainda. Como o teto do carro estava praticamente sendo empurrado para trás, era como se a sua perna também estivesse presa. O carro parecia ter capotado várias e várias vezes, o que indicava o motivo pelo qual o homem estava de cabeça para baixo. Era jovem. Não deveria ter mais que trinta anos. Kate logo dera um sorriso para ele. De tranquilidade. E então, logo dissera para ele:
Kate – Aguentando firme, Jackson? – perguntara, ainda agachado perto dele, enquanto víamos uma movimentação por trás delas dos bombeiros.
Jackson – E-Eu... Eu acho que sim... – Kate sorrira então. – Estou contando carneiros. Acho que está funcionando. Como você mesma sugeriu... – Kate rira.
Kate – Fico feliz. – ela afirmou. – Você está sentindo alguma dor? – mais carros passavam por ali conforme eram permitidos, e víamos alguns curiosos colocando a cabeça para fora numa tentativa de tentar entender o que se passava ali.
Jackson – N-Não... Não sei. Eu acho que não. – ele suspirara. – Era como se o meu corpo estivesse totalmente anestesiado...
Kate – Deve ser o efeito da adrenalina. – analisou a situação. – Me preocupo quando a dor realmente chegar. Você não irá conseguir se manter imóvel. É necessário que você se mantenha assim.
Jackson – Eu sei... – Kate suspirou. – Kate... – já sabia o nome dela, o que indicava que já havia acontecido uma aproximação prévia entre eles.
Kate – Sim?
Jackson – Você acha... Acha que eu vou conseguir sair dessa? – Kate sorrira de canto então.
Kate – É claro. – ela assentiu. – Os bombeiros ali são excelentes profissionais. – ela garantiu.
Jackson – Eles parecem estar demorando...
Kate – Estão tentando bolar um plano não muito invasivo. Querem manter a sua perna...
Jackson – Entendo... Mas, Kate... – ele agora sorrira. – Diga a eles que eu prefiro manter a minha vida. – Kate rira agora neste momento.
Kate – É uma boa escolha. – brincou. – Vou pensar nisso... – Jackson então desviou o olhar.
Jackson – E quanto... E quanto a ele? – Kate olhou para trás e vira o homem ainda sendo atendido com um olhar vago.
Kate – Está em estado de choque.
Jackson – Ele sabe que não foi a culpa dele, não sabe? – Kate suspirou.
Kate – É complicado.
Jackson – O carro dele perdeu o controle. Não foi proposital...
Kate – É, Jackson... – ela parecia concordar. – Mas quando você tira a vida de alguém, não é como se fosse algo fácil de esquecer. – afirmou, como se ela já tivesse passando por uma situação parecida, pois ela é policial. – É bonito vê-lo preocupado. É um gesto nobre. Afinal... Você perdeu um ente querido. E não está preocupado em culpa-lo de maneira alguma. O mundo precisa de mais Jacksons por aí... – brincou, elogiando-o e Jackson sorrira também.
Jackson – Kate... – ela ainda o fitava, agachada. – Você já tirou a vida de alguém inocente? – Kate ficara pensativa, mas não se mostrou se abalar tanto por este assunto.
Kate – Já... – limitou-se a responder isso. – E acredite em mim quando eu digo que leve tempo para superar isso. – Jackson, então, tossira sangue, preocupando Kate. – Jackson?! – ela ficara até mesmo mais agitada, pois queria ampará-lo e como ele estava preso, não é como se ela pudesse fazer algo.
Jackson – Acho... Acho que a adrenalina... A adrenalina passou... – Kate rangira os dentes.
Kate – Droga! – ela se levantou imediatamente. – Ajuda aqui, por favor! – gritara, e alguns paramédicos aproximaram-se junto do médico para ir apoiá-la, enquanto Jackson tentava resistir a provável dor que sentia, mas era inegável, e acabava mexendo o seu próprio corpo demais, pressionando a lataria ainda mais sob seu corpo. – Jackson, acalme-se... – pedia ela.
Paramedic – Tentem imobilizá-lo! Por favor, policial, afaste-se... – pedira uma mulher, que colocava suas luvas neste exato momento, enquanto Kate apenas recuava. – Vamos lá, pessoal! – encorajava, enquanto o médico também se agachava para cuidar de Jackson. – Nós não iremos perder mais ninguém hoje... – Kate assistia àquela cena.

Jackson começara a ter epilepsia. Kate assistia a tudo. Os médicos faziam o que era necessário. Kate parecia se sentir incomodada. Virara de costas. Parecia ser um assunto que a atingia. Parecia ser um momento que a atingia. Sabia que era normal e sabia que era apenas uma questão de tempo para aquilo realmente acontecesse. Várias coisas passavam por sua mente. O fato de ele ser jovem. O fato de ele ter muito que viver ainda. E talvez até mesmo algo que lembrasse o seu passado. Sentia-se mal. Falta de ar logo a atingira. Uma outra policial tentava a ampara colocando sua mão em cima de seu ombro:
Police Officer – Kate... Você está bem? – parecia preocupada, era uma mulher mais velha que ela, e também negra.
Kate – E-Estou... – ela tentava se recompor. – Estou. – ela assentiu, agora, mais firme, dando um leve sorriso para a policial, mantendo-se mais controlada ao perceber que Jackson agora passava melhor. – E quanto aos bombeiros?
Police Officer – O chefe me disse que em meia hora ou no máximo quarenta minutos já vão entrar com a ferramenta. – Kate assentira.
Kate – Ótimo. Obrigada... – a policial sorrira para ela e então se afastara.

Kate olhara novamente para o veículo. Os paramédicos e também o médico responsável agora tentavam dar remédio intravenoso para ele. Era o natural. Kate sentia-se mal. Como mencionado, talvez seja apenas uma história de seu passado. Algo que já tenha vivido. Ela era apenas uma personagem chave para a história. E conforme a história se passasse mais adiante poderíamos notar. Restava somente aguardar para ver o desfecho deste acidente.
                                                                                                                        
Virginia, EUA (Richmond Town) – Gillings’ Home Scenes
12:24 PM
A porta sendo aberta. Lorraine surgindo. Provavelmente havia ocorrido tudo bem com o restante da aula de Histologia. Afinal, ela já havia retornado para casa. Vilma fora vista recepcionando Lorraine com o rabo balançando de um lado para o outro. Lorraine sorrira. Guardara a bolsa e pegara a cachorra no colo, a acariciando levemente e cuidadosamente. Parecia gostar de cachorros. Afinal... Ela tinha um em casa. Era natural.

A colocara no chão e tirara os pelos que ficaram em sua camiseta social que havia ido para o trabalho. Ouvira o som de conversa vindo da direção da cozinha e decidira ir até lá. Andara calmamente e tranquilamente. Não demorou muito. Deparou-se com Bethany assando alguns cookies e cupcakes, enquanto Thomas estava sentado na cadeira, molhado e sem camisa. Lorraine olhara para o chão. Parecia ter a irritado. Mike mordia uma maçã, também molhado e sem camisa. Aquilo parecia ser algo que não a deixava mais tranquila. Muito pelo contrário. Era como se realmente a tirasse do sério. E logo, então, partira para a bronca:
Lorraine – Thomas! Mike! – chamara a atenção. – Vocês sabem sobre a regra de entrarem molhados para dentro de casa! – gesticulou, com as mãos na cintura em seguida.
Thomas – Oi para você também, mãe. – ele sorriu.
Bethany – Eu disse... – abrindo o forno e enfiando uma fornada de cookies com pedaços de chocolate lá dentro, lavando as mãos na torneira da pia logo em seguida. – Não foi por falta de aviso, dona... – ela, então, vira a expressão facial de Lorraine, como se estivesse dando uma bronca nela também, e logo mudara a maneira que ia chama-la. – Lorraine. – trocou ela, sorrindo logo em seguida.
Thomas – Bata no Mike. Foi ideia dele. – provocou.
Mike – Que mentira! – ele se defendeu da acusação. – Foi ideia dele, Lorraine! – acusara também, e Lorraine aproximara-se de Mike, dando um beliscão no braço dele, e em seguida, o beijando no rosto. – Ouch! – ele reclamou, alisando o local em que havia levado o belisco.
Lorraine – É culpa dos dois! Merece um beliscão e um beijo! – ela fizera o mesmo em Thomas que chegara até a rir. – Esta foi a ideia de vocês? Ficarem trancados dentro de casa usando a piscina no seu último dia de solteiro? – ela riu.
Thomas – Por quê? Você tem uma ideia melhor? – perguntou.
Lorraine – Ah, querido... – ela sorriu. – Você não tem ideia de como foi o meu último dia de solteira...
Mike – Comendo nachos dentro de um salão de cabelereiro? – supôs, fazendo com que Thomas gargalhasse e Bethany até risse também, enquanto Lorraine ficara séria o fitando. – Brincadeira... – ele deu um sorriso amarelo para ela, voltando a morder a sua maçã.
Lorraine – Muito engraçadinho o senhor Mike! – ela sorriu também, aproximando-se da bancada, pegando o controle de televisão e a ligando logo em seguida, que ficava suspensa num objeto apropriado para ficar próximo ao teto da cozinha. – Para o seu governo... – ela falava ao mesmo tempo em que mudava de canal. – Teve go-go boys. Lorraine de calcinha e sutiã. E muito strip. – olhou debochada para Mike que riu. – O meu casamento foi na praia. Qual é a necessidade de ficar trancada dentro de um salão de beleza se o vento ia estragar o meu cabelo de qualquer forma? – deu de ombros. – Além disso, é liso. Não preciso disso. – brincou, finalmente achando um canal que gostaria.
Bethany – Concordo. O seu cabelo é lindo. – ela comentou. – É de família. Dani e Tiff também têm cabelos lindos. Elas pegaram os seus genes. – Thomas se levantou para pegar água no filtro e beber.
Lorraine – Falando nisso, Tiffany já chegou? – Thomas quase se engasgou nesse momento e Mike gargalhou, fazendo com que Lorraine estranhasse aquilo.
Thomas – Ela... Ela... – pensava numa desculpa então. – Ela foi ao cabelereiro. – mentira, e Lorraine então franziu o cenho neste momento.
Lorraine – Foi?
Thomas – Foi. Não foi, Mike? – empurrara para ele, que estava de boa até então mordendo a sua maçã, e Lorraine o fitara.
Mike – Foi? – Thomas fazia gesticulações por trás de Lorraine, criando um momento cômico que até mesmo Bethany rira, e quando Lorraine olhara para trás, Thomas disfarçou voltando a beber a sua água, mas sempre gesticulando para Mike confirmar a história. – Foi. Foi sim. – ele sorriu, mas Lorraine não parecia ter acreditado neles. – Nós que levamos.
Bethany – Ah é... Levaram sim... – ela sussurrou, irônica, enquanto fazia seus afazeres na cozinha.
Lorraine – Disse algo, Bethany? – ela se virou para ela.
Thomas – Disse que nós levamos sim. – sorriu e Lorraine virou-se novamente para Mike. – Bethany! – cochichou para ela, que o fitou, e a câmera focara neles.
Bethany – O quê? – rangiu os dentes. – Se algo acontecer vai ser culpa nossa! – continuava cochichando.
Thomas – Por mim... Por favor... – continuava cochichando, fazendo cara de pidão. – Hoje é o meu dia.
Bethany – Humph. Não te faço mais cupcakes! – ameaçou.
Lorraine – Hum... – ela parecia pensativa, tornando a câmera a focar nela. – Não sei. Não estou muito convencida disso.
Thomas – Está lá sim, mãe. Nós levamos. – insistiu. – Além disso, ela precisa ficar linda para meu casamento, não é?
Lorraine – Ela sabe se maquiar. E como Bethany ressaltou, o cabelo dela não precisa se ajeitar.
Mike – Mas e as unhas?! – Thomas sorriu ao ver a ideia dele. – Mulheres precisam fazer as unhas. Não é?
Lorraine – É... – ela parecia concordar. – Mas ela fez as unhas na Sexta. Será que já estragou? – ela se virou para Bethany, que preferiu não responder, parecendo confusa.
Mike – Vai ver ela quis mudar a cor. Ou fazer as dos pés também. – ela enrolou Lorraine, que agora parecia mais convencida, enquanto ele leu os lábios de Thomas agradecendo ele. – Pode não ter combinado com o vestido dela ou sei lá...
Lorraine – É. Pode ser. – ela assentiu, indo em direção ao telefone.
Thomas – O quê você vai fazer?! – ele se assustou.
Lorraine – Ligar para ela, ué...
Thomas – Pra quê?
Lorraine – Pra saber se vai demorar muito... Eu posso ir buscá-la...
Thomas – Sem necessidade mãe. Nós já combinamos. – Lorraine o fitara.
Lorraine – Desde quando você e a Tiffany combinam algo? – ela estranhara, parecendo o deixar sem resposta. – Thomas... – ela ficara séria agora. – Vocês estão mentindo para mim, não estão?! – ela parecia ter ficado brava. – Onde ela está, Thomas? – perguntara novamente.
Thomas – Você vai querer me matar? – ele se fingiu de assustado, e Bethany até rira, limpando a pia com um pano agora.
Lorraine – Depende da gravidade. – Thomas bufou.
Thomas – Ela saiu com um amigo...
Lorraine – Qual amigo? Para aonde? Que horas ela volta? – Mike rira disso.
Thomas – Quantas perguntas, mãe... – ele se afastou do filtro e voltara a se sentar perto da mesa. – Eu não sei. Ela só pediu para eu enrolar você. Aparentemente eu perdi a prática disso... – Mike pareceu concordar.
Lorraine – Se for aquele Lucca eu juro por Deus que corto suas pernas Thomas! – ameaçou e ele preferiu se manter quieto.
Mike – Você não gosta dele?
Lorraine – O que você acha? – ela fez uma expressão de “óbvia”. – Tente gostar de um garoto qualquer que fez a sua filha chorar por três dias seguidos no seu colo. – Mike riu. – Eu vou busca-la agora... – pareceu ter se decidido então.
Thomas – Mãe, por favor... – ela parara então. – Dê espaço para a Tiffany. – a enfrentou, e Lorraine o fitara então. – Você a sufoca demais. Deve ser por isso que ela está sempre mal-humorada. – supôs. – Além disso, você nem sabe onde ela está... – Lorraine cruzou os braços. – Ela me disse que não chegaria tarde. – garantiu. – Tem o casamento. Ela não vai perder, né? – Lorraine não parecia totalmente convencida disso. – Dê uma chance para ela... – pediu. – Por mim... – Mike rolou os olhos agora.
Mike – Deus, o dia podia passar logo né? Pra você parar de usar essa desculpa. – Thomas riu e Mike terminou a sua maçã, jogando o restante num lixo.
Lorraine – Humph... – ela parecia ter amolecido, então. – Está bem. – convenceu-se e Thomas sorriu. – Mas só dessa vez! – ela garantiu. – Ela sabe que quando quiser sair para algum lugar com os amigos é só me pedir. Eu levo e busco. – definitivamente, Lorraine fazia o “tipo” de todas as mães americanas e também do mundo, de preocupação excessiva com os seus filhos. – E quanto a você Mike? – o fitara. – Mentindo para mim também? – ele gesticulou com suas mãos. – Esperava mais de você... – balançou a cabeça, mas em tom claro de brincadeira.
Mike – Ideia do seu filho. – defendeu-se.
Bethany – Esperar mais do Mike? – ela brincou e Thomas gargalhou.
Mike – Perdão? – ele não entendera a piada, enquanto Lorraine voltou próxima a bancada, aparentemente mais séria.
Thomas – Mãe... – ele se levantou e se aproximou dela, enquanto de fundo, podíamos ver e ouvir Bethany e Mike discutindo, embora fosse apenas uma encenação e uma brincadeira. – Fica tranquila. – pediu.
Lorraine – Não sei se é uma boa ideia, Thommy... – ela suspirou. – Sabe quando você está com um mau pressentimento?
Thomas – Sei... Principalmente dos seus. – ele sorriu. – Sexto sentido de mãe... – brincou e Lorraine também sorriu. – Normalmente estão certos. – Lorraine bufou novamente. – Quer dizer... Sempre estão certos.
Lorraine – É... Esse é o problema... – ela tentou-se manter mais calma. – Mas vai dar tudo certo... – sorriu.
Thomas – Bem... Já que você chegou e o problema foi resolvido, tenho que ir embora...
Lorraine – Ah... – ela lamentou. – Mesmo? – ela abraçou o filho, sorridente. – Fica mais um pouco... – pediu.
Bethany – E os cupcakes e cookies?! – gesticulara lá do fundo.
Thomas – Eu como depois! – Thomas riu e Bethany não pareceu ter gostado daquilo, enquanto Lorraine enfim se desvencilhara dele.
Lorraine – Tem certeza? – Thomas apenas assentira.
Thomas – Tenho... – ele sorriu. – Ficar sozinho em casa. Dormir um pouco... – Lorraine o escutava. – Além disso, se o Mike ficar aqui é capaz de ele terminar bêbado. – ambos riram.
Mike – Que bobagem! – exclamou.
Lorraine – Está bem, então... Você que sabe. – ela o abraçou mais uma vez. – Cuide-se. E até de noite...
Thomas – Até... – a abraçou bem forte também, e então, se desvencilharam. – Tchau, Bethany! – acenou para ela que rolou os olhos. – Prometo que como os cupcakes e cookies depois...
Mike – Tchau, Lorraine. – a abraçou também. – Até de noite...
Lorraine – Até, Mike... – ele também foi se despedir de Bethany.

Primeiramente, Mike e Thomas foram buscar suas camisetas lá do lado de fora. Não demoraram muito. E logo saíram da cozinha, indo em direção à sala para irem embora. Lorraine olhou para Bethany e sorriu. Ela então tivera uma ideia. Se aproximara do forno. Colocara uma luva de pano e o abrira. Visualizara os cookies e os cupcakes. Sorriu. Iria os comer assim mesmo. Pegara a fornada de cookie primeiro, deixando o cupcake ainda lá dentro. Fora até a mesa onde normalmente tomam o café da manhã e até almoçam e ficara lá. Assistindo televisão. Convidara até mesmo Bethany:
Lorraine – Vem, Beth! – chamara ela. – Depois termina o que você está fazendo. – insistiu, e Bethany assim fizera, se sentando ao lado dela. – Vilma! – sorrira e também a pegara no colo. – Vem comer cookie com a mãe... – pegara um caroço de chocolate e dera na boca dela. – Mas só um pouquinho, hein? – brincou, olhando para a televisão logo em seguida. – Você sabe que série é essa?
Bethany – The Last Devotion. – respondera. – É praticamente uma novela. Acredito que seja reprise de algum episódio.
Lorraine – Você assiste? – perguntou mordendo o biscoito.
Bethany – Sim. É muito boa! – ela também se serviu. – É com essa atriz, está vendo? – e então pudemos ver a personagem loira, de cabelos curtos, protagonizando a série. – Chloe Callaway, ela. – lembrara seu nome.
Lorraine – Ela é linda...
Bethany – Sim. – concordou. – Há boatos de que ela está grávida na vida real. – Lorraine a fitara.
Lorraine – Sério? – pareceu surpresa. – Tão jovem... – comentou. – Se eu fosse atriz, não sei se ficaria grávida tão cedo. Pode interromper a carreira, né...
Bethany – Verdade...

Cookies. Conversa casual. Discussão casual. A conversa ia e vinha. Ficaram ali. Até mesmo com a Vilma. Lorraine tentava esvaziar sua mente. Afinal... Tiffany estava por aí. E a preocupava. Tinha um mau pressentimento. E como Thomas mesmo havia dito, é sempre certeza de que mães acertam ou preveem o que irá acontecer. De qualquer forma, Lorraine havia permitido. E apenas ela teria que aguardar e torcer para que estivesse errada quanto a isso.

Virginia, EUA (Richmond Town) – Lucca’s Mansion Scene
12:36 PM
A Mitsubishi ASX branca de Lucca logo fora vista parando na frente de sua casa. Era praticamente um filhinho de papai. Dezesseis anos e já conseguia dirigir? Queria Tiffany ousar a fazer isso. Ela, que por sinal, parecia estar adorando a mordomia que recebia. Lucca, como um verdadeiro cavalheiro, desafivelou o cinto e desceu para abrir a porta de Tiffany que agradecera com um singelo sorriso. Ela, então, também retirara seu cinto de segurança e descera. Com a mesma roupa que estava desde manhã cedo. Segurava em sua mão um copo transparente de suco de laranja. Era do McDonalds. Ela ficara encantada com a vista que tinha. Era realmente uma mansão. Maior que a dela. Indicava que realmente este era o motivo de Lucca ter tudo aquilo que desejava. Ela sorriu. Era realmente bonita. Era uma mansão que parecia mais um partenon da Grécia Antiga com várias pilastras dando apoio. Tinha pelo menos três andares. Tiffany tinha todos os motivos para realmente ficar encantado com este mundo. Era bom, porque ela poderia se identificar com ele. Então, Tiffany, apenas elogiara:
Tiffany – Nossa... É muito bonito. – comentara, sorrindo e Lucca retribuíra.
Lucca – Obrigado. – agradeceu.
Tiffany – Seus pais estão em casa?
Lucca – Não. Estão no trabalho. – negara.
Tiffany – E os empregados?
Lucca – Está com vergonha? – ele riu e Tiffany corou.
Tiffany – É uma casa realmente muito grande... – observou.
Lucca – Você não precisa cumprimenta-los se não quiser...
Tiffany – Bem, lá em casa, Bethany é praticamente um membro da família. – referia-se à sua empregada.
Lucca – Bem, aqui... Empregados são apenas empregados. – disse até mesmo com um tom de preconceito e Tiffany sorriu. – Vamos? – ela assentira.

Ele então pegara na mão dela para guia-la. Andavam tranquilamente. Passaram pela entrada que era feita por um belíssimo jardim. Tinha até mesmo chafariz. Tiffany olhava para todos os lados para não perder nenhum detalhe. As plantas e as flores eram realmente muito bonitas. Não demorou muito para que subissem os degraus e Tiffany pudesse observar as pilastras de perto. Logo, a porta vermelha estava ali. Lucca tocara a campainha e não demorou muito para que alguém viesse atender. Era uma mulher. Cabelos ruivos presos em um coque, vestida como uma empregada. Ela, dera passagem para que eles adentrassem:
??? – Boa tarde, senhor Keefe. – cumprimentou ela.
Lucca – Boa tarde, Yasmin. – cumprimentara também.
Yasmin – E a senhorita? – referia-se a Tiffany, que parecia distraída e deslumbrada com a imensidade daquela mansão por dentro.
Lucca – É uma amiga minha. – Yasmin assentira. – Tiffany. – a introduzira.
Tiffany – Oi...
Yasmin – É um prazer... – Tiffany apenas sorrira para a gentileza.
Lucca – Nós estaremos em nosso quarto. Em... – ele olhara para o seu relógio de pulso. – Em uma hora e meia leve nos alguma coisa para comer. Caso meus pais cheguem, me avise também.
Yasmin – Está bem. – ela acatou. – Com licença... – pedira e então se retirara, e fora o momento em que Tiffany observara vários empregados passando de um lado para outro, e até mesmo um mordomo, ficando surpresa.
Lucca – Vamos. O quarto fica lá em cima...
Tiffany – Vamos.

Ele então ainda de mãos dadas com ela a puxara. Tiffany não teve muito tempo de olhar para a decoração. Mas era algo extremamente caro e de alto nível. Eles subiram as escadas até chegarem ao andar superior. Cruzaram alguns corredores e logo estavam no quarto dele. Tiffany contou pelo menos sete portas. Provavelmente outros quartos. No meio do caminho, notara uma academia dentro da própria casa e uma sala de estar própria para jogos e diversões. Nada dissera. Apenas gostara do que vira. Talvez até mesmo recomendasse algo parecido para a sua família. Mas logo desistira da ideia. Não é como se ela achasse que iriam escutá-la de qualquer forma.

Lucca abrira a porta e revelara o seu quarto. Tinha uma cama, vários brinquedos específicos de coleções. A maioria eram miniaturas de carros da fórmula um. Um notebook da apple. O guarda-roupa. Tudo parecia valer muito. Tiffany apenas observava, enquanto Lucca preferiu se acomodar. Tiffany andava pelo quarto. Olhava. Foi até mesmo ver a vista. Era um bairro lindo. E fora o momento então que ele dissera:
Lucca – Sinta-se a vontade... – Tiffany sorrira para ele.
Tiffany – Obrigada... – ela retirara aquela blusa da sua cintura e colocara em cima da cadeira mais próxima dela. – Eu deixei a mochila no carro...
Lucca – Depois você pega. – ele parecia estar procurando por algo, olhando em algumas gavetas, enquanto Tiffany permanecia um pouco mais acanhada.
Tiffany – Eu não posso demorar muito. O meu irmão não conseguirá enrolar a minha mãe por muito tempo... – Lucca riu.
Lucca – Eu levo você em casa, não se preocupe. – continuava a sua busca.
Tiffany – Ok... – ela suspirou.
Lucca – Você vai ao casamento mesmo? – puxou assunto.
Tiffany – Vou sim... – confirmou. – Não tenho como fugir. – ela riu.
Lucca – Hum...
Tiffany – Você quer vir junto? – ela perguntara tímida. – Poderia me fazer companhia nesse evento chato...
Lucca – É. Claro. – Tiffany sorrira agora.
Tiffany – Sério?
Lucca – Sim. – Tiffany voltou a sorrir.
Tiffany – Combinado, então... – e então, Lucca parecia ter achado o que queria, e Tiffany pôde observar um pequeno plástico contendo alguns cigarros dentro, fazendo com que ela franzisse o cenho e Lucca acomodasse na cama.
Lucca – Senta aqui... – pediu.
Tiffany – O que é isso?
Lucca – Diversão... – Tiffany sorriu de nervosismo agora.
Tiffany – Lucca, o que é isso? – perguntara novamente, agora mais séria.
Lucca – Como eu disse, diversão. – repetira. – Vamos lá, Tiffany, não seja careta. – ele tentava desamarrar o nó no plástico sem danificá-lo.
Tiffany – E as empregadas?
Lucca – Elas sabem. – Tiffany riu neste momento.
Tiffany – E elas não fazem nada?
Lucca – Não é cocaína, Tiffany. – ele rolou os olhos. – É maconha. Não vou morrer por isso. – ela estava perplexa.
Tiffany – Seus pais não sabem, eu suponho...
Lucca – Não.
Tiffany – E o cheiro?
Lucca – As empregadas dão um jeito. – ele sorriu marotamente.
Tiffany – Você é louco! – ela então, dera alguns passos em direção a porta e Lucca levantara para pegá-la pelo braço.
Lucca – Espera... – pediu.
Tiffany – Me solta! – pedira, impaciente. – Eu não gosto disso... – ela afirmou, convicta. – Não é o meu mundo. E nunca será! – bradou.
Lucca – Você tem que ficar mais calma... – pedira. – Vou te soltar... – ele então assim fizera, e Tiffany suspirou, tentando manter o controle. – Você mesma disse que precisava desapegar. Que estava cansada da sua família e dos problemas deles... – Tiffany olhava no fundo dos olhos dele. – Permita-se a fazer isso, então...
Tiffany – Eu... Eu não sei nem segurar um cigarro... – murmurou.
Lucca – Eu te ensino. – ele sorriu. – Você vai gostar da sensação. Eu garanto. – Tiffany desviou o olhar, ainda incomodada. – Vem aqui... – ele pegou na mão dela e a puxou para ambos sentarem na cama, e ele enfim conseguiu pegar um cigarro, tirando um isqueiro do bolso da calça e acendendo para ela. – Finge que é um canudo. E solta a fumaça. É simples. – Tiffany o olhou, rindo.
Tiffany – Você só pode estar brincando...
Lucca – Vamos. Tente. – insistiu e Tiffany pegara o cigarro da mão dele, colocando-o a na boca e repetindo o passo que ele fizera, tragando o cigarro, inalando a fumaça pela narina e soltando pela boca, fazendo com que Lucca sorrisse. – Viu? – Tiffany sorriu também. – Você deveria ver a primeira vez que eu tentei. Foi um desastre... – ele pegou um cigarro para ele também e o acendeu, fazendo a mesma coisa que ele, enquanto Tiffany repetira o movimento. – E então? – ele soltara a fumaça também.
Tiffany – Não sei... – ela franziu o cenho. – É estranho. – afirmou. – Me sinto enjoada, mas ao mesmo tempo...
Lucca – Sente-se bem. – completou para ela.
Tiffany – É...
Lucca – É justamente esta a sensação. – ele sorriu por completo.

O som da conversa fora diminuindo. A fumaça saindo. Lucca até então aparentava ser um bom garoto. Mas como mencionado... Um garoto de papai mimado que fumava maconha. Definitivamente não era uma boa companhia para Tiffany que já se mostrou ser uma pessoa complicada e carente. Talvez tudo isto esteja sendo feito somente para chamar atenção. De qualquer forma, ela havia experimentado. E talvez gostado. E seria certeza de que isso daria trabalho mais para frente.

...

O tempo havia se passado. Provavelmente meia hora. Tiffany estava estirada no chão. Deitada. Fumando. Não se importava da fumaça impregnar a sua roupa ou até mesmo cair na sua cara. Era comum. Já tinha se acostumado. Lucca somente a observava. Seus olhos pareciam fitar algo. Na posição em que ela estava, era possível ver que os seios dela eram farto. E como ele era um rapaz na adolescência com hormônios aflorados, normais eram estes tipos de pensamento. Distraiu-se totalmente. Somente acabou “acordando para a vida” quando ouvira Tiffany falando com ele:
Tiffany – Isso daqui é a melhor coisa do mundo... – ela, então, sorriu, tirando o cigarro de perto da boca, sentando-se e Lucca aproveitara para fazer o mesmo ao lado dela, ambos no chão.
Lucca – Eu te disse. – ele sorriu.
Tiffany – Limpou a minha mente... – ela sorrira para ele. – Obrigada. – agradeceu. – Eu estava precisando de um pouco de paz...
Lucca – Nós todos precisamos às vezes.
Tiffany – É por isso que você também fuma?
Lucca – Também. – disse. – Não é só a sua casa que tem problemas...
Tiffany – É. Eu sei disso... – concordou.
Lucca – É apenas difícil lidar com os meus pais às vezes...
Tiffany – Nem me diga... – ela sorriu, parecendo concordar, identificando-se com ele. – Na realidade, é mais difícil com a minha mãe. O meu pai... Nós nos entendemos. Na maneira do possível.
Lucca – Bem, e ainda assim... Você a defendeu hoje. – Tiffany sorriu agora.
Tiffany – É... É complicado. – resumiu a situação.
Lucca – Sei bem como é... – ele concordou, aproximando-se dela. – É difícil achar alguém parecido comigo nesse aspecto e que realmente me entenda... – disse, olhando para os olhos dela, enquanto a sua mão caminhava lentamente para a mão dela, chegando até a sua perna.
Tiffany – Sim... É difícil... – concordou, enquanto os rostos deles iam se aproximando cada vez mais. – Eu sinto falta de alguém que me entenda.
Lucca – Eu... Eu também... – suas bocas foram se aproximando e seus olhos se fechando. – Também sinto.

Seus lábios se selaram. E o beijo deram. Apaixonado? Tampouco. Era somente mais uma “pegação”. Um flerte, digamos assim. Pelo menos para Tiffany. Foi ficando cada vez mais quente. Cada vez mais profundo. Lucca foi se destacando cada vez mais, dando impacto em seu corpo em cima dela, fazendo com que ela deitasse. Os olhos dela se abriram neste exato momento. A boca dele foi descendo pelo corpo dela, chegando até os seios. Suas mãos prendiam as dela ao chão, e ela notara ela. Franzira o cenho. Era um movimento brusco e ao mesmo tempo que a incomodava, fazendo com que ela pedisse:
Tiffany – Lucca, para... – pedira, enquanto ele continuava a insistir, e Tiffany a se desvencilhar. – Lucca. – chamara a atenção dele, agora ainda mais séria, e ele tentava desabotoar a calça dela com a boca, demonstrando a sua falta de lucidez. – Lucca, para! – ela agora aumentou ainda mais o tom de voz, mas Lucca não a ouvia. – Lucca, merda! – ela, então, com as pernas, o empurra para frente fazendo com que ele caísse. – Que merda foi essa?! – questionara-o, e Lucca somente olhava para ele, até mesmo assustado, enquanto Tiffany se levantou.
Lucca – Tiffany... Eu... Eu sinto muito... Não era isso que eu queria fazer...
Tiffany – Ah não? – ela disse sarcástica. – Eu te pedi mil vezes para parar! – afirmou. – Você estava quase me abusando a força!
Lucca – Eu extrapolei... – ele levantou também, aproximando-se dela, mas fora empurrado novamente.
Tiffany – Afaste-se de mim, babaca! – gritou. – Pervertido! Eu deveria ter saído daqui quando tive a oportunidade... – ela fora até a cadeira e pegara a sua blusa, amarrando novamente na sua cintura. – Mas é claro... – resmungava. – Como eu fui estúpida! – exclamou. – Desde de manhã, desde às respostas da prova ou até mesmo aquela promessa patética de que você não tentaria nada... – ela realmente parecia estressada. – Você me drogou para que pudesse transar comigo... – ela estava inconformada.
Lucca – Tiff... Me desculpa... – ela tentara passar por ele, e foi segurada.
Tiffany – Tire suas mãos imundas de cima de mim! – o empurrou novamente, mas ele tentara se aproximar e acabou levando uma bofetada no rosto. – Estúpido! – gritou. – Quem você acha que eu sou?! – gesticulava. – Alguma puta qualquer que você droga para foder? – ela rira agora. – Droga como eu fui burra! – rangiu os dentes. – Você não ouse procurar por mim mais nenhuma vez em sua mísera vida! E nem ouse também aparecer no casamento do meu irmão ou eu pessoalmente farei com que você desejasse nunca ter me conhecido! – ameaçou. – Agora saia da minha frente antes que eu te bata novamente! – ordenou e Lucca dera passagem para ela.
Lucca – Desculpa... – pedira pela última vez e Tiffany abrira a porta.
Tiffany – Vão à merda você e suas desculpas! – ela mostrou o dedo do meio saindo dali.

Lucca ficara sem reação. A câmera acompanhara Tiffany. Totalmente perplexa. Mas com medo. O que teria acontecido se ela não tivesse conseguido se defender? Ele era um homem. E tinha mais força que ela. Seus olhos marejaram. Definitivamente, Tiffany não tinha uma boa vida. E cada vez mais ela se decepcionava com as pessoas. E tudo o que havia acontecido ali somente provava isso. Corria para ir embora. As empregadas perguntavam o que havia acontecido. Mas tudo o que ela queria era fugir. Fugir para não ter que se lembrar disso. Fugir para não ter que se lembrar disso. Abuso sexual era algo extremamente forte. Aproveitar-se de uma pessoa fragilizada com o uso de drogas era algo extremamente forte. E isso somente havia piorado o estado de Tiffany.

Virginia, EUA (Richmond Town) – Gillings Construction Company, Simon’s Office
01:21 PM
Estava de tarde. Provavelmente a maioria das reuniões já havia sido feitas e bem concluídas. Provavelmente Simon já havia também almoçado. Com o paletó cobrindo a cadeira em que estava sentado, sentia-se mais a vontade. Seu escritório era bem grande. Havia uma televisão de plasma. Ar condicionado. A mesa de seu escritório onde neste momento estava sentado. Parede espelhada, como já mencionado. Usava óculos de grau. Provavelmente não enxergava de perto e dificultava para digitar em seu notebook. Víamos algumas planilhas. Nada que realmente chamasse muita atenção. Em determinado momento, parara de fazer o que estava fazendo. Parecia pensativo. A sua mente ia e vinha sobre alguns acontecimentos recentes. Sobre Tiffany. Sobre o casamento de Thomas. E também sobre a reunião que havia tido com Venus. Não descobriu até agora de que laboratório ela fazia parte. Olhara para o porta-retrato de sua família. Dera um leve sorriso. Fora o momento em que parecia ter tido uma ideia. Com a mão agora no mouse, parecia estar navegando em seu notebook. A câmera filmava isso. Vimo-lo abrindo a página da internet e abrindo o site da Google. A pesquisa fora feita. “Venus, Vanguardian Society”. Alguns links apareceram. Clicara em alguns, mas eram sobre coisas aleatórias. Era como se ela fosse um fantasma. Era como se ela não existisse. Havia feito ele um bom negócio em negociar com estranhos? Ele não sabia. Valia dinheiro toda essa preocupação que ele teria de agora em diante? Ele não sabia então. Fechara o site. Pegara o telefone em suas mãos que estava bem próximo a ele e discara um número. Esperara alguns segundos até que alguém o atendesse. Não demorou muito. E logo, então, Simon parecia estar conversando com alguém:
Simon – Ei... – este fora o cumprimento dele. – Resolvi te ligar. Tenho uma dúvida. Preciso que procure um nome para mim... – pedira ele, sem citar com quem estava conversando, mas aparentemente não parecia ser ninguém conhecido até então. – Venus. – citara o nome dela novamente. – Diz que faz parte de um grupo chamado Vanguardian Society. – informara, e então, vimos o seu semblante mudar repentinamente. – Sim. Nós fechamos um negócio. – continuou. – Devo cancelar, então? – ele, então, ficara em silêncio por alguns segundos, como se estivesse somente escutando quem estava do outro lado da linha. – Manterei então. – afirmou. – Devo me preocupar? – ele assentia positivamente, entendendo seja lá o que o homem estivesse lhe falando. – Isto não é bom, Petifier. – citara algo que parecia ser um sobrenome. – Eu sei, Julian. Eu sei... – assentira. – Mas aparentemente eles estão fazendo com que pessoas corram risco de vida. E eu pareço estar agora somente os ajudando. – estava até mesmo um pouco mais agitado. – Está bem. Eu ficarei fora disso. Desde que, no entanto, você resolva o problema. – parecia estar lhe dando um ultimato. – Está bem. Aguardarei o contato.

Ele desligara o telefone então. Encostara-se em seu assento. Olhara para o porta-retrato de sua família novamente. Seja lá o que ele havia escutado, pelo seu semblante, definitivamente não parecia boa coisa. Franziu o cenho. Ficou pensativo. Refletia sobre o que havia conversado com o tal Julian Petifier. Quem era ele? Ninguém sabia. Mas parecia ser alguém do contato de Simon, provavelmente. Ficara assim. E distraiu-se então quando ouvira dois toques em sua porta como se alguém quisesse entrar. Após a permissão concedida, a presença de Klaire se revelara. Sempre com papéis em mãos, encostara a porta atrás dela com o pé e aproximara-se dele. Era um pouco destrambelhada. Mas nada que incomodasse. Logo, ela dissera então:
Klaire – Aqui estão as papeladas que me pediu. – ela entregou para ele. – Foi o máximo que pude achar sobre a Vanguardian. Mas não parece ser nada incriminador... – Simon somente fitava o papel, sem disser nada. – Se permite que eu lhe dê uma opinião... Aquela mulher pode até mesmo ser assustadora, mas eu acredito que eles estão limpos. – afirmou, segura disso e Simon dera um leve sorriso para ela.
Simon – É. Eu sei... É que eu não consigo pensar sobre isso... – Klaire sorrira para ele, então, e dera a volta, afastando as coisas da mesa dele e se sentando nela.
Klaire – Você precisa parar de se preocupar com essas bobagens, Simon... – ele apenas a fitara, notando seu generoso decote somente agora, e ela então, pegara nas mãos dele. – Deixe com que eu lhe ajude a relaxar... – disse, com um sorriso malicioso, puxando a mão dele delicadamente para debaixo de sua saia.
Simon – K-Klaire... – ele gaguejou conforme ela ainda continuava a puxá-lo, e ele sentia até mesmo como se estivesse sendo pressionado. – Klaire... Nós não podemos...
Klaire – Ninguém vai saber... Eu prometo...

A mão dele continuava a deslizar. O prazer na expressão facial de Klaire. Ela, então, após alguns segundos, se levantou. Abaixou a saia, junto da calcinha. Por trás, pudemos ver a sua avantajada bunda. Simon empurrou a cadeira para trás e o notamos retirando o cinto e abrindo a calça, abaixando-a até os joelhos. Não vimos nada íntimo, mas provavelmente, ele teria feito o mesmo com a cueca. Klaire se aproximou ainda mais. Vulgarmente. Sentou-se em cima dele e fechou os olhos. A câmera começou a se afastar. Movimentos repetidos de subir e descer. Gemia fraco. Gemia baixo para que ninguém escutasse. Simon a pressionava ainda mais contra seu corpo. Suas mãos desabotoaram a camisa social de Klaire que era de botões e suas mãos subiram sobre o corpo dela, alcançando os seios e apertando. A câmera continuou a se afastar. Os gemidos. A traição. A escuridão. O som começara a diminuir. Bethany estava certa. Era uma família corrompida. E ia se provando cada vez mais e mais. A falta de lealdade de Simon com Lorraine. Os segredos dele com o tal Julian Petifier. Ninguém era perfeito. E ninguém poderia ser. E isso era claro.

Virginia, EUA (Richmond Town) – Thomas & Hannah’s Apartment, Scenes
02:00 PM
A chave rodando na maçaneta. A porta branca se abrindo. Thomas adentrando com a mesma camiseta antiga que havia aparecido na casa de sua mãe. Provavelmente, já havia deixado Mike em sua casa. Tivemos a vista total do apartamento em que ele e Hannah moravam. Tinha dois andares. Logo na primeira observação, pudemos notar, inclusive, a escada que dava acesso para o andar superior. Afinal, era um engenheiro. Tal como o seu pai. E a sua vida apenas estava começando e já em ascensão. Thomas adentrara. Encostara a porta e a trancara logo em seguida. Ficara pensativo. Olhava tudo aquilo. Embora já morasse com Hannah, embora até mesmo tivesse construído uma vida com ela, era como se pouco a pouco a sua ficha começasse a cair. Vimos um sofá de três lugares na sala. Um tapete quadriculado e marrom. O piso era branco. Feito de porcelanato. Uma mesa de centro no tapete, em cima tinha um abajur. Mais ao fundo, uma grande prateleira, com alguns objetos de decoração. Tinha porta-retratos ali.

Thomas até mesmo se aproximou deles. Pegara um. Era uma foto dele com Hannah. Ele a abraçava por trás. O sorriso de ambos. A felicidade de ambos. Thomas sentia isso. Sentia o amor. Ele até chegara a sorrir sozinho. Passara o dedo delicadamente sobre aquela foto. Estava feliz lá e se encontrava feliz agora. Colocara a foto no lugar em que estava, e pegara outra agora com toda a sua família. Lorraine. Simon. Danielle. E Tiffany também. Os amava incondicionalmente. Não poderia negar isso. Era uma relação muito próxima. Principalmente com os seus pais, que o criara com muita dedicação e carinho.

Ele então se afastara. Seguira seu caminho, deixando a sala. Subira as escadas e pudemos ver o que já tinha lá no andar superior. Outra sala. O sofá agora de couro e uma grande televisão. Havia um Playstation quatro ali também além dos seus respectivos controles. Gostaria de se divertir, digamos assim. Passou por estes, tornando a seguir o seu caminho. Atravessara um corredor até chegar ao fundo onde tinha uma porta branca. Não demorara muito até chegar lá. Ficara observando a porta por alguns segundos. Tinha um quadro pendurado lá. Estava escrito Luna. Cor de rosa. E tinha dois pequenos ursos. A ursa usava um vestido. Simulava Hannah. O urso estava de terno. Simulava Thomas. E no meio de ambos, uma ursinha menor. Simulava a filhar. Sorriu novamente.

Abrira a porta do quarto e tivemos a observação. As paredes eram grafitadas por um rosa bem leve e não muito chamativo. Mas somente a metade das paredes. A outra era lisa e branca. Pudemos ver algumas prateleiras próximas do teto com alguns ursos e até mesmo bonecas. Uma casinha de bonecas no chão aberta com seus diversos cômodos. Um sofá de couro branco com algumas almofadas em cima. Uma poltrona listrada mais ao canto em cima de um tapete circular também rosa. Uma cômoda onde Thomas agora se aproximara. Tinha tudo ali. Pomada, fralda e até mesmo trocador. Além de que tudo estava desenhado com o nome de sua princesa. Mas, emocionou-se totalmente quando se aproximou enfim do berço. Branco. Com uma cortina a envolvendo. Sorria de orelha a orelha. Mal pôde imaginar que este momento iria realmente chegar. Apoiava-se na grade, somente observando que em poucos meses a sua filha estaria ali. Filha. Imaginaria ele que em algum momento de sua vida poderia se tornar pai? Ele fechou seus olhos. Deixara toda a emoção corroer a sua alma. E então, dentro de sua mente, pudemos ver o quão realmente parecia ser conturbada. O som de uma colisão. De uma batida. Thomas continuava ali. Diante do berço. Totalmente inquieto agora que aquilo viera à sua mente. O grito. “Thomas!”, era uma voz feminina. O som de carro de policial. O som de uma ambulância. O som de um provável bafômetro. “Você está bêbado e dirigindo?!”, dizia o policial. “Você assassinou a garota!”, acusava o outro. “Foi só um acidente...”, defendeu a si mesmo. Lembrava-se. E lembrava-se. E lembrava-se. Vinha. E vinha com potência. O som de grades se fechando. O som de Lorraine aos gritos. “Solte o meu filho! Eu pagarei a quantia que for necessário...”. O som de Simon tentando segurá-la. Porém... Nada poderia ser mais doloroso do que sair da cadeia com a ajuda dos pais e se deparar com a família daquela que assassinou num acidente de carro. “Eu o acolhi em minha casa... E você a matou...”, dizia a mãe dela com os olhos cheios de lágrimas.

Thomas então abrira os olhos. Ficara ali. Estavam marejados. Avermelhados. Tudo aquilo. Todo esse quarto. Toda essa memória triste e infeliz que carregava dentro de seu peito. Ele fechou os punhos, acreditando que até mesmo poderia ser culpado. Eu farei diferente desta vez, minha filha... Eu prometo. Sussurrara ele, fazendo planos. Thomas então afastou-se. E decidira sair dali. Hoje era o dia do casamento. Hoje era um dos dias mais especiais de sua vida. Mas com esta cena, pudemos mais uma vez comprovar o que Bethany já havia dito. Thomas fora responsável pela morte de alguém. E carregava essa culpa junto com ele. E Lorraine, e também Simon, havia o liberado. Não havia o deixado pagar pelos seus erros. Não havia o deixado pagar por aquilo que de fato havia sido um erro. Um acidente? Talvez. Mas ele havia bebido. E aquilo havia cometido a morte de uma inocente. E ele sabia disso. Thomas também carregava segredos. E este parecia ser apenas um deles.

Virginia, EUA (Richmond Town) – Beauty & Model SPA
02:30 PM
Provavelmente fazia algumas horas desde que estava lá. O lugar era realmente chique. E parecia caro. O local em que estávamos agora era um salão de beleza. Hannah se sentia como uma rainha. Era o intuito do local, inclusive. Dar a ela um dos melhores dias de sua vida. Seus cabelos estavam presos com bobes. As mãos esticadas enquanto eram feitas e pintadas pela manicure. Os pés recebiam uma massagem extremamente relaxante. Teria como ela reclamar? Não. De maneira alguma. Hannah estava sendo tratada da melhor maneira possível. E ela apenas agradecia por isso.

Podíamos prestar atenção mais detalhadamente em como o local era. Era ao ar livre. Tinha várias bancadas e vários espelhos onde os profissionais maquiavam e faziam o cabelo, como era o caso de Hannah. Era praticamente uma selva. Extremamente natural. Hannah sentia-se bem. Respirava bem. Podia ver o céu de onde ela estava. Bastava apenas inclinar o pescoço e assim poderia ter a tal visão que gostaria. Havia outras mulheres ali sendo atendidas também. Poucas eram grávidas. Podia até mesmo contar nos dedos. Algumas se aproximavam, puxavam assunto e perguntavam quando iria nascer. Eram simpáticas em sua grande maioria. Em uma cadeira vazia, Anastacia estava lendo uma revista. Com a cadeira inclinada para trás, estava sendo maquiada. Mas não se incomodava. Na realidade, aquilo sequer fazia parte do pacote que Hannah havia adquirido. Apenas estava tentando também agradar a sua avó. Ela merecia um dia de descanso e um dia em que se sentisse jovem. Faria bem a ela, também.

Os cabelos de Hannah pareciam ser um problema. Por ela estar grávida, evitavam o máximo que podiam em não utilizar produtos químicos. Poderia ser prejudicial. Tentavam vários estilos de cabelo. Até mesmo o velho coque acabou sendo cogitado, embora Hannah tenha sido clara que não o queria preso. Queria diferenciar. Ela apenas gostaria de se sentir bela. Não que ela não fosse. Mas ela gostaria de não ser uma noiva qualquer, e sim aquela, que no momento que entrasse na igreja e caminhasse até a Thomas, seria aplaudida por todos. Imaginava algo do gênero. Era arrogante? Talvez. Mas era um desejo dela. Ninguém poderia culpa-la.

Enquanto ainda pensavam em um modo de cuidar dos cabelos dela, pediram para que Hannah encostasse a cabeça no encosto. Inclinaram a cadeira da mesma maneira que Anastacia estava. Agora era o momento de colocar a prova da maquiagem. Estava sendo extremamente paparicada. E gostava daquilo. Sentia-se bem com tanto bons tratos. Ela logo fechara os olhos. Era o momento em que fariam o desenho do delineador, então, ela precisava ficar daquele jeito. Somente facilitava. Por ser mulher, já estava acostumada. Então deixava somente as profissionais realizarem o seu serviço.

Com os olhos fechados, pôde ficar pensativa. Hannah não acreditava no que estava acontecendo ali naquele momento. Não acreditava que iria casar. Não acreditava que estava tendo um dia somente para ela. E quem diria? Afinal... A sua vida não era da mesma classe média de Thomas. Longe disso. Muito pelo contrário. Hannah sempre viveu da maneira que acreditava ser correta. O suficiente para poder comer. Para ter um teto para viver. Para sustentar a si mesma e levantar no outro dia e conseguir respirar. Era o básico. O básico para todo e qualquer ser humano. E somente de pensar naquilo... Era como se lhe trouxessem memórias de volta. Memórias de uma vida a qual ela era habituada. Mas que pouco a pouco, desacostumou-se. E ao contrário do que a grande maioria fez, não se deixou levar. Não mudou a sua personalidade. Não mudou o seu jeito de ser. Muito pelo contrário... Apenas melhorou.

Flashback
Hannah estava no ápice de sua juventude. Loira ainda. Parecia ser há uns 4 anos. Estávamos numa padaria. Era de tarde. Não deveria ser nem mais e nem menos do que três e pouco da tarde. Arás do balcão, trabalhava como atendente. Víamos os diversos pães e bolos sendo a mostra por ali. Alguns eram realmente lindos e parciam deliciosos. Chocolate. Morango. Até de cenoura. Não era nenhuma padaria extremamente luxuosa, mas dava para o gasto. Hannah vestia seu uniforme. Uma camiseta branca por debaixo de um avental verde que tinha o logotipo da padaria com um boné da mesma coloração. Hot Coffee, era o nome. Não era um estabelecimento da família aquele lugar, Hannah era somente uma contratada qualquer. Ela parecia sempre estar atenta ao relógio que batia na parede. Lá em cima. Tão desatenta, que até mesmo trocava os pedidos dos clientes. Alguns reclamavam, outros eram mais simpáticos. Era somente mais um dia cotidiano em sua vida que parecia ser bastante corrida.

Ela olhava o relógio. A fila ia e vinha. Ela atendia. Até mordia o lábio inferior. Hannah era realmente jovem. Podíamos dizer que o tempo realmente lhe fez bem. As espinhas sumiram. Os seus olhos ganharam mais atenção. A pele ficara mais bonita. Hannah ficara mais bonita. Então, quando o relógio parecia ter parado em três e dez da tarde, ela praticamente surtara. Sorria de orelha a orelha. Como se aquele horário significasse algo. Ela, então, fora até um dos rapazes que a acompanhava no atendimento. Era um homem másculo, musculoso e negro. Sorriso branco. Simpático com as atendentes. Algumas até mesmo suspiravam. Ele era um homem realmente muito atraente e bonito. Hannah então com cara de pidona, enquanto ele parecia pesar alguma coisa na máquina para entregar à cliente, disse a ele:
Hannah – Bruno, me cobre, por favor?
Bruno – De novo, Hannah? – ele rolou os olhos.
Hannah – Vai! Não seja malvado! – ela fez bico.
Bruno – Você está pedindo isso até a hora que você for mandada embora. – ele advertiu.
Hannah – Enquanto você me convence de algo que eu não farei... O tempo passa. Os clientes reclamam. E a padaria poderia estar lucrando. – ela sorriu amarelo e Bruno rolou os olhos. – Por favor... – insistira. – Por favorzinho. – fez até voz infantil fazendo com que ele risse.
Bruno – O que você irá fazer? – ele entregara um pacote de pães para uma moça, conversando com Hannah enquanto isso.
Hannah – Como assim? – ela pareceu surpresa. – Simplesmente comprar ingressos por maior show da década, dã. – Bruno riu.
Bruno – É mesmo? E você tem um bom gosto musical assim?
Hannah – Você sabe que isso é relativo... – ela sorriu e Bruno pareceu concordar. – E então? – ela sorriu novamente. – Por favor? – Bruno riu.
Bruno – Está bem. Vai. – ele aceitou e Hannah comemorara, o abraçando e dando um beijo em sua bochecha. – Mas só vinte minutos, hein? – Hannah fizera um sinal de “joia” para ele.

Tirara o seu boné e desamarrara o avental, dobrando-o de qualquer jeito e tratara logo de sair daquele balcão. Os clientes até mesmo riam e comentavam entre si. Era algo engraçado. Hannah realmente estava empolgada quanto ao tal dos ingressos que iria adquirir para o show. Era natural. Ela era praticamente uma mini adolescente.  No momento em que ia sair para provavelmente ir até uma lan house para adquirir o que gostaria, acabou esbarrando em um homem. Ela acabara até mesmo desequilibrando, mas fora segurada pelo mesmo, impedindo com que ela caísse:
Hannah – Meu Deus! Me desculpe, senhor... – ela sequer olhava para os olhos dele. – Eu não vi por onde eu andava e... – e fora o momento em que conseguira fitá-lo pela primeira vez, e pudemos ver que se tratava de Thomas. – Quero dizer... Desculpe, rapaz. – ela se auto corrigiu e Thomas dera um sorriso amigável.
Thomas – A culpa foi minha. Eu que não estava olhando por onde andava... – Hannah riu.
Hannah – Não. A culpa foi totalmente minha... – ela gesticulava. – Eu saí igual uma louca. Nem vi por onde andava. – rolou os olhos. – Sou distraída. Não ligue para mim...
Thomas – Mas eu sou o brutamonte daqui... – brincara em relação ao seu tamanho e Hannah riu. – Você poderia ter se machucado se eu não tivesse a segurado...
Hannah – É. Você tem razão... – concordou. – Então por que não fazemos assim? A culpa fica dividida. Cinquenta por cento para cada! – sugeriu e Thomas sorriu.
Thomas – É uma boa ideia... – ele sorriu novamente, como sempre, galanteador, deixando Hannah intimidada, que desviou o olhar neste momento. – Mas então... Para onde você ia tão apressada? – perguntou ele, curioso.
Hannah – Nossa! É verdade! – ela rangiu os dentes. – Droga... – ela murmurou ao ver o horário na parede. – Eu nunca conseguirei a tempo. Provavelmente já esgotou... – deu-se de derrotada.
Thomas – Esgotou o quê?
Hannah – O show. Juntei a minha economia toda para comprar e agora vou ter que gastar em sorvete. – murmurou ela, chateada.
Thomas – Qual show?
Hannah – Red Hot Chilli Peppers. – Thomas sorriu.
Thomas – Eu vou ao show deles! – disse empolgado.
Hannah – É mesmo?! – ela retribuiu na mesma empolgação. – Eles são demais, não são? – Thomas assentiu, concordando. – Eles arrasam... – concluiu.
Thomas – As músicas deles são ótimas. – ele foi sucinto.
Hannah – Bem... Pelo menos alguém vai se divertir. Já eu tenho que voltar ao trabalho novamente... – ela suspirou. – Novamente, desculpe-me pelo esbarrão. – ela sorriu, virando-se para voltar ao balcão ainda com o avental e o boné em mãos.
Thomas – Espere... – Hannah virou-se para ele novamente. – Eu conheço um amigo. Que vende ingressos. Talvez ele possa arranjar algum para você... – Hannah sorriu.
Hannah – Sério? – Thomas assentiu.
Thomas – Pela metade do preço. – Hannah sorriu. – E ainda dá para gastar o resto em sorvete enquanto assiste Friends no sofá de casa.
Hannah – Ah não. Friends é superestimada. – ela rolou os olhos. – Prefiro The O.C. – sorriu ela, por fim.
Thomas – Finalmente alguém que me entende! – exclamou e Hannah sorriu.
Bruno – Hannah! – gritara ele mais do fundo. – Serviço acumulado aqui, por favor...
Hannah – Bem... Você ouviu. – ela sorriu novamente. – Tenho que ir.
Thomas – Claro, claro... – ele, então, pegara um pedaço de papel e anotara com uma caneta um número de celular ali. – O número do amigo que eu disse. Fala que eu que estou pedindo o favor. – Hannah sorrira ao pegar o papel em mãos.
Hannah – Obrigada... – ela guardara o papel nos bolsos. – Então, eu acho, que nos vemos no show... – ela começara a andar para trás, recuando, ainda sorrindo, até voltando a esbarrar no balcão, totalmente atrapalhada pelo jeito de Thomas que rira após o acontecido.
Thomas – É. Nós nos vemos no show... – ele concordara com Hannah.

Primeiro encontro com o seu futuro marido? Hannah não fazia ideia. Mas havia algo que tinha chamado atenção nele. Ela apenas não sabia o que era. Charme? Beleza? Sorriso. Um esbarrão por acidente que havia culminado em um relacionamento sério com direito a um bebê esperado por ela. Thomas ficara ali. Por mais alguns segundos. Fitando-a voltar para o serviço. E logo fora embora. Sem sequer ter pedido absolutamente nada. Havia ele esquecido e se encantado por ela também? Na realidade... Pareceu apenas suspeito. Hannah apenas não havia notado. Mas ainda havia algo além do que um mero esbarrão. Restava apenas aguardar e ver o restante da história, pois ainda tinha muito que acontecer. Um flashback. Um flashback sobre um pouco da vida de Hannah antes de encontrar Thomas. Para entendê-la um pouco. Para analisa-la um pouco. Para entendermos o mundo do qual ela havia saído. Que tampouco era parecido com este que vivia neste momento. Hannah havia mudado. Mudado muito. Mas não deixara se levar por isso. E era a melhor parte.
End Of Flashback

Hannah quase havia caído no cochilo. Chamavam pelo seu nome, mas não notava. Se não fosse a própria voz de sua avó chamando a sua atenção, sequer teria percebido. Assustada, acordou-se. E então se fitara no espelho. Viu o delineador. Feito sem borrar. Feito sem ter errado absolutamente nada. E era somente o começo de sua maquiagem, mas já estava soltando um grande sorrisão desde já. Elogiara. Pois realmente havia ficado muito bonito. E fora o momento então em que Anastacia dissera:
Anastacia – Bem... Eu já vou indo... – ela se levantara de onde estava sentada anteriormente, e Hannah enfim fitara a sua avó, vendo a sua produção totalmente completa.
Hannah – Nossa vó! – ela sorriu. – Está linda! Quase uma modelo, hein?
Anastacia – Claro, querida. Eu me cuidei. Sou linda desde sempre. – gabou-se fazendo com que todas ao redor ali dessem risada dela, embora para ela, parecesse somente um comentário aleatório.
Hannah – Você já vai embora mesmo? – Anastacia se aproximara dela e lhe dera um beijo no rosto, e Hannah fizera o mesmo com ela.
Anastacia – Já sim. Ainda tenho que fazer compras. – Hannah riu. – O quê? – ela rolou os olhos. – Está me chamando de gorda? – dera um tapa nela.
Hannah – Vó! – ela reclamou rindo.
Anastacia – Você que começou!
Hannah – Claro, claro... – ela rolou os olhos. – Mas está bem. Vá com Deus. – ela sorriu.
Anastacia – Você também. Fique com Deus. – ela dera agora um beijo na testa de Hannah. – E é bom elas cuidarem bem de você, hein? Se não irão se ver comigo! – Hannah riu.
Hannah – Elas vão, vó. Não se preocupe... – sorriu. – Obrigada pela companhia hoje. Vejo você de noite... – Anastacia afastou-se então.
Anastacia – Vejo você também de noite. – acenara por fim.

Hannah observara a ir embora. Logo já não era mais possível vê-la ali. Ela sorriu. Avós... Sempre tão doces e ao mesmo tempo amargas. Voltou a se acomodar em sua cadeira. Fechou os olhos. E voltara a sentir relaxada com todo aquele tratamento especial. As unhas. A massagem. A maquiagem. Ela realmente não tinha o que reclamar. Tudo o que ela podia fazer era somente aproveitar. Lembrar-se dos bons tempos em que apenas namorava Thomas. Dos bons tempos com sua família, com a família dele, pois faltavam agora poucas horas. Poucas horas para ser uma mulher casada. E aquilo realmente a empolgava. Empolgava muito.


Virginia, EUA (Richmond Town) – Main Highway President Noboa
05:06 PM
Eram cinco da tarde. O céu já se encontrava sem nuvens. Provavelmente porque aguardava o momento em que o Sol iria se por. A câmera via ainda aquela fila de trânsito. Pudemos notar na bifurcação, três ônibus escolhendo o caminho livre. Era o mesmo que estava levando Danielle e Marcella para o acampamento. Apenas uma curiosidade. Nada mais e nada menos do que isso.

Logo, então, a câmera aproximou-se. Kate acompanhava o trabalho árduo dos bombeiros. Com a motosserra, serrando totalmente o aço resistente. O barulho era insuportável. Saía várias faíscas devido ao atrito que fazia. Mas Kate continuava ali. Até mesmo como um apoio moral de Jackson, que mesmo agora não sentindo mais dor, permanecia acordado. Até mesmo orando para Deus. Talvez ele fosse o responsável para tirá-lo dali. Tinha fé nisso, pelo menos. O homem que estava sendo atendido logo se aproximara de Kate. Mancava. Era natural. O impacto parecia ter sido grande. Era um homem da mesma faixa etária de Jackson. Ficara ao lado de Kate. Observando o trabalho dos bombeiros. Também desejava para apenas com que o melhor acontecesse. Tinha fé nisso. O restante dos policiais continuava também o seu trabalho de sinalizar os veículos parados no trânsito de darem a volta no caminho. Tampouco estava próximo de um término. Muito pelo contrário. O som da motosserra parava e continuava o tempo inteiro. Exigia força. E ao mesmo tempo em que exigia força, exigia paciência. E Kate sabia. Logo, ela, então comentara:
Kate – Jackson está sendo forte... Você não acha, Arthur? – o homem a fitara neste momento, parecendo surpreso de Kate estar falando com ele.
Arthur – É... Eu acho. – ele desviara o olhar, fitando agora o corpo mais adiante, ainda na mesma localização, não tendo sido retirado durante este tempo, somente mais afastado do centro da estrada, sendo levado mais para a borda.
Kate – Você sabia que ele não o culpa? – Arthur tornara a olhar para Kate, que cruzara os braços então. – Eu aconselho você a segui-lo neste quesito. – ela dizia, sem olhar diretamente para Arthur. – Eu sei como é. – parecia pensativa, refletindo também sobre seus atos. – A sensação de que há sangue em suas mãos... – ela então fitara Arthur. – Você já imaginou se o nosso mundo fosse inteiramente uma guerra? – levantara a hipótese. – E se sangue em nossas mãos fosse o mínimo que devêssemos fazer para continuar a viver? – Kate tornara agora a fitar Jackson, enquanto os bombeiros realizavam seu serviço. – Bem... Eu já. – afirmara. – E apenas serviu de consolação para entender de que nada que eu fizera contra inocentes foi proposital. – afirmou. – Você apenas tem que entender isso...
Arthur – E o que acontecerá se ele não conseguir escapar disso? – Kate o fitara novamente.
Kate – Você ainda estará aqui, Arthur. E terá que continuar com a sua vida. – afirmou, dura até mesmo. – Não há como mudar certas coisas... – disse. – Você vai apenas ter que aceitar que o perdão dele fora o suficiente e perdoar a si mesmo.
Arthur – Você acha que eu deveria ir até lá? – parecia hesitar em se aproximar dele.
Kate – Acho. – concordou, dando um sorriso de canto. – Fará bem. Para você. Para ele. Um pouco de apoio a mais é sempre bom. – Arthur assentira.

Kate o observara se aproximar. Os bombeiros logo se afastaram para dar uma pausa. Era o momento em que poderiam conversar. Arthur se sentou no asfalto e ficara ali. Era até mesmo emocionante. Arthur não estava bêbado. Arthur não passara do limite de velocidade. Arthur sequer deveria responder por isso criminalmente. Mas às vezes, a humanidade fala mais alto. Ele tirara a vida de alguém. E mesmo que acidentalmente, era algo que carregaria para sempre em sua vida. Uma emoção de que aquela pessoa a qual ele havia machucado não poderia viver novamente a sua vida. Não poderia concluir os seus sonhos. Ter uma família. Ter um marido. Ter filhos. E aquilo o machucara. E não era fácil para absolutamente ninguém. Kate entendia isso. Talvez até mesmo porque havia passado por aquela situação. Aquela situação de se sentir responsável por algo que não havia feito. E podíamos voltar então a quando ela se abalara com o fato de Jackson estar ferido. E gritando de dor. Ela desviara o olhar. Aquilo voltara novamente à sua cabeça. Como uma memória que mostrava mais um pouco de sua vida. Como uma memória que mostrava pouco a pouco o que acontecera em sua vida.

Flashback
O flashback se passava há muitos anos. Kate ainda era uma criança. Aparentemente de onze anos. Com os cabelos crespos feitos em pequenas chuquinhas. Era até mesmo moda naquela época um penteado desse estilo. Kate estava com um bebê em seu colo. Também negra. Deveria ter um ano. Era uma menina. Distraída com uma mamadeira em mãos. Parecia coloca-la na boca e mordê-la o tempo inteiro. Talvez até mesmo um hábito de criança. Nada a discutir. Bebês costumavam a colocar coisas em sua boca o tempo inteiro. Kate parecia distraída com ela no colo. Brincava. Tentava a fazer dar risada. Parecia muito apegada a ela. Muito apegada mesmo. Talvez fosse até algum parente. Até mesmo uma irmã.

O ambiente era de papelaria. Víamos os materiais escolares bem dispostos em algumas prateleiras. Não era algo expansivo. Somente para dar o dinheiro básico e fazer com que a família vivesse bem em suas próprias necessidades. As paredes eram velhas. Precisavam de pintura. Víamos mofo em alguns locais também. Kate e o bebê estavam como se fosse nos “fundos” da papelaria. Kate pareceu, por algum motivo até mesmo aleatório, ter vontade de ir até lá à frente. Seria algum sentido? Alguma premonição talvez. Colocara a criança sentada onde estava. Não era uma cadeira muito alta. Pudemos ouvir Kate chama-la pelo nome. “Fique aqui, Clementine”. E logo saíra dali.

Dera alguns passos. Conforme andava, era como se estivesse um ruído de uma conversa acontecendo. Kate franzira o cenho. Resolvera ficar por trás de uma parede a fim de tentar escurar. Mas era como se fossem sussurros. Não eram muito fáceis de serem identificáveis. Porém, ela notara que tinha algumas vozes. Na maioria, de homens. Mas também havia uma voz feminina. Era a de sua mãe. Era como se estivessem a ameaçando. E no momento em que tentara espiar por cima do ombro, vira o disparo sendo feito contra ela. Arregalara os olhos. Aquilo havia a assustada. Os homens que até mesmo eram bem vestidos para serem meros ladrões, apenas fugiram. Kate vira ali uma oportunidade para ir até a sua mãe. Correra. Logo a alcançara. “Mãe! Mãe!” gritava Kate totalmente desesperada com os olhos já marejados. Estava caída atrás da bancada. Era de noite. E não tinha muitas pessoas na rua para ajuda-la. Tentara até gritar, mas a sua mãe que agonizava no chão, pegara firme em suas mãos. Era uma mulher negra. Lindíssima. O seu nome era Yvonne. Yvonne Smith. E era como se ela quisesse dizer algo a sua filha, que tentava se atentar às palavras da mãe:
Kate – Ma-Mamãe... – ela chorava bastante.
Yvonne – Me-Me escute, querida... – ela dizia com bastante segurança.
Kate – Eu preciso chamar por ajuda! – clamou.
Yvonne – Não, não... – ela negara. – Eu ficarei bem. – garantiu. – Você precisa fugir...
Kate – Como assim fugir? – ela franziu o cenho, até mesmo soluçando.
Yvonne – Pegue Clementine. Fuja com ela. E me promete que irá cuidar dela...
Kate – Mas, mãe... – tentou dizer algo.
Yvonne – Me prometa, Kate! – Kate a abraçara então, sujando suas mãos de sangue, e Yvonne tossira agora, fazendo com que aquilo parecesse ter uma semelhança com o fato de Jackson estar preso ainda na lataria daquele acidente.
Kate – E-Eu... Eu prometo. Claro que eu prometo! – exclamou e Yvonne sorrira.
Yvonne – São homens maus, Kate... – afirmou. – E eu tenho medo de que eles voltem e possam fazer algo com vocês... Não são ladrões. Eles não terão dó de você somente porque é uma criança...
Kate – Posso ajuda-la? – perguntou, sussurrando, com um semblante de tristeza em sua expressão.
Yvonne – Ninguém pode me ajudar, Kate... – afirmou com um sorriso em seu rosto. – Não mais. – continuara. – Agora vá...
Kate – Mãe...
Yvonne – Vá, Kate! – ordenou tentando falar alto, forçando a si mesma, embora sofresse de dor. – Vá e não olhe para trás...

Kate recuara. Olhara para suas mãos. O vermelho escorrendo. Ela olhara para a sua mãe que sussurrara mias uma vez. Passos começaram a ser ouvidos. Eram como se os homens estivessem retornando. Kate recuara. Aquilo doía. E doía muito. A camera a acompanhou. Ela retornando para o fundo da papelaria. O tom de conversa aumentando. Kate pegando Clementine novamente no colo e apressando-se logo para sair dali. Outro tiro fora ouvido novamente. E outro tiro. E as lágrimas de Kate jamais pararam de cair. Sentiu-se inútil. Sentiu-se inútil porque naquele momento ela não tinha como ajudar a sua mãe. E aquilo a machucava. Machucava porque somente trazia péssimas memórias. E talvez este fosse o motivo para se sentir tão abalada com Jackson. Porque não havia nada com que ela pudesse fazer com as próprias mãos. Talvez Kate apenas quisesse fazer a diferença. E era complicado. Mas a pergunta que ainda permanecia no ar: quem eram aqueles homens? E porque atiraram nela? E como Kate havia conseguido fugir? Bem... Este era apenas o início de sua história. Algo que ainda possuía muita profundidade.
End Of Flashback

Kate continuava ali. Distraída. Olhando para Arthur e Jackson conversando. Mas não como se estivesse prestando atenção, e sim como se estivesse viajando. Distraiu-se quando o seu celular tocou. Ela suspirou. Aquele era um assunto que realmente a abalava. Mas por enquanto, resolvera deixar para lá. Pegara o seu celular nos bolsos de trás e visualizara a ligação. Era um nome. Trina Smith. O mesmo sobrenome que ela, inclusive. Ela sorrira imediatamente. Afastara-se daquele barulho para então ter um momento mais privativo com tal mulher. Víamos o céu se escurecendo. Víamos carros passando de fundo. Víamos policiais sinalizando. E bombeiros logo voltando ao serviço. Kate, então, enfim atendera a ligação. Com um belo sorriso, inclusive. A conversa delas era intermediada por vários frames. Quando Kate se comunicava, a imagem a ser mostrada era a dela. E quando Trina se comunicava, a imagem a ser mostrada também era dela. Trina era uma mulher negra e mais experiente. Com o cabelo curto. Batom vermelho. Um olhar dócil, mas ao mesmo tempo, uma mulher com várias cicatrizes em seu corpo. E talvez este fosse o motivo pelo qual elas até mesmo poderiam se identificar tanto:
Kate – Trina! – ela exclamara, empolgada. – Resolveu dar sinal de vida, não é mesmo? – ela brincou.
Trina – Eu estava em meu trabalho, Kate. Sabe como isso é importante. – frisou, e afastou-se do celular logo em seguida quando uma mulher se aproximara dela. – Deixe em cima da mesa. Obrigada. – a mulher colocara a papelada em cima da mesa dela, e pudemos observar que Trina era uma mulher importante, já que possuía sua própria mesa e o seu próprio escritório.
Kate – Prendendo quem dessa vez? – perguntou, o que indicava que a profissão de Trina também era a de uma policial.
Trina – Ah, você sabe... – ela sorriu. – Prisioneiros aqui, prisioneiros acolá...
Kate – Vamos lá, Trina. Você pode parecer uma policial regional, mas nós sabemos que você costuma pegar caras grandes. – Trina riu neste momento.
Trina – Chefe argentino de uma máfia de drogas. – Kate surpreendeu-se então.
Kate – Uau! – ambas riram e a cena trocara para Kate novamente. – E eu aqui num acidente de trânsito na rodovia.
Trina – Ah, os piores... – murmurou, mexendo em algumas papeladas ao mesmo tempo em que conversava com Kate. – Lembro-me desta época. Você fica aí parada. Sem muito que fazer. Para no final não dar em absolutamente nada. É um pouco entediante. – foi sincera, e o frame trocara novamente, enquanto Kate rira.
Kate – Na realidade... Eu fico com dó. Tem um rapaz preso nas latarias aqui. E parece que ainda vai durar a noite inteira. – ela se virou para trás e observou o trabalho dos bombeiros.
Trina – Alguma fatalidade?
Kate – Uma.
Trina – Hum... – ficou pensativa. – Você tem sorte. Já peguei acidentes que envolvia sete caminhões, quatro carros e duas motos. – Kate riu agora.
Kate – Sério? – ela franziu o cenho. – Deus! – ela rira até. – Deve ter sido trabalhoso...
Trina – Ah é querida. Espere até você ter que preencher os formulários disso. – brincara sarcástica e Kate rira novamente. – Você merece mais. Tem talento para mais.
Kate – É verdade. – foi até mesmo convencida. – Eu aprendi com a melhor, não é mesmo? – Trina sorrira neste momento. – Sinto sua falta... – afirmou.
Trina – Eu também, querida. Eu também. – Kate também sorrira. – O fim de ano está se aproximando. O Natal está se aproximando. Não quer vir até aqui? – Kate sorrira.
Kate – Não parece uma má ideia. – afirmou. – Considerarei a proposta.
Trina – Está bem. – ela sorrira. – Bem... Eu tenho que ir. Como eu disse... Há formulários me esperando. – Kate rira.
Kate – Está bem. – ela acatara. – Boa sorte com os papéis.
Trina – Boa sorte para você e para o rapaz que está debaixo do carro...
Kate – Obrigada. Até mais.

Kate desligara o celular com um sorriso no rosto. Trina lhe parecia alguém importante. Ainda não fora esclarecida qual era a relação entre elas, mas de algo tínhamos certeza: não era a sua mãe. Kate suspirara. Realmente ela tinha muito trabalho ali. Era algo até mesmo chato e cansativo. Esperar por boas notícias. Mas também não era como se ela pudesse agilizar o processo. Logo voltara a ficar ao lado de Arthur. Com a esperança de que teriam boas notícias. Arthur mesmo havia dito que não sairia dali até que Jackson fosse liberado. Demoraria? Demoraria. Mas era algo a se considerar. A câmera começara a se aproximar de outra região então. Do corpo. Protegido por aquela capa preta de proteção. Por um momento, poderíamos ter visto que o corpo estava se mexendo. Ilusão? Ninguém sabia ao certo. Era realidade? Tampouco. Parecia ser uma mentira até mesmo. Até mesmo porque aquilo não voltara a se repetir. Era estranho. Muito estranho...


Virginia, EUA (Richmond Town) – Inside The Bus / Camp, Various Scenes
05:27 PM
Podíamos ouvir o som da roda do ônibus passando em cima de pedras. Parecia agora uma estrada barrosa. Já fazia alguns minutos desde que haviam passado por aquele acidente em que pudemos acompanhar Kate Smith. A câmera focava em uma imagem panorâmica do ônibus. A maioria estava adormecida. Alguns até mesmo conversavam. Outros mexiam em seus celulares. Esta a imagem que podíamos ver. O acampamento parecia ser bem nas redondezas de Richmond Town. Praticamente já fora da cidade. Havia demorado horas para chegar até lá. Seria válido que então valesse a pena e que eles pudessem realmente se divertir.

A imagem focara em Dani. Adormecida. Demorara alguns segundos até que acordasse. Marcella também estava dormindo. Ela tinha um sono pesado. Alguns até podiam se identificar. Dani abriu os olhos lentamente. E então pôde parar para observar a paisagem. Realmente era uma estrada barrosa. Ao redor, várias e várias árvores. Estavam praticamente dentro de uma floresta. Dani sorrira empolgada. Até mesmo chegara a cutucar Marcella para que esta acordasse. Estava cercada pelo pacote da Pringles e uma lata de refrigerante em seu colo, além de ouvir música. Vimos o estado dela. Totalmente apagada. Resmungou e virara para o lado. Dani deu de ombros. Ela realmente queria observar. E ficara ali. Observando pela janela. Até que o ônibus foi parando. Pouco a pouco. Até que então parecia ter concluído. Dani olhou tudo pela janela. Era uma casa totalmente feita de madeira. Um sobrado, poderíamos dizer assim. Grande. Alto. E poderia até mesmo brincar e dizer que poderia ser mal-assombrado. Quem nunca, não é mesmo? Pouco a pouco quem estava no mesmo ônibus que ela começava a acordar. Cochichavam entre si. Se espreguiçavam. Já até mesmo levantavam. Dani cutucara Marcella novamente, mas não adiantara de nada. Queria mostrar a ela. Tentou mais uma vez. E mais uma vez. Até que percebera que a única solução era provoca-la, dizendo:
Danielle – Marcella! Siobhan está aqui e vai roubar o seu Game Boy! – Marcella acordara assustada então.
Marcella – Maldição! Cadê essa vadia?! – exclamou, totalmente alerta, fazendo com que Danielle risse.
Danielle – Relaxa. Foi só um sonho... – Marcella também passara a observar pela janela.
Marcella – Nós já chegamos? – parecia surpresa.
Danielle – Aham... – confirmou.
Marcella – Cara! Foi rápido, hein? – ela riu, tirando a lata de refrigerante de cima dela e guardando em um lugar específico na poltrona a sua frente, junto com a embalagem do salgadinho.
Danielle – Claro. Não deu quinze minutos de viagem e você praticamente morreu... – ela rolou os olhos e Marcella sorriu.
Marcella – Viagens me dão sono. – algumas pessoas passavam por ela para sair do ônibus.
Danielle – Eu percebi... – ela dera uma leve risada. – E então... Vamos? – Marcella assentira.

Marcella esperara com que as pessoas lhe dessem espaço para que pudesse levantar. Não demorou muito. Levantara-se e aguardara com que Dani fizesse o mesmo. Afinal, Marcella esteve sentada na poltrona que ficava no corredor. A fila começava a andar. A ansiedade a aumentar. Normal. Eram todos adolescentes ali apenas querendo curtir um fim de semana agradável. Nada mais e nada menos do que a normalidade deles.

...

Alguns minutos passaram. O motorista ajudava os alunos a pegarem suas malas. Danielle e Marcella estavam na fila. Não demorara muito para que chegasse sua vez. Dani agradecera em pegar a delas. Da mesma maneira da última vez. Carregava cada uma com uma mão. Marcella já teve mais dificuldade. Eram muitas malas. Porém, para não atrapalhar o fluxo, apenas deixava uma de lado. Dani achava aquilo engraçado. Até rira. Marcella em si era uma pessoa divertida. Embora muitas de suas ações não fossem propositais. Ela era apenas daquele jeito.

Dani então passara a olhar ao seu redor. Eram árvores altas. Verdes. O chão era coberto por uma camada de terra. Mas não lama. Não manchava o sapato. Havia algumas folhas caídas também. Pôde observar um grande acúmulo de alunos por ali. Até mesmo o diretor. Era um homem de prováveis sessenta anos de idade. Tinha o cabelo um pouco grisalho e grande. Seu nome era Ignacio Flames. Provavelmente tenha vindo para impedir com que algo errado pudesse acontecer. Apenas protocolos. Algumas turmas até mesmo já montavam suas barracas. Era uma espécie de acampamento. O sobrado de madeira era passível de ser utilizada. Porém, não para dormir. Apenas para fazer as necessidades, cozinhar e até mesmo passar o tempo por ali. Nada mais do que o necessário. A diversão era no caso de dormir. Teriam que dormir em cima do chão. Embora a maioria tivesse trago consigo colchões infláveis. Ninguém queria dormir sobre o chão frio. Era natural.

Dani olhara para o alto. As folhas tampavam o céu. Mas era possível de que já estava se escurecendo já que era quase seis da tarde. Ela vira uma casa em cima da árvore. Sorrira. Aquilo era legal. Marcella trazia suas malas ainda. Até o momento em que pararam debaixo de uma árvore. Para fazer sombra. Dani a ajudara. Marcella deitara suas malas e começara as abrir. Era como se estivesse procurando por algo. Sussurrava algumas coisas. Estava com o fone no ouvido. Provavelmente estava falando com alguém. Dani até mesmo chegara a olhar para o seu celular. Estranhara, pois não tinha sinal algum. Talvez Marcella apenas estivesse dando sorte. Uma hora ou outra isso iria acontecer com ela também.

Fora o momento em que Dani pôs seus olhos em mais alguém. Clara. A garota que havia a cumprimentado no ônibus. Não se falaram nada. Clara sequer a percebera. Dani que a fitava. Por alguns segundos. Até que se distraíra com o som de risadas. Quando ela fitara, era o mesmo grupo de garotos empurrando, rindo e fazendo piadas com aquele mesmo menino. Carl. Ela bufara. Aquilo realmente a irritou. Não conseguiu se segurar quando vira que um deles empurrara Carl tão forte que ele cambaleou para trás e acabou caindo de bunda. O impacto havia sido forte. Alguns ao redor riram mais ainda. Ele, obviamente, havia ficado com vergonha. Marcella observou que Dani havia saído dali. E fora o momento em que a câmera captou Danielle se aproximando deles, esticando a mão para Carl se levantar. Ele a fitara. Hesitou. Chegara até a olhar para um deles como se estivesse pedindo permissão. Dava até mesmo dó de alguém se submeter assim. Dani insistira. E então, até mesmo falara, no intuito de convencê-lo a aceitar a sua ajuda:
Danielle – Segura a minha mão... – pediu sorridente e assim ele fizera, e Dani o ajudara a se levantar.
??? – Qual é, Gillings. Achei que a sua popularidade te impedisse de ajudar os rejeitados. – disse um dos garotos, arrancando a risada entre eles.
Danielle – Acho que já está na hora de você crescer, não concorda, Jonathan? – sorrira ela agora. – Não somente ele. Todos vocês. – parecia estar dando uma bronca neles. – Qual é, pessoal! – ela gesticulava. – Nós somos quase adultos. Que tal nos portarmos como tais? – todos se silenciaram então. – Estamos aqui para nos divertir, não para ferir os outros. – concluiu, e aquele grupo logo saíra dali, cochichando entre si, e Dani, sentindo-se vitoriosa, olhara sorridente para Carl. – Está tudo bem com você? – sorriu, mas ele nada respondera, apenas continuava acanhado. – Eu acho que nós nos apresentamos, mas eu sou...
Carl – Danielle. – Dani sorrira. – Danielle Gillings. Eu conheço você. – respondera ele, e Dani apenas assentira.
Danielle – Sim, isso mesmo... – ela ia continuar a falar algo, mas fora interrompida por ele.
Carl – Eu sei que aqueles caras são babacas. Mas eu não preciso que você me defenda. – ele afirmou e Dani agora retirara o sorriso estampado do rosto. – Não mesmo...

Ele afastara-se. E logo saíra dali. Infiltrando-se na floresta. Ela ficara até mesmo sem reação. Olhara para trás e vera Marcella somente observando. Balançara a cabeça negativamente. Dani gesticulou para ela como se não entendesse nada. Não estavam uma próxima da outra para que pudessem conversar. Marcella então gesticulara para ela de volta. Com uma sinalização de que era para que Dani fosse atrás dele. Dani sorrira. Era uma ótima ideia, aparentemente.

Dani então assim fizera. Seguira o mesmo caminho de Carl sob os olhos de Marcella, que voltava a arrumar suas malas e até mesmo a pegar a barraca. Iria montar enquanto isso. A câmera focara em Dani. Andava por meio daquela floresta. Não era perigosa. Via até mesmo pássaros voando de ninho a ninho. Sorria. Gostava da natureza. Seguia a trilha de barro. Não demorou muito para que pudesse sentir um cheiro. Um cheiro até mesmo agradável. Água. E quando percebera, já tinha mais a sua frente, um grande lago. Ela sorrira. Realmente aquilo era divertido. Logo notara uma gritaria e uma correria passando por ela. Teve até que desviar. Eram dois garotos sem camisa. Ouvira até mesmo o “tchibum!” que fizeram quando saltaram no lago. Riu. Parecia divertido. Teria que checar ali mais tarde.

Resolvera a andar. Tranquilamente. Passara por alguns galhos, jogando-os para o lado para não se machucar. Quando enfim saíra da floresta, tivera a vista perfeita do lago. Era extenso. Ela sorrira. Era realmente uma vista muito bonita. Seus olhos logo fitaram Carl. Sentado numa ponte, molhando os seus pés. Tinha mais pessoas ali dentro do lago. Mas ninguém conversava com ele ou se importava em ir até a ele. Apenas divertiam-se. Dani aproximou-se. Deu alguns passos até chegar à ponte que soltava alguns ruídos assim que caminhava nelas. Carl havia notado. Chegara até mesmo a olhar para trás. Mas não dissera mais nada. Dani logo se sentou perto dele. E sorridente como sempre, apenas comentara:
Danielle – É lindo... Você não acha?
Carl – É... – ele dera um sorriso de canto. – Muito bonito. – concordou.
Danielle – Você vai entrar também? – referia-se à agua.
Carl – Eu não sei nadar...
Danielle – Ah isso não é problema! – ela sorriu. – Eu te ajudo... – Carl a fitara.
Carl – Sério?
Danielle – Claro! – ela afirmou e Carl sorrira agora, mas logo, ele voltou a desviar o olhar, parecendo incomodado. – Aconteceu algo?
Carl – Eu... Eu só não estou acostumado a tanta gentileza. – respondera e Dani pareceu se chatear ao ouvir aquilo.
Danielle – Bem... Se te serve de consolação, eu também não era acostumada. – Carl voltara a olhar para ela.
Carl – Por quê? – ele franziu o cenho.
Danielle – Eu... – ela suspirou. – Eu sou gay. – Carl pareceu surpreso agora e Dani até mesmo rira.
Carl – Sério?! – ele olhara para todos os lados, para se certificar de que ninguém estava os ouvindo, enquanto Dani apenas sorrira confirmando.
Danielle – Sério...
Carl – E mais alguém sabe?
Danielle – Bem... Tirando minha melhor amiga e você... – referiu-se à Marcella. – Não. – Carl arregalou os olhos agora, sentindo-se mais entrosado pela conversa.
Carl – Nossa! – ele estava ainda surpreso. – Estou... Surpreso. E agradecido. Por saber disso... – Dani sorrira para ele. – E a sua família?
Danielle – Eles não sabem.
Carl – Por quê? – ele então desviou o olhar. – Desculpe... Estou sendo intrometido demais...
Danielle – Não se preocupe! – ela o tranquilizou. – É bom às vezes ter alguém para conversar sobre isso... – Carl voltara a olhar para ela, se sentindo melhor. – Mas respondendo à sua questão... – ela suspirou. – Eu não sei muito que dizer sobre isso. Eles apenas não sabem.
Carl – Eles são preconceituosos?
Danielle – Não! – negara rindo. – Eu acho que não, pelo menos... – ela sorriu. – O meu irmão. Ele deve saber. Eu o contei do meu primeiro beijo e compartilhei sobre o quão nojento tinha sido. – ela se lembrou. – Foi com um menino. – Carl somente a fitava. – Ele deve desconfiar... Mas nós nunca conversamos sobre isso. – Carl somente a escutava. – E ele não deve se importar também. E não deveria. O que eu faço a respeito da minha sexualidade só cabe a mim. – Carl sorrira, como se concordasse.
Carl – A sociedade deveria ser mais assim, também... – ele desviou o olha, fitando o horizonte e o lago ainda.
Danielle – Você também é... Não é? – Carl nada respondera, parecendo ficar tímido. – É por isso que aqueles garotos estavam te maltratando?
Carl – É um dos motivos...
Danielle – Entendo. – ela também voltara a fitar o lago. – Como eu disse... Eu também não era acostumada com a gentileza. Eu apenas me bloqueei destes comentários negativos. Desses olhares negativos. E eles logo deixaram importarem algo para mim.
Carl – Não é como se eu quisesse ser amigo deles...
Danielle – Bem... – ela sorrira. – Você pode ser meu amigo, então. – Carl olhara para ela, rindo. – Deus, isso foi tão quarta série, né? – ambos riram.
Carl – É...
Danielle – O que eu quis dizer é que nós podemos ser amigos. – Carl sorrira agora. – Você vai gostar da Marcella. – ele franziu o cenho.
Carl – Ela sabe sobre você?
Danielle – Sabe sim. É a minha melhor amiga...
Carl – E como ela lida com isso?
Danielle – Do jeito Marcella de ser. – ela riu. – Você acredita que ela até quer juntar eu com as meninas? – Carl riu. – Pois é... – Dani assentiu, pensativa. – Marcella meio que vive em um mundo só dela. Demora, mas você, eventualmente, acaba se acostumando com ela. – Dani sorriu. – Ela é um amor de pessoa.
Carl – Entendi...
Danielle – Mas então... – ela suspirou. – Conte-me mais sobre você! – incentivou. – Eu gosto mais de saber sobre meus amigos... – ambos então sorriram.

O som da conversa começou a diminuir. Mais pessoas começaram a surgir. Meninas de biquíni. Meninos de shorts, outros de sunga. Saltavam no lago. Marcella também logo veio se juntar a eles. Sentou-se próximo a eles. Já estava tarde. Não queriam ter o risco de adoecerem, portanto, preferiram ficar ali em cima da ponte. Sentados. Apenas observando. A imagem se afastava. O por do Sol surgido. A belíssima imagem. Carl e Danielle haviam se identificado. Danielle provou também que tinha seus segredos. Não eram ruins. Muito pelo contrário. Mas ainda assim, a sua família não sabia. O que provava que toda aquela imagem de união era errônea. E que na realidade eles sequer pareciam conhecer um ao outro. O passeio do acampamento estava somente começando. Tinha muito ainda o que acontecer. Diversão. Conversas. Risadas. E mais ainda...

Virginia, EUA (Richmond Town) – Gillings’ Home Scenes
08:40 PM
Já estava de noite. O casamento se aproximava. E Lorraine encontrava-se na suíte de seu quarto principal. Arrumada. Pronta. Com os olhos brilhando. Com uma felicidade que exalava. Seu cabelo arrumado. Provavelmente ela mesma havia feito o penteado. Deixara o liso. Mas não escorrido. Ela havia feito algo que deixasse ainda mais natural. Era liso, portanto, não precisava ter que ir ao cabelereiro como mencionado anteriormente. Os brincos caríssimos. Era lindo. Tinha uma pérola na terminação. Terminava de o ajeitar na orelha delicadamente para não se machucar. Finalizara. Olhara para as suas mãos. As unhas pintadas de vermelho. A maquiagem em seu rosto delicada, sem ser nem um pouco extravagante. O rímel. O delineador. O blush. E até mesmo o batom avermelhado que combinava perfeitamente com a maçã de seu rosto.

Aproximou-se de seu closet. Fora de frente para aquele espelho e observou a si mesmo. Vimos o vestido. Era azul marinho. Mas não tão escuro, mas também não tão claro. Era um tom diferente. Único. Afinal, era a mãe do noivo e precisava também chamar atenção. Possuía manga comprida, mas que não pegava totalmente os seus braços. Possuía renda da parte do abdômen para cima. Os braços também possuíam. A parte debaixo era totalmente lisa. Até mesmo colocou a mão na cintura. Semicerrou o olho. Fez uma pose diferente para ter outro ângulo. Suspirou então. Parecia que era assim então que iria para o casamento. Estava linda sim. Ninguém poderia negar. Mas havia algo em seu semblante que parecia totalmente errado.

Ouvimos o som de seu salto alto. Era coberto pelo vestido, claramente. Mas estava ali. Ela voltou para o banheiro novamente. Abriu algumas gavetas, parecendo procurar por algo. Não demorou muito até que encontraste. Eram dois potes de comprimidos. Os mesmos que ela havia tomado de manhã pela faculdade. Ficara-os notando. Parecia incomodada. Odiava ter que se sentir submetida ou submissa a algo. Odiava se sentir dependente. Durante todo o tempo de sua vida, clamou por ser uma mulher livre. Uma mulher independente. Ao contrário do que aqueles comprimidos faziam a se sentir. A câmera focara neles. Pudemos ver. Eram sim remédios prescritos por médicos. Tinha uma faixa branca nelas. Depressão. Ansiedade. E tudo começava a se encaixar cada vez mais. Claramente. Lorraine era uma mulher depressiva. Ansiosa. E necessitava deles para manter o seu próprio controle. Segredos obscuros... Havia dito Bethany. E mais uma vez era somente a prova de que ela estava certa. Pegara dois comprimidos de cada. Não se importava com a quantidade. Não era o necessário, mas assim iria ser então. E os bebera. Sem água mesmo. Guardara-os de volta no mesmo lugar então.

Ainda ali próxima da pia, tinha o seu celular. Parecia aflita. Pegara-o e o fitara por alguns segundos. Havia feito uma promessa de que não iria se descontrolar. E tentava mantê-la, pelo menos. Desbloqueara-o e vimos nele uma fotografia de Tiffany. Provavelmente estava fazendo uma ligação para ela. Ficara com ele por alguns segundos na orelha. E chamava. E chamava. Mas ninguém atendia. Realizou uma segunda tentativa. Mas havia falhado novamente. Acalme-se, Lorraine... Está tudo bem. Tudo ficará bem. Dizia a si mesmo. Sexto sentido? Mau pressentimento? Bem, era superstição. Mas ela até mesmo chegava a acreditar. Desistira. Colocara-o de volta na bancada e voltara para o closet. Ainda tinha alguns detalhes a finalizar.

Parecia investigar algo agora em seus armários abertos. Procurava por algo. Logo achara sua caixa de joias. Parecia um baú de tesouros. Assim que o abrira, vimos a organização. Era uma caixa roxa, aveludada por dentro, com vários buracos onde eram enfiados os anéis. Alguns brincos pendurados também estavam ali. Ficara os encarando por alguns segundos, parecendo estar escolhendo algum específico para usar. Não demorara muito. Logo, retirara um anel. Tinha uma pedra lindíssima. Pequena, mas ainda assim, linda. Era uma safira. Colocara em seu dedo por fim. Ainda faltava outro detalhe. Guardou a caixa em seu respectivo lugar e dera um passo para o lado, pegando outra. Essa era aveludada por dentro e por fora, mas era menor. Era preta. A abrira em seguida e vimos um colar. Com várias pedras o enfeitando. Ela sorriu ao vê-lo. Parecia lhe lembrar de bons tempos. O pegara delicadamente e guardara a caixa também.

Voltara a se aproximar do espelho numa tentativa de coloca-lo sozinho. Apenas o segurou no pescoço para que pudesse observar se realmente iria combinar. Ficou ainda mais linda. Ela suspirou. A preocupação com Tiffany ainda parecia a atingir. Tentara colocar o colar sozinho, mas parecia complicado. Ficara ainda mais frustrada após algumas tentativas. Fora então, quando pelo reflexo, vira alguém se aproximando. Ela sorrira. Era Simon, que havia acabado de chegar. Já estava trocado e pronto. Não era o mesmo terno que havia ido para o serviço. Podíamos notar que era um diferente. A gravata. A camisa social por debaixo. E até mesmo um pano branco dentro do bolso do paletó. Ele se aproximara ainda mais de Lorraine, pegando o colar das mãos dela e a ajudando, que comentara:
Lorraine – Você demorou... – observou. – Onde esteve? – Simon ajustava o colar para ela, não demorando para enfim coloca-lo em torno de seu pescoço.
Simon – Eu passei numa loja para comprar o terno. E acabei me trocando por lá... – Lorraine virara-se para ele então, colocando seus braços em torno do pescoço dele, sorrindo.
Lorraine – É mesmo? Mas você tem tantos ternos bonitos aqui em casa...
Simon – Eu sei. Quis comprar outro, apenas... – ele sorriu também.
Lorraine – E o serviço, como foi?
Simon – Foi ótimo. Vários projetos fechados. Teremos um bom fim de ano...
Lorraine – Fico feliz... – ela, então, dera um selinho nele, desvencilhando-se em seguida e voltando a se encarar no espelho.
Simon – E o seu?
Lorraine – Foi ótimo também. – Simon sorriu.
Simon – Então hoje foi um belo dia... – Lorraine sorrira novamente.
Lorraine – É. Hoje foi um belo dia. – concordou. – Você realmente acha que está tudo bom aqui? – parecia em dúvida. – Tenho outros vestidos. Posso trocar...
Simon – Você está linda, meu amor... – Lorraine sorriu com o elogio.
Lorraine – Obrigada. Você também está. – retribuiu, dando um beijo mais demorado nele, finalizando com dois selinhos nele.
Simon – Inclusive, eu tenho uma surpresa para você. – Lorraine sorrira novamente, franzindo o cenho.
Lorraine – Uma surpresa? – Simon assentira, cruzando os braços.
Simon – É. – assentiu. – Vá até o quarto. – pedira e Lorraine continuava a sorrir.

Ela então assim fizera. Saíra do closet, passando pela suíte e logo chegara ao seu quarto. Simon viera logo atrás. Lorraine então deparou-se com um grande e lindo buque de rosas em cima de sua cama. Duas caixas pretas. De veludo. Tal como Lorraine já tinha nos mostrado anteriormente, indicando que provavelmente também tivesse joias ali. Lorraine sorriu de orelha a orelha. Fora até uma das caixas e a abrira. De fato, era um colar. Lindo. Belíssimo. Com pedras pequenas. Eram diamantes. Lorraine parecia totalmente encantada com tudo aquilo, e já até mesmo emocionada, prestes a chorar, sorrira de felicidade:
Lorraine – Você não foi só comprar o seu terno... – estava realmente emocionada. – Você foi me presentear... – ela, então, fora até a ele. – Mas hoje não é o meu dia, querido... – Simon sorriu também.
Simon – E é aí que você se engana, querida... – ele dera um sorriso de canto. – Todos os dias é o seu dia. – Lorraine sorrira com a declaração. – Eu te amo... – Lorraine o abraçara agora.
Lorraine – Eu te amo também! – disse, com bastante entonação. – Tudo é muito lindo. Eu não sei do que seria da minha vida se eu não tivesse você... – ele então pegara nas mãos dela. – Não teríamos essa vida maravilhosa... Não teríamos esses filhos maravilhosos... – Simon somente a ouvia, embora, algo parecesse errado com ele, era como se um sentimento de culpa o dominasse completamente. – Você me completa... – Simon apenas sorrira novamente, e eles tornaram a se abraçar, enquanto Lorraine fora ver a outra caixa de joias. – Vou pedir para Beth pegar e colocar num vaso depois. – Simon nada dissera sobre isso.
Simon – E as meninas? Dani mandou alguma coisa para você?
Lorraine – Mandou sim. Fotos do lugar. Fotos com a Marcella. – ela sorriu. – Ela está se divertindo, pelo menos... – parecia ter agradado Simon isso.
Simon – E Tiffany?
Lorraine – Este é justamente o problema. – ela suspirou. – Ela não chegou ainda...
Simon – Ela está fora de casa desde a hora que foi para a escola? – Lorraine assentiu. – E você não me contou? – parecia não ter gostado disso, embora se mantivesse
Lorraine – Eu prometi a Thomas de que deixaria ela ter um tempo para ela. – Simon suspirou.
Simon – Você tentou ligar para ela?
Lorraine – Tentei, mas... Ela não me atende. – lamentou e Simon suspirou, preocupando-se também.
Simon – Chamamos a polícia, então? – dera a ideia.
Lorraine – Não! – negara. – Não... – insistira, aproximando-se de Simon. – Vamos dar a ela mais alguns minutos. – Simon somente a escutava. – Por favor... – insistira e Simon nada dizia ainda. – Caso ela não chegue, procuramos a polícia. – Simon então assentira positivamente, enquanto Lorraine sentiu-se mais tranquila, embora avisar os policiais não fosse uma má ideia na realidade.

O som de gritos. O som do nome de Tiffany sendo chamado. Era uma voz feminina. Lorraine e Simon se entreolharam. Ele, por não estar de vestido e de salto, fora na frente. Mais rápido. Descera as escadas. Lorraine apressou os passos também, embora não pudesse correr tanto. Para facilitar, tirara o salto ali mesmo. Depois o calçaria. Saíra de seu quarto, entrando no corredor. Fora para a direita então, vendo logo as escadas mais adiante. Descera. E então, vira a imagem de Bethany ali. Também já pronta para o casamento. Muito bonita, inclusive, com um vestido liso, sem bordado ou muitos detalhes, simples até mesmo, dourado. O cabelo cacheado indicava ainda mais o seu estilo.

Lorraine apressou-se em ir até a sua filha. Apavorou-se ali mesmo. Simon tentava conversar com ela pois já estava próximo de sua filha. Lorraine descera os degraus. Quase tropeçara. A feição e o semblante de desespero. Tiffany estava péssima. Um olhar vago. As roupas sujas e imundas. O cabelo desajeitado. A expressão facial de alguém que tinha chorado bastante. Bastante mesmo. Lorraine logo chegara até a ela. Simon afastou-se. Também passara logo a observar. Bethany pareceu ir até a cozinha, e buscar algo para acalmar. Quem? Ela não sabia. Trazeria o máximo que pudesse, seja para Lorraine, quanto para Tiffany. Estavam ali. De frente à porta da residência. E fora quando Lorraine dissera, com o som de uma voz de claro desespero:
Lorraine – Filha! Filha! – ela pegava em seus braços, a abraçando, embora Tiffany não correspondesse em nada. – Você chegou... – ela sorria, embora pelo estado físico que Tiffany estava, somente tendia a esperar pelo pior. – Você está bem?! – ela se desvencilhou, agachando-se próximo dela, enquanto Tiffany continuava a fitar o vago. – Por que você não atendia o seu celular? – Bethany chegara com dois copos d’agua, enquanto Simon somente observava, paralisado até mesmo, notando que algo estava errado. – Responda a mamãe, querida... – pedira a ela, delicadamente. – Onde você esteve? Você está bem? Está machucada? Com quem você saiu? – fez várias perguntas, mas nenhuma era respondida.
Simon – Responda a sua mãe, Tiffany. – pedira sério, embora parecesse estar se irritando então, enquanto Bethany continuava ali, e fora o momento em que viram um sorriso brotar no rosto de Tiffany, desmanchando-se em uma gargalhada até mesmo debochada.
Lorraine – O quê é isso?! – ela se afastou. – Por que você está rindo?
Simon – Tiffany!
Tiffany – Vocês deveriam olhar para a cara de vocês neste momento... – ela sorrira ainda. – Como se realmente se importassem comigo... – Lorraine parecia inconformada. – Estou surpresa de que não temos policiais envolvidos ainda... – ela, então, parecia estar seguindo o seu caminho, prestes a subir as escadas, quando Lorraine a segurara pelo braço.
Lorraine – Onde você está indo?! – questionara, em fúrias.
Tiffany – Solte o meu braço! Você está me machucando! – queixou-se.
Lorraine – O-O que... O que é isso?! – ela começara a cheirar as diversas partes de Tiffany, desde o cabelo até mesmo a roupa. – Esse cheiro... Esse cheiro impregnado. – ela ria agora de nervosismo. – Você só pode está brincando comigo, Tiffany! – rangiu os dentes neste momento.
Tiffany – Vamos lá, mamãe... Não seja hipócrita. Você também já deu uma fumada às vezes... – e neste momento, Lorraine levantara a mão para agredi-la, mas Simon a impedira, pois se isto acontecesse, tudo aquilo realmente iria para outro nível e dimensão.
Simon – Acalme-se, querida... – Lorraine já estava com seus olhos marejados, numa mistura de nervoso, tristeza e preocupação.
Lorraine – Onde estão as suas coisas? Cadê a sua mochila?! – Tiffany agora sorrira. – Onde está o seu celular?
Tiffany – Não sei... – debochava. – Por aí. – riu novamente, demonstrando que estava totalmente fora de si, o que indicava que a droga havia tomado conta dela. – Talvez um grupo de trombadinhas tenha me abordado. E me roubado. Sei lá... – Lorraine estava totalmente perplexa com o que estava acontecendo.
Lorraine – Mas... Mas o que está acontecendo com você? – ela soltou pouco a pouco o braço de sua filha, enquanto Bethany parecia totalmente agoniada em assistir aquela cena, e Simon permanecia sem querer se envolver naquilo.
Tiffany – Adivinha só... – ela sorriu novamente. – Eu oficialmente aceitei que faço parte da família Gillings. – ela, então, se virou novamente.
Lorraine – Onde você pensa que está indo?! – ela a puxara pelo braço novamente. – Você tem o casamento para ir a poucos minutos e está fedendo a cigarro! – Simon até mesmo tentara intervir, mas quando notara, Lorraine começava a puxá-la e a arrastá-la pelas escadas, sem se importar com o seu vestido ou como estava bem arrumada neste momento. – Você está fedendo a cigarro, Tiffany!

Os gritos. O desespero. Tiffany tentando se desvencilhar. A força que até mesmo Lorraine usava. Usufruia. Afinal... Tiffany mal conseguia aguentar com o seu corpo. Simon e Bethany se entreolharam. A última, totalmente, sem ação. Apenas afastou-se. Com os copos d’agua em mãos. Não queria saber o que iria acontecer logo em seguida. Simon, no entanto, preferiu seguir. Gostaria de evitar tragédias. Era o máximo que ele conseguiria então.

...

Lorraine estava ali. Entrava em seu quarto. Com dificuldades, pois Tiffany parecia uma verdadeira criança, agarrando-se em tudo o que via em sua frente para tentar impedi-la. Mas não parecia ser o suficiente. A xingava. Tentava bater em sua mão. Lorraine estava séria. Estava totalmente já bagunçada. Já soada. E o casamento era em uma hora. Sabia que tinha tido um mau pressentimento. Era o seu sexto sentido. Agindo cada vez mais.

Adentraram na suíte. Simon viera logo atrás. Fique aí! Ordenara ela. Simon nada dissera. Apenas obedecera. Caso contrário, poderia até mesmo sobrar para ele. A câmera acompanhou Lorraine e Tiffany ali. Lorraine trancou a porta e tirara a chave. Abrira o chuveiro. Tiffany não tinha mais para aonde correr. Somente gritava. Esperneava. E gritava novamente. Lorraine aproximava-se dela. Era unhada. Arranhada. E agredida. Mas tentava se manter totalmente firme e forte. Aquela não era a sua filha. E ela acreditava fielmente nisso. Tirara a blusa dela. Com dificuldade, os shorts. Deixara-a de calcinha e sutiã. Vimos Tiffany de costas. Seu sutiã sendo retirado. A calcinha logo em seguida. Os gritos de “Eu te odeio! Eu te odeio, mãe!” eram nítidos e altos. Tiffany cobrira os seios com os braços. Lorraine a arrastara para o boxe. E a enfiara no chuveiro. Entrara também. Não se incomodaria de dar banho nela ela mesma. O seu visual? Estrago. Um belo dia? Não. Arruinado, isso sim. Mas ainda assim, tentava curá-la. Tiffany estava ali. Em prantos. Com as lágrimas escorrendo. Com uma dor inigualável. Mas Lorraine se manteve forte. Firme e forte.

...

Os minutos se passaram. Simon fora visto. Sentado na beirada da cama. Esta, que já não tinha mais o buquê ou a caixa de joias. Provavelmente havia pedido para Bethany retirar. A porta se abrira. O estado de Lorraine era até mesmo lamentável. O cabelo bagunçado. O vestido sujo na barra e molhado. Tiffany enrolada numa toalha. E sem falar na humilhação que passara. Em ter que dar banho em uma adolescente. Como se fosse uma mera criança. Lorraine tentara pegar no braço de Tiffany, que se desvencilhara já aos berros. Simon se levantara. E mais uma vez, toda aquela guerra começaria:
Tiffany – Tire suas mãos de mim! – gritou novamente, recuando para trás e Lorraine, tentando ainda se manter paciente, tentara novamente, e fora o momento em que ela empurrara Lorraine, que acabara cambaleando para trás e batendo as costas na parede, enquanto Simon pareceu ter se desesperado e fora ajuda-la. – Eu disse para tirar as suas mãos de mim! – gritou novamente, ainda com a toalha cobrindo o seu corpo, enquanto Simon ajudava Lorraine a se levantar, que estava totalmente perplexa com o que havia acontecido.
Lorraine – O que foi isso? – ela perguntou e Tiffany somente a fitava, totalmente estática. – Você vai me bater agora? – Lorraine chegara até a rir, enquanto Simon se afastou.
Simon – Lorraine... – ele tentara chama-la mais uma vez, para acalmá-la.
Lorraine – Você vai me bater?! – ela questionara aos gritos agora, com os olhos marejados, totalmente furiosa e até mesmo fora de si, e fora o momento em que vira um cinto, provavelmente de alguma calça de Simon, pendurado na poltrona próxima a ela. – Pare de agir igual uma criança mimada, Tiffany! – ela dobrara o cinto, enquanto Tiffany apenas fitava aquilo.
Simon – Lorraine... Não perca a cabeça... – pedira mais uma vez.
Tiffany – Mãe... – ela assustara-se. – O-O... O que você vai fazer? – perguntou, agora aflita. – Eu pedi para você tirar suas mãos de mim... – agora falava em um tom mais pacífico.
Lorraine – Eu estou exausta. – ela balançara a cabeça negativamente. – Eu estou exausta da maneira como você age. Da maneira como você me trata. Da maneira como você trata todos ao seu redor... – falava, num tom até mesmo de choro. – Eu prometi que teria paciência. Eu prometi que lhe daria uma chance... – ela começou a se aproximar com o cinto em mãos, e Tiffany ia recuando, até que chegara um momento em que ela não tinha mais para onde correr, pois acabara chegando à cama. – Mas eu estou exausta, Tiffany... – afirmara, totalmente confusa. – De suas malcriações. Do seu jeito... – Tiffany balançava a cabeça negativamente. – Eu nunca fiquei tão decepcionada com alguém igual fiquei com você no dia de hoje, Tiffany... – ela forçava o cinto em suas mãos. – Você não é mais uma criança. – rangiu os dentes agora. – E você não vai se sobressair em cima de mim! – bradou.

Lorraine avançara. Simon ficara para trás. As cintadas. O barulho. O estalo. Tiffany de toalha. Sem sequer a proteção da roupa. Você vai me bater, Tiffany? Você vai me bater? Gritava Lorraine. Totalmente perdida. Totalmente complicada. Tiffany gritava. Chorava. Clamava pela ajuda de seu pai. Clamava para com que sua mãe parasse de fazer isso com ela. Mas ela havia procurado. Tudo isso era apenas consequências de seus atos. E Simon sabia disso. E já não podia fazer mais nada. Porque sabia que embora fosse doloroso, também era para Lorraine. Ela nunca havia feito isso com nenhum de seus filhos. Mas Tiffany extrapolara. E agora ela teria que aguentar isso.

...

Havia passado alguns minutos novamente. Então. Lorraine estava exausta. Ofegante. O som dos estalos ainda era eminente. Mas pouco a pouco ia parando. Já não tinha mais forças para continuar a surra que havia dado em Tiffany. Esta? Com o rosto molhado. Com a perna avermelhada. Com o corpo avermelhado. A toalha protegera o resto. Mas ainda assim... Eram marcas que não sairiam facilmente. Havia sido agredida. Agredida pela sua própria mãe. Simon, então, enfim aproximara-se de Lorraine. Esta recuara. Dera mais uma cintada. Simon esticou a mão e abaixara a dela. Pegara o cinto com a sua outra mão vaga. Ele tentava a tranquilizar. Lorraine permanecia ali. Com a respiração ofegante. Olhando para Tiffany, que estava totalmente acanhada em um canto. Simon, então, disse:
Simon – Acalme-se, Lorraine... – ele fora abaixando a mão dela ainda mais, pegando nela e a segurando firmemente. – Acalme-se...
Lorraine – Que-Que horas... Que horas são? – questionou e Simon olhara para o relógio despertador na cabeceira próxima de sua cama.
Simon – Nós temos uma hora. Ou mais. Thomas não irá começar sem nós... – Lorraine nada mais dissera, permanecendo uma mulher ali sem emoção.
Lorraine – Eu... Eu vou trocar de vestido. Me arrumar. Arrumar o cabelo. Tirar essas joias... – ela dizia, ainda ofegante. – Leve-a para o quarto dela e a ajude a se trocar com o vestido.
Simon – Lorraine...
Lorraine – Não, Simon. – negara então. – Ela vai para o casamento. – afirmou decidida. – Ela já arruinou a minha noite. Eu não irei permitir com que ela faça o mesmo com o seu irmão...

Lorraine desvencilhou-se de Simon. Ele a observou. Logo, ela fechara as portas da suíte. Ele então sem ter como questionar a ordem dela, apenas acatara. Tiffany gemia às vezes. Simon a pegara no colo e logo saíra do quarto. A câmera voltara a focar em Lorraine. Estava lá. De frente ao espelho do banheiro. E logo... Desabrochou-se em lágrimas. Chorando compulsivamente. Como se já não houvesse amanhã. Ver a filha drogada. Ter que agir com violência. Toda essa índole era muito diferente do que Lorraine havia pregado até então. Mas, era como se ela não tivesse escolha. E ela sabia disso. Talvez até mesmo fosse para o próprio bem de sua filha. Teria que fingir. Fingir no casamento de que tudo está bem. E de que tudo ficaria bem. Pouco a pouco a imagem de uma família feliz e sem problemas ia desmoronando. Começara com Simon que havia a traído. E ela sequer imaginava. Tiffany demonstrando ser alguém difícil de lidar. Drogando-se. Lorraine com remédios de depressão e ansiedade. Thomas com um acidente que havia cometido ainda misterioso. Será que de alguma forma Danielle poderia escapar disso? Era praticamente uma maldição. A família inteira estava totalmente amaldiçoada.

Virginia, EUA (Richmond Town) – Camp, Various Scenes
09:00 PM
Estávamos dentro da cabana que Marcella havia montado. Sozinha. E ainda havia boatos de que era folgada. Boatos negados, não é mesmo? Víamos o seu interior. Havia uma lamparina com o fogo aceso iluminando por ali. Marcella e Carl estavam lá. Ela estava de pernas cruzadas na posição de índio. E ele se apoiava nos seus próprios joelhos. Quem diria que eles se dariam tão bem? Tinha até mesmo o outro colchonete para ele poder dormir ali com elas. Era pequeno. Mas como Carl não era alto e grande, caberia ali. Até mesmo Dani poderia se surpreender. Esta, que por sinal, não se encontrava ali. Talvez até mesmo nem ela esperava por isso. Mas Marcella sabia fazer amigos fáceis. Ela era uma pessoa agradável. Bem... Pelo menos a maioria achava isso. Não tinha muitas coisas ali. Somente os colchões cobertos por lençóis brancos. As malas espremidas num canto. E o chão que era possível de se ver. Ambos tiravam fotos. Riam. E tiravam mais fotos. Marcella realmente havia achado alguém que gostava tanto de poses quanto ela. E era até mesmo agradável:
Marcella – Pronto! – ela sorriu. – Estamos lindos. Nós somos lindos, fala sério... – ela olhava para a foto que tirara com o seu celular. – Olha isso! – a câmera focava nas fotos que haviam tirado, vendo várias e várias poses de ambos. – Victoria Secret não sabe o que está perdendo. – Carl rira disso. – Eu sempre quis ter um amigo gay. – ela afirmou e Carl franziu o cenho.
Carl – Você tem uma amiga gay... – Marcella ficara pensativa então.
Marcella – É... É verdade. – Carl riu novamente. – Maldição! – ela bufou. – Eu nunca tinha parado para pensar sobre esse lado. – disse, honesta. – Mas, Dani é diferente. Ela não gosta de fotos. – fez bico. – Você já é mais...
Carl – Agitado? – Marcella assentiu sorrindo.
Marcella – Isso! Agitado! – concordou. – Nós somos almas gêmeas. – Carl riu novamente.
Carl – Eu já te mostrei a minha coleção dos discos da Christina Aguilera?
Marcella – Mentira! – ela parecia perplexa. – Você gosta da Christina Aguilera?
Carl – Eu amo ela! – Marcella então gritara totalmente entusiasmada.
Marcella – Deus se você não fosse tão gay eu beijaria você agora mesmo! – Carl gargalhara disso. – Mas você não tem aquela mixtape horrorosa né?
Carl – Não. Esse disco aí nem o diabo quer. – Marcella parecia ter gostado do que havia ouvido.
Marcella – É justamente isso que eu fico dizendo para Dani, mas ela não me entende. Ela ainda diz que há algumas músicas que podem ser salvas. – ela rolou os olhos. – Elastic Love. All I Need. I Am. – ela colocou o dedo na garganta, para brincar de que estava fingindo nojo daquilo. – Nojento...
Carl – Eu não concordo. Acho horrível.
Marcella – Exatamente! – exclamou. – Se dar descarga no álbum ninguém vai saber se é um cocô ou não. Pode estar até escorrendo pela parede. – Carl riu disso. – Mas você é fã do Back To Basics, né?
Carl – Claro. Melhor álbum do mundo. – Marcella sorriu.
Marcella – Eu amo tanto você... – seus olhos chegavam até a brilhar.
Carl – Eu sei, eu sei. – brincou se gabando. – Espere aqui. Eu vou lá buscar...
Marcella – Está bem! – ela sorriu.

Carl engatinhara puxando o pano para sair da cabana. Logo vimos um sorriso estampado no rosto dele. Estava de noite, o que era óbvio, já que eram mais de nove horas da noite. Ele ficara ali. Parado por um tempo. Nunca tinha se identificado com alguém em tão pouco tempo. Era bom se sentir querido. Era bom se sentir notado. Era bom simplesmente ter amigos. E até mesmo se culpava em pensar de que esta viagem seria péssima. Muito pelo contrário. Somente pelo fato de já ter conhecido Dani e Marcella já tinha valido todo o tempo de sua vida.

Podíamos ouvir os sons da cigarra. Combinava com aquele clima de floresta. Ouvíamos também um som vindo daquele sobrado de madeira. Talvez a maioria estivesse reunida lá para se divertir e jogar papo fora. Mas Carl preferia ficar somente na companhia de Marcella, pois como a própria Dani havia dito, uma vez que você a entende, você totalmente se encanta por ela. Carl andara em direção a uma cabana. Provavelmente a que ele havia montado para dormir sozinho. Mas acabou se surpreendendo com a chegada de um grupo de garotos. Seguravam garrafas de cerveja. A maioria já bêbada. Alguns sem camisa e molhado. Provavelmente havia acabado de sair do lago somente agora. Carl tentara ignorá-los, somente abaixando a cabeça. Mas fora o momento em que Jonathan, aquele que Dani havia desafiado, aparentemente, havia o percebido:
Jonathan – Olhe só quem nós temos aqui... – os outros garotos se colocaram na frente de Carl, que agora olhava para todos ao seu redor, tentando sair, mas sendo impedindo. – Se não é o protegido da querida Gillings... Por onde anda ela, aliás? – ele sorriu, dando um gole em sua cerveja logo em seguida.
Carl – Deixe-me passar... – ele evitava contato visual.
Jonathan – Seja mais divertido, Carl! – ele evitava falar muito alto, para não chamar atenção.
Carl – Eu só quero ir até a minha cabana. Pegar algumas coisas. Não quero incomodar ninguém...
Jonathan – Ah, nós acreditamos nisso. – ele sorrira maliciosamente. – Nós na realidade gostaríamos que você andasse mais conosco, Carl. Você é um cara legal! – exclamou, aproximando-se dele, se fazendo de íntimo ao colocar seu braço ao redor do pescoço dele. – Vocês não acham, galera? – eles falavam entre si, concordando sobre isso.
Carl – E-Eu...
Jonathan – Vamos lá, Carl... – ele sorrira. – Você já foi visitar o lago? – questionou.
Carl – E-Eu... – parecia ter dificuldade em se expressar, ainda mais por se tratar de ser bastante tímido.
Jonathan – Ótimo. – ele sorriu novamente. – Vamos até o lago então.

Jonathan andava com o Carl. Praticamente o abraçando. Tratando-o como se fosse do grupo. Mas era claro que não passava somente de mais zoação. Carl encontrou-se contra a parede. Ele não tinha muita opção. Logo, o restante viera mais atrás. E então eles sumiram. Ali dentro daquela própria floresta. Marcella? Parecia distraída. A câmera focara agora nela dentro de sua cabana. Tentava arranjar sinal com o seu celular, mas parecia frustrada. Como mencionado, ela apenas deve ter tido sorte ao conseguir da primeira vez. Mal havia notado a conversa do lado de fora. E aquilo aparentemente não era bom. Eles estavam indo para o lago. E como estavam bêbados... Isso não poderia ser bom.


Estavam todos reunidos no sobrado de madeira. Pudemos ver a decoração. Tudo, absolutamente tudo, ali era feito de madeira. Da parede até o chão. Parecia uma casa mal assombrada como já comentado anteriormente. Ou até mesmo um sobrado de algum caçador, visando que tinha algumas cabeças de animais mortos pendurados na parede como objeto de decoração. Ali não tinha grande coisa. A grande maioria estava reunida na sala e não tinha muito que se comentar sobre isso. Apenas tinha três sofás grandes e espaçosos. Dani estava sentada no encosto de um deles sorrindo com o que estava acontecendo. Rindo, até mesmo. Tratava-se de um jogo de mímica. Era sobre temas aleatórios. Até o diretor brincava também. Dani dava bastante gargalhadas. Era bom para espairecer. Conhecer estudantes de outras salas diferentes. Habitar lugares diferentes. Parecia monótona a rotina que Dani sofria dentro de sua casa. Não era como se ela tivesse muita escolha. Mas ainda assim... Parecia antenada no que acontecia com a sua família. Vimos em seu celular. Parecia estar tentando enviar mensagens para Lorraine com quem já havia conversado. Porém, a última vez que havia tido contato com ela havia sido dentro do ônibus. E provavelmente não era boa coisa, afinal, Lorraine havia sido bem especifica sobre mandar notícias o tempo inteiro. Dani suspirou. Tentaria então dar uma ligação.

Levantara-se de seu encosto e tentara achar um local mais privado para dar uma ligação. Seguira, cruzando alguns corredores. Tentara achar. Logo chegara à cozinha. Com o celular em mãos, sequer olhava no que estava mais na sua frente. A cozinha parecia vazia. Fechara a porta por trás e todo o som da bagunça se abafou. Aproximara-se do filtro d’água e pegara um copo para si. Dera um gole. Mas não conseguia completar a ligação. Bufou. Apoiou-se na pia e tentou mais uma vez. Fitava o chão. Parecia aérea. Quando o som da conversa do lado de fora aumentou drasticamente e logo voltara a se abafar, pôde-se prever de que a porta havia sido aberta e fechada. Era Clara. A garota com que Dani já havia olhado. E até mesmo trocado alguns olhares. Clara, então, disse:
Clara – Desculpe... Eu não vi que você estava aqui. – ela sorriu, envergonhada.
Danielle – Não se preocupe. – ela a tranquilizou. – Não estou conseguindo ligar.
Clara – É... O sinal daqui é péssimo. – concordou. – Estou tentando há horas falar com a minha mãe. Não só eu... Minhas amigas não estão conseguindo também.
Danielle – Já vi que isso será um problema... – ela rolou os olhos, afastando-se da pia. – A minha mãe não é o tipo de mãe que aceita falta de notícias. – Clara sorriu agora.
Clara – É... Eu me lembro dela. – Dani então desviara o olhar, parecendo ter ficado um pouco afetada com aquele assunto. – Como ela está?
Danielle – Ela está bem...
Clara – E a sua família?
Danielle – Também.
Clara – Thommy vai casar hoje, não é? – Dani sorrira, assentindo.
Danielle – Vai sim...
Clara – Sinto falta dele. – ela sorriu. – Ele é um cara legal. – Danielle nada respondera. – Eu vi o que você fez hoje para defender o Carl... – Dani somente a escutava. – Foi um belo gesto. – elogiou.
Danielle – Alguém precisava parar aqueles idiotas... – Clara riu então e Dani fizera o mesmo.
Clara – Se isso acontecesse há alguns anos, você não teria feito nada. – dizia como se a conhecesse de muito tempo atrás.
Danielle – É. Provavelmente. – pareceu concordar. – Acho que eu mudei... – Clara sorriu.
Clara – Nós todos mudamos. – resumiu tudo. – Para o melhor... Eu espero.
Danielle – Eu também... – murmurou. – Então... Bem... – ela forçara um bocejo, como uma tentativa de escapar daquela situação até mesmo constrangedora. – Estou com sono... – Claire sorriu. – Então acho que já vou indo... – ela, então, passara por Clara, indo até a porta, próxima de sair para voltar à sala e possivelmente à sua barraca, quando ouvira o seu nome sendo chamado.
Clara – Dani... – Dani paralisara neste momento, como se o seu coração quisesse sair da boca, pois há muito tempo não ouvia aquela voz lhe chamando deste jeito carinhoso, e Dani então se virara para ela, com um leve sorriso estampado no rosto. – Você me parece bem... – comentou, sorrindo. – Fico feliz de vê-la bem... – afirmou. – Marcella ainda está por aí?
Danielle – Marcella está sendo Marcella... – ambas sorriram ao ouvir isso.
Clara – Fico feliz. Pelo menos sei que ao lado dela você não irá se machucar. – Dani desviara o olhar neste momento. – Foi bom te ver novamente...
Danielle – É... – ela concordou. – Foi bom te ver também. – ela sorriu.

Dani abrira a porta. E logo saíra. A câmera filmara a reação de ambas. Clara apenas dera um leve sorriso. Pegara água. E ficara ali por mais alguns segundos. Pensativa. Dani, por outro lado, realmente parecia ter se conectado muito com algo que já havia tentado esquecer. Sequer parara para entrar na brincadeira novamente. Até fora chamada. Mas cruzou os corredores, a sala e logo saíra daquele sobrado. Tudo o que ela queria era ficar em paz. Pelo menos agora. O que provava aquilo que já podíamos perceber. Clara e Dani tinha uma história. Será que tinha a ver com o fato de Dani ser lésbica? Talvez. Apenas o que podíamos fazer era aguardar o resto da história então.


Marcella estava em sua cabana. Ainda. Com o celular em mãos. Tentando fazer ligação, mandar mensagens ou até conectar na Internet. Mas tudo parecia falhar. Fora o momento em que caíra para trás, bufando de raiva por ter fracassado em suas tentativas. O celular em cima de seu corpo. E o susto que levara ao ver alguém surgindo repentinamente na cabana. Com uma expressão de alguém que estava prestes a chorar. Era Dani. Até mesmo de bico. Marcella notara. E tratara de comentar logo:
Marcella – Ai que susto! – reclamara. – O quê aconteceu? – notara como ela parecia chateada.
Danielle – N-Nada... – ela até virara o rosto para limpar uma lágrima, evitando Marcella de ver. – Onde está Carl?
Marcella – Não sei. Ele sumiu. Disse que ia pegar a discografia dele para eu ver e não voltou até agora. – Dani estava até de nariz entupido. – Danielle! – chamara a atenção dela. – O quê aconteceu? – perguntou mais uma vez.
Danielle – Eu... Eu encontrei com a Clara. – voltara a fitar Marcella agora, parecendo envergonhada e não querendo falar muito também sobre este assunto. – E... Nós conversamos.
Marcella – Conversaram? Como assim vocês conversaram? – parecia ter ficado agitada sobre esse assunto também. – Vocês conversam? Desde quando? E aliás o que ela está fazendo aqui?! – parecia inconformada. – O que ela falou para você?! – já estava criando caos, sendo que nem havia sido algo tão grave assim. – Posso ir até lá e bater nela? – Dani sorrira então. – Eu já mencionei que a família Butler sabe lutar, não? – Dani assentira. – Ótimas aulas de luta na Inglaterra, querida. – Dani rira então.
Danielle – Relaxa... – a tranquilizou. – Não foi nada demais. – Marcella pareceu ter abaixado a guarda então. – Nós só conversamos. E... Eu não me senti bem com isso. Porque ela é extremamente agradável...
Marcella – Ah, querida... – ela, então, engatinhara para ficar ao lado de Dani. – A proposta de eu ir lá e acabar com a raça dela ainda está de pé. – Dani sorriu. – Eu sei que é complicado. Porque você ainda gosta dela...
Danielle – É... – ela suspirou. – Eu acho que isso ainda é o pior de tudo. – ela bufou.
Marcella – Hum... – ela bufou. – Eu ainda não estou muito feliz com essa história não. – ela gesticulou. – Essa daí não tinha nem que estar aqui, linda. – Danielle gargalhou.
Danielle – Eu vou ficar bem... Prometo. – ela sorriu. – Desde que você não vá lá e faça barraco.
Marcella – É mesmo? – ela lamuriou. – Poxa... – Dani riu novamente. – Eu já estava pensando em facas, algemas e crossbow. – Dani gargalhara. – Não acha que é uma linda combinação?
Danielle – É sim... – ela concordou. – Não sei do que seria a minha vida se não fosse você... – Dani abraçara Marcella, então.
Marcella – Eu sei, amor. Eu sei. – ela rolou os olhos, brincando.
Danielle – Convencida! – ela se desvencilhou aos risos. – Você é a pior! – esbravejou. – Besta... – reclamou.

As risadas. A amizade. O abraço por fim. O som foi diminuindo da conversa. Era realmente fofa a amizade delas. Cultivada há muito tempo. Fora dito então. Clara provavelmente havia sido uma ex-namorada de Dani que não havia dado certo. E Dani provavelmente ainda gostava dela. O que provava cada vez mais que a sua família realmente não sabia nada sobre ela. E por enquanto, continuariam sem saber. Dani. Marcella. As risadas. Os abraços. Realmente boas amigas.

Virginia, EUA (Richmond Town) – Thomas & Hannah’s Apartment, Scenes
09:17 PM
Thomas já estava pronto. Olhava-se no espelho. Pudemos ver o seu reflexo. Estava no quarto em que ele e Hannah dormiam. Vimos o seu terno. Preto. A gravata branca. O colete por debaixo branca. E também a camisa social. O mesmo pano por dentro do paletó. Algo que combinava muito com ele. Gabava-se. Ele realmente estava lindo. O cabelo bem penteado em um topete perfeito. A barba rala e até mesmo sexy. Víamos tudo o que tinha ao redor. Era um dormitório. Nada muito complexo. Havia um guarda-roupa marrom encostado na parede e a cama kingsize do casal embutida totalmente arrumada com um edredom roxo. Ele segurava um celular em mãos. Fora o momento então em que a câmera focara na mensagem ele que havia acabado de receber. Era uma selfie. De Dani e Marcella com a paisagem do acampamento ao fundo. Thomas riu. Pelo menos ele havia levado na esportiva o fato de sua irmã não estar presente lá. De qualquer forma, era como se estivesse. Em seu coração. E pensava assim pelo menos. O restante de sua família, embora ele não soubesse de seus problemas, estaria lá de qualquer forma. Tinha crença nisso. Também resolvera tirar uma selfie para mandar para Dani. O flash do celular fora visto. E a pose de Thomas. E então, pudemos ter acesso à conversa deles. Conforme as falas eram mencionadas, os frames trocavam para as respectivas reações de Thommy e também de Dani.

Thomas
*Enviou uma foto*.
Quase casado, hein? *Emoji de um bonequinho com a língua para a fora*

Dani
Uau! Acho que agora então é oficial!
Está lindo! *Emoji de várias palmas e corações*

Thomas
Hahaha. É sim. Acho que é oficial.
Está se divertindo?

Dani
Estou sim. Marcella sempre garante isso. *Emoji de um bonequinho chorando de rir*

Thomas
Isso é bom. *Repetira o mesmo emoji*

Dani
E você? Ansioso?

Thomas
Você não tem ideia...

Dani
Hahahaha. Ok então. Me manda mais fotos quando chegar a hora!

Thomas
Ok!

Thomas guardara o celular. Sorria ainda. Logo, começara a desabrochar. Havia algo errado ainda. Talvez aquela cena. Aquele momento no quarto de Luna. Aquele momento em que ficara a sós com os seus próprios pensamentos. Ele ficara ali ainda de frente ao espelho. Faltavam poucos minutos. Poderia ele acreditar? Talvez não. O sorriso logo virara uma expressão séria. Porque ele sabia que este relacionamento com Hannah tinha tudo para dar errado. Devido a circunstâncias específicas. Devido ao acidente que ele causara. Devido a absolutamente tudo. Somente não imaginava que poderia amá-la com tanta intensidade...

Flashback
Thomas estava em sua cela de presídio. Há quatro anos. Era dois mil e seis. Então, sua aparência era ainda mais jovem. Sequer tinha barba. Estava Aflito. Algemado. O que piorava ainda mais a sua situação. Humilhado? Era a menor de sua preocupação. Mas estava sendo tratado com um verdadeiro assassino. Estava sentado naquele colchão velho e fino que chamavam de cama. O chão acinzentado e sequer lavado. Um pequeno vaso sanitário que não cheirava bem próximo a ele. Mal tinha janela. Não era presídio um oficial ainda, portanto, ainda vestia as mesmas roupas do momento do acidente. Era algo provisório. Aflito. Apoiava seu braço nas suas pernas. Suas mãos se cruzavam como se estivesse pedindo em uma oração para tudo ficar bem. Estava sujo. Tudo bagunçado. A camiseta um pouco chamuscada e rasgada. Era bege. A calça também não estava em seu melhor estilo. Sem sapato. Provavelmente teria o perdido em um dos piores momentos de sua vida. Era um espaço pequeno. E estava a sós por ser em uma delegacia próxima do local em tudo o que acontecia. Era melhor. Afinal, imagina ele dividir a cena com mais infratores? Era como se realmente tudo indicasse para ainda ficar pior.

No momento em que ouvira passos vindos à direção de sua cela, levantou-se imediatamente. Espremeu-se nas grades para ter uma visualização completa do que estava acontecendo. Era um policial. Vestido adequadamente de azul com o chapéu. Víamos o seu revolver próximo de sua cintura. Parecia um homem de cinquenta anos de idade mais ou menos. Era branco. Carregava consigo algumas chaves na quais encontrava dificuldade para achar a correta. Parecia não estar com muita pressa. Foi aí então que Thomas encontrou o momento correto para lhe perguntar:
Thomas – O que está acontecendo?! – perguntou, afobado, mas o policial sequer o olhou, ignorando-o. – Para aonde eu estou sendo levado?! – questionou, e então, o policial achara a chave correta, puxando as grades para a esquerda e adentrando lá, em seguida, tirando as algemas dele.
Police Officer – Relaxa. Pagaram a sua fiança... – Thomas franziu o cenho, vendo suas mãos livres então.
Thomas – Pa-Pagaram... Pagaram a minha fiança?
Police Officer – É. Aparentemente este é o lado bom de ser alguém rico, não é mesmo? – ele sorrira debochado, empurrando Thomas para fora da cela. – Vamos.

Thomas não dissera mais nada. Achava estranho. Mas ainda assim, agradecido. Somente pôde supor que tenha sido a sua família. Esperava pelo menos. Atravessou aquele corredor sujo e estreito. Via mais algumas celas. Todas do mesmo tamanho da que estava. Parecia não querer nunca mais em sua vida voltar àquele lugar. Não somente parecia... Ele tinha certeza. Era um pesadelo. Um pesadelo que o assustava muito.

Viu a porta sendo aberta e a visão de um corredor mais limpo e branco bem a vista. Lorraine o esperava ali. De braços cruzados. Com um semblante de ao mesmo tempo de preocupação, mas também de desgosto. Thomas notara isso. O policial dera dois tapas nas costas dele, liberando-o para que fosse até a sua mãe. Eles se abraçaram. Lorraine estava com um sobretudo vermelho com botões pretos. Um cachecol. Parecia ser um dia frio. Lorraine parecia fria com ele. O abraçara. Mas toda aquela gentileza e sorrisos que ela distribuía parecia não existir mais. Pelo menos, não neste momento. Ele então perguntara:
Thomas – Foi você que pagou a fiança?
Lorraine – Foi. – limitou-se a se responder, e parecia estar seguindo o seu caminho para fora daquele local então, e Thomas a acompanhava atrás.
Thomas – Me diz que aquilo que eu ouvi não é verdade... – referia-se à morte.
Lorraine – Infelizmente é. – conversavam enquanto caminhavam, até que cruzaram enfim o corredor, vendo um amplo espaço da delegacia, com vários policiais de um lado para o outro, telefones tocando a todo o instante.
Thomas – E onde está a imprensa? – Lorraine nada dissera, apenas gostaria de sair daquela delegacia o mais rápido possível, mas então fora o momento em que Thomas surpreendera-se a ver uma mulher ali, com a expressão facial avermelhada, molhada, com os lábios secos e os olhos marejados, parando neste mesmo instante. – Sra... Sra... – ele até mesmo gaguejara, enquanto ela aproximava-se incrédula, vendo uma mulher loira de aproximadamente quarenta anos de cabelo médio e franja. – Sra. Scutbatch... – ele mal podia acreditar que a estava vendo bem em sua frente.
Lorraine – Vamos, Thomas... – o apressara, mas a mulher se colocou na frente de Lorraine.
Sra. Scutbatch – Mas... Mas o que está acontecendo aqui?! – o restante dos familiares também se levantou, chocados com o que estavam vendo.
Lorraine – Lydia, por favor... – a chamara de outro nome, pedindo gentilmente para que ela saísse de sua frente, enquanto Thomas mal podia se comunicar.
Lydia – Ele... Ele está livre? – recusava-se a acreditar. – Lorraine... – Lorraine pôde ver as lágrimas dela escorrendo seu rosto. – Eu não consigo acreditar que você fez isso... – balançava a cabeça negativamente. – Como... Como você pôde?
Lorraine – Ele é o meu filho, Lydia.
Lydia – Ele matou a minha garotinha! – gesticulou agora, em prantos, e fora o momento em que uma pequena garota de aproximadamente cinco anos, também loira, assustara-se e viera abraça-la, pedindo para que esta se acalmasse. – E você... Ao invés de deixa-lo sofrer... De pagar pelos seus erros... Simplesmente pagou a fiança dele...
Lorraine – Olhe nos meus olhos e diga que você não faria o mesmo pelos seus filhos... – Lorraine também tivera seus olhos marejados.
Thomas – Sra... Sra. Scutbtach... – ele sussurrou.
Lydia – Cale-se! – descontrolou-se então, precisando ser contida pelos seus familiares. – Eu o acolhi em minha casa e você a tirou de meus braços! – ela chorava bastante, praticamente aos soluços.
Thomas – Eu... Eu sinto muito... – desculpou-se.
Lydia – Assassino! – gritara, e Lorraine apenas o puxara, deixando-os ali, somente para sair logo da delegacia. – E você vai carregar esta mesma culpa para seu túmulo, Lorraine... – e fora neste momento em que ela paralisara, e então, resolvera virar-se para ela.
Lorraine – Eu realmente sinto muito sobre o que aconteceu com a sua filha, Lydia. Eu realmente sinto. – ela também se emocionara. – Eu não estou em posição de me colocar no mesmo lugar que você, mas você também acha que é fácil estar nesta posição? – dizia, com a voz trêmula. – Eu pensei em deixa-lo aqui. Mesmo que fosse por alguns dias. Mas o meu coração de mãe falou mais alto! – bateu no seu próprio peito. – Então, eu realmente sinto muito. Eu não consigo imaginar a dor que você está sentindo. A sua filha era uma jovem iluminada. Com muito brilho e com um futuro muito promissor pela frente. E infelizmente não há nada que eu possa fazer para isso parar... – ela se virou novamente. – Vamos, Thomas.

E então ela seguira seu caminho. Logo saíra da delegacia. A imagem da família da tal moça. Thomas parecia chocado. Perguntava a si mesmo se realmente valia a pena. Estavam no estacionamento. Lorraine fora na frente. Estava atrapalhada. Procurava as chaves de seu carro. Até mesmo chegara a derrubá-la. Logo adentrara no carro. Thomas estava lento. Demorara também. Era outro veículo diferente do atual. Mas ainda assim, era moderno. Thomas entrara também. No banco de passageiro.

Lorraine estava ali. A câmera filmava o interior do carro. Thomas estava fitando o vago. Lorraine parecia totalmente aérea. E fora o momento então em que ela abrira o porta luvas. Thomas até mesmo se assustara. Não dissera nada. Pelo menos imediatamente. Mas no momento em que ela achara uma caixa de cigarros e um isqueiro e o acendera bem na frente dele, Thomas disse:
Thomas – Mãe...
Lorraine – Cala boca, porra! – gritou, falando palavrão e até mesmo o assustando pois sua mãe não costumava a ser assim exceto quando parecia muito abalada. – Deixe... Me deixe fumar... – ela ligara o motor do carro e abaixara o vidro que era elétrico. – Me deixe fumar. – pedira novamente por mais alguns segundos, e ali ficara, tragando por um ou dois minutos, até que então, jogara o cigarro por fora da janela.
Thomas – Onde está o meu pai?
Lorraine – Resolvendo problemas. Para que a imprensa não fique sabendo disso. – Thomas somente a fitava, ainda totalmente estático e sem ação.
Thomas – M-Mãe... – gaguejara.
Lorraine – Não diga nada, Thomas. – pedira. – Você tem noção do que eu arrisquei neste momento? – o repreendeu. – Do que eu e o seu pai colocamos em jogo? Do que você colocou em jogo?! – bradara. – Nós temos uma marca, Thomas. Nossa família é uma marca! – Thomas nada dissera. – São quatro da manhã. Deixei as suas irmãs em casa dormindo. E elas não sabem de nada. – Thomas apenas ficara cabisbaixa. – E continuarão sem saber. – preferiu assim.
Thomas – Eu... Eu realmente não sei o que dizer...
Lorraine – Você foi irresponsável, Thomas. Dirigir bêbado? – ela riu agora de nervosismo. – Você tem que mudar de vida...
Thomas – Eu vou mudar de vida! – assentiu concordando.
Lorraine – Isto não pode ser dito da boca pra fora, Thomas. Você vai mudar de vida. – frisou e Thomas a fitara agora, não entendendo. – Conversei com a mãe de uma amiga minha. E ela possui uma filha. Hannah Rankin. Ela trabalha numa padaria. É uma excelente e responsável moça. – Thomas o olhava incrédula agora.
Thomas – O que é isso? Você está arranjando encontros para mim agora?
Lorraine – É assim que irá funcionar agora, Thomas. – Thomas riu.
Thomas – Você não pode nos obrigar a nos amar!
Lorraine – Você tem razão. – concordou. – Mas Hannah não sabe de absolutamente nada. – Thomas estava perplexo. – Você começará a criar uma rotina na padaria. Indo lá. Pedindo as mesmas coisas. Você é um rapaz bonito. Chamará a atenção... – Thomas balançava a cabeça negativamente. – Logo ela se apaixonará por você. E será apenas uma questão de tempo até que se torne mútuo e vocês possam construir uma boa vida. Além disso, você começará a trabalhar com o seu pai. – enfim pôs a sua autoridade de mãe ali.
Thomas – Você só pode estar louca...
Lorraine – Louca?! – ela agora gritara. – Isto é o mínimo que eu posso fazer por aquela família, Thomas! – bradara e ele apenas desviara o olhar, abalado. – Tirar você das ruas e impedir com que outro inocente se fira no caminho. – Thomas nada dissera. – É isto que você quer? – ele continuara a ficar mudo. – Foi o que eu pensei...

Lorraine então começara a dirigir. A câmera começara a se afastar. A expressão de Thomas. A expressão de Lorraine. Ambos saindo daquele estacionamento. A outra cara de Lorraine se expressando cada vez mais. Os segredos imundos. O motivo pelo qual Thomas e Hannah se conheceram. E ela sequer faz ideia de isso até agora. E talvez este fosse somente um dos motivos para se abalar tanto com a questão do casamento. A culpa do acidente. A culpa de não ter acontecido naturalmente. A culpa de que ele teria que levar isso com a sua vida para sempre. Mas o que poderia ele fazer? Absolutamente nada. Teria apenas que seguir em frente.
End Of Flashback
Todo aquele flashback passara por sua cabeça. Toda aquela memória. Todas aquelas ações. Todos aqueles arrependimentos. Hannah. Lorraine. A tal moça que morrera no seu acidente. Mas ele havia prometido que faria diferente. Por Luna. Por Hannah. Ele havia mudado de vida. Mesmo que não fosse a sua intenção em ser proposital. Não achava que iria se apaixonar por ela. Sequer acreditava que esse dia poderia tornar-se realidade. Ou que poderia construir uma família. De qualquer forma... Havia tentado.

Distraiu-se quando ouvira a campainha tocar. Ele suspirou. Faltavam poucos minutos. Saíra de seu quarto, apagando a luz e deixando a porta ainda aberta. Dera passos até chegar à porta da sala. E então, a abrira com a chave que já estava no buraco de fechadura. Abriu. E então pudemos ver Mike. Com um terno parecido, mas não tão escuro. De qualquer forma, também lembrava o de Simon. Mike sorrira. Sempre piadista, não deixara de brincar ao ver o seu amigo ali bem em sua frente:
Mike – Deus! Eu estou quase casando com você também! – Thomas riu. –Será que dá tempo de colocar um vestido de noivo? – sorriu maliciosamente. – Me dá um abraço, homem do ano... – eles então se abraçaram.
Thomas – Como você é idiota... – Mike sorriu.
Mike – Eu sei. Partilhamos da mesma característica. – ambos riram. – Bem... Então acho que é isso. Está pronto? – Thomas dera um longo suspiro, ficando pensativo.
Thomas – É. Eu estou pronto. – garantiu.

Mike dera dois tapas no ombro de Thomas. Ambos saíram do apartamento. Thomas fechara a porta e se trancara. Quando voltasse seria oficialmente um homem casado. E era bom contar com o apoio de pessoas que gostava. De qualquer forma, mais uma vez, íamos descobrindo cada vez mais um pouco sobre ele. Thomas deixou de ser o membro mais misterioso da família. Aprendemos sobre ele. E também poderíamos concordar que ele definitivamente estava pronto. Pronto para seguir em frente.


Virginia, EUA (Richmond Town) – Beauty & Model SPA / Inside The Limusine
09:28 PM
Em um pódio, era onde Hannah estava. Já com o seu salto em seu pé. Diversas mulheres ajustando os detalhes finais de seu vestido de casamento. Ela estava deslumbrante. Maquiada perfeitamente. Os lábios destacados com batom. O rímel. O delineador. Sentia-se como realmente este fosse o seu dia. E claro, o dia de Luna também. Acariciava a sua barriga o tempo inteiro. Estava ansiosa. Para o casamento... Para o nascimento de sua filha... E para construir uma vida com o homem que realmente ama.

O local em que estava já não era mais um “SPA”. Era mais uma sala reservada. Era normal que noivas ficassem ali para se preparar para o casamento, então fora desenvolvido um local específico para que fosse arrumado os detalhes finais. Era um espaço não muito pequeno com vários espelhos para que elas pudessem se olhar. Tinha várias cortinas avermelhadas bem grandes também e algumas máquinas de costuras em cima de bancadas. Próximas de Hannah, estavam as costureiras com suas respectivas agulhas traçavam as linhas finais. O vestido dela era branco. O que era óbvio. Deixava seus ombros desnudos e tinham partes que envolviam seus braços. Era totalmente liso, ou seja, sem renda. Seus cabelos estavam ondulados, para também sair do clássico coque. Preferia não usar o véu de grinalda. Queria ir com o rosto livre. Queria chorar. Queria vê-lo chorar. Queria ver a sua família chorar e a dele também. Apenas gostaria de se emocionar.

Depois de alguns minutos, tudo parecia concluído. Eram cinco mulheres. Elas se afastaram. Era difícil achar uma noiva grávida que ficasse tão linda, mas Hannah estava deslumbrante. Desceu do pódio com a ajuda de uma delas e andou lentamente até um dos espelhos. Sorriu de orelha a orelha. Chegou até mesmo a se emocionar. Encheu os olhos de lágrima. O lado positivo era que a maquiagem era a prova d’água, mas não gostaria de gastar todas suas lágrimas agora. E então, murmurou:
Hannah – Droga... Mal chegou a hora e eu já estou aqui igual uma boba chorando. – ela sorria ao mesmo tempo. – Obrigada, garotas... – ela agradeceu, olhando a todas elas. – Vocês foram essenciais para fazer esse dia ainda mais especial. – ela garantiu, e fora o momento em que ouvira o telefone tocando, e Hannah olhara para trás e vira uma das funcionárias indo até ele para atender, prestando atenção e vendo ela somente assentir e responder, não sendo possível ela ouvir a total conversa.
??? – Hannah... A limusine chegou. – informou a moça, que tinha prováveis quarenta anos, com cabelo channel loiro, desligando o telefone logo em seguida.
Hannah – Bem... Então eu acho que é isso. O momento se aproxima. – ela virou-se para todas as costureiras. – Mais uma vez, obrigada pelo apoio. – ela agradeceu novamente com um sorriso. – Deus eu estou tão nervosa! – ela riu e mostrou a mão trêmula para as costureiras que riram ao ver isso. – Bem... Então vamos lá. Querem me acompanhar? – elas se entreolharam e assentiram. – Então vamos lá... Me ajudem mais uma vez, hein? Não me deixem cair! – ela brincou, divertida.

Hannah então andava. Tentava ir com classe. Afinal, estava de salto e grávida. Era complicado. Apoiava-se nas costureiras que as guiavam para fora da sala. E logo todo aquele salão do SPA fora visto. As mulheres restantes que estavam ali comemoravam e gritavam: “Linda! Maravilhosa! Perfeita! Noiva mais linda que eu já vi!”. Era realmente um apoio. Hannah sentia-se bem. Sentia-se linda. E todo esse dia exclusivo e dedicado para ela dentro do SPA somente ajudava para isso. Elas então andaram. E andaram. E logo chegaram à porta de vidro onde Hannah já pôde visualizar a limusine estacionada. O motorista estava lá. Com o chapéu clássico e com o terno clássico. Hannah o reconheceu imediatamente. Ficara séria e mudara seu semblante em questão de segundos. Como se já o conhecesse. As costureiras então a levara até a porta. Hannah despediu-se individualmente de cada uma delas e fora o momento em que o motorista se aproximara para ajuda-la. Era um homem jovem. Com uma barba rala. O corpo provavelmente malhado. Era másculo. Dera um sorriso galanteador para as costureiras que ficaram ali até o motorista acompanhar Hannah até a porta e abrir para ela. Hannah parecia desconfortável, especialmente após o ouvir dizer: “Você está absolutamente linda...”, mas ela parecia não tentar demonstrar isso. E logo adentrou na limusine.

Era um carro espaçoso, obviamente. Tinha vários bancos. No centro, um balde cheio de gelo com várias champagnes. Observou ele adentrando no carro logo em seguida. A janelinha que dava a visualização do motorista logo fora aberta. Ele dera um sorriso de orelha a orelha. Hannah parecia séria ainda. Um semblante até mesmo estranho, afinal, ela demonstrou ser alguém simpática e paciente o dia todo. Mas, não conseguiu se segurar ao então perguntar:
Hannah – O que você está fazendo aqui, Gregor? – revelara então o nome dele.
Gregor – O motorista não pôde e Thomas pedira para que eu viesse. – ele continuou a sorrir, como se fosse uma maneira de provoca-la. – Você viu? Até consegui um chapéu. Diz se não é o motorista mais gostoso que você já viu... – disse dando uma piscadela com uma alta confiança em si mesmo e Hannah apenas riu, debochando.
Hannah – Faça-me o favor... – desviou o olhar.
Gregor – Vamos lá, amorzinho... Você já foi mais divertida. – olhou para ela com malícia. – É a sua última noite de solteira. Embora eu e você saibamos que não faça diferença alguma.
Hannah – Aquilo não voltará a acontecer! – bradou.
Gregor – Você e eu sabemos que isto não é verdade. – Hannah sorriu de nervosismo.
Hannah – Eu estou me casando, Gregor! – afirmou. – Com o seu amigo!
Gregor – Bem, você não pensou nisso quando estávamos nos deliciando na cama dele há um mês... – ele rolou os olhos, ainda rindo em seguida. – Thommy sabe que nós transamos três semanas antes de você descobrir a sua gravidez? – ele sorriu maliciosamente. – E em uma época em que vocês não estavam bem no relacionamento... – aquilo parecia ter aborrecido Hannah. – Já pensou como vai ser se a pequena Luna nasce com o meu rostinho maravilhoso? – ele riu novamente. – Será muito engraçado... – ele ficou pensativo.
Hannah – Eu nunca irei admitir que você é pai da Luna! – rangiu os dentes.
Gregor – Imagino como será a cara da pobre Lorraine ao descobrir que a nora dos sonhos não passa de uma vadia... – Hannah neste momento pareceu ter se irritado.
Hannah – Pare ou eu ligarei para o Thomas! – ameaçou e Gregor ficara sério.
Gregor – É mesmo? – ele duvidou. – Você não tem noção de que a pessoa que realmente tem as cartas aqui sou eu, não é? – Hannah negava balançando a cabeça em negação. – Bem... Você aparentemente não sabe brincar. – ele deu de ombros, pronto para dar partida no carro.
Hannah – Qual é o seu problema com o Thomas? – questionara. – Vocês são amigos há tantos anos... Fizeram faculdade de engenharia juntos. Você praticamente cresceu naquela casa e hoje fala com tanto desgosto da família Gillings... – parecia inconformada com aquela situação. – Como se os odiasse...
Gregor – Eu odeio. – disse, sem problema algum. – Talvez, com exceção de Tiffany. Ela descobriu que a família dela não vale nada e é que não passam de pedaços ambulantes de merda. – ele riu agora neste momento.
Hannah – E por que você continua falando com eles? Indo até a eles?
Gregor – Talvez porque eu adore ter o prazer de ver a cara do pequeno Thommy sem ele imaginar que eu durmo com a noiva dele. – respondeu, diretamente.
Hannah – Como eu disse... Não voltará a acontecer. Foi uma fraqueza minha. Thomas não merece isso. Lorraine não merece isso... – Gregor riu.
Gregor – Ah, querida... – ele sorriu novamente malicioso. – Você realmente não sabe nada sobre a família Gillings... – deixara no ar. – E irá voltar a acontecer sim. Não agora... – ficou pensativo. – Deixarei você curtir essa vida patética de casado com o Thomas por alguns meses. E então, podemos voltar a aproveitar o que realmente interessa, não é? – ele tornara a sorrir. – Ou você vai dizer que eu realmente não sou melhor de cama do que aquele playboy metido? – Hannah nada respondera. – Eu tenho você em minhas mãos, Hannah. – ele disse, agora sério. – Eu posso acabar com essa sua reputação de boa moça em poucos segundos. Será praticamente deserdada. E voltará a ter aquela sua antiga vida de fracassada como vendedora de roupas em um shopping mequetrefe. – debochou.

Gregor enfim ligara o carro. Fechara aquela janela que permitia com que Hannah o visse. Ela? Totalmente aflita. E não era para menos. E cada vez mais íamos descobrindo que os integrantes da família Gillings tinham realmente podres. Era somente uma questão de tempo. Não existe perfeição, uma vez já mencionado. Hannah não era perfeita. E o pior de tudo é que ela agora teria que acatar as decisões de Gregor. E viver com o peso na consciência de que Luna poderia ser sua filha. E aquilo a machucava. Porque apesar de tudo isso, ela realmente amava Thomas.

Virginia, EUA (Richmond Town) – St. Jude Church Scenes
10:11 PM
Finalmente chegou o momento. A câmera captava totalmente a decoração da igreja que receberia os noivos em instantes. Vimos a igreja. Imensa. O tapete principal, por onde passaria os padrinhos e madrinhas junto do noivo e a noiva, era amarelo. A igreja toda tinha como cronometria o amarelo. Era uma simbologia. Vimos também a decoração de flores. Vasos e mais vasos espalhados apoiados na estrutura da madeira que separava os bancos onde os convidados se sentariam. Era um extenso tapete. Como de premiações de cinema e séries. A igreja tinha lá na frente a cruz onde Jesus fora amarrado e crucificado. O teto era pintado por algum pintor famoso. Víamos anjos e santos por ali também. Abençoado, poderíamos dizer assim. Havia um grande lustre pendurado. Iluminava praticamente toda a igreja. O local era lindo. Riquíssimo em seus detalhes. Feito com amor, com paixão. Tinha até mesmo um teor chique. Um teor acima do nível. Algo que definitivamente não poderia faltar para a família Gillings.

A maioria dos convidados já estava ali. Afinal, fora marcado para as dez das noites, como a própria Lorraine havia dito. Talvez fosse parte de um charme. Era um charme a noiva atrasar. Fazia com que ainda se tornasse emocionante. Porém, este não parecia ser o que agora preocupava Thomas. Ele aguardava próximo da porta onde entraria a noiva, com o seu belíssimo terno, parecendo estar um pouco impaciente. Era uma porta grande, inclusive. Encontrava-se aberta, por onde os convidados entravam. Alguns convidados já vinham o cumprimentar. Eram homens e mulheres de alta sociedade. Afinal, seu pai e sua mãe representavam uma marca. Como já mencionado inúmeras e inúmeras vezes. Thomas apenas sorria. Ao seu lado, estava Mike. Parecia aflito. Olhava para o seu relógio. O que lhe realmente preocupava era que ainda faltavam pessoas para chegar ali. Era que faltava a sua família. Ninguém deles havia chegado ainda. Já havia mandado mensagens, telefonado, mas aparentemente... Ninguém respondia. Estava claro que ele não estava ciente do que havia acontecido com Tiffany, mas ainda assim, era como se ele sentisse que algo tivesse acontecido. E o pior: que talvez pudesse ter sido a sua culpa, já que ele que havia insistido para deixa-la se divertir. Tentou se manter calmo. As pessoas iam e vinham. Cumprimentavam. Acenavam. Davam parabéns. O restante dos padrinhos já se posiciona em suas posições. Estavam prontos para dar início. Ele, então, se virara para Mike, e dissera:
Thomas – S-Será... Será que esse casamento vai acontecer? – ele dizia entre dentes, já que tentava disfarçar o máximo que conseguia. – As pessoas logo vão comentar entre si. – uma senhora de idade vestindo um vestido rosa logo viera o abraçar, fazendo o mesmo em seguida com Mike, somente por educação, embora não o conhecesse, causando até mesmo estranheza.
Mike – Você já ligou para eles?
Thomas – Já. Inúmeras vezes. – ele rolou os olhos. – Daqui a pouco a Hannah chega e eles não estão aqui ainda... – e fora o momento em que ele fitara Gregor chegando próximo da escadaria, já que ele estava próximo da porta aberta, o que indicava que Hannah já estava por ali. – Viu só? – ele murmurou. – Está dando tudo errado... Ela já chegou aqui, Mike! – ele bufou.
Mike – Thomas... – ele sorriu. – Relaxa. Jogar negatividade não vai adiantar nada. – Thomas então suspirou, como se estivesse contando até dez.
Thomas – É. Você tem razão. Não adiantará de nada... – ele concordou.

As portas estavam prestes a fechar. Gregor provavelmente ficara do lado de fora. Não era padrinho. Um amigo de Thomas. Mike também se posicionara com o seu respectivo par. Thomas dera uns passos mais para trás, pois seria o último da fila que se formava. Pudemos ver de fundo, Mike conversando com o seu par. Parecia estar fazendo piadas. Thomas suspirou. A sua impaciência continuava e continuava. A porta logo se fechara. Estavam para começar o casamento. A noiva estava lá, não tinha mais como adiar. E antes que eles pudessem fazer isso, fora o momento em que Lorraine e Tiffany correram para conseguir passar a tempo. Elas enfim conseguiram chegar. Tiffany fora mais para frente. Sequer olhara para Thomas, apenas queria se distanciar. Também era madrinha, portanto, cruzara os braços com o do rapaz que a acompanhava. Lorraine se posicionara próximo de Thomas. Os convidados já estavam sentados. Tudo encaminhava para enfim de fato acontecer. Thomas, então, olhando pra frente agora, entre dentes e sussurrando, perguntara:
Thomas – Por que vocês se atrasaram? – Lorraine parecia estar aérea, somente acenando para alguns convidados que cochichavam entre si apontando para ela, e pudemos ter uma visão melhor dela, uma vez que ela havia trocado o seu vestido, agora era rosa, não muito forte, com vários detalhes, principalmente na parte superior, enquanto a cauda permanecia sendo lisa, com as costas nuas e abertas.
Lorraine – Podemos ignorar isso, por favor? – ela sorria ainda, sem olhar diretamente para Thomas.
Thomas – Aconteceu alguma coisa, não aconteceu? – ele insistiu.
Lorraine – Depois nós conversamos, Thomas. – ela ficara mais séria agora, murmurando. – Hoje é o seu dia. Não vale a pena estraga-lo. – afirmou, decidida.

Music Background: Bitter Sweet Symphony – The Verve
A música começara a tocar. Os convidados se levantaram. Thomas deu-se por vencido e cruzou os braços com a da sua mãe. Não parecia ter comprado essa história de “hoje é o seu dia”, mas por ora, deixaria como estava. Como ela mesma havia mencionado, não vali a pena estraga-lo. Logo, a coordenadora que provavelmente Thomas havia contratado começara a orientar os padrinhos e madrinhas. Eles começaram a andar. Desfilavam por aquele tapete. O coração de Thomas batia cada vez mais rápido. Era como se tivesse borboletas em seu estômago. Como se realmente mal pudesse acreditar que este momento havia chegado. Pudemos notar os fotógrafos mais a frente. Tiravam fotos. Os padrinhos paravam. Sorriam. E logo continuavam o seu caminho. Nada mais e nada menos do que isso.

A fila andava. Tiffany fora a seguinte. Com o cabelo ondulado, provavelmente feito às pressas, estava com um belíssimo vestido verde-água. Tinha detalhes prateados nele. Fizera “carão” para a câmera. Até mesmo chegara a sorrir. Fingia bem. Tal como o restante de sua família. Sentia-se como uma modelo, embora, pudesse também estar enjoada. Era o efeito da droga ainda nela. O seu parceiro continuara a andar, acompanhando-a para o altar. Tiffany então fora para o lado esquerdo. Era o lado em que os padrinhos convidados pelo noivo ficariam.

A fila continuava. E continuava. E a música ia e vinha. Mais um casal fora. Mike e sua acompanhante aguardaram por alguns minutos. E também foram. Mike era um grande amigo de Thomas. Era óbvio que ele seria o padrinho. Mas, na hora de tirar a foto, deixara as piadas de lado e sorrira. Fez bonito até mesmo. Thomas chegara a rir. Não parecia ser alguma atitude dele. Em tempos normais, apenas zoaria. Mas parece que havia mudado. Pelo seu amigo.

Não demorara muito para que chegasse a vez de Thomas e Tiffany. As fotos. Os flashes. Os fotógrafos. O câmeraman o filmando. Thomas estava apreensivo. Lorraine olhara para ele. Por um momento, havia se esquecido do nervosismo que havia passado. A sinfonia e a música que tocava era absolutamente lindíssima. E no momento em que a coordenadora o liberou para seguir adiante, Thomas pôde ter a certeza: está finalmente acontecendo.

Estava de “braços dados” com o de Lorraine. Enrolado. Esta, sorria. Tentava até mesmo não se emocionar. Pararam por um instante para que pudessem ser fotografados. Com o apoio da câmera, pudemos os vê-los de frente. Thomas. Lorraine. Lindos. Maravilhosos. Muito bem vestidos. E felizes. Acima de tudo... Felizes. Tudo o que Lorraine havia dito para ele na noite em que havia pagado a sua fiança havia acontecido. Hannah não sabia disso. Poucos sabiam disso. Talvez, até mesmo, somente Simon. Mas ainda assim, havia acontecido. E para ela era uma honra. Hannah era uma ótima moça. Aparentemente, pelo menos. Daria a ela uma neta. Do que mais ela poderia reclamar? Bem... De nada. O importante era que o seu garoto havia crescido. Eles continuaram o seu caminho. E andavam por aquele tapete. E andavam. Até que chegaram até ao altar. Thomas ficara de frente para Lorraine e a olhara no fundo de seus olhos. Ele dera um leve sorriso no rosto. Vimos uma lágrima escorrendo no rosto dele. Era impossível não se emocionar com um momento como esse. Logo, ele então, dissera:
Thomas – Obrigado por tudo... – ele, então, pegara nas mãos dela e beijara e Lorraine sorrira de orelha a orelha, também emocionando-se.
Lorraine – Deus o abençoe, meu filho... – ela então o abraçara firmemente.

Lorraine fora para o lado esquerdo. Ficara ali sozinha. Era uma cerimônia. Era algo natural. Thomas ficara de frente. Em sua posição. Onde esperaria agora por Hannah. Com as mãos fechadas. Todos os padrinhos e madrinhas ali. Três de cada lado. O padre logo chegara. Um senhor de idade. As fotos. Os flashes. Os fotógrafos. Era realmente um belíssimo dia. Pelo menos... Para ele.

...

Estávamos do lado de fora. A limusine fora vista. A câmera acompanhava Hannah. Do lado de dentro. Tentando não se sentir muito abalada com o que Gregor havia dito para ela. Tentando não se sentir muito abalada com qualquer coisa que viessem lhe dizer agora. Carregava em suas mãos um terço. Havia rezado. Rezado para que absolutamente tudo ficasse bem. Seus olhos marejaram. Limpara-os, para que ninguém notasse. Emoção? Também. Mas na realidade... Ela apenas desejava que Thomas nunca soubesse a realidade. O que apenas acabava criando uma espécie de paradigma, uma vez, que ele também guardava coisas dela. Seria uma coincidência? Talvez. Mas de alguma maneira era melhor que isto fosse revelado o mais rápido possível. Evitava com que ambos acabassem se machucando durante este processo.

Logo, a sua porta fora aberta. Chegara o momento. Gregor lhe dera as mãos. Hannah não tinha opção, a não ser aceitar a ajuda para sair dali. E assim fizera. Ela olhara ao seu redor. A vizinhança. Os carros estacionados. A grande igreja do lado de fora. E Simon aguardando para leva-la até o altar diante da porta fechada. Gregor nada dissera. Não havia mais nada que ele pudesse dizer a ela. Somente, ainda segurando as mãos delicadas dela, a guiara por aqueles degraus, ajudando-a a subir cuidadosamente. Simon logo fora recebê-la. Ele trocara um leve sorriso de canto com Gregor, que assentira mais uma vez. Ele e Hannah trocaram olhares pela última vez. Ele então se afastou. Trataria de assistir o casamento do interior. Precisava ainda manter esta “pose de bom amigo da família” para aqueles aos seus arredores. Simon pegara nas mãos de Hannah. O motivo pelo qual ela talvez estivesse ali seria de que já não possuísse mais pai. E aquilo era um motivo único. Que a levara em prantos. Simon, então, trata de elogiá-la:
Simon – Você está linda... – sussurrou ele e Hannah apenas agradecera com um singelo sorriso.
Hannah – Obrigada, Simon. Obrigada por substitui-lo em um momento tão importante para mim... – Simon sorriu novamente. – Seja onde ele ou a minha mãe estiverem... – desta vez, Hannah revelara que sua mãe também já havia falecido. – Eu tenho certeza de que eles estão me assistindo. Assistindo Thomas. Assistindo a Luna. – Simon assentira, parecendo concordar. – Obrigada... – agradeceu novamente, e então, a abraçara.

Eles cruzaram seus braços. Ficaram na posição. Vistos de costas pela câmera, Simon estava na esquerda. Hannah na direita. A porta prestes a abrir. Ela estava pronta. Ela precisava esta pronta. Thomas contava com isso. Os seus amigos contavam com isso. Os familiares contavam com isso. Todos os detalhes de sua maquiagem e vestido já haviam sido descritos. Hannah acariciara a sua barriga. Ela assentira. Tinha certeza do motivo de estar ali, não importando o que Gregor havia dito a ela. Ela amava unicamente e exclusivamente Thomas e havia o escolhido para ficar ao lado dela em sua vida. E para ela... Isso bastava.

...

Music Background: A Thousand Years – Christina Perri
A cena voltara para o interior da igreja. Thomas suava. Suava frio. Aguardava. E no momento em que a música começara a tocar... Ele tinha certeza de que ela estava vindo. A câmera captava imagens exclusivas da reação de Lorraine. De Tiffany. Da expressão de cada uma delas. O piano delicado da canção. A porta se abrindo. Como ele estava no altar, conseguia ter uma visão. Todos os convidados se viravam. Era o momento que todos mais aguardavam: a chegada de Hannah. A porta abria-se. Lentamente. E mais lentamente. E fora o momento em que os flashes foram disparados em que podíamos ter a certeza: Hannah estava ali. Com um buquê lindíssimo em mãos. Era branco. Flores brancas. Pétalas brancas. Totalmente branco. Estava acompanhada de Simon. Ela o via como uma figura paterna. Substituía essa figura, pelo menos. Lorraine sorrira. Thomas sorrira. Emocionara-se. Não cansava de mostrar seus dentes. Não cansava de observar. De analisar. De crer. Hannah estava ali. E ela estava exuberante.

A caminhada da noiva então logo começara. Eram passos lentos. Passos muito lentos. Ela e Simon andavam. Os fotógrafos não atrapalhavam, mas tiravam várias fotografias. Hannah não deixava de sorrir. Parecia lento. Mas era. A canção de Christina Perri continuava a ecoar por aquela igreja. Os convidados também tiravam fotos. Eles cochichavam entre si. Hannah estava maravilhosa. E ninguém tinha muitas dúvidas disso.

Os minutos se passavam. Quando eles enfim se aproximaram, Thomas descera os degraus para pegar a mão da noiva. Demorou alguns segundos até que se aproximassem totalmente. Thomas esperara com que Simon desse um apertado abraço em Hannah. Vimo-la se emocionando. Não era fácil fazer tudo isso sem a presença de seus pais. Conseguiria Thomas? Ele também não sabia. Assim que se desvencilharam, Simon abraçara firmemente o seu filho. Ficaram ali por alguns segundos. Thomas também se emocionara. Da mesma maneira que havia no momento em que encontrara o aconchego de sua mãe. Simon logo se afastou. E foi até a Lorraine, ficando do lado dela. Trocaram um leve sorriso. Lorraine havia observado tudo. E o que ela podia dizer e afirmar era que estava somente orgulhosa. Estava tudo lindo. Tudo magnífico.

Thomas encontrou Hannah agora. Ele foi até a ela. Dera um beijo na testa dela demorado. Hannah fechara os olhos. Ele, logo, agachara-se de joelhos e também dera um beijo na barriga de Hannah. Não teve uma única pessoa que não achara aquilo extremamente fofo e agradável. Ele logo pôs-se de pé. Sussurrou para ela: você está linda. E ela retribuíra: você também. Cruzaram os braços. E então deram passos adiante. Até que calmamente e tranquilamente... Encontraram-se sob o altar. Aguardando o início da cerimônia.

...

Alguns minutos já haviam se passado. Thomas e Hannah estavam ali. Os convidados sentados. Pudemos até ver Anastacia sentada na primeira fileira. Bethany estava ao seu lado. Arrumada como já havia sido mostrada lá na mansão dos próprios Gillings. Estava feliz em assistir e presenciar algo tão importante para a sua net. A cerimônia provavelmente já estava próxima do fim. Lorraine e Simon assistiam. De braços cruzados. Tiffany e Mike, obviamente, também estavam ali. A primeira, séria. Nada dizia. Mas também não parecia impaciente. Embora tivesse feito “birra” pelo fato de estar sendo obrigada a ir ao casamento, no fundo, ela havia gostado. Já Mike, estava sendo motivo de boas risadas de Thomas, que não conseguia se concentrar no que o padre estava dizendo. Ele mesmo já havia chorado. E aquilo era realmente hilário. Nunca imaginou que o pano dentro do bolso de seu paletó valeria de algo. A câmera também focara em Gregor. Não estava sentado, mas afastado. Assistia àquilo. De braços cruzados e com um sorriso malicioso estampado no rosto. Iria fazer valer aquela promessa feita para Hannah. E ela também sabia disso.

Hannah e Thomas se fitavam. O padre falava algo. Lia algo em suas mãos. Parecia estar os benzendo. Podíamos ver pela leitura labial que eles estavam se declarando um ao outro. Então, chegara o momento em que consumariam de vez aquele matrimônio. Thomas e Hannah pegaram um na mão do outro. Se entreolharam. Lorraine sorria. Estava realmente feliz. E então, pudemos prestar atenção firme, no que o padre realmente dizia:
Priest – Noivos caríssimos, viestes à casa da Igreja para que o vosso propósito de contrair Matrimônio seja firmado com o sagrado selo de Deus, perante o ministro da Igreja e na presença da comunidade cristã. – Hannah e Thomas ainda se olhavam. – Cristo vai abençoar o vosso amor conjugal. Ele, que já vos consagrou pelo santo Baptismo, vai agora dotar-vos e fortalecer-vos com a graça especial de um novo Sacramento para poderdes assumir o dever de mútua e perpétua fidelidade e as demais obrigações do Matrimônio. Diante da Igreja, vou, pois, interrogar-vos sobre as vossas disposições. – declamou o rito do matrimônio. – Thomas Gilling e Hannah Rankin, viestes aqui para celebrar o vosso Matrimônio. É de vossa livre vontade e de todo o coração que pretendeis fazê-lo?
Thomas – Sim... – sorriu, e Lorraine também emocionara-se ao ouvir isso, junto de Hannah, que também sorria.
Hannah – Sim...
Priest – Vós que seguis o caminho do Matrimônio, estais decididos a amar-vos e a respeitar-vos, ao longo de toda a vossa vida?
Thomas – Sim.
Hannah – Estou, sim.
Priest – Estais dispostos a receber amorosamente os filhos como dom de Deus e a educa-los seguindo a lei de Cristo e da sua Igreja? – Hannah neste momento passara a mão em sua barriga e Thomas sorrira de orelha a orelha.
Thomas – Sim.
Hannah – Sim...
Priest – Uma vez que é vosso propósito contrair o santo Matrimônio, uni as mãos direitas e manifestai o vosso consentimento na presença de Deus e da sua Igreja. – Thomas e Hannah então uniram as mãos direitas, enquanto aproximaram um microfone na boca de Thomas para que ele pudesse falar.
Thomas – E-Eu... – a sua voz mal saia, o que arrancava risadas de alguns ali perto, e Mike até mesmo continuava a se emocionar e a chorar. – Eu Thomas Gillings, recebo-te por minha esposa a ti Hannah Rankin... – Hannah sorria e tinha os olhos marejados agora. – E prometo ser-te fiel... – continuou. – Amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença... – Thomas chegara a ter uma lágrima escorrendo em seu rosto. – Todos os dias da nossa vida. – colocara o anel no dedo de Hannah, e trouxeram o microfone para próximo dela, agora.
Hannah – Eu... Hannah Rankin. – tinha mais firmeza em sua voz, embora também estivesse mais trêmula. – Recebo-te por meu esposo a ti Thomas Gillings, e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença... – ambos sorriram. – Todos os dias da nossa vida. – ela também colocara o anel no dedo dele. –
Priest – Confirme o Senhor, benignamente, o consentimento que manifestastes perante a sua Igreja, e se digne enriquecer-vos com a sua bênção. Não separa o homem o que Deus uniu. – os convidados se levantam neste momento. – Bendigamos ao Senhor... – e todos então falaram em uníssono “Graças a Deus”. – Eu os declaro marido e mulher. Thomas... – ele deixara a formalidade de lado agora. – Pode beijar a noiva.

E então Thomas a agarrou em seus braços e a abaixou. Beijou-a. Com amor. Com intensidade. Com muita felicidade. Os gritos de comemoração. O sorriso de Lorraine. O sorriso de Simon. As lágrimas de Mike. Até mesmo Tiffany. Tudo havia dado certo, aparentemente. O casamento havia acontecido. O casamento enfim havia acontecido. E agora eles eram casados. Marido. E mulher. O padre logo se afastara. Os padrinhos logo vieram até a eles. Uma dupla de vez. Abraçando os noivos. E dando felicitações. Tiffany. Mike. Lorraine e Simon. Tudo parecia estar indo bem. Conforme estes gestos aconteciam, eles desciam do altar e iam para a porta da frente da igreja, que já estava aberta. Era um momento bastante emocionante, porém, breve.

Fora o momento então em que quando tudo já havia acabado, Thomas e Hannah se olharam. Cruzaram os braços. E estavam próximos de descer o altar juntos. Casados. Os fotógrafos vieram. Tiravam fotos. Os convidados jogavam arroz. As risadas. Um momento único e marcante na vida de cada um deles. Como Lorraine havia começado o dia: será um belíssimo dia. Apesar dos pesares... Estava sendo mesmo. Um belíssimo dia. Uma belíssima noite. Para ambos Hannah e Thomas.

Virginia, EUA (Richmond Town) – Camp, Various Scenes
10:36 PM
A câmera filmava o mesmo grupo que havia cercado Carl. Podíamos ver claramente o céu. Escuro. Sem estrelas. Limpo. E Lua, que iluminava perfeitamente aquela noite. Estavam na ponte em que ele havia conversado com Dani. Davam várias risadas. Curtiam. Tinha até mesmo uma música ligada. Não muito alta, pois como dito, não queriam chamar a atenção do diretor. Não queriam se meter em encrencas. Apenas se divertirem. De qualquer forma, era uma música eletrônica. Podíamos contar um grupo de cinco. Seis, se incluíssemos Carl. Este, que estava mais afastado. Sentado na beirada da ponte. Cabisbaixo. Pois se mantinha preso. Não queria estar ali. Queria apenas estar perto de Danielle e de Marcella, também.

Carl se levantara então. Parecia agora ter deixado de ser tão retraído. De ser tão reservado. Como se realmente tinha que tomar uma atitude. Dirigiu-se até a eles, sem sequer dizer uma palavra. Como se realmente estivesse prestes a sair dali. Mas novamente, Jonathan se pôs em sua frente. Cada vez mais bêbado e fora de si mesmo. Abrira os braços, dando risada, impedindo-o de sair dali:
Carl – Deixe-me passar, por favor... – pedira novamente, agora se impondo mais.
Jonathan – Novamente, Carl? – ele bufou. – Eu já disse a você que passará o resto da noite aqui. Conosco. Que somos os seus amigos!
Carl – Você não é o meu amigo... – ele franziu o cenho.
Jonathan – É. Bem... Talvez. – ele riu. – Mas, ainda assim... Queremos ser. Eu realmente quero ser seu amigo. Como um irmão. – ele, então, tentara colocar seu braço em torno de Carl, que recuara rispidamente.
Carl – Não encoste em mim! – ele bradou, agora, em um tom de voz mais alto, surpreendendo Jonathan e todos os seus amigos do grupo por ali.
Jonathan – Olha só, rapaziada... – ele rira. – E não é que o pequeno Carl cresceu? – ele ficara sério agora. – Você realmente precisa esfriar a cabeça, não é mesmo, Carl? – ele então empurrara Carl, que cambaleara para trás. – Eu realmente estava querendo acabar com nossa inimizade. Como a própria Danielle mencionara... Crescer. Evoluir. Aceitar que já somos homens civilizados! – bradara, empurrando Carl novamente, que se vira cada vez mais próximo daquele lago.
Carl – Pare... – ele fora empurrado novamente. – Pare! – pedira, assustando-se ao se ver novamente na borda da pequena ponte, enquanto o grupo de Jonathan parecia torcer e estar o zoando ainda mais.
Jonathan – Qual é? – ele riu. – Está com medo da água? – perguntara debochado.
Carl – Eu... Eu não sei nadar... – ele disse, desviando o olhar, tímido, tentando manter o equilíbrio, porque realmente estava na iminência de cair ali.
Jonathan – Você não sabe nadar? – todos ali gargalharam, exceto por Carl. – Você está brincando, não está? – ele franziu o cenho.
Carl – N-Não... – ele murmurou. – Eu não sei nadar. – reafirmou.
Jonathan – Bem... – ele sorriu maliciosamente. – Vamos ver então se você está falando a verdade...

E empurrara Carl. Carl caíra no lago. Risadas. Diversão. Bebida. Carl se afobava ali na água. Vimos ele tentar manter o controle ou até mesmo subir de volta para a ponte. Pedia por ajuda. Pedia por clemência. Mas Jonathan também estava na ponta. Impedia e impossibilitava que Carl subisse enquanto todos davam gargalhadas. Para ele... Tudo não se passava de uma zoação. Mas era algo sério. Realmente sério. Pois Carl realmente não sabia nadar. E estava afogando. E estava ficando sem ar. Cada vez mais. Tentava ficar com a cabeça para fora, mas como se tratava de um lago, era muito fundo para ele. E aquilo somente tendia a piorar cada vez mais. Ninguém o ajudava. Ninguém o ajudava porque simplesmente não acreditavam nele. E fora o momento em que Carl já não podia ser visto mais. Já não estava mais ali. Já havia perdido a força para aguentar. E havia realmente afundado. As bolhas que a água soltava logo deixaram de surgir. E fora o momento em que as risadas desapareceram. E tudo aquilo deixara de ser algo divertido. O grupo até mesmo se aproximara. Jonathan ainda insistia em acreditar que Carl também havia entrado na brincadeira. Mas muito pelo contrário... Ele parecia ter se afogado. Jonathan, então, disse:
Jonathan – Vamos lá, Carl... A brincadeira acabou. – ele dera um sorriso ainda, tentando se manter no clima. – Vamos, Carl! – incentivou, com um grito, mas nada parecia subir à superfície. – Carl? – ele agora ficara sério, notando o que realmente havia acontecido, recuando para trás, junto de seu grupo.
??? – O que está acontecendo, Jonathan? – questionou outro.
??? 2 – A brincadeira foi longe demais... – comentou mais um.
Jonathan – Calem a boca! – bradou. – Droga... – ele murmurou. – Isso não pode estar acontecendo... – e fora o momento em que todo o seu grupo parecia estar se afastando cada vez mais. – Onde vocês estão indo?! – ele questionara.
??? – Nós não temos nada a ver com isso! – gritou o primeiro que havia se intrometido, e Jonathan permaneceu ali, próximo da beirada.
??? 3 – Foi você que o empurrou! – acusou outro.
Jonathan – Eu? – ele olhara para a lagoa. – Eu... Eu o empurrei? – e quando ele percebera, todo o seu grupo já havia sumido dali. – Carl... – ele sussurrara o seu nome.

Jonathan recuara. E recuara. E recuara novamente. E também correra para longe dali. Carl? Afogou-se. Em o que provavelmente parecia ser uma brincadeira. Uma brincadeira de muito mau gosto. Culminada na morte de alguém inocente. Porque provavelmente ninguém o notaria. Ninguém perceberia que ele havia sumido. Talvez Dani. Talvez Marcella. Mas poderia ser até mesmo tarde demais. Uma brincadeira de mau gosto que terminara em tragédia. E ninguém sequer pulara no lago para ajuda-lo. Ninguém queria se responsabilizar. Ninguém queria estragar o passeio. Ninguém queria ser o culpado.


Dani estava deitada em seu colchonete. Olhara para o lado. Marcella já estava dormindo. Totalmente esparramada. Elas sequer imaginavam o que tinha acontecido agora há pouco. Elas sequer imaginavam qual havia sido o destino de Carl. O máximo que passava em sua cabeça era de que ele provavelmente havia voltado para a sua cabana e adormecido. Esquecido. Talvez até mesmo tenha ido descansar mesmo que o seu colchão ainda estivesse ali. Era uma opção dele, afinal. Dani talvez o pudesse entender. Em seu diálogo com ele, Dani havia revelado que também já fora uma pessoa desprovida de atenção. Carinho. Até mesmo invisível. E todas essas características poderiam explicar se ela realmente entendia o lado de Carl.

Dani suspirou. Estava com o celular em mãos. Olhava para ele. E fora o momento em que vira que a sua bateria estava acabando. Provavelmente, sua única opção também fosse fazer igual Marcella e dormir. Amanhã o dia seria bom. Poderia ir ao lago, nadar e se sentir bem. Pensava assim, pelo menos. Logo, ela se impulsionou com os braços para ficar quase sentada e ter apoio o suficiente para assoprar a lamparina que iluminava a cabana e tudo ficara escuro. Mas ainda assim, não estava com o sono. Escutara o som de seu celular. O som de alguém que havia lhe mandado alguma mensagem. Ela sorriu. Havia encontrado uma brecha no próprio sinal. Mesmo que momentaneamente. Era Lorraine. Havia mandado algumas fotos do casamento. Em sua maioria, estava Thommy, Hannah e Simon. Tiffany provavelmente havia preferido se isolar. Era uma opção dela. Dani sorrira de orelha a orelha. Sentia-se bem em ver a sua família bem. “Queria estar aí para tirar fotos com vocês também...” digitara ela. Estava arrependida? Não. Mas ainda assim, era como se uma pequena vontade tenha batido. Somente uma pequena vontade. Seu celular então apagara. E fora o momento em que percebera que a bateria “havia morrido”. Ela suspirou. Estava até mesmo com preguiça para se levantar e ir até o sobrado e colocar para carregar novamente. Pensava nas consequências que teria que enfrentar caso assim optasse. Clara poderia estar lá.

Sua história com Clara não era muito esclarecida. O que podíamos supor era de que ela tinha tido um caso com ela. E que ainda nutria sentimentos por ela. E que provavelmente havia resultado em sofrimento. Mas não porque Clara havia a traído ou era uma má pessoa. Muito pelo contrário. Dani olhara para Marcella adormecida. Não poderia culpa-la por querer agredir Clara. Foram tempos difíceis. Difíceis porque somente ela sabia de sua condição. Difíceis porque ela não se sentia confiável o suficiente para contar a Lorraine. Para contar ao seu irmão. E até mesmo o seu pai. Portanto, somente Marcella sabia sobre a história. E somente Marcella esteve ali por ela. O tempo inteiro. E é justamente por este motivo que Clara havia dito que se sentia melhor ao saber que Marcella estava por perto. Pois tinha certeza de que ao lado dela... Dani poderia se sentir bem.

Dani voltara a encarar o teto da cabana. Pensativa. Esta história com Clara lhe trazia más sensações. Mas ao mesmo tempo... Lembrava-se de como realmente era. Como realmente era ter alguém em seus braços. Embora muito jovem... Poderia dizer até mesmo que já chegara a amá-la. E temia que isto pudesse voltar. Com muito mais força. Com muito mais intensidade. E que Clara não sentisse o mesmo. E que isto pudesse machuca-la novamente. Então, tudo o que pensava agora era uma memória. A última memória do dia em que estavam juntos. E tal como alguns dos personagens, poderíamos ter acesso a uma parte da vida de Dani. Para entendê-la melhor. Para compreendê-la melhor.

Flashback
O céu estava alaranjado. Provavelmente já estava próximo de virar noite. Mas a vista ainda assim era linda. Estávamos em um campo. Em um parque. A grama baixa. Brinquedos ao fundo. O céu limpo. Prédios, mas ainda assim... Uma bela vista. Podíamos ter uma visão panorâmica de toda a Richmond Town. E de tudo que ela representava. Esta visão, esta memória, provavelmente representava há dois anos. Dani estava ali. Sentada num balanço de crianças. O cabelo preso. O olhar sereno. E mais ao seu lado, também podíamos ver Clara. Que não deixava de olhar para ela em nenhum momento. O que acabava deixando Dani até mesmo constrangida. Esta, desviara o olhar. Apenas voltara a encarar a paisagem. Mas não conseguia se segurar. Logo, então, disse:
Danielle – Você está me deixando envergonhada... – Clara sorriu.
Clara – Desculpe. – Dani sorriu também.
Danielle – É um ótimo lugar aqui. Como você descobriu?
Clara – Meus pais me trazem aqui desde que eu sou criança... – Dani agora passara a olhar para ela. – E eu continuei a vir. É bom para pensar. Sentar neste balanço. Ir de um lado para o outro. Sentir o vento vindo em seu rosto... – Dani sorriu. – É libertador. – Clara retribuíra o sorriso.
Danielle – Libertador... – ela sussurrou. – Por que eu sinto... Sinto algo ruim saindo desta palavra? Neste momento? – Clara ficara séria então, desviando o olhar, com um semblante mais vago e uma expressão mais cabisbaixa. – Bem... – Dani suspirou. – Eu acho que eu estava certa.
Clara – Eu gostaria que as coisas fossem diferentes... – afirmou, num tom de voz bem baixo.
Danielle – O quê aconteceu? – perguntou ela, paciente e calma ainda.
Clara – Eles descobriram...
Danielle – Quem descobriu?
Clara – Os meus pais. – Clara aparentemente não havia encontrado coragem o suficiente para dizer isso olhando nos olhos de Dani.
Danielle – Descobriram... Descobriram o quê? – ela parecia ter se preocupado então.
Clara – Sobre tudo. – agora ela fitara Dani, com os olhos marejados, enquanto a luz alaranjada reluzia sobre elas. – Sobre mim... Sobre nós. – Dani nada dissera então. – Então... – Clara limpara seus olhos. – Eu a trouxe aqui. – ela sorrira de canto. – Sem que eles soubessem. Sem que eles desconfiassem... Para que pudéssemos passar mais um dia juntas. – Dani continuava a fitando, parecendo estar angustiada agora. – Para que pudéssemos dizer...
Danielle – Adeus. – ela completara por Clara. – Eu... Eu não quero fazer isso... – referia-se a despedir-se dela, rindo até mesmo de nervosismo.
Clara – Eu também não, Dani! – ela afirmara. – Mas... – havia um porém. – Eles ameaçaram. Ameaçaram de me colocar em um reformatório. Vão me trocar de colégio. Só não vão me trocar de cidade porque eu os impedi. Disse que me afastaria de você. Disse que... Disse que nunca mais a veria. – argumentava, gesticulando ao mesmo tempo.
Danielle – Eu... Eu apenas não quero fazer isso... Não quero ser parte disso! – ela então se levantara de seu balanço, dando as costas para Clara, decidida em ir embora dali.
Clara – Você está dizendo isso porque os seus pais ainda não sabem... – Dani ficara parada então. – Qual seria a sua ação se eles descobrissem? – questionara, e Clara se levantara. – Seria diferente da minha?
Danielle – Eu lutaria! – afirmou, com os punhos cerrados.
Clara – Eu também dizia o mesmo... – ela sussurrou, se aproximando de Dani.
Danielle – Eu lutaria... – reafirmou agora, com um tom de voz mais baixo, enquanto Clara ficava cada vez mais próxima dela.
Clara – Não há como prever isso, Dani... – ela enfim ficara perto dela.
Danielle – Eu... – pudemos ver que Dani realmente estava abatida ali. – Eu lutaria. – reafirmou, virando-se para Clara agora. – Eu lutaria e lutaria de novo! – bradou com os olhos marejados de lágrimas. – Dane-se os meus pais. Dane-se o que eles pensariam... – Clara parecia abalada ao estar ouvindo aquilo, enquanto Dani colocava toda a sua emoção a prova naquele momento. – Eu apenas... Lutaria. – afirmou novamente. – Por nós...
Clara – Eu realmente gostaria que as coisas fossem mais simples... – afirmou, sorrindo de canto. – Eu gostaria que a solução fosse apenas lutar. – Clara, então, passara delicadamente a mão no rosto de Dani. – Mas a vida real não é assim. Não se baseia em fantasias... – Clara limpara a última lágrima que escorrera do rosto de Dani. – Eu... Eu sinto muito.

O Sol. O céu alaranjado. Seus lábios se selando em um beijo doloroso e ao mesmo tempo afetuoso. A câmera começou a se afastar. Vimos elas ali. Não demorara muito para que se desvencilhassem. Era um adeus. Um adeus momentâneo, uma vez que já haviam se reencontrado. Dani sequer olhara para trás. Clara fora embora. E mais uma vez, um flashback de um integrante da família Gillings permitira que pudéssemos entende-los mais ainda. Dani não possuía segredos obscuros. Segredos que envolvia vida e morte. Muito pelo contrário. Mas Dani sem dúvidas parecia ser a mais solitária de todos eles. Porque ninguém poderia compreender a sua tristeza. Porque ninguém realmente a entendia. Porque ninguém sabia a verdade. E esta parte de sua história era realmente dolorosa.
End Of Flashback

Dani estava ali. No escuro. Deitada em seu colchão. Tudo aquilo fora lembrado novamente. Ela ficara pensativa. Era complicado. Complicado não ter com quem contar, complicado não ter a quem contar, complicado não compartilhar a sua real verdade. Não sabia qual seria a reação de seus pais, mas poderia ela colocar tudo isso para fora sem ter a mínima certeza? Afinal... Se ela já sabia o quão complicada era a relação deles com Thommy e Tiffany por questões banais, o que restaria para ela? E pensara sobre isso. E refletira sobre isso. A conclusão que chegara era de que tudo o que lhe sobrara foi somente fechar os olhos. E dormir. Pois afinal... O dia seguinte ainda seria muito longo. E ela sabia disso.



A câmera estava lá. No lago. Na ponte. Onde tudo havia acontecido há poucos minutos. O som da água. O som da Lua. O som das cigarras. Tudo culminava para criar um ambiente extremamente sombrio. Ninguém havia voltado. Ninguém havia o ajudado. E já fazia um tempo desde que tudo havia acontecido. A câmera se aproximara. E se aproximara. Da ponte. Da beirada. Pudemos ver o local onde Carl havia caído. E que repentinamente... Começava a aparecer bolhas. E mais bolhas. Como se alguém estivesse tentando chegar à superfície.

O som aumentara. Um grande impacto acontecera. Praticamente um susto. Principalmente quando repentinamente vimos uma mão segurara a beirada da ponte. Uma mão branca. Pálida. Seria Carl? Mas seria isso possível? Era alguém tentando o resgatar? Imprevisível. Mas de alguma maneira, embora Dani acreditasse que bastava somente fechar os olhos que o dia já havia acabado, era como se aquele fosse somente o início de sua noite. E todos ali naquele acampamento sequer faziam ideia. Mas realmente... Estava apenas começando.


Virginia, EUA (Richmond Town) – Main Highway President Noboa
10:45 PM
O som da motosserra havia acabado de parar. Mais uma pausa. Os bombeiros suados. Exaustos. Cansados. Era normal... A própria Trina Smith havia dito que seria demorado. Afinal... Ele estava preso dentro de uma lataria. E tinha todo um cuidado próprio para que o carro não o engolisse ainda mais ou o acabasse pressionando até a morte. Ou até mesmo o esmagasse. Eram profissionais. Profissionais treinados para esse tipo específico de situação. Como mencionado, nada além da normalidade.

O trânsito já havia acabado. Afinal... Já fazia horas desde que estavam ali. Portanto já não havia muitos carros passando por ali e nem ninguém sinalizando absolutamente nada. Alguns policiais estavam sentados próximo à ambulância que estava ali para dar ainda qualquer tipo de ajuda específica para Jackson. Kate, logo fora vista. Descera da parte de trás da ambulância. Carregava consigo um copo de água e uma seringa. Também apresentava um semblante de exaustão. E de sono também. Estava ali fazia muito tempo. Mas, de alguma maneira, pensava que já estava próximo de acabar. E que conseguiriam tirar Jackson com vida dali. Era o que os seus pensamentos se seguravam. Era o que ela segurava. Agachou-se próxima do carro. E de Jackson. Ele, ainda acordado. Olhava para alguns pontos. Prestava atenção nas conversas. Nas cenas. Apenas queria que tudo isso acabasse. E nada mais e nada menos além disso. Arthur também estava por ali. Mas adormecido. Com a cabeça encostada na lateria de um veículo policial, apenas caíra no sono. Era o normal. O dia para ele havia sido extremamente agitado. A câmera logo voltara a se aproximar de Kate e Jackson para que pudéssemos ouvir a conversa deles:
Kate – E aí? – ela sorrira para ele, que retribuíra. – Está segurando firme?
Jackson – Eu acho que é o carro que está me segurando firme... – brincou e Kate riu.
Kate – É verdade... – ela concordou. – Trouxe algo para você. – ela mostrou o copo de água e a seringa e os olhos de Jackson até brilharam, passando a língua em seus lábios, provavelmente porque sua boca estava muito seca. – Como você não pode se inclinar para beber no copo, trouxe a seringa. É só abrir a boca e tcharam! A mágica está feita. – ela sorriu.
Jackson – Você não faz ideia dos sonhos que eu estou tendo por causa de um copo d´água... – Kate riu. – Sem mencionar o fato de eu estar apertado. – Kate riu, desviando o olhar, parecendo incomodada com aquele assunto agora. – Ah. Desculpe... – ele envergonhou-se agora.
Kate – Eu posso imaginar o que você está passando... – ela colocara a seringa dentro do copo e puxara para aderir a água dentro dela, e em seguida, apertara a seringa dentro da boca de Jackson que gemeu, até mesmo de prazer, fazendo com que Kate risse ainda mais. – Deus! Parece que você ficou dias num deserto... – ela repetira o mesmo movimento com a seringa.
Jackson – Você... – ele engoliu a água. – Não faz ideia. – Kate sorriu, fazendo novamente. – Você acha... Acha que irá acabar logo? – referia-se ao serviço dos bombeiros, enquanto Kate ainda lhe dava água.
Kate – Eu conversei com eles agora há pouco. Parece que a próxima vez que vierem aqui é a última. – Jackson sorriu e Kate logo terminara de lhe dar água.
Jackson – Estarei indo para casa, então... – ele sorriu, e Kate também fizera o mesmo.
Kate – É... Você está indo para casa. – concordou. – Quer mais água? – ofereceu.
Jackson – Se não for incômodo... – Kate apenas balançara a cabeça negativamente aos risos e logo se levantara.

Jackson continuava lá. Até mesmo porque estava preso. Não tinha para onde ir. Observou Kate se levantar e voltar para a ambulância e pegar mais água. No caminho, ela conversava com alguns policiais e médicos. Eles já haviam se tornados próximos. Era o que um acidente de carro, com uma vítima e um homem preso debaixo de um carro por horas fazia. Jackson pensava isso, pelo menos. Ele logo começara a olhar para outra direção. Para o saco preto. Que continuava ali. Sua visão parecia ter ficado borrada por um momento. Ele até mesmo piscara algumas vezes. Quando ele pareceu ver um movimento dentro daquele saco de plástico, ele franziu o cenho. Como seria possível? Pensava ele. Os movimentos continuavam. Ficavam mais fortes. Mas ninguém parecia notar. Era somente ele. Estaria ele delirando? Estaria ele tendo ilusões? Ele não sabia ao certo.

As pancadas ficaram mais fortes. Mais agressivas. Jackson piscava mais vezes. Queria ter certeza do que estava vendo até avisar alguém. E fora o momento em que vira que o saco se rasgara. Arregalara os olhos. Ele olhara para o lado, Kate estava com o copo d’água em mão parada conversando com um homem. Tentava chama-la. Mas a sua voz não saía. E era uma agonia extrema que sentia em seu coração. E quando olhara de volta para o saco preto, a mulher que havia morrido se levantara. Era loira. Com uma aparência horrível. Jackson recusava-se a acreditar. Alguém... Socorro... Mas era quase um socorro. Jackson pôde ver. Pôde ver claramente. A pele. O ferimento na cabeça dela. Os olhos amarelados. Os dentes já podres e deteriorado. Amarelados também. Quase caindo. Arrastava-se pelo chão. Tentava gritar. Sua voz não saía. Sua boca secava. Sua garganta não permitia. E a tal mulher continuava a se arrastar. A se aproximar. Kate não percebia. A aflição. A adrenalina. Seu coração batendo rápido. Os olhos piscando mais e mais vezes numa tentativa de imaginar que aquilo realmente estava acontecendo. E o pior realmente aconteceu. A mulher “morta” ficara próxima dela. E com uma ação incrível, se colocara para dentro do carro com ele. Rasgara seu pescoço em pedaços. E fora somente neste momento em que Jackson conseguira gritar alto o suficiente. Kate olhara. Arthur acordara. E a única reação de Kate fora somente agir:
Kate – Mas... Mas que merda é essa?! – ela rangiu os dentes.

Kate correra até lá. Chutara a mulher numa tentativa de fazer com que ela se afastasse. Tentara pegá-la e se assustara com a imagem que estava tendo. O sangue escorria cada vez mais. Kate então rangira os dentes. Puxara as pernas da mulher com força. Outros policiais vieram para ajudar e auxiliá-la. Alguns já sacavam o revólver e atiravam nela. Uma. Duas. Três vezes. Nas costas. Mas nada parecia surtir efeito. A mulher até mesmo chegara a se levantar. Agora caminhava em direção a Kate. Os dentes. O sangue escorrendo por sua boca. Uma expressão assustadora. Kate imaginava como aquilo poderia estar vivo? Ela também sacara o seu revólver. Atirara. Atirara mais uma vez. Aquilo definitivamente não estava acontecendo. Eram tiros vindos de diversas direções, mas não fazia efeito nenhum. Somente impedia com que ela se movimentasse em direção a Kate.

A mulher fora derrubada então. Ela voltara a se arrastar para dentro do carro. Puxava Jackson. Ouvíamos o som do carro de quem estava pressionando-o ainda mais. O grito de dor. Não! Não! gritava Kate. Esta avançou. Dera mais um tiro. E mais um tiro. A mulher puxava Jackson mais ainda. Os paramédicos se recusavam a olhar. Os policiais tentavam a puxar, mas somente piorava a situação, pois ela não largava dele. E fora o momento em que algo viera em sua cabeça. Ficara ali. Estática. Sem ação. Mas, repentinamente... Um tiro fora dado. E certeiro. Fazendo com que ela voltasse a ficar morta. Um tiro na cabeça. Mas antes que ela pudesse enfim voltar a descansar em paz... O carro caíra e esmagara Jackson.

Kate gritara. O sangue espirrou em todos ali perto. Kate caíra de joelhos de chão aos prantos. Como seria aquilo possível? Como aquilo havia acontecido? Estavam todos em estado de choque. Arthur. Os bombeiros. Os policias. Os médicos. Não acreditavam no que os seus próprios olhos mostravam. E Kate havia visto. Havia visto pela primeira vez. Algo que ela jamais pudesse pensar que poderia ser real. Um morto-vivo. Um morto-vivo ressurgindo. E acabando com as ideias dela. Acabando com a possibilidade de Jackson viver. Finalizando tudo e a todos. Acabando com tudo e a todos. E a cena acabara assim. Com Kate ali. Com os olhos marejados. Suja de sangue do próprio Jackson. Lamentando que não havia trago o copo d’água cedo o suficiente para impedir o pior. Tudo o que ficara em sua mente fora somente a sua última frase. Que se desmontou em uma verdadeira coleção de mentiras... Você está indo para casa.

Virginia, EUA (Richmond Town) – Edmund’s Home
10:59 PM
Edmund havia acabado de chegar a sua casa. Abriu a porta cuidadosamente para não acordar ninguém caso estivessem dormindo. Não era um cômodo iluminado, então somente a iluminação natural da Lua bastava. Estava com a mochila nas costas. A roupa bagunçada. O cabelo bagunçado. Onde ele esteve até agora? Ninguém sabia ao certo. Como mencionado, Edmund era uma pessoa misteriosa. Com objetivos misteriosos. O vídeo que ele havia visto. A mulher com quem ele conversava por mensagens. Tudo ao redor dele era extremamente duvidoso e suspeito.

Fechou a porta atrás de si com o mesmo cuidado anterior. Andava com dificuldade. Bem a sua frente tinha escadas, estava prestes a subi-la quando notara que as luzes da cozinha estavam acesas. A decoração era simples. Edmund não parecia vir de uma família rica. Classe social média, podíamos dizer assim. Apenas o básico para ter aconchego e viver. Edmund seguira as luzes então, indo para a direita. Dera alguns passos e pudemos ver enfim a cozinha. Deparou-se com duas pessoas ali. Uma mulher de cabelos curtos e escuros lavando a louça, enquanto um homem que era mais gordo, aparentava ter próximo dos quarenta e oito anos, estava sentado na cadeira próximo à mesa fatiando um pão. Talvez um lanche da noite. Eles eram Millis e Ronald Cullough. Ambos, ao ouvirem os passos de Edmund, viraram-se imediatamente e os viram. Logo deram um sorriso. Eram os pais dele. Edmund retribuiu levemente. Parecia cansado. Ronald, então, dissera:
Ronald – Filho! Você chegou! – disse, ainda sorrindo, enquanto Millis continuava lavando a louça, de costas para ambos, mas virava a cabeça às vezes para ver o filho. – Está tarde... – ele olhou para seu relógio de pulso. – Aconteceu algo? Você está horrível...
Edmund – Estou cansado... – afirmou. – Fiquei até de noite na faculdade. Fazendo pesquisa. Tenho prova amanhã... – explicou, inventando alguma mentira, pois Edmund já havia ido embora da faculdade há muitas horas. – Nada que um banho não possa resolver. – ele concluiu.
Millis – Você já jantou? – perguntou preocupada. – Faz algumas horas que eu fiz a comida, mas posso esquentar para você se quiser... – se ofereceu, fechando a torneira e secando as mãos com o pano, encostando-se na pia agora de frente ao seu filho, falando bastante sorridente e amigável.
Edmund – Eu já jantei... Obrigado. – agradeceu. – Eu... Eu vou para o meu quarto. – ele virou de costas, mas fora interrompido quando algo que ouvira parecia ter o incomodado, deixando-o até mesmo paralisado.
Millis – Sloane ligou atrás de você... – informou, e Ronald levantou-se para buscar um copo limpo e logo voltou a se sentar, agora passando manteiga em seu pão.
Edmund – S-Sloane? – gaguejou, virando-se para eles novamente. – O que ela te disse?
Millis – Nada... – tentara se lembrar. – Apenas perguntou onde você estava e eu disse que estava na faculdade. – disse. – Ela disse que iria lhe encontra-lo lá. Vocês não se viram? – Edmund soava frio.
Edmund – Sim... Sim... Eu a encontrei. – mentiu novamente e Millis sorriu.
Millis – Aconteceu algo com o seu celular? Ela mencionou que você não atendia as ligações dela...
Edmund – Pifou. – foi direto.
Ronald – Você está com ele aí? Eu levo para o conserto amanhã. – sugeriu agora mordendo o seu pão.
Edmund – Eu joguei no lixo... – Ronald o fitou neste momento. – Caiu no chão. A tela quebrou em pedaços. Não havia necessidade em leva-lo comigo... Poderia me cortar. – Ronald riu.
Ronald – Era só ter colocado na sua mochila... – Millis parecia ter concordado.
Edmund – É... – ele concordou, ainda aparentando estar agoniado. – Você tem razão. Não pensei claramente... – Ronald sorriu para ele. – Bem, então... – e fora, neste momento, então, que Edmund fora surpreendido com um abraço repentino de Millis que praticamente se jogara nos braços dele, totalmente deixando-o sem ação, totalmente congelado. – Mãe... – ele sussurrou e depois de alguns segundos, a envolveu em seus braços também, e demorara um tempo até que então eles se desvencilhassem por completo.
Millis – Eu não consigo fingir que sou forte o suficiente, Eddie... – disse com os olhos já marejados. – Você não nos avisou. Estávamos quase chamando a polícia... – afirmara, e Edmund sentia-se extremamente culpado. – Eu não queria o deixar preocupado. Eu tentei ser forte. Mas após tudo o que acontecera... – deixara no ar este segredo, e Edmund então apenas desviou o olhar, abalado. – O mundo está perigoso. – concluiu.
Ronald – Sua mãe está certa, Eddie... – ele levantou-se também, aproximando-se deles e tocando levemente no ombro de seu filho. – A próxima vez que for chegar tão tarde, ao menos nos ligue do orelhão. – pedira, com um leve sorriso, e Millis abraçara o seu marido, abatida e emocionada.
Edmund – Bem... Eu estou aqui. – ele sorrira. – Não acontecerá novamente. – prometeu.
Millis – Nós amamos você...
Edmund – Eu também amo vocês... – retribuiu o carinho.

E então, fora dado um abraço de carinho. A expressão de Edmund por trás enquanto tinha seus pais o abraçando. Era inevitável. O olhar vazio. E ao mesmo tempo... Ainda misterioso. Onde ele esteve este tempo todo? Uma coisa era fato: ele estava mentindo. E aquela preocupação de seus pais. E essa declaração. E as lágrimas de sua mãe. Somente ainda mais complicava a situação. Fora o momento então em que se desvencilharam. Olharam-se um nos olhos do outro. Edmund apenas dera um leve sorriso, e então, dissera:
Edmund – Vou tomar banho e dormir...
Millis – Está bem.
Edmund – Boa noite.
Ronald – Boa noite... – ele e Millis disseram em uníssono.

Edmund então virara de costas novamente. Millis voltara a pia para terminar de lavar as louças. Ronald, a comer o seu pão. Edmund ficara de costas para a parede que separava a cozinha de onde ele estava. Pudemos notar que em suas mãos tinha algo. Uma chave. Provavelmente de algum carro. Ele fechou os olhos e suspirou. Estava fazendo ele o certo? Ele não sabia disso. Apenas ficara ali. Pensativo. Se esta era realmente a decisão. E quando fechara os punhos, ele aparentemente teve certeza disso.

Subira os degraus ainda com a mochila nas costas. Teria que ir ao seu quarto ainda. Tinha dificuldade ainda por motivos desconhecidos. Não demorou muito para que chegasse até em cima e virasse à esquerda. Logo abrira a porta de seu quarto. Era pintado com a coloração de azul turquesa nas paredes. Fechara a porta para ter privacidade, chegando até mesmo a trancar. Jogara a mochila em cima da cama e colocara a chave em cima da mesa. Primeiro, ele teria que cuidar de outros assuntos. Foi até um espelho grande e levantara a sua camiseta, mostrando um corte horizontal. O sangramento já havia parado, mas estava ardendo e doendo. Seu abdômen totalmente avermelhado de sangue. Ele bufou. Não sabia que havia sido tão grave. Quase até mesmo profundo. Ele abaixara a camiseta. Teria que se lavar. Como ele realmente precisava de um banho, não teria problema em jogar água no seu corpo.

Tirara a camiseta jogando-a no chão e desabotoara sua calça, retirando o cinto logo em seguida. Retirara a cueca. Como estava por trás, pudemos ver a sua bunda. Mas nada além disso. Nenhuma genitália. Ele então seguira para o banheiro. Tudo em seu dormitório era extremamente simples. Tinha a cama e uma mesa de madeira onde tinha o seu computador e a televisão. Logo, adentrara no banheiro. Era pequeno. Vaso sanitário ali e uma pia acoplada na parede. O boxe do chuveiro logo mais à esquerda, tinha uma janela para a saída de ar quente. Ele fechara a porta e ligara o chuveiro. Não teria muito tempo o suficiente. Demorara a criar coragem. Afinal... Iria arder. Mas precisava lavar o ferimento. Ele fechou os olhos. Ficara pensativo. E então, assim fizera. Adentrara. Até mesmo rangiu os dentes quando a água tocou em seu corpo. Mas a questão ainda continuava: como ele havia adquirido aquele ferimento tão amplo? Provavelmente este era o motivo de ele estar tão exausto e mal conseguir andar. Edmund provava cada vez mais ser alguém extremamente complicado de se entender.

...

Edmund abrira a porta depois de alguns minutos. Fora algo bem rápido. A toalha enrolada na sua cintura. Os cabelos molhados. O ferimento ali da mesma maneira. Teria que passar na farmácia mais tarde para comprar medicamentos. Tinha medo de infeccionar. Ele aproximou-se de seu guarda-roupa e pegara a muda de roupas. Rapidamente vestira a camiseta e deixara a toalha cair. Sua bunda voltara a aparecer. Colocara a cueca. Colocara as calças. A meia. Calçara o sapato. E estava definitivamente pronto. Pegara uma jaqueta de couro em caso de começar a fazer frio.

Uma ideia logo viera em sua mente. Procurara por algo. Não demorara muito para achar, já que estava próximo da televisão. Era o controle remoto. Era um volume normal. Talvez para distrair seus pais e estes pensarem que ele ainda estava em casa. Uma ótima jogada no caso. Mudara alguns canais até achar um agradável. Logo era um de notícias. Estava passando reportagem sobre o casamento de Thomas Gillings, falando sobre o filho da famosa doutora Lorraine. Edmund somente fitara aquilo. Pensativo. Afinal... Ele havia conversado com ela hoje. E talvez a sua ideia ou até mesmo seu conselho tenham sido cruciais para as suas próximas ações. Não demorara muito para que trocasse de canal. Então, algo pareceu ter chamado ainda mais sua atenção. Aquele vídeo de que Sloane havia lhe mandado, já estava na televisão. Pessoas ficando nervosas. Mortos levantando. Ataques violentos. Ele, então, rangiu os dentes. Murmurou. Cerrou os olhos. Fechou os punhos. Definitivamente, aquilo parecia mexer muito com ele. E sequer tínhamos ideia sobre o que realmente se tratava.

Ele quase atacara o controle na parede, mas preferiu se controlar para não chamar muita atenção. Virara de costas para a parede, passando a mão em seus cabelos molhados, visivelmente incomodado com a situação que acabara de ver. E fora o momento em que seus olhos fitaram um painel de foto. Ele então se aproximara. Tinham várias fotos penduradas ali. Era um painel médio marrom. Ele sorriu de canto. Tirou o “prego” que prendia a fotografia e pegara em suas mãos. Era ele, há provavelmente uns dois anos. Acompanhado de uma moça. Loira de cabelos ondulados. Linda. Com os olhos azulados. Os lábios carnudos e destacados com batom. E um lindo sorriso. Edmund a beijava na bochecha nesta foto. Pareciam muito próximos um do outro. Ele apenas dera um leve sorriso. Seus olhos transmitiam emoção. Ele transmitia emoção. Dentro de sua própria alma. E fora naquele momento em que memórias vinham em sua mente. E pouco a pouco começávamos a descobrir cada vez mais quem era Edmund Cullough.

Flashback
Era de noite. Dois mil e oito. Pudemos ver um braço. Um balde pipoca segurando-o. Junto com dois copos de refrigerante. Era questionável como alguém conseguia segurar tantas coisas assim tendo somente duas mãos. Usou o corpo para empurrar a porta e logo nos vimos novamente no quarto de Edmund. Este, inclusive, parecia ter dificuldade em carregar tais objetos. Forçou uma tosse para que alguém logo se tocasse. E fora o momento em que a câmera fitara a imagem da tal moça loira deitada na cama. Como ela parecia muito distraída em sua cama com o celular em mãos, Edmund a chamara pelo nome. Natasha. Fora somente o que pudemos ouvir. Ela logo, então, levantara-se para ajudá-lo. Com aquele lindo sorriso como a própria foto em que Edmund segurava no mundo real. Pegara os copos de refrigerante e colocara na cômoda ao lado da cama, voltando a se acomodar lá, pegando o controle remoto e regulando alguns canais, enquanto Edmund preferiu se sentar na cadeira do computador, a arrastando para perto da cama para que pudessem assistir ao filme juntos. Ele, então, comentara:
Edmund – Você quase não é folgada, né? – ela então rira.
Natasha – A cama estava mais confortável. – deu beijinho no ombro para ele, que riu também.
Edmund – Palhaça. – murmurou, comendo a pipoca. – Que filme é esse?
Natasha – Underworld. – esticou o braço para pegar um pouco da pipoca.
Edmund – Eu não sabia que gostava de vampiros... – continuava a assistir.
Natasha – E eu não gosto. – ela sorriu. – É melhor do que lobos, quero dizer. Mas nenhum me agrada muito. – concluiu.
Edmund – Você não me contou como foi a entrevista...
Natasha – Ah, então! – ela diminuiu o som da televisão, para que pudessem conversar melhor, deixando só a imagem, enquanto Edmund ainda parecia olhar para a televisão. – É um lugar legal. Fui entrevistada por um homem chamado... – tentava se lembrar do nome. – Stern. Stern Todd. – lembrara-se dele. – Ele era careca. Boa pinta... – elogiara e Edmund a fitara, arqueando a sobrancelha. – O quê? – ela riu. – Não pude deixar de notar... – rolou os olhos. – Enfim... Ele era um dos integrantes da equipe da Vanguardian Society. Sempre com um isqueiro em mãos abrindo e fechando. – afirmou, o que trazia a tona de que este mesmo homem já havia aparecido no início do episódio. – Trabalham no laboratório de pesquisas científicas para medicamentos Bioclinic Laboratory. – explicava enquanto Edmund prestava atenção e comia a sua pipoca. – Eles acharam o meu currículo de alguma maneira. E eu acredito que deva dá certo. – ela sorriu, satisfeita.
Edmund – Alguém finalmente percebeu que você não é uma loira com pouco QI. – ela então atacou o travesseiro nele aos risos.
Natasha – Besta! – reclamou, ainda rindo. – Mas eu acho que vai dá certo sim. – ela sorriu. – E somente para você ficar sabendo... Eu o recomendei também. – ela desviou o olhar, tímida agora e Edmund a fitara.
Edmund – Sério?
Natasha – É claro. – afirmou. – Não vou a lugar nenhum se o meu parceiro da feira de ciências não estiver lá... – Edmund sorriu de orelha a orelha agora.
Edmund – Awn! – ele ainda sorrindo, se jogou em cima dele, e ambos riram bastante. – Que bonitinho! – ela encostou a cabeça nele. – Espero que dê tudo certo... – ele disse, esticando o braço pra pegar o balde de pipoca e colocar em cima do corpo deles para ambos comerem.
Natasha – Vai dar tudo certo. – disse, confiante. – Como eu disse, não estou indo a lugar nenhum sem você. – Edmund sorriu novamente. – Mas sabe quando você pressente de que dará um grande passo na sua vida? – disse, pensativa. – Stern disse que eu era especial. E eu acredito nisso. Coletaram até o meu sangue. – Edmund nada disse, somente a escutava, sem desconfiar de segundas intenções. – E eu também acredito em Athena. – afirmou, com os olhos praticamente brilhando, totalmente sonhadora. – Após ela perder a filha dela... Tudo o que eu realmente imagino é que ela queira fazer a diferença, sabe? – Edmund apenas assentia, olhando para ela. – De fazer o mundo um lugar melhor...
Edmund – E nós iremos ajuda-los... – Natasha sorrira para ele. – Juntos. Grandes cientistas... – ele brincou e ambos riram.
Natasha – Juntos, não é? – ele assentiu positivamente.
Edmund – Sempre...

Ela se acomodou ainda mais no ombro dele. Pensativa. Ele? Apenas feliz pela amiga. E também pelo gesto de amizade que ela havia provado agora em recomendá-lo. Vanguardian Society. Já não era a primeira vez que este nome era citado. Athena. Stern Todd. Famosas na mídia? Talvez. O que se podia dizer era que eles apenas estavam tentando fazer a diferença. E Natasha acreditava nisso. E Edmund acreditava nela. Provando de que a relação deles já era algo firme. De muito tempo atrás. E de que isto não acabaria tão cedo. Não se dependesse deles... Antes que a cena acabasse, tudo o que pudemos ouvir fora a gargalhada de ambos.
End Of Flashback

Os olhos marejados de Edmund. O coração dele praticamente na mão. A gargalhada ecoando e ecoando em sua mente. Todo aquele momento vivido. Toda aquela diferença que eles prometiam que iriam fazer. Ele voltara a dar uma última olhada na fotografia. Limpara suas lágrimas. Totalmente sério, mas ainda assim, emocionado. Pendurara a foto novamente de volta ao mural. Afastou-se e fora até a sua mochila. A abrira. Lá tinha os materiais de sua faculdade. Retirara-os e os jogara em cima da cama. E então fora o momento em que pegara algo em suas mãos. Um revólver. Ele fitara aquilo. Com bastante profundidade. E fora o exato momento em que havia dito:
Edmund – Eu vou salvar você... Eu prometo... – sussurrou, com a voz até mesmo falhada, e pudemos notar de que Natasha era a “ela” sobre qual Edmund se referia na conversa com Sloane. – E eu vou destruí-los antes que eles destruam o mundo. – prometera, então.

Guardara a arma de volta ao lugar. Pegara a jaqueta e cobrira o revólver por cima. Colocara a mochila nas costas. Aproximara-se da mesa e pegara um pedaço de papel. Uma caneta procurara então. E rapidamente tratara de escrever algo: “Mãe... Pai... Eu sinto muito. Como vocês mesmos disseram... Eu tentei ser forte. Mas eu irei atrás dela. E eu a trarei de volta para casa. Caso algo dê errado, não olhem para trás e fujam. Fujam o mais rápido que puderem. Eu amo vocês...” Deixara ali em cima. Pegara as chaves do carro. Afastara. Pensativo. Fora em direção até a janela. Tratara de olhar de volta para seu quarto. Ele pensara em seus pais. Pensara em tudo. Mas era realmente a decisão correta. Levantara a janela para cima e olhara a altura. Não era muito alto. Pendurou-se, sentando-se na borda. E então, pulara.

Ao cair no chão, rolara para mais uns metros adiante. Limpara-se da terra que ficara no seu corpo e correra pela rua. O veiculo ali estava. Com o intuito de não fazer o alarme disparar, preferiu abrir a porta com a própria chave. E assim fizera. Entrara. Colocara a mochila no banco de trás. E sequer sem pestanejar, dera partida no carro. A câmera trocou o frame para Millis e Ronald. Eles sequer imaginavam. Estavam ainda na cozinha, somente conversando. A câmera trocara para o quarto. A foto de Natasha com Edmund. E para o papel em que tinha o recado dele. E então... Voltara para Edmund. A decisão estava feita. E agora já não tinha mais como voltar atrás. E então saíra dali. Com o destino de realmente encontra-la.


Virginia, EUA (Richmond Town) – Burriet Buffet, Various Scenes
11:10 PM
Estávamos agora no bufê onde seria realizada a comemoração do casamento de Hannah e Thomas. Era um espaço amplo. E de luxo. Víamos as mesas que pareciam ser de madeira importada. Uma delas, parecia ser exclusiva para os noivos e seus familiares. Já víamos Anastacia sentada por ali. Era uma mesa redonda. Tinha vários pratos. Um vaso quadrado de flor bem ao centro. Em cima dos pratos, tinha um pano branco. Servia para não limpar a boca, mas sim, impedir que algo manchasse a sua camisa. O prato estava sob um objeto circular. Parecia ser de palha. Um detalhe a mais que não faria muita diferença, mas que ainda assim, parecia ser bastante importante. Tudo aquilo fora feito e improvisado pela própria Hannah. Havia algumas iluminarias iluminando o ambiente. O ar condicionado ligado. Os convidados chegando pouco a pouco. As paredes com belíssimos detalhes. Obras de artes penduradas. Obviamente, tudo aquilo, não vinha somente do dinheiro de Thomas. Simon também deve ter o ajudado. Assim como Lorraine. Agora que sabíamos como eles realmente haviam se conhecido e que não havia sido natural, e sim, proposital, Lorraine faria de tudo para que esta vida de ambos desse certo. Talvez porque se sentisse endividada com a família daquela moça que havia falecido durante o acidente.

Todos aplaudiram a partir do momento em que as principais estrelas da noite chegaram ali. Hannah segurava o seu buquê. Balançava o braço de um lado para o outro como atos de comemoração, tal como o próprio Thomas. Gregor também fora visto mais ao fundo. Como ele fora o motorista de Hannah, nada mais justo de ter sido o responsável em trazê-los até aqui. Um mero detalhe também pôde ser observado. Uma moça, mais ao fundo de Hannah. Tossia bastante. Precisou ser amparada. Embora, negasse que precisasse de qualquer atendimento médico. Mas aparentemente não parecia ser nada demais. Afinal... Todos os olhares eram destinados exclusivamente para Thomas e Hannah. Eles que deveriam brilhar. E nada mais e nada menos do que eles.

...

Alguns minutos se passaram. Thomas e Hannah posavam juntos para o fotógrafo. Estavam por trás da principal mesa. Tinha alguns quitutes lá. A maioria comida excêntricas. Doces, também. Um bolo de enfeite estava ali. Grande. De torre. Deveria ter quatro andares. No topo, tinha bonecos de biscuit de Thomas e Hannah. Ele de terno ajoelhado para ela. E ela de vestido, totalmente encantada pelo pedido. Somente detalhes e detalhes. Enquanto isso, eles cruzavam seus braços, cada um com uma taça de champagne, onde faziam poses para beber. Era algo que o fotógrafo mesmo havia iniciado e pedido. Algo realmente para marcar a memória deles. Nada mais justo do que esta ocasião ter um álbum de casamento. Eram flashes e mais flashes. Havia uma música de fundo também.

Logo, começaram a chamar convidados. Para tirarem fotos com eles. Iam familiares. Iam primos, primas, tios e tias. Até mesmo amigos. A grande maioria fazia uma festa. Lorraine estava ali próxima deste momento. Comemorava cada grito e cada etapa que eles davam. Não deixava os sozinhos de maneira alguma. Até mesmo porque não queria perder absolutamente nada, então, ela realmente estava empolgada.

Fora o momento em que vimos a expressão facial de Hannah mudar. De sorriso para algo sério. Gregor havia se aproximado dali. Sorridente e pulando. Provavelmente, porque já havia bebido algumas cervejas. Queria dar mais parabéns aos noivos. Thomas comemorava com ele, sem imaginar ou pensar sobre absolutamente nada. Era inocente. Gregor dera um toque de mãos com Thomas e o abraçara, dizendo:
Gregor – Thommy, cara! – ele estava realmente empolgado, fazendo até “croque” na cabeça de Thomas. – Você realmente se casou nessa porra! – falou num tom de voz mais alto, enquanto pudemos ver Lorraine sorrindo e acompanhando aquelas fotografias.
Thomas – Quem diria, não é mesmo? – Gregor sorriu.
Gregor – Eu só queria compartilhar a felicidade de vocês... – Hannah sentia-se enojada com aquela falsidade. – Vocês sabem que eu gosto muito de vocês, não sabem? – Thomas assentiu positivamente. – Ótimo! – ele abraçara novamente Thomas, desvencilhando-se dele em seguida e indo até a Hannah. – Hannah... – ele sorrira maliciosamente a vê-la.
Hannah – Gregor... – ela teve que fingir a mesma empolgação, mas ninguém parecia ter percebido nada de estranho naquilo.
Gregor – Você sabe que tudo aquelas coisas que lhe disse no carro são verdades, não sabe? – Thomas franziu o cenho. – Eu disse a ela que a considero da família, Thommy! – Thommy riu. – Eu prometo que algum dia irei levá-la para beber no bar com a gente, hein?! – ele a abraçara então, e Hannah fora obrigada a aceitar, embora não fosse a sua atitude inicial. – São verdades mesmo. Não se esqueça. Estou ainda lhe observando... – sussurrara ele no ouvido dela, sem que ninguém notasse, deixando-a a arrepiada. – Meus parabéns, Hannah! – ele sorrira agora ao se afastar dela, e Hannah retribuíra, embora não parecesse mesmo de verdade. – Que o casamento de vocês seja abençoado. E dure bastante. – ele concluiu.
Hannah – Obrigada... – ela agradeceu.
Thomas – Agora, a foto! – ele disse empolgado. – A foto, senhoras e senhores! – ele abraçou Gregor por trás, que ficara no meio de ambos, colocando sua mão na cintura de Hannah, até mesmo propositalmente.
Gregor – A foto! – ele sorriu.

E o flash fora visto novamente. Gregor abraçara Thomas novamente. Quem diria que aquilo era uma encenação? Gregor era realmente um bom ator. Fingia que gostava de Thommy. Fingia que gostava de tudo aquilo. Fora até mesmo a Lorraine deseja-la congratulações. Chegara até a abraça-la. Aquilo realmente enjoava Hannah, que semicerrou os olhos. Estava incrédula. Era a única que sabia a verdade sobre ele. A única que sabia de seu desprezo sobre a família inteira, principalmente de Lorraine e Thomas. E aquilo a incomodava. Incomodava porque ela não podia fazer nada. Afinal... Ela estava nas mãos dele. E caso ousasse em contar o que sabia, provavelmente poderia ser desmascarada. E era justamente o que ela não queria. Logo disfarçou. Mike chegara para fotografar com eles. E dele, ela realmente gostava e fizera uma festa. Realmente Hannah era uma boa moça. Ela apenas estava sendo usada por um homem que não prestava.


Garçons andando de um lado para o outro. Com bandeja. Servindo aperitivos até o momento em que o jantar fosse oficialmente liberado. Víamos os convidados sentados em suas mesas. Conversavam. Tudo ali era realmente tranquilo. Até mesmo o barulho da conversa não era alto. Eram civilizados, podíamos dizer assim. Estávamos agora mais afastados. Num bar. Havia um grupo de homens ali bebendo uísque e discutindo sobre times de futebol. Não pareciam incomodar ninguém. Simon também estava ali. Sentado numa banqueta alta. Com um copo de cerveja em mãos. Estava pensativo. Quieto. Pensativo sobre muito. Pensativo ainda sobre Venus. Sobre o casamento. Sobre tudo. Sabia ele como havia começado o relacionamento de seu filho com Hannah? Provavelmente. Simon sabia sobre muita coisa. E isso o tornava cada vez mais misterioso.

Fora o momento então em que vimos uma mulher se aproximando. Loira. Belíssima. Elegante. Com um vestido dourado. Cheia das joias. Seduzia todos e a qualquer um que se atrevesse a olhar em direção a ela. Os homens até mesmo esqueciam sobre o que estava acontecendo. Mas ela não dava a mínima para nenhum deles. Era Klaire. Que logo, então, se sentara num banco próximo ao de Simon. Levantara o dedo e um dos garçons logo tratara de atendê-la. Não deixara também de perceber seu generoso decote. Fazia como provocação. Mas ainda assim... Ela era uma boa mulher. Não era somente uma “vadia” qualquer. Fazia para provocar? Talvez. Mas também fazia para chamar atenção. Klaire somente não gostaria de passar sendo ignorada. Não era do nível dela. Ela, por outro lado, apenas pedira por uma taça de vinho. Logo, então, comentara:
Klaire – Foi um lindo casamento, você não acha? – perguntara, deliciando-se de seu vinho, sem olhar diretamente para Simon. – Hannah é uma mulher sortuda em ter Thomas. – ela afirmara, mas Simon continuou calado. – Ela estava linda. O cabelo. O vestido. Pergunto-me se algum dia eu também estarei nessa mesma posição que ela... – ela sorrira, pensativa. – Não sei. – ela dera outro gole em seu vinho. – Talvez.
Simon – O que você está fazendo aqui, Klaire? – questionou.
Klaire – Ora... Eu fui convidada. – sorriu ela, debochada.
Simon – Eu sei. Quero dizer... O que você está fazendo aqui perto de mim?
Klaire – Vim beber uma bebida. O mundo não gira em torno de você... – deu de ombros.
Simon – Klaire... – ele parecia ter se estressado. – Lorraine pode nós ver. – advertiu.
Klaire – A brincadeira fica mais excitante, então... – ela tornara a sorrir, finalizando o seu vinho, e então, vimos a sua mão deslizando sob a bancada do bar, sem que ninguém percebesse, aproximando-se da mão de Simon, que imediatamente recuara.
Simon – O que você está fazendo?! – ele disse, praticamente rangindo os dentes, num tom de voz não muito alto para não ser notado.
Klaire – Não finja que você não gostou, Simon...
Simon – Lorraine pode nos ver! – reafirmou.
Klaire – Lorraine não é ciumenta, Simon. – tornara a dar de ombros. – Além disso... Sou só a secretária tomando uma bebida com o chefe no bar. Qual é o problema? – ela sorriu delicadamente.
Simon – Você... Você realmente adora este tipo de jogo que você faz, não é? – Klaire rira agora.
Klaire – Você sabe do que eu gosto, Simon? – ela perguntara, fitando-o agora. – Eu gosto do fato de que embora você aparentemente esteja incomodado com a minha presença, você ainda não se levantou... – Simon ficara sério novamente. – Você ainda está aqui. Arrependido, talvez. Mas continua aqui. Perto de mim. Porque sabe que o prazer que eu lhe dei fora algo que Lorraine jamais conseguira proporcionar. – provocava-o, deliciando-se com a expressão de Simon, rindo por fim. – Este é o tipo de jogo que eu faço. – ela afirmou. – E aparentemente... Está dando certo. – ela sorrira, levantando-se logo em seguida. – Estive dando uma olhada por este lugar... – parecia pensativa, olhando tudo ao seu redor. – E notei que há um banheiro. Quebrado. Atrás das escadas... – ela mordera o lábio inferior. – Encontre-me lá em cinco minutos... – ela, então, saíra de lá. – Belo casamento. – reforçara a sua opinião.

E logo saíra de lá. Simon a fitara. Pensativo. Estaria ela certa? Estaria ele realmente interessado no que ela tinha a dar? Ele não podia negar. Ela realmente o atraía. Mas ela atraía todo mundo. Era uma mulher sensual. Com um corpo escultural. Ele bebera o resto de sua cerveja. Klaire logo sumira de sua vista. Ele olhava ao seu redor. Chegara mesmo até a procurar por Lorraine, mas também não a havia por perto. Ninguém pareceu ter dado a mínima para a conversa que eles tinham dado ali, como se sequer tivessem prestado atenção. Ele logo se levantara. Realmente iria a encontrar. Aqui? No casamento do próprio filho? Atrás da própria sombra da mulher? Era excitante. E ao mesmo tempo, perigoso. E ao mesmo tempo... Somente o tornava ainda mais canalha. Especialmente após tudo que havia dito a Lorraine há algumas horas. Sobre ela ser a mulher de sua vida. Sobre ela ser a razão da sua vida. Somente podíamos notar que não passava de mais uma mentira...


Estávamos agora no banheiro. Vimos a porta abrindo. E a presença de Tiffany ali. Cruzara um pequeno corredor, virando para a esquerda e deparando-se com o total banheiro feminino. Estava vazio. Ou, um pouco vazio. Tinha ela e mais uma mulher. A mesma que esteve tossindo durante a chegada dos noivos. Chegara a franzir o cenho. Era uma tosse até mesmo desesperada. A mulher tinha cabelos pretos. Vestia um vestido não muito curto roxo, mas ainda simples. Chegara a abrir apertar o botão da torneira da pia que era feito de mármore preto para lavar o rosto e ver se melhorava, porém, não pareceu surtir o efeito desejado. Tiffany achara estranho. Até mesmo pensara em oferecer a sua ajuda. Mas aparentemente não era o seu problema, desistindo da ideia.

A sua visão logo ficara embaçada. Desistira de ficar ali próxima da mulher e correra para a divisória que dividia todos os blocos ali. Trancara a porta rapidamente. E fora o momento em que a vimos vomitando. Praticamente enfiando a sua cabeça dentro do vaso sanitário para liberar toda aquela aflição. Para liberar todos os efeitos da droga. Para liberar seu nervosismo. Para liberar a angústia. O desespero que havia sentido ao enfrentar a sua mãe. O medo que havia sentido ao enfrentar Lucca. Era algo que aparentemente a abalava. E muito. Pelo som, podíamos notar ainda que a mulher tossia. E tossia. E tossia. Mas, ao mesmo tempo, Tiffany vomitava. Até mesmo pausara para conseguir ar. Vimos que seus olhos estavam marejados. Avermelhados. Novamente, a ânsia veio. Enquanto o único som de fundo ainda era a tosse da tal mulher, que também aparentemente, havia entrado em uma dessas divisórias. Tiffany vomitou mais uma vez. Levantou-se com dificuldade. Apertou o botão para a descarga. Limpara a boca com a própria mão. Notara que o som de tosse havia acabado. Provavelmente a mulher havia ido embora.

Destravara a porta e saíra logo dali. Dirigiu-se para a pia novamente e apertar o botão da torneira, molhando as mãos e colocando sabonete nelas. As lavou. E em seguida, lavou o próprio rosto. Olhou-se no espelho. Estava péssima. As olheiras dominavam. A expressão de cansaço. A expressão de melancolia. O semblante de quem estava realmente exausta. Suspirou. Ela não tinha escolha. Lorraine havia sido bastante exigente quanto ao seu comportamento durante o casamento. Sem saída, a sua única escolha era apenas fingir que estava bem. Ainda se olhando no espelho, dera um sorriso. Falso, obviamente. Mas dera um sorriso. E notara que já parecia ser o suficiente. E então, resolvera deixar o banheiro. Não havia mais nada que pudesse fazer ali.

Ao mesmo tempo, uma música alta fora ouvida. Parecia que a balada havia acabado de começar. A câmera continuara ali. No banheiro feminino. E fora se aproximando. Passando por aquelas diversas cabines. Por aquelas diversas divisórias. Até o momento em que parara em uma delas. De frente a uma delas. A porta aberta. Tiffany sequer havia notado. A câmera adentrara. Filmando tudo o que tinha lá dentro. A tal mulher estava no chão. Caída. Numa poça de sangue. Morta. Engasgando em seu próprio veneno. Qual seria este? Ninguém sabia ao certo. Mas mais uma fatalidade havia acontecido. Os olhos abertos. A reação. Parecia ter sido doloroso. Muito doloroso. E talvez... Este indicava somente o início do casamento.

Virginia, EUA (Richmond Town) – Camp, Scenes
11:33 PM
Um estalo. Um pesadelo? Talvez. Dani repentinamente acordara. Ela se levantara, até mesmo assustada. Suada. Ela olhara ao seu redor. Marcella continuava virada de lado. Adormecida. Até mesmo em outro planeta. A lamparina apagada somente dificultava. Ela olhava para o colchonete de Carl vazio. Suspirou. Ele ainda não havia retornado. Por onde raios andava ele? Se preocupara agora. E se ele tivesse sido vítima daqueles garotos novamente? Bufou. De qualquer forma, já havia perdido o sono. Engatinhara para fora da cabana, passando por cima de Marcella, que virara de lado novamente após ouvir o barulho. Dormia como uma pedra. Mas ainda assim, Dani não queria incomodá-la.

Dani já estava do lado de fora. De alguma maneira, parecia frio. Alisava seus braços. O vento estava gelado. Olhava para ao seu redor, e não via nada de suspeito. Todas as cabanas fechadas e provavelmente com alunos dentro dormindo. Ela parecia atordoada. Não prestava atenção em alguns detalhes. Talvez fossem ainda consequências do pouco de sono que lhe restava. Fora o momento em que fitara o sobrado. As luzes estavam acesas. Poderia Carl estar ali? Bem... Era uma suspeita. Uma suspeita que poderia ser investigada.

O ambiente cheio de cabanas. Dani desviava de algumas. As árvores andando de um lado para o outro. Dani com frio. Até mesmo pensava em Lorraine. Ela havia previsto. Faria frio. E talvez Dani estivesse em complicações se não tivesse levado a jaqueta para o acampamento. Apenas dera uma leve risada. Mães sempre estão certas. É praticamente uma lei/regra da natureza. Não há como mudar o inevitável.

Ela seguira com o seu caminho. Andava em uma direção torta. Não demorara muito para que subisse os degraus até a plataforma que sustentava o sobrado. Parecia ouvir alguns ruídos. Provavelmente conversas que vinham do interior. Fora o momento em que colocara a mão na maçaneta e a abrira. O repentino frio ainda parecia a incomodar. Até mesmo chegara a se arrepiar. Assim que adentrara, tivera a visão de alguém de costas. Parecia agachado. Próximo de um homem. Como Dani ainda estava um pouco “confusa” por ter acordado tão repentinamente, não prestara muita atenção. Para ela era somente mais um rapaz de sua escola dormindo após ter bebido muito. Via tudo embaçado. Quando esfregou a mão nos olhos, parecia começar a enxergar com mais nitidez. Parecia estar com as mesmas roupas de Carl. Inclusive. Era ele. Dani sorrira. Ainda continuava não se atentando aos detalhes. Ela se aproximara, sorridente, dizendo logo em seguida:
Danielle – Carl? – ela chamara o nome dele, embora Carl continuasse ali agachado próximo do rapaz. – Onde você esteve? – ela se aproximava mais ainda. – Marcella e eu estávamos preocupadas... – continuava a andar em direção a ele. – Carl? – ela franziu o cenho, e fora o momento em que ela percebera que ele estava próximo de Jonathan. – Jonathan? – ela estrava tudo aquilo, pois era uma combinação até mesmo improvável de acontecer. – Carl... Você está bem? – ela enfim chegara perto dele, repousando sua mão sob o ombro dele. – Ca-Carl? – insistira novamente.

E fora o momento em que se assustara. Carl se virara para ela. Dani acabara cambaleando e caindo para trás. Gritara. Carl não parecia mais ele. Os olhos amarelados. A pele pálida. O cabelo bagunçado. E todas as suas vestes sujas de sangue. Provindos de Jonathan, que estava com o seu intestino rasgado e solto para fora. Dani recuava para trás. Totalmente assustada. Não entendia absolutamente nada. Mas pouco a pouco começava a entender. O cenário. O frio. Os desvios que fazia. E nada daquilo naquele momento lhe parecia ter chamado a atenção. Ela olhara para seus pés. Para suas mãos. Estavam impregnadas por sangue. Ela havia desviado de corpos. As cabanas estavam rasgadas. E Carl continuava a se aproximar. E conforme ela ia cada vez mais para trás, fora o momento em que se surpreendeu. A porta se abrira. E tinha mais pessoas ali. Pode contar sete. Sete pessoas. Todas transformadas. Variando de homem à mulher. Do mesmo estado em que Carl se encontrava atualmente. Porém... A diferença era única: eles estavam mordidos.

Danielle ali ficara. Em pânico. Recuando. Mal tinha forças para se levantar. Não entendia o que estava acontecendo ali. Mas estas eram somente as consequências de uma leve brincadeira causada por Jonathan que acabou tendo como consequência a própria morte dele. E ali ficaria. Ficaria até que retornássemos para mais um episódio com a família Gillings. O que aconteceria com Dani? Sentiu-se cada vez mais limitada. Sentiu-se cada vez mais pressionada contra a parede. Teria ela salvação? Teria ela como sair dali? Bem... Restava somente aguardar. Pois este era apenas o início de tudo. O início de um apocalipse. O início da perca da humanidade. O início de tudo. E quem eram aquelas criaturas? Eram zumbis. Zumbis sedentos pelo cheiro fresco que exalava da própria Danielle. Restava então... Somente aguardar. Aguardar para termos certeza se Dani conseguiria de fato escapar daquilo.

Virginia, EUA (Richmond Town) – Burriet Buffet, Various Scenes
11:52 PM
O som da balada. O som da música eletrônica alta. Aparentemente era no andar superior. Sim, o bufê também tinha dois andares. O superior era para quem quisesse se divertir e dançar. Embaixo somente ficava aqueles que queriam paz e sossego. Alguns até mesmo já jantavam. A janta, que inclusive, já estava sendo colocada na mesa. Alguns pratos prontos eram levados e trazidos pelo garçom. Dependia da necessidade de cada um.

Os noivos continuavam a tirar as últimas fotos. Lorraine estava sentada em uma das mesas. Tiffany também estava ali. Bethany também. Entrosava-se na conversa com Lorraine, que parecia conversar sobre algum assunto aleatório com Anastacia, enquanto Tiffany, apenas mexia no celular. Não demorara muito para que Simon se juntasse a eles. Com um olhar mais vazio. Arrependimento? Culpa? Mais ao fundo, estava Klaire. De fato... Alguma coisa havia acontecido entre eles. E novamente, Simon apenas havia se mostrado um homem que ia contra todas as suas qualidades. Sujo. Infiel. Não era um pai de família digno. Somente se manchava mais e mais.

...

A cena mudara. Eram frames ágeis e não muito demorados. Estávamos na cena do banheiro novamente. A câmera filmava a cabine a qual a mulher havia morrido. Notávamos que seus dedos se mexiam. Notávamos grunhidos. Ruídos. E a sua pele que agora já parecia estar podre. Era um efeito rápido, aparentemente. Pouco a pouco, ela conseguia se mexer. Pouco a pouco... Ela conseguia se levantar. Mais uma vez estavam lá. Mortos-vivos. Ou melhor... Zumbis. Consequências do quê? O que eram eles? Ninguém ainda sabiam. Mas eles existiam. E esta, inclusive... Estava lá..

...

A cena voltara para o local onde Thomas e Hannah estavam. Terminavam a última foto com o último familiar. Estavam cansados até mesmo. Finalizara com um grande beijo. Fora o momento em que notaram Mike vindo até a eles. Mais ao fundo, pudemos perceber o banheiro feminino. Era muito próximo dali. Mike estava com todos os adereços possíveis de um casamento e de uma balada neste. Gravata cor-de-rosa de papel. Chapéu colorido. Óculos estranhos. E provavelmente, bêbado. Ele fora até os noivos e os abraçara intensamente. Já até falava torto. E até misturava as palavras:
Mike – Cara... – ele sussurrou. – Eu amo tanto vocês... – ele olhava ao seu redor. – Eu amo essa família! – ele bradou e Thomas rira após ele dizer isso. – Vocês já tiraram uma foto?
Thomas – Quem? Nós e minha família?
Mike – Sim...
Hannah – Nós já tiramos várias fotos, Mike... – neste momento, ao fundo, pudemos observar a mulher abrindo e rastejando-se a porta cada vez mais, bem lentamente.
Mike – Tirem outra, por favor! – ele pedira e Thomas e Hannah se entreolharam. – Eu quero postar no Instagram. – ele sorrira e ambos riram.
Thomas – Se eles concordarem... – Hannah também parecia assentir, já que não parecia uma má ideia.
Mike – É claro que eles vão concordar! – ele sorriu, e fora até a mesa em que eles estavam sentados. – Galera... – ele fitara a todos. – Vamos tirar uma foto.
Lorraine – Nós já tiramos, Mike... – ela sorriu para ele, bastante gentil.
Mike – Eu sei! – ele assentiu. – Mas esta é para mim... – ele fizera até bico. – Vamos lá. Mais uma fotinho... Não custa nada! – ele insistiu e Lorraine rira.
Lorraine – Está bem então... – ela se levantara. – Vamos, querido? – ela chamara a atenção de Simon que estava distraído, totalmente em outro mundo.
Simon – Desculpe...
Lorraine – Tirar foto. – ela sorriu.
Simon – Ah, sim. Claro. – ele concordou, seguindo Lorraine também, indo ambos para trás daquela mesma mesa onde tiravam as fotos.
Lorraine – Tiffany...
Thomas – Vem, Tiff... – chamara ela também.

Mike sorrira de comemoração. A mulher zumbi já estava próxima. Mike pegara seu celular. Todos se posicionaram. Hannah e Thomas no centro. Tiffany, Lorraine e Simon por ali. Thomas chegara até mesmo a parar o momento para pegar o seu próprio celular. Mexera nele por alguns instantes. E fora o momento em que ele surgira com uma fotografia de Danielle. E estava ali. Estava tudo completo. Mike, então, dissera:
Mike – Sorria! – ele sorriu também com a foto. – É a minha família perfeita...

Ele dissera isso. A mulher zumbi próxima dela. O grito de Anastacia. O susto de Bethany. E quando eles mal puderam perceber... Ela atacara o pescoço de Mike. Thomas. Lorraine. Simon. Tiffany. Hannah. Todos sem reação alguma. O sangue jorrava. E jorrava. E jorrava. Tentava se defender. Se debatia. Mas nada parecia surtir efeito. Este era realmente o início. O início de um apocalipse. E assim terminava o primeiro capítulo de Somber Crusade. Após mostrar o cotidiano da família Gillings, o que aconteceria de agora em diante? O apocalipse havia começado. Mesmo que lentamente. Como seria a vida deles? Tudo começara a escurecer. A partir de agora... Era sobrevivência. Família perfeita? Ninguém acreditava nisso. Absolutamente ninguém. Todos tinham falhas. E em sua maioria... Falhas graves. Traição. Depressão. Teimosia. Rebeldia. Acidentes. E mentiras. Além da própria opção sexual. O logo de Somber Crusade logo aparecera. Era apenas o início de um show. Era apenas o início do primeiro núcleo da série. E Mike havia sido o primeiro atingido por isso dos inúmeros que ainda estavam por vir.

Um ano depois... (Flashforward – Post Credits Scene)
Music Theme: Long & Lost – Florence + The Machine

Lorraine fora vista. Um olhar vago. O céu sem humor. O Sol escondido. As nuvens foram embora. Nada mais ali havia restado. A vegetação era de campina. Era uma vegetação alta. Ao fundo, podíamos observar diversas montanhas. Era uma paisagem até mesmo bonita. Não era possível dizer em qual Estado ela estava. Poderia ainda ser Virginia. Mas era complicado. Porém, o que realmente chamava atenção era o buraco de terra já tampado com uma cruz estampada. Lorraine estava ali. Um semblante vago. Um semblante triste. Um semblante de confusão, mas de tampouco aceitação. Um lenço na cabeça. Os cabelos já mudados. Eram castanhos. As vestes sujas. Usava uma blusa branca, mas com marcas de sangue. A calça tinha a mesma aparência. Seu punho enfaixado com uma faixa velha e também suja. Sua aparência esvaeceu. Ela em sim havia esvaecido. Perdia o foco. Rotina já não importava mais. Tempo já não importava mais. Segurava em suas mãos uma corrente. Apelava para a sua fé em momentos como estes. Talvez, porque se sentisse abalada. Talvez porque realmente estava. Aparentemente ela estava sofrendo internamente e exteriormente.

Agachou-se no chão. Ficara cabisbaixa. Podíamos ver as lágrimas escorrendo o seu rosto. Podíamos ver o choque que realmente era para uma mulher de seu porte. Ela passava a mão na terra sem se importar de sujar-se mais ainda. Balançava a cabeça em negação. Recusava-se a acreditar. Recusava-se a acreditar que vivia em um mundo tão conturbado. O vento veio. A atingiu. Atingiu a vegetação alta. E aquilo aparentemente tentava lavar a sua alma. Se é que realmente ainda existisse uma dentro de Lorraine. A vegetação continuava a balançar. A câmera afastou-se. Alguém se aproximava. Era Kate. Com um semblante de preocupação também. Aproximou-se mais ainda. E mais ainda. Ficando bem próxima a ela. O cabelo preso em um rabo de cavalo. Arranhões em seu rosto, talvez pela movimentação que fazia. Camiseta preta, provavelmente fazia semanas que não a trocava. As calças rasgadas. Definitivamente... Também havia perdido todo o seu estilo. Kate nada dissera. Apenas ficara ali. Quieta. Respeitando o espaço de Lorraine, que continuava praticamente sentada no chão. Sem intenção alguma de se levantar. Sem intenção alguma de continuar. Que ao notar que Kate estava ali, apenas dissera:
Lorraine – Eu realmente espero que você nunca tenha que passar essa dor que sinto agora em meu coração... – sussurrou, visivelmente abalada, erguendo a cabeça, e câmera notava ao mesmo tempo em que seus olhos se encontravam avermelhados e marejados, Kate atrás, quieta, e também de luto. – Eu realmente achei que tudo ficaria bem. – ela dizia, fitando o vácuo. – Eu realmente achei que tudo acabaria bem. – ela, então, desviou o olhar. – Mas eu estava enganada. – Kate continuava ali em pé próxima a ela. – E vi o meu mundo colidir e despedaçar-se em milhares de pedaços sem que eu ao menos pudesse fazer algo... – a lágrima escorreu de seu rosto novamente. – Eu fingi que o meu mundo era perfeito. Eu fingi que a minha vida era perfeita. E eu apenas não consegui enxergar o que estava bem ali na minha frente... – murmurou. – Eu falhei, Kate. – se condenava. – Eu falhei.
Kate – Se tiver algo que eu possa fazer por você... – Lorraine neste momento dera um melodramático sorriso, enrolando a corrente religiosa de suas mãos ao redor da grande cruz encravada ali naquele túmulo. – Embora eu acredite que somente o tempo seja o suficiente.
Lorraine – Infelizmente, não há nada que nem você e nem ninguém possa fazer por mim... – ela, então, levantou-se, com o apoio de Kate que não a deixara em nenhum momento. – Não há tempo. Não há absolutamente nada. – ela ainda olhava aquele túmulo. – Não há remédio para curar as feridas de uma mãe que acabou de enterrar um filho... – afirmou, abalada, indicando, sem dizer nomes, que um de seus filhos havia morrido. – Eu não estava pronta para este mundo, Kate... – Kate segurara nas mãos de Lorraine. – Mas há pessoas contando comigo. E eu não posso decepcioná-las... – Kate nada dizia, apenas a escutava. – E esta perda apenas me fará cada vez mais forte.

O vento batera nelas novamente. A câmera começara a se afastar. Um ano havia se passado. Kate. Lorraine. Elas haviam se encontrado. Tragédias haviam acontecido. Mortes haviam acontecido. Era inevitável. Viviam em um mundo que isto era inevitável. Zumbis haviam dominado tudo e a todos. E sobreviver agora era somente o básico. Kate e Lorraine continuaram ali. Por mais alguns minutos. Até que então, juntas, afastaram-se. Lorraine abalada. Kate séria. A imagem começou a se escurecer novamente. Este era somente o início de uma verdadeira cruzada. Era o início de Somber Crusade. E então... Tudo ficara preto. Era o fim do episódio.

Continua no próximo episódio...

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